LIÇÃO 12: AS BASES DE CONJUGAÇÃO E OS VERBOS

Esta será uma das mais importantes lições do nosso curso. Nela, você aprenderá como os verbos são divididos e as bases de conjugação, que infelizmente costumam ser deixadas de lado nos cursos convencionais.

12.1. PRINCÍPIOS BÁSICOS ACERCA DOS VERBOS

Verbo [ 「どうし」 (動詞)] é toda palavra que encerra ideia de ação ou estado e, em japonês, são muito regulares, se comparados a outros idiomas, pois não flexionam de acordo com o sujeito. Também, os tempos verbais básicos são “não-passado” e “passado”. A base Shuushikei é o tempo não-passado, isto é, funciona como tempo presente ou tempo futuro dependendo do contexto.

<<<O CONCEITO ACIMA EXPOSTO É MUITO IMPORTANTE!!>>>

Por isso, tenha sempre em mente que a língua japonesa não possui os tantos modos e tempos verbais que existem na língua portuguesa. Para fins de ilustração, observe os modos e tempos verbais que a língua portuguesa possui:

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Por esta razão, muitas vezes nos depararemos com ambiguidades. Haverá casos em o que o modo e tempo verbal de uma construção específica a serem considerados quando traduzida para outro idioma, se dá pelo uso prático da língua, adquirindo, assim, um sentido próprio. Por exemplo, observe o padrão 「~ばよかった」 na lição 39.7. Em outros casos, um sentido próximo ao da nossa língua se dará pelo uso de outros elementos, por exemplo, com advérbios (lição 21). Sendo assim, não fique bitolado em saber como expressar o nosso pretérito imperfeito do modo subjuntivo em japonês, por exemplo. Tais nuances se aprendem com estudo e vivência no idioma.

Os verbos são sempre colocados no final de uma sentença. Considerando que nós ainda não aprendemos como criar uma oração, por enquanto isto significa que qualquer sentença na qual exista um verbo, esta deve obrigatoriamente terminar com o verbo.

Antes de iniciarmos o estudo dos verbos em sua classificação moderna, há alguns princípios muito importantes que você deve fixar:

PRINCÍPIO 1: uma sentença gramaticalmente completa requer um verbo somente (incluindo o estado de ser).

A única coisa que precisará ser feita para tornar a sentença gramaticalmente completa é um verbo e nada mais! Entender esta propriedade fundamental é essencial para compreender o japonês. Este é o motivo de mesmo a mais básica sentença japonesa não poder ser traduzida para o português! Todas as conjugações começarão a partir da forma do dicionário (como elas aparecem no dicionário). Uma sentença gramaticalmente completa, por exemplo, é 「食べる。」 (traduções possíveis incluem: Eu como/ele(a) come/eles(as) comem).

PRINCÍPIO 2: com exceção dos irregulares, todo verbo é composto por duas partes: uma invariável [「ごかん」 (語幹)] e outra variável [「かつようごび」 (活用語尾)], que é aquela que sofrerá alterações nas conjugações.

É muito fácil fazermos um comparativo deste conceito com os verbos da língua portuguesa, pois funcionam da mesma forma. Por exemplo, o verbo regular “cantar” possui seu radical “CANT-” que é a parte invariável e o sufixo “-AR”, do qual surgirão todas as terminações quando flexionado. Vejamos sua conjugação no presente do indicativo:

· Eu canto

· Tu cantas

· Ele canta

· Nós cantamos

· Vós cantais

· Eles cantam

Veja que o radical CANT- permanece inalterado em todas as flexões que o verbo sofre, e o que muda é tão somente o que se segue depois dele, isto é, a terminação.

Na língua japonesa, as diferentes flexões que um verbo pode ter são denominadas “BASES” e há tão somente seis bases de conjugação. Aprendê-las é um passo fundamental para o domínio das classes de palavras que são flexionadas no japonês, embora infelizmente costumam ser deixadas de lado nos cursos convencionais.

Segundo o blog Japonês em Porto Alegre, “ao chegar o 5ºano no ensino fundamental, os japoneses aprendem a gramatica japonesa pela primeira vez na sua vida escolar. Aí eles vão conhecer termos linguísticos tais como verbo, adjetivo, substantivo, sujeito e predicativo, entre outras coisas. Além disso, vão descobrir que há 6 tipos de conjugações e 6 formas nos verbos.”

Nós vamos nos referir a essas bases por seus nomes em japonês. Observe:

1. Mizenkei (未然形) [de 「みぜん」 = “não feito ainda” e 「けい」= “forma/tipo”]: é a base que, salvo exceções que veremos mais adiante, é utilizada para formas verbais que expressam fatos que ainda não ocorreram;

2. Ren'youkei (連用形)  [de 「れん」 = "conectar", 「よう」, que é uma abreviação de 「ようげん」, que significa "grupo de palavras que conjugam sua forma.”. Em outras palavras, 「ようげん」 refere-se a todas as classes flexionáveis, e 「けい」= “forma/tipo”]: é a base utilizada para unir elementos a outros elementos flexionáveis, tais como outros verbos, adjetivos;

3. Shuushikei (終止形)  [de 「しゅう」 = “fim”, 「し」 = “parada” e 「けい」 = “forma/tipo”]: é o verbo na forma infinitiva. Este tipo de conjugação também é chamado de "forma básica / forma de dicionário". Sendo assim, quando você quiser procurar por um verbo no dicionário, deve procurá-lo nesta forma, pois as outras bases não aparecem no dicionário. Tem esse nome porque era a forma utilizada no Japonês Clássico para encerrar as sentenças;

4. Rentaikei (連体形) [de 「れん」 = "conectar", 「たい」, que é uma abreviação de 「たいげん」, termo que se refere a todas as palavras que podem funcionar como um substantivo, e 「けい」= “forma/tipo”]: conecta-se a substantivos ou outras palavras que funcionam como substantivos, tais como pronomes;

5. Kateikei (仮定形) [de 「か」 = “provisório/temporal”, 「てい」 = “decidir/arranjar” e 「けい」= “forma/tipo”]: é a base usada com partículas que dão noção de algo hipotético, como em “se isso acontecer...”. É conhecida também como “Izenkei (已然形)”, pois no Japonês Clássico e especialmente no Antigo, era utilizada como uma base para ações concluídas;

6. Meireikei (命令形) [de 「めいれい」 = “ordem” e 「けい」 = “forma/tipo”]: é  a forma de comando.

Segundo o site “The Japanese Page”, etimologicamente, a Base Meireikei na verdade pode ser simplesmente uma utilização especial da Base Izenkei (ação concluída). Portanto, estaríamos dizendo aqui algo como "Eu quero que a ação [X] seja feita e concluída". Se essa teoria estiver correta, teríamos cinco bases e não seis. Contudo, em nossas abordagens continuaremos a considerar seis bases.

Um ponto muito importante, é que a Base Shuushikei tecnicamente não existe mais no japonês moderno. Durante a fase do Japonês Médio Tardio, nos períodos Kamakura (1185-1333) e Muromachi (1336-1573), a Base Shuushikei foi gradualmente perdendo espaço para a Base Rentaikei, que passou a ser usada para ambos os papéis gramaticais, realinhando as conjugações. Contudo, vamos continuar citando-a em nossas abordagens, para um melhor entendimento quanto à evolução do idioma.

Conhecidas as bases, vamos pegar como exemplo o verbo “falar” [「はなす」 (話す)], em suas flexões clássicas (entre parênteses está a pronúncia do Kanji). Antes, porém, uma observação importante...

No começo deste tópico afirmamos que a língua japonesa não possui tantos modos e tempos verbais como a língua portuguesa, porém, na verdade, isso gera discussões. A razão disso é que o japonês é uma língua essencialmente aglutinativa, isto é, muitas ideias não são indicadas com o uso conjunto de palavras independentes, mas sim através de elementos ligados diretamente a uma base do verbo, sendo que esses elementos que são anexados não podem ser usados como palavras independentes. Por exemplo, no português em “Quero beber”, a ideia do desejo de beber é indicada pelo uso conjunto dos verbos “Querer” e “Beber”, cada um sendo um verbo independente, com seu próprio significado. Por outro lado, no japonês, a forma mais comum de indicar desejo é anexar um sufixo ao verbo, sendo que este elemento não é uma palavra independente.

E o que isso tem a ver com “conjugação”? Vejamos a definição da palavra “conjugar” dada pelo Dicionário Houaiss (os destaques são nossos):

Flexionar (um verbo) em algum de seus tempos, modos, pessoas e números, acrescentando-se ao radical do verbo os sufixos flexionais verbais adequados.

Veja que acrescentar ao radical do verbo (no caso do japonês, às bases) os sufixos flexionais verbais adequados, faz parte do ato de conjugar, seja se referindo a (1) tempo, (2) modo, (3) pessoa e (4) número.

Verdade é que no japonês há poucos tempos (não-passado e passado), e os verbos não flexionam em pessoa ou número. Entretanto, resta-nos o quesito “modo”, que caracteriza as várias maneiras como podemos utilizar o verbo, dependendo da significação que pretendemos dar a ele (por exemplo, uma declaração de fato, de desejo, de comando, etc.). Analisando friamente, se há ideias que não são indicadas por conjuntos de palavras independentes, mas pela anexação de sufixos a um verbo (e consequente mudança em sua forma), não poderíamos dizer que são conjugações do verbo quanto ao “MODO”? Fica a reflexão.

Feitas essas considerações, vejamos as bases do verbo 「はなす」:

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Perceba como o Gokan [ 「はな」 (話)] do verbo em questão permanece inalterado, enquanto sua terminação 「す」 sofre alterações de acordo com a base. Contudo, ao contrário do português, estas flexões não se tratam de concordância com o sujeito, mas sim de bases para outras formas verbais ou usos gramaticais, que estudaremos ao longo do curso.

PRINCÍPIO 3: existem os “verbos auxiliares” [ 「じょどうし」 (助動詞)], que exercem funções gramaticais e não podem ser usados de forma independente, e os “verbos suplementares” [ 「ほじょどうし」 (補助動詞)], que mostram algum tipo de significado adicional ou propósito.

Como mencionamos no princípio anterior, no japonês as bases de conjugação servem na realidade como base para outras formas verbais ou usos gramaticais. Em linhas gerais, isso significa que verbos auxiliares ou verbos suplementares são unidos a uma base para formar outras formas do verbo, como passiva ou causativa, ou apenas para complementar ou alterar seu sentido. Por exemplo, se unirmos o verbo auxiliar 「た」à base Ren’youkei de um verbo, obteremos sua forma passada (mais detalhes na lição 14):

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Aliás, muitos verbos usados atualmente são resultado dessa união de bases clássicas com outros elementos.

12.2. A EVOLUÇÃO DAS CLASSES VERBAIS

No Japonês Clássico, havia nove categorias verbais. Vamos mencionar cada uma delas, dando um verbo e suas bases como exemplo. Antes, porém, lembre-se dos conceitos que abordamos na lição 1, na qual citamos que na disposição tradicional de escrita japonesa denomina-se 「ぎょう」 (linha), o que está disposto verticalmente, e 「だん」 (coluna), o que é disposto horizontalmente. Como exemplo, peguemos 「さぎょう」, isto é, linha 「さ」:

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Veja que em 「さぎょう」 (assim como em qualquer outra linha de fonemas), há cinco colunas, cada qual com seu caractere, seguindo o padrão A-I-U-E-O. Além disso, tomaremos também a coluna U como referencia.

Agora, vejamos quais eram as classes verbais clássicas:

1. Verbo Yo-dan [「よだんどうし」 (四段動詞)]: literalmente significa “verbo de quatro colunas. Por motivos que serão expostos no tópico 12.4, atualmente, são chamados de Verbo Go-dan [ 「ごだんどうし」 (五段動詞)] , que literalmente significa “verbo de cinco colunas”:

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Percebeu o motivo do nome “verbo de quatro colunas”? É assim chamado por que a parte variável dos verbos desta classe “passa” por quatro colunas da linha a qual pertence sua terminação infinitiva (Shuushikei) – A, I, U e E.

2. Verbo Kami’ichi-dan [「かみいちだんどうし」 (上一段動詞)]: literalmente “verbo de uma coluna acima”. Havia apenas um punhado de verbos nesta categoria (dez verbos):

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O motivo do nome “verbo de uma coluna acima”, estava no fato de que todos os Gokans dos verbos pertencentes a esta classe perteciam à coluna I. Ora, se partimos da coluna do meio (coluna U) e formos “uma coluna acima”, teremos a coluna I, como mostra a ilustração abaixo:

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E se você ficou curioso em saber quais eram os dez verbos pertencentes a esta classe, eles eram:

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3. Verbo Kami’Ni-dan [「かみにだんどうし」 (上二段動詞)]: literalmente “verbo de duas colunas acima”. Havia muitos verbos nesta categoria:

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O motivo do nome “verbo de duas colunas acima”, provavelmente estava no fato de que os verbos pertencentes a esta classe possuíam terminações levemente alteradas em suas bases Rentaikei e Kateikei, ambas na coluna U, como destacado. Isso fazia com que passassem por duas colunas (I e U).

4. Verbo Shimo’ichi-dan [「しもいちだんどうし」(下一段動詞)]: literalmente “verbo de uma coluna abaixo”. Havia apenas um verbo Shimo-Ichidan no Japonês Clássico: 「ける」(蹴る) = chutar:

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O motivo do nome “verbo de uma coluna abaixo”, estava no fato de que o Gokan do verbo pertencente a esta classe pertecia à coluna E.

5. Verbo Shimo’ni-dan [「しもにだんどうし」(下二段動詞)]: literalmente “verbo de duas colunas abaixo”. Havia muitos verbos nesta categoria:

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De forma semelhante aos verbos Kami’Ni-dan, o motivo do nome provavelmente estava no fato de que os verbos pertencentes a esta classe possuíam também terminações levemente alteradas em suas bases Rentaikei e Kateikei, ambas na coluna U, como destacado. Isso fazia com que passassem por duas colunas (E e U).

6. Verbo Sahen [「サへんどうし」(サ変動詞)]: literalmente “verbo irregular (na linha) SA”. Havia somente um verbo nesta categoria: 「す」 (為) = fazer, e todos os seus derivados, pois era (e ainda é) geralmente adicionado a substantivos Kango para a construção de verbos:

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7. Verbo Kahen [「カへんどうし」(カ変動詞)]: literalmente “verbo irregular (na linha) KA”. Havia somente um verbo nesta categoria: 「く」 (来) = vir:

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8. Verbo Rahen [「ラへんどうし」(ラ変動詞)]: literalmente “verbo irregular (na linha) RA”. Existiam apenas quatro verbos nesta categoria: 「あり」 (有り) = existir, 「おり」 (居り) = estar sentado / estar em, 「はべり」 (侍り) = forma honorífica de ser / fazer, e 「いますがり」 (坐すがり) = forma honorífica de 「あり」:

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9. Verbo Nahen [「ナへんどうし」(ナ変動詞)]: literalmente “verbo irregular (na linha) NA”. Havia apenas dois verbos nesta categoria: 「しぬ」(死ぬ) = morrer, e 「いぬ」(往ぬ) = desparecer, ir embora:

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No japonês moderno, os verbos passaram por uma “simplificação” quanto a sua classificação, e atualmente temos apenas quatro classes de verbos:

1. Verbo Go-dan [ 「ごだんどうし」 (五段動詞)] ;

2. Verbo Kami’ichi-dan [ 「かみいちだんどうし」 (上一段動詞)];

3. Verbo Shimo’ichi-dan [ 「しもいちだんどうし」 (下一段動詞)];

4. Verbo Irregular [ 「へんかくどうし」 (変格動詞)].

Como regra geral e por motivos que explicaremos nos próximos tópicos, aquelas nove classes clássicas de verbos, podem ser encaixadas da seguinte maneira com base na classificação moderna (desconsiderando-se possíveis exceções):

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Os métodos convencionais costumam simplificar ainda mais esta classificação moderna, chamando os verbos Kami’ichi-dan e Shimo’ichi-dan apenas de “verbos ichi-dan”. Normalmente os dicionários seguem essa classificação simplificada, e os verbos são acompanhados de “(v5)”, se Go-dan, e “(v1)”, se Ichi-dan.

Feita esta abordagem histórica, vamos ver nos próximos tópicos a classificação dos verbos atual.

12.3. OS VERBOS GO-DAN

Nós vimos no tópico anterior, que no Japonês Clássico, havia os chamados “verbos Yo-dan” [ 「よだんどうし」 (四段動詞)], literalmente “verbo de quatro colunas”. Tal nomenclatura vinha do fato de que suas flexões “passavam” pelas quatro colunas da respectiva linha à qual pertencia a terminação de um verbo.

Tomemos como exemplo o verbo 「はなす」 (話す). Repare que seu fonema final é 「す」. Então, o verbo 「話す」pertence à 「さぎょう」, pois 「す」pertence a tal linha. Assim, temos:

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Para entendermos o motivo de chamar esse padrão de flexão de Go-dan no japonês moderno, teremos que citar a “forma volitiva” (lição 37). Originalmente, ela é formada pela base Mizeikei + o verbo auxiliar「む」, que com o decorrer do tempo se tornou 「う」. Por exemplo, a forma volitiva de 「話す」era formada por 「話さ」+ 「う」= 「話さう」. A partir disso, lembre-se que no japonês moderno, houve mudanças de pronúncia, fazendo com que a grafia através do Kana fosse alinhada a estas alterações. Veja que aqui temos um caso de Tenko, e 「話さう」 é pronunciado atualmente 「話う」, sendo escrito desta forma. Ora, se considerarmos essa mudança moderna de pronúncia, todos os verbos flexionados no padrão Yo-dan passarão a ter uma flexão na “coluna O”. Observe:

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Por esta razão, prefere-se chamar esses verbos de Go-dan, ainda que isso seja discutível, haja vista que a terminação na coluna O não se trata de uma base do verbo propriamente dita, mas sim de uma forma verbal.

Os verbos Go-dan modernos podem ter nove terminações infinitivas diferentes. São elas: 「う」, 「く」, 「す」, 「つ」, 「ぬ」,「む」, 「る」, 「ぐ」 e 「ぶ」. Vejamos um quadro com exemplos:

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Agora, baseados nas possíveis terminações dos verbos Go-dan, vejamos como ficam as bases de conjugação (considerando-se somente a terminação da forma infinitiva e suas mudanças):

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Como exemplo, conjuguemos os verbos 「使う」 (usar) e 「運ぶ」 (carregar):

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Perceba que nos verbos terminados em 「う」 há uma quebra na sequência padrão dos fonemas de 「あぎょう」. Espera-se que a base Mizenkei tenha a terminação 「あ」, mas ela termina em 「わ」. Tal fato é explicado pelo uso histórico do Kana que vimos na lição 3. Lembra-se que uma das características dessa antiga ortografia é que os verbos que atualmente terminam em 「う」 eram escritos com 「ふ」? Com base nisso e considerando-se que 「ふ」 pertence a 「はぎょう」, vejamos como ficariam as bases clássicas:

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Usemos como exemplo o verbo 「かなふ」:

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Agora, relembremos uma das regras do Tenko:

“Se os fonemas 「は」, 「ひ」, 「ふ」, 「へ」 e 「ほ」estivessem localizados em qualquer parte de uma palavra que não fosse o seu início, eram lidos 「わ」, 「い」, 「う」, 「え」, 「お」respectivamente.”

Logo, como nenhum desses fonemas está localizado no início da palavra, o fenômeno Tenko é aplicado, e a pronúncias das bases fica assim:

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12.4. OS VERBOS KAMI’ICHI-DAN

O segundo grupo de verbos que abordaremos é o chamado “Kami’ichi-dan” [ 「かみいちだんどうし」 (上一段動詞)]. Se você procurar em um dicionário o significado dos Kanjis que formam esse termo, verá que ele significa algo como “verbo de uma coluna acima”. Para entendermos isso, observemos 「あぎょう」:

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Tomando a coluna 「う」 como referência, se formos uma coluna acima, encontraremos a coluna 「い」. Então, todo verbo pertencente a esta categoria terá o seu Gokan (parte invariável) terminado em algum fonema de 「いだん」 , e o seu katsuyougobi na forma infinitiva será sempre 「る」. Se ficou curioso em saber o motivo disso, nós explicaremos no tópico 6 desta lição.

De fato, o termo utilizado para esta categoria de verbos (e a próxima a ser abordada) pode confundi-lo em um primeiro momento, pois, enquanto o termo “Go-dan” refere-se às cinco terminações distintas da parte variável, tanto “Kami’Ichi-dan” como “Shimo’Ichi-dan” referem-se à terminação da parte invariável. Vejamos alguns exemplos:

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Agora, vejamos como ficam as bases de conjugação (considerando somente a terminação):

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Para ilustrar, vamos ver como fica a base do verbo 「悔いる」:

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Perceba que, diferentemente dos verbos Go-dan, o katsuyougobi não passa por todas as colunas, aparecendo em quatro bases. Nas outras bases, ele é deixado de lado. O Meireikei 「よ」 é o original e o uso de 「ろ」 é um recurso do Leste do Japão (japonês padrão). O Meireikei 「ろ」 é o mais comum, e a utilização de 「よ」pode dar uma sensação nostálgica.

12.5. OS VERBOS SHIMO’ICHI-DAN

Uma vez que você assimilou o tópico anterior, fica fácil de entender o que são os verbos Shimo’ichi-dan [ 「しもいちだんどうし」 (下一段動詞)], cujo significado é “verbo de uma coluna abaixo”. Vejamos 「あぎょう」novamente:

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Partindo-se da a coluna 「う」 , uma coluna abaixo se localiza coluna 「え」. Então, todo verbo desta categoria tem sua parte invariável terminada em algum caractere de「えだん」 e também sua terminação infinitiva será sempre 「る」. Vejamos alguns exemplos:

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Com exceção da diferença na terminação da parte invariável, tudo nesta categoria de verbos funciona da mesma forma que a anterior:

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Para ilustrar, vejamos as bases do verbo 「入れる」:

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12.6. VERBOS GO-DAN TERMINADOS EM 「いだん」/ 「えだん」 + 「る」

Um ponto muito importante é que os verbos Godan também podem terminar em 「る」 precedido de fonemas de 「いだん」 ou 「えだん」. Vejamos alguns exemplos:

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Então, como saber neste casos, se um verbo é Go-dan, Kami-ichi’dan ou Shimo-Ichi’dan?

O problema começou há centenas de anos, é claro. Nos tempos antigos, dos milhares de verbos japoneses que tinham a terminação [- えだん + る] e [- いだん + る], poucos eram realmente Kami ou Shimo Ichidan. Como vimos, nas classes verbais originais havia apenas um verbo Shimo-ichidan 「ける」 (chutar), e dez verbos Kami-ichidan. Também existiam duas classes verbais chamadas Kami-Nidan, cujas bases eram flexionadas parte em 「いだん」 e parte em 「うだん」, e Shimo-Nidan, cujas bases eram flexionadas parte em 「うだん」 e parte em 「えだん」. Essas duas classes eram recheadas de verbos. Peguemos como exemplo os verbos 「落ちる」 e 「食べる」em suas formas originais 「落つ」 e  「食ぶ」, verbos Kami-Nidan e Shimo-Nidan respectivamente:

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A partir do Período Kamakura (1185 – 1333), começou-se a “confundir” as bases Shuushikei e Rentaikei na língua falada. Por exemplo, por algum tempo 「食ぶる」 (Rentaikei) passou a ser usado no lugar de 「食ぶ」 (Shuushikei). No decorrer do tempo, houve então o desejo de simplicar a forma de classificar os verbos. Uma das atitudes tomadas foi inserir alguns verbos (Kami-nidan e Shimo-nidan)  dentro  do padrão de conjugação Ichidan (seja Kami ou Shimo). Consequentemente, algumas mudanças tiveram que ocorrer. Então, 「る」foi retirado da base Rentaikei e acrescententado à base Ren’youkei. Observe o quadro abaixo:

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Com essas mudanças, os verbos Kami-nidan tornaram-se verbos Kami-Ichidan, e os verbos Shimo-nidan foram transformados em Shimo Ichidan. Houve ainda alguns que foram reclassificados como verbos Godan, mas não são usados com frequência. Também, há algumas variantes regionais do leste do Japão, que se tornaram padrão hoje. Tenha isso em mente.

Com base nisso tudo, a melhor maneira para saber se um verbo terminado em [- えだん + る] ou [- いだん + る] é Godan ou Kami, Shimo Ichidan, é saber como ele era classificado no Japonês Clássico. Um meio de diferenciar é pensar que, como a maior parte dos verbos Kami e Shimo Ichidan atuais segue o padrão ([base Ren’youkei da forma clássica] + ), o fonema de 「いだん」ou 「えだん」que antecede 「る」 sempre aparecerá escrito em Hiragana, caso contrário, pode ser verbo Godan. Observe:

1) 「走る」 é lido 「走」(はし) る.Veja que o fonema 「し」 está “dentro” do Kanji, não sendo escrito em Hiragana. É verbo Godan;

2) 「漲る」 é lido 「漲」(みなぎ) る. O fonema 「ぎ」 também está “dentro” do Kanji. É verbo Godan;

3) 「投げる」 é lido 「投」(な) げる. O fonema 「げ」 é escrito em Hiragana. É verbo Shimo-Ichidan. Sua forma clássica é 「投ぐ」.

Grifamos “pode ser”, porque obviamente este é apenas um meio de se distinguir as classes verbais e, por isso, não se aplica a todos os casos. Outros fatores etimológicos (ou mesmo obscuros) também devem ser levados em consideração. Por exemplo, os verbos 「見る」 e 「出る」não seguem o padrão descrito acima, mas são verbos Kami-ichidan e Shimo-Ichidan respectivamente. O verbo 「見る」 é assim classificado atualmente por que ele já pertencia ao grupo dos dez verbos Kami-Ichidan clássicos. Já 「出る」 deriva do verbo Shimo-Nidan clássico「いづ」 (出づ), que depois evoluiu para 「いでる」 (出でる) e de alguma forma o 「い」 inicial foi deixado de lado, dando origem à forma moderna 「でる」 (出る). De forma semelhante se deu a evolução do verbo 「ねる」(寝る), cuja forma inicial era 「いぬ」(寝ぬ). Então, temos 「いぬ」→ 「いる」→ 「ねる」.

Curiosamente, o verbo 「ける」, único verbo Shimo-Ichidan no Japonês Clássico, agora é classificado como Godan. Outro fato curioso é o verbo 「まじる」(交じる). Pelo exposto acima, seríamos levados a crer que ele é Kami’ichi-dan, mas não é o caso; ele é classificado como Go-dan.

De fato, muitos estudantes não têm acesso ao estudo do Japonês Clássico e/ou etimológico. Por isso, em caso de dúvida é aconselhável olhar em um dicionário, perguntar a um professor ou a um nativo.

12.7. VERBOS IRREGULARES

Os verbos irregulares são assim chamados por que suas bases não seguem o padrão das outras classes verbais. Como felizmente há apenas dois verbos irregulares na língua japonesa, trataremos deles em um único tópico.

O primeiro verbo tem suas bases em 「さぎょう」 e por isso é chamado “Verbo Sahen” [ 「サへんどうし」 (サ変動詞)], algo como “verbo irregular em SA” Trata-se do verbo 「する」 (為る), cuja forma original era 「す」 (為). Este é o mais importante verbo em japonês, porque é o verbo para "fazer", sendo utilizado para construir muitos outros verbos a partir de palavras. Vejamos suas bases:

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Vemos que a base Rentaikei tornou-se a forma infinitiva atual.

Como já sabemos, o verbo 「する」 é adicionado a algunas palavras Kango ou mesmo Gairaigo para transformá-las em verbos. Entretanto, há teorias que apontam que a terminação 「じる」 dos verbos, como em 「信る」 seja na verdade uma “versão modificada” de 「する」, proveniente do Leste do Japão. Ela teria se desenvolvido a partir do fenômeno Rendaku que transformava 「す」 em 「づ」, quando anexado a alguns termos (lembre-se que 「づ」 e 「ず」 têm a mesma pronúncia). Mais tarde, com a confusão que houve das Bases Shuushikei e Rentaikei, a terminação  「づ」 tornou-se 「づる」. Então, para que estas construções verbais pudessem ser encaixadas no padrão Ichidan de conjugação, 「づる」 foi transformado em 「じる」.

Sendo assim, por exemplo, a possível origem de 「信じる」, seria:

信 + す= 信 (Rendaku) → 信づる →「信る」 = forma moderna, encaixada no padrão Ichidan de conjugação.

O segundo verbo irregular tem suas bases em 「かぎょう」 e por isso é chamado de “verbo Kahen” [「カへんどうし」 (カ変動詞)], ou se preferir “verbo irregular em KA” Trata-se do verbo 「来る」 que significa "vir" e sua forma original era 「く」. Observe suas bases:

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Aqui, vemos também que a base Rentaikei tornou-se a forma infinitiva atual.

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Conhecidos os grupos de verbos, saiba que provavelmente você se deparará com alguns verbos que possuem mais de uma forma de escrita possível. Como exemplo, consultemos no site “Tangorin” o verbo 「あう」 (会う):

Veja que além de 「会う」, o referido verbo possui mais três formas de escrita possíveis (no caso do Tangorin, as mais comuns são marcadas com uma estrela). É importante ter isso em mente, pois diferentes escritas de um mesmo verbo podem aparecer em diferentes níveis do JLPT ou mesmo acrescentarem algo ao significado. Por exemplo, a escrita 「逢う」 do verbo 「あう」 pode dar a ele uma conotação dramática, sendo usada frequentemente para pessoas próximas.

12.8. A BASE REN’YOUKEI COMO UM SUBSTANTIVO

A base Ren'youkei de um verbo pode funcionar como um substantivo. Na verdade, em casos muito raros, ela acaba sendo usada mais frequentemente do que o verbo em si. Por exemplo, temos o verbo「休む」(やすむ), que significa “descansar”. Se pegarmos sua base Ren’youkei, isto é, 「休み」, teremos o substantivo “descanso”.

Vale lembrar que você não poderá usar este processo em todos os verbos (no sentido de obter um significado de substantivo relacionado ao verbo). Também, existem muitas combinações de verbos (Base Ren’youkei + Base Ren’youkei) que são utilizadas principalmente como substantivos. Vejamos alguns exemplos:

➩ 読み書き: leitura e escrita ( 「読む」 + 「書く」 );

➩ 買い上げ: compra ( 「買う」 + 「上げる」 );

➩ 受け付け: recepção (de hotel, etc.) ( 「受ける」 + 「付ける」 ).

Ocasionalmente em substantivos formados a partir desse processo (simples e compostos) o okurigana é retirado na forma substantiva:

➩ 「話」 (はなし), proveniente do verbo 「話す」 (はなす) – “falar” – e que significa “história”, “fala”;

➩「係」(かかり), proveniente do verbo 「係る」 (かかる) – “concenir”, “envolver” – e que significa “oficial”, “pessoa encarregada de algo”.

➩ 「受付」 (うけつけ) – forma simplificada.

Outro modo comum de se obter substantivos de verbos é anexar 「物」 (もの), substantivo genérico que significa “coisa (tangível)”, à base Ren’youkei do verbo. Provavelmente, o exemplo mais conhecido desta formação seja 「着物」 (きもの), que significa literalmente “coisa que se veste”, originado do verbo 「着る」 (きる) = vestir e 「物」 (もの) = coisa. Aqui vão mais alguns exemplos:

➩ 「食べ物 」(たべもの): comida (proveniente do verbo 「食べる」 (たべる) = comer);

➩ 「生き物」 (いきもの): ser vivo; criatura (proveniente do verbo 「生きる」 (いきる) = viver);

➩「買い物」 (かいもの): compra (proveniente do verbo 「買う」 (かう) = comprar);

➩ 「詰め物」 (つめもの): enchimento, recheio, incluindo a obturação de um dente cariado (proveniente do verbo 「詰める」 (つめる) = comprimir);

Infelizmente, não se pode anexar 「もの」 a qualquer verbo. Portanto, verifique o dicionário antes de usá-lo.

NOTA: não confunda 「物」 (もの) = coisa com 「者」 (もの) = pessoa, usado para se referir a si mesmo ou a pessoas próximas.

Finalmente, algumas formas substantivas de verbos podem ser usadas como sufixos. Por exemplo, 「付き」, proveniente do verbo 「付く」, que significa “estar anexado a”, pode ser colocado em um substantivo [X] para expressar que algo está anexado a [X]. Sendo assim, 「カメラつき... 」, significa, em uma tradução menos literal, “[algum equipamento, dispositivo] que contenha uma câmera”, como um smartphone (smartphone com câmera).

12.9. VERBOS COMPOSTOS

Ocasionalmente, você pode se deparar com construções que chamaremos de “verbo composto”. Trata-se de um verbo anexado à base Ren’youkei de outro, tornando-se uma combinação fixa e com significado próprio. Vejamos alguns exemplos:

➩ 「抱き締める」 (だきしめる), proveniente dos verbos 「抱く」 (だく) – “segurar nas mãos” e 「締める」 (しめる) – “amarrar”, “apertar”. Juntos significam “abraçar apertadamente”;

➩ 「思い出す」 (おもいだす), proveniente dos verbos 「思う」 (おもう) – “pensar” e 「出す」 (だす) – “emitir”. Juntos significam “recordar”;

De forma semelhante aos substantivos formados a partir do processo “Base Ren’youkei + Base Ren’youkei” que vimos no tópico anterior, ocasionalmente o okurigana do primeiro verbo é retirado:

➩ 抱き締める → 抱締める;

➩ 思い出す → 思出す.

Não confunda este tipo de verbo com os verbos suplementares que estudaremos a partir da lição 27.

Agora, vejamos o caso do verbo composto 「振る舞う」 (ふるまう), que significa “comportar”, “conduzir-se”. À primeira vista, pode parecer que esse verbo se forma pela combinação de duas Bases Shuushikei 「振る + 舞う」, o que é estranho gramaticalmente falando. Seria uma exceção?

A teoria mais aceita sobre a origem desse verbo é que ele se trata da Base Ren’youkei do verbo 「振るう」, isto é, 「振る」+ 「舞う」, sendo que 「振る舞う」 se tornou 「振る舞う」.

12.10. VERBOS “CANIVETES SUIÇOS”

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O canivete suíço é um tipo especial de canivete inventado pelo cuteleiro Karl Elsener em 1894, que, além do canivete em si, oferece uma gama de opções, isto é, ferramentas como chave de fenda, tesoura, lixa de unha, abridor de latas e de garrafas, dentre muitas outras coisas. O exército suíço pretendia, para uso exclusivo dos seus soldados, um canivete que fosse versátil, leve e fácil de transportar, mas que simultaneamente fosse bastante resistente.

Dado esse conceito, quando dizemos que algo é um canivete suíço, referimo-nos à possibilidade de haver várias opções dependendo da circunstância. Assim, usaremos o termo “verbo canivete suíço” para rotular alguns verbos existentes na língua japonesa que possuem diversos significados e por isso podem ser usados em diversas ocasiões.

Apenas para facilitar o entendimento de um “verbo canivete suíço”, se consultarmos no Dicionário Michaelis Inglês-Português o verbo “get”, obtermos mais de vinte traduções possíveis.

Na língua japonesa, também há verbos que possuem inúmeras traduções. Entretanto, destacaremos apenas três que julgamos importantes. São eles: 「かける」(掛ける), 「つける」(付ける) e o já conhecido 「する」(為る) .

Segundo o dicionário online Nippo, os significados de 「かける」(掛ける) são:

[1] pendurar;

[2] multiplicar;

[3] causar;

[4] custar [dinheiro, tempo]; levar [tempo]; demorar;

[5] pôr [óculos, etc.]; colocar; aplicar;

[6] utilizar (um utensílio); ligar;

[7] apanhar [numa armadilha, numa burla, etc.];

[8] fechar; trancar;

Já 「つける」(付ける) tem os seguintes significados:

[1] colar; marcar;

[2] acender (fogo, luz, etc.); ligar [o interruptor];

[3] afixar; prender; anexar;

[4] juntar;

[5] pôr; aplicar;

[6] deixar marca; marcar;

[7] adquirir; ganhar;

[8] colocar; dar

Por fim, o verbo 「する」(為る), que é rotulado como o verbo “fazer” em japonês. Essa informação não está incorreta, mas também não é toda a verdade. Se consultarmos dicionários online como o Tangorin, veremos que 「する」 pode ter pelo menos treze significados. Observe:

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Você se lembra do conceito de “colocação” (lição 8)? Algumas vezes, um verbo canivete suiço é usado, podendo ele ter diversos sentidos na construção como um todo. Por exemplo, 「こえかける」 significa “cumprimentar”. Outro exemplo é 「きする」 que significa “ter (uma certa) sensação”. Ainda como exemplo, poderíamos citar 「はなしつける」, que significa “negociar”, “resolver uma questão”.

NOTA: 「を」 e 「が」 são partículas. Tal conceito será abordado a partir da lição 13.

12.11. UMA QUESTÃO INTRIGANTE

De forma simplista, a escrita é uma forma de expressar uma língua de forma gráfica. No português, por exemplo, usa-se um sistema que combina consoantes, vogais e sinais. No japonês usa-se um modelo SILÁBICO.

Uma questão intrigante é que o fato de o japonês ser representado graficamente de forma silábica não quer dizer que ele tenha sido sempre assim. Essa questão, ao contrário do que se pode imaginar, não é uma questão fechada entre os acadêmicos. Há quem afirme que o japonês poderia ter se tornado uma língua graficamente silábica para que FOSSE ENCAIXADA nos padrões chineses. Em seu livro “An Historical Grammar of Japanese”, página 46, o historiador e japonólogo britânico G. B. Sansom afirma que “é óbvio que o método silábico de escrita japonesa se deve, em primeiro lugar, ao fato de que o sistema chinês que adotaram era silábico e não podia ser usado de outra forma”.

Como se sabe, o Japão antigo era povoado por diversas tribos e uma delas, a tribo Yamato, começou a ganhar espaço depois de iniciar uma "importação" de elementos chineses na sua língua, cultura e estrutura. A China era tida como nação modelo e sinônimo de virtude e a História possui inúmeros exemplos de como a língua e o poder têm uma ligação muito forte.

Dada a escassez de evidências arqueológicas anteriores à importação do Kanji, é improvável que se consiga fechar essa questão e as hipóteses de que o japonês era pensado ou deveria possuir um sistema de escrita parecido com o modelo consoante e vogal são baseadas em algumas aparentes contradições na gramática normativa convencional.

Por exemplo, e SE o verbo 「たべる」(食べる), cuja forma original era 「たぶ」(食ぶ), foi concebido tendo o radical “TAB”?

Ora, com um sistema de escrita silábico ficaria impossível representar o elemento “TAB”, não é mesmo?

Considerando essa hipótese, então, tanto o “U” final da forma original quanto o “ERU” da forma moderna se tratariam de acréscimos ao radical e isso mudaria toda a lógica da gramática que se conhece. Aliás, coincidentemente (ou não), “ERU” é tratado como uma evolução do verbo clássico “U”, que significa basicamente “obter”.

Lembre-se que a gramática é apenas um conjunto de convenções que visam padronizar uma língua. É certo que a lógica é levada em consideração, mas os pontos de partida a partir dos quais é construída essa lógica podem ser adaptados conforme uma série de fatores ou mesmo serem equivocados.

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