LIÇÃO 13: PARTÍCULAS – INTRODUÇÃO

Você já conhece os verbos e também os substantivos. Nesta lição, começaremos o estudo das partículas, aprendendo primeiramente algumas que são essenciais para usar os verbos. Basicamente aprenderemos como especificar qual é o objeto direto do verbo, e onde ele é executado (física ou abstratamente). 

13.1. DEFININDO O QUE SÃO PARTÍCULAS 

Embora haja muitos pontos gramaticais difíceis que um estudante deve dominar, as partículas merecem uma atenção especial. Partículas são um ou mais caracteres do alfabeto Hiragana que são anexados sempre ao final de uma palavra basicamente para definir a função gramatical desta palavra dentro da sentença. Uma pessoa pode ter um grande conhecimento de vocabulário e de conjugação verbal, mas se não souber utilizar corretamente as partículas, ela não conseguirá construir sentenças como espera, porque o significado da oração pode ter um sentido completamente diferente.  Por exemplo, a sentença “Come peixe.” pode transformar-se em “O peixe come”, por causa da mudança de uma partícula, apenas.

Note que sublinhamos o “basicamente” no parágrafo anterior por que é claro que as partículas não se limitam a mostrar a função sintática de um elemento dentro da oração. Elas podem ter outras funções também e, baseados nisso, gramáticos dividiram as partículas em oito classes, sendo que muitas delas podem cair em mais de uma categoria, dependendo da situação. Estima-se que haja cerca de 200 usos relacionados às partículas, aqui incluindo diferentes partículas, usos e partículas duplas. 

Embora não usaremos estas nomenclaturas em nossas abordagens, vejamos quais são as classes de partículas apenas para conhecimento:

1. Partículas Indicativas de Caso [ 「かくじょし」 (格助詞)]: esta classe de partículas pospõe-se ao substantivo, indicando a sua função sintática;

2. Partículas paralelas [ 「へいりつじょし」 (並立助詞)]: partícula que lista os itens;

3. Partículas de final de sentença [ 「しゅうじょし」 (終助詞)]: como o próprio nome diz, são partículas finalizadoras de orações. Essas partículas determinam o sentido, tom da oração;

4. Partículas de interjeição [ 「かんとうじょし」 (間投助詞)]: mostram grande exclamação;

5. Partículas adverbiais [ 「ふくじょし」 (副助詞)]: traduzidas como advérbios, elas mostram uma analogia / restrição;

6. Partículas de vinculação [ 「かかりじょし」 (係助詞)]: mostra ênfase;

7. Partículas conjuntivas [ 「せつぞくじょし」 (接続助詞)]: esta classe de partículas corresponde às das conjunções, porém com a restrição de que jamais devem iniciar uma frase ou oração.

8. Partículas frasais [ 「じゅんたいじょし」 (準体助詞)]: partícula que é anexada a uma frase e a abrange inteiramente.

Como já mencionamos uma partícula pode aparecer em mais de uma categoria. Por exemplo, a partícula 「から」  é partícula de caso, quando indica qual a origem de algo ou o que acontece depois de alguma coisa. Porém, quando descreve uma causa, é uma partícula conjuntiva.

Há também as “partículas duplas”, quando duas são combinadas e as “partículas compostas”, quando uma partícula aparece em conjunto com uma palavra ou verbo, e em português tem sentido de uma só palavra (geralmente uma preposição).

Existem também partículas que derivam de substantivos e, portanto, portam-se de forma semelhante a um substantivo dentro da oração.

É bom salientar também que no Japonês Clássico uma mesma partícula podia exercer várias funções, e algumas dessas funções podem não existir mais no japonês moderno. Historicamente, as funções das partículas foram sendo enxugadas, e outras partículas ou expressões foram sendo “criadas” para substituir esses usos clássicos, oriundas principalmente da língua falada. Entretanto, conhecer essas funções clássicas perdidas é importante se você deseja se aprofundar na língua japonesa, haja vista que você pode se deparar com partículas sendo usadas com alguma de suas funções clássicas perdidas, principalmente ao ler documentos ou literatura antigos ou deseja prestar o nível 1 do JLPT.

Finalmente, nas primeiras lições sobre partículas vamos abordar somente o uso básico. No decorrer deste curso, quando necessário, expandiremos o conhecimento a respeito delas.

13.2. A “NOVA” CONJUGAÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA  

Como mencionamos na lição passada, os verbos não flexionam de acordo com o sujeito, e os tempos verbais básicos são “não-passado” e “passado”. Sendo assim, para fins meramente didáticos e que explicaremos depois, vamos fazer de conta que no português também seja assim (seria uma maravilha, não é mesmo?), ou seja, imagine que “na língua portuguesa há só dois tempos verbais básicos e que os verbos não flexionam de acordo com o sujeito”. 

Agora que entramos no mundo do “faz de conta”, imagine que a forma não passada seja o verbo na forma infinitiva e a forma passada seja a terceira pessoa do pretérito perfeito. Assim, a nossa conjugação imaginária, tomando como exemplo o verbo “beber” seria:

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Não saia desse mundo imaginário ainda e continue lendo os próximos tópicos e lições.

13.3. A PARTÍCULA DE OBJETO DIRETO  「を」 

A primeira partícula que aprenderemos é a “partícula de objeto direto”, porque é uma partícula bem simples. Em gramática, “objeto” se refere à coisa física ou abstrata para a qual se dirige a ação descrita por um verbo. Consideremos a sentença em português:

Comer a maçã. 

Nesta oração, a ação expressa pelo verbo “comer” é direcionada a um objeto, isto é, a “maçã”. Repare como este elemento serve como complemento do significado do verbo. 

Vamos fazer uma associação: imagine que temos uma caixa e uma bola; a bola representa o verbo e a sua embalagem (caixa) – para onde se direciona esta bola –, o objeto. Assim temos:

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Na língua portuguesa, em linhas gerais, um objeto pode ser indireto, quando o verbo necessita de uma preposição (Ir a + o teatro) ou direto, quando nenhuma preposição é necessária entre o verbo e seu objeto (Comer _ + a maçã). Usemos estes conceitos para nos auxiliar a entender a partícula 「を」 , que é anexada ao final de uma palavra para indicar que esta é o objeto direto do verbo. Este caractere não é utilizado, em princípio, em nenhum outro lugar. É por isso que o Katakana equivalente  「ヲ」  raramente é usado, uma vez que as partículas são sempre escritas em Hiragana. O caractere  「を」 , embora tecnicamente seja pronunciado / uo /, soa / o / na conversação (uso histórico do Kana). A seguir estão alguns exemplos da partícula de objeto direto em ação:

食べる。= Comer o peixe.

ジュース飲む。= Beber o suco.

雑誌読む。= Ler a revista.

日本語教える。= Ensinar japonês.

Veja que nos quatro exemplos, as ações “comer”, “beber”, “ler” e “ensinar” recaem sobre os substantivos “peixe”, “suco”, “revista” e “japonês”. De ínicio, você pode pensar na pergunta “O QUE [verbo]?”. Por exemplo, em  「魚を食べる。」 , “O QUE comer?” A resposta será “peixe”.

Quando se usa  「する」  com um substantivo, a partícula  「を」é opcional e o conjunto [substantivo + する] pode ser tratado como se fosse um verbo:

毎日、日本語を勉強する= Estudar japonês todos os dias.

メールアドレスを登録する= Registrar o endereço de e-mail.

Vimos que a base Ren’youkei dos verbos pode ser usada como um substantivo regular. Contudo, observe a frase a seguir:

飲みする。= Beber (?)

Embora, a sentença faça sentido, ninguém fala desse jeito. Portanto, não use este recurso de modo indiscriminado.

O próximo uso é mais uma característica de certos verbos do que da partícula em si. 「を」 pode ser usada para indicar o objeto indireto (isso mesmo!!) de certos verbos que, em português, são intransitivos (lição 17). Assim:

歩く。= Caminhar pela cidade.

高速道路走る。= Correr pela autoestrada.

行く。= Ir pelo caminho.

Perceba que mesmo em português poderíamos chegar a esse sentido. Por exemplo, se traduzíssemos 「道行く」 ao pé da letra, isto é, “ir o caminho” isso pode dar a entender que se vai por todo o caminho.

13.4.  「に」 COMO PARTÍCULA DE ALVO

Bem, a maioria dos verbos tem um objeto direto, mas esta ação posta em prática (verbo + objeto direto) pode ter também um destinatário. Considere a associação que fizemos no tópico anterior, na qual a bola representa um verbo e a caixa, o objeto direto. Agora, temos um pacote que pode ter um destinatário ou não. Bem, se levarmos em conta que queremos dá-lo de presente a alguém, é aqui que a partícula 「に」 entra em ação, pois ela pode especificar o destino desse pacote, isto é, de uma ação (verbo + objeto direto). Como forma de memorização, neste uso de 「に」 , você pode considerar que está implícito o sentido de “ter como alvo [algo]”.  Para exemplificar, observe o próximo exemplo:

生徒日本語を教える。= Ensinar japonês ao aluno. (Ensinar japonês tendo como alvo o aluno)

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Neste exemplo, indica-se que o aluno é o alvo da ação “ensinar japonês”. Enfatizamos a uma ação como sendo o verbo e seu objeto direto, mas é claro que podemos omitir o objeto, se ele estiver subentendido pelo contexto:

生徒教える。= Ensinar (japonês) ao aluno.

Por causa dessa função, a partícula 「に」 é comumente chamada de “partícula de objeto indireto”, ainda que essa nomenclatura possa causar confusão, se considerarmos alguns de seus empregos. Por hora, vejamo-la em ação marcando o elemento que, para nós, seria o objeto indireto:

日本行く。= Ir ao Japão. (ir tendo como alvo o Japão)

帰る。= Voltar à casa. (Voltar tendo como alvo a casa)

部屋くる。= Vir ao quarto. (Vir tendo como alvo o quarto)

彼女をデート誘う。= Chamar ela para um encontro (Chamar ela tendo como alvo o encontro).

Outra função da partícula  「に」 é marcar o objeto (direto ou indireto) de um verbo intransitivo 「じどうし」 (自動詞). Isso parece estranho já que em português os verbos intransitivos não necessitam de objeto, mas por enquanto, observe o próximo exemplo:

見える。= Ser visto por mim. (objeto indireto)

友達会う。= Encontrar o amigo. (objeto direto)

Falando especificamente da segunda oração, se pensássemos em português primeiro, certamente construiríamos  友達会う . Entretanto, perceba que, diferentemente do português, em que “encontrar” requer um objeto direto, em japonês, isso não acontece, pois  「会う」 é um verbo intransitivo e, por isso, a partícula 「に」 é usada. Vamos consultar o “DenshiJisho.org” para confirmar:

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Outro exemplo em que vemos essa diferença entre os idiomas é  「彼キスする。」 (Beijá-lo). Explicaremos isso mais detalhadamente quando tratarmos sobre a transitividade dos verbos.

Vimos que a partícula  「に」  marca o destino de uma ação. Entretanto, ela pode também aparecer fazendo o inverso, isto é, marcando a origem de algo:

先生日本語を覚える。= Aprender japonês do professor.

Nesta oração expressamos que “o professor” é a fonte do ensinamento de japonês. Todavia, essa função que denota origem de algo, é comumente exercida pela partícula   「から」 :

先生から日本語を覚える。= Aprender japonês do professor.

アメリカから来る。 = Vir da América.

A partícula 「から」  é frequentemente colocada juntamente com  「まで」 , que significa "até":

宿題を今日から明日までする。= Fazer lição de casa de hoje até amanhã.

Para descrever essa extensão de algo podemos também utilizar o verbo「いたる」(至る), que significa “chegar a”, “alcançar”. Neste caso, frequentemente é usado com 「まで」:

九州から北海道にいたるまで雨。 = De Kyushu a Hokkaido, (é) chuva. (Lit. De Kyushu até chegar à Hokkaido, (é) chuva).

No Japonês Clássico, a partícula 「を」 podia também ser usada para indicar origem, assim como 「から」. Esse sentido de 「を」 ainda pode aparecer em textos antigos, com alguns tipos de verbos (lição 17) e em partículas compostas (lição 43):

部屋出た。= Saiu do quarto.

O local de um objeto é definido como o objetivo do verbo de existência (ある e  いる). O tempo é outro objetivo muito comum (espaços de tempo, etc). Aqui estão alguns exemplos de verbos que não são de movimento e seus objetivos:

部屋いる。= Estar no quarto.

台所ある。= Estar na cozinha.

来週図書館行く。= Ir à biblioteca na semana que vem.

NOTA: Não se esqueça de usar  「ある」 para objetos inanimados (Ex: cadeira) e  「いる」 para objetos animados (Ex: gato).

Enquanto a partícula 「に」  não é necessária para indicar tempo, há uma sutil diferença de significado entre uma frase na qual se usa a partícula de objetivo e uma frase na qual não se usa. Nos exemplos seguintes, a partícula de objetivo faz da data um objetivo específico, enfatizando que irão ao Japão naquela data específica. Sem a partícula, não há nenhuma ênfase em especial.

来年、日本に行く。= Ano que vem, ir ao Japão.

来年日本に行く。= Ir ao Japão no ano que vem.

Pode-se ainda utilizar a base Ren’youkei de praticamente qualquer verbo como o alvo de um verbo de movimento (nestes casos, quase sempre  「行く」 e 「来る」 ). Tal construção significa “ir” ou “vir” para fazer (algum verbo) e é muito comum:

映画を行く= Ir (para) assistir ao filme.

ケーキを食べ来る。= Vir (para) comer o bolo.

Lembre-se que o verbo   「する」 pode ter vários significados dependendo do contexto. Quando ele aparece em conjunto com a partícula  「に」 , o significado que geralmente deve ser considerado é “decidir por [X]”, sendo sinônimo do verbo  「決める」 . Aliás, esta é uma construção usada com frequência, por exemplo, quando você solicita itens de um menu:

ハンバーガーする。= Decidir pelo hambúrguer.

Finalmente   「に」 pode juntar dois ou mais substantivos para indicar uma lista de itens:

新郎新婦。= Noivo e noiva.

13.5. A PARTÍCULA DIRECIONAL  「へ」

Enquanto  「へ」  é normalmente pronunciado /he/, quando está sendo usado como partícula, é sempre pronunciado como /e/ (え)(uso histórico do Kana). A diferença principal entre as partículas  「に」 e  「へ」 é que a partícula  「に」 vai a um objetivo que é o objetivo final que se deseja alcançar, seja físico ou abstrato. Por outro lado, a partícula  「へ」 é usada pra expressar o fato de que alguém está indo em direção ao objetivo. Como resultado, é usada apenas em verbos de movimento direcionais. Ela também não garante se o objetivo apontado é o destino final, mas apenas que alguém está indo naquela direção. Em outras palavras, a partícula  「に」 foca o destino final, enquanto a partícula  「へ」 é muito vaga e não deixa claro aonde se deseja chegar como objetivo final. Por exemplo, se decidirmos trocar  「に」 por  「へ」 nos primeiros exemplos do tópico anterior, o sentido muda sutilmente:

日本行く。= Ir em direção ao Japão.

帰る。= Voltar em direção a casa.

部屋くる。= Vir em direção ao quarto.

Note que não podemos usar a partícula  「へ」 com verbos que não têm direção física. Por exemplo, a sentença seguinte está incorreta:

 「医者なる。」 é a versão gramaticalmente incorreta de 「医者になる。」

Mas isso não quer dizer que a partícula 「へ」 não possa ir em direção a algum conceito abstrato. De fato, por causa de seu significado vago, pode ser usada também para se falar sobre ir em direção à expectativas ou metas futuras.

勝ち向かう。= Ir em direção à vitória.

Finalmente, vimos no tópico anterior que é possível usar a base Ren’youkei dos verbos como alvo de um verbo de movimento por meio da partícula 「に」. Isso implica que você está indo ou vindo com o propósito de fazer algo. Se usássemos a partícula 「へ」 isso soaria que você está indo ou vindo em direção a algo literalmente, o que é meio estranho:

遊び来る。= Vir (em direção) a brincar.

13.6. A PARTÍCULA CONTEXTUAL  「で」

A partícula 「で」 nos permitirá especificar o contexto no qual a ação é efetuada. Por exemplo, se uma pessoa comeu peixe, onde ela comeu? Se uma pessoa foi à escola, foi por meio de quê? Com o que você vai comer a sopa? Todas estas questões podem ser respondidas com a partícula  「で」. Aqui estão alguns exemplos.

映画館見る。= Ver no cinema.

バス帰る。= Retornar de ônibus.

レストラン昼ご飯を食べる。= Comer almoço no restaurante.

Na verdade, a partícula  「で」 é a versão coloquial de  「にて」, partícula clássica derivada de  「に」 +  「て」, partícula importante que estudaremos na próxima lição. Embora seja antiga,  「にて」 continua a ser usada no japonês moderno:

にて川を渡る。= Atravessar o rio de barco.

にて書く。= Escrever de pincel.

Algo que pode ajudá-lo é pensar em  「で」 com o significado de "por meio de". Desta maneira, o mesmo significado vai "se traduzir" naquilo que a sentença realmente significa. Os exemplos, então, serão lidos: "Ver por meio de cinema", "Retornar por meio de ônibus" e "Comer almoço por meio de restaurante".

Devido ao sentido de mostrar o contexto no qual a ação é efetuada, a partícula  「で」 pode ser usada com os verbos de existência, dependendo do contexto. Por exemplo, se alguém perguntasse “Onde a conferência acadêmica será realizada na próxima vez?”, você poderia responder:  「ニューヨークある」, isto é, ocorrerá em Nova Iorque.

Temos ainda a possibilidade de usar a partícula  「で」 com a palavra "o que" (). Ela é bem irritante porque enquanto é normalmente lida como  「なに」, algumas vezes é lida como  「なん」, dependendo de como é usada. Uma vez que é sempre escrita em Kanji, não podemos dizer de qual se trata a cada momento. Sugerimos que você fique com  「なに」 até que alguém o corrija. Com a partícula  「で」, também se lê  「なに」.

来る?= Vem por meio de quê?

バス来る。= Vem por meio de ônibus.

Aqui começa a parte complicada. Há uma versão coloquial da palavra "por que" que é usada muito mais frequentemente do que a versão menos coloquial  「どうして」 ou a mais enérgica  「なぜ」. Também é escrita  「何で」, mas a leitura é 「なんで」. Esta é uma palavra totalmente independente e não tem nada a ver com a partícula  「で」.

何で来る? = Por que você vem?

暇だから。= Porque sou livre (no sentido de não ter o que fazer).

Aqui o 「から」 significando "por que" é diferente do  「から」 que acabamos de aprender e será discutido na lição de frases compostas. Basicamente, o ponto é que as duas sentenças, apesar de escritas da mesma maneira, são lidas de maneiras diferentes e possuem significados completamente distintos. Mas não se preocupe. Isso causa menos confusão do que você imagina porque em 95% das vezes, a segunda forma é usada em vez da primeira. E mesmo quando a intenção seja usar  「なにで」, o contexto não deixa dúvidas de qual está sendo usado.  Até neste pequeno exemplo, você é capaz de fazer a diferenciação ao olhar a resposta da pergunta.

13.7. LOCALIZAÇÃO: USAR 「で」OU「に」?

Muitos podem confundir as partículas 「」 e 「に」 quando se trata de localização, pois 「に」 também pode ser usada para tal finalidade.

Primeiramente, vamos recorrer ao Japonês Clássico. G. B. Sansom descreve de forma muito interessante a partícula 「に」 em seu livro “An Historical Grammar of Japanese”, página 238, afirmando que 「に」 “pode ser descrita como partícula dativa (indica o objeto indireto), instrumental ou locativa”. Já sabemos que a partícula 「で」 é uma versão coloquial da partícula 「にて」 e, na página 244, o autor descreve 「にて」 como uma partícula que “tem, de forma geral, os mesmos usos que 「に」(!!), exceto que não é usada para o dativo. Finalmente, na página 245 ele afirma que 「にて」 pode ter o sentido locativo de 「に」, significando “em”, mas não pode significar “para”, no sentido de direção para um lugar.

Com base nisso, podemos afirmar que originalmente as partículas 「に」 e 「にて」, da qual surgiu 「で」 tinham as mesmas funções, com a exceção que 「にて」 não era usada para indicar o objeto indireto e um local ao qual se está se dirigindo.

Atualmente, não faltam tentativas de se encontrar a “regra de ouro”, que no fim das contas, acabam confundindo se não se leva em consideração de que podem existir exceções. Cientes disso, vamos listar as principais tentativas de diferenciar essas duas partículas quanto à localização. Chamaremos de princípios para fins meramente didáticos:

PRINCÍPIO 1: A NATUREZA INDIVIDUAL DO VERBO

Como você já deve imaginar, os verbos podem exigir complementos ou não para que a ideia seja transmitida de forma completa. Por exemplo, o verbo “comer” pede como complemento um objeto direto, que vai responder à pergunta comer “o que?”.

Como a questão aqui é a localidade, podemos, então, raciocinar assim: a localidade é algo exigido pelo verbo em si como seu complemento (a localização é inerente ao significado do verbo) ou é um termo acessório (apenas uma informação adicional)? Assim, se é essencial, usa-se 「に」 e se é acessório, usa-se 「で」. Com isso teríamos:

[X]------VERBO = [X] é inerente ao significado do verbo

[X]------VERBO = [X] é apenas uma informação adicional

Observe as orações abaixo:

講演いる。 = Estar no parque.

レストラン食べる。= Comer no restaurante.

NOTA: Ainda que os japoneses possam entender, por exemplo, 「レストラン食べる」como “comer no restaurante”, está incorreto, pois, segundo o princípio da natureza individual do verbo, 「食べる」 não exige um lugar como complemento. Neste caso, um lugar é termo acessório, então, deve ser marcado com 「で」.

Em cursos convencionais, costuma-se ensinar como “regra” geral (considere as aspas) que se deve usar 「に」 para indicar o local de verbos de estado (existir, morar, etc.), enquanto 「で」, para verbos que expressam ação (comer, dormir, falar, etc.). Porém, há verbos como 「働く」, que tem sua localização indicada por 「で」 e o verbo 「務める」, que tem sua localização indicada por 「に」. Aliás, o princípio da natureza individual do verbo nos leva a estudar os verbos individualmente, isto é, cada verbo tem uma exigência diferente, então, é incorreto classifica-los em grupos neste quesito.

PRINCÍPIO 2: A ATENÇÃO VOLTADA PARA O LUGAR

Segundo este artigo do site “Nihon Bunka Kenkyuukai”, com「に」 foca-se o lugar, enquanto que com 「で」, o foco está na ação. Observe os exemplos:

(1) 駅財布を忘れた。= Esqueceu a carteira na estação.

(2) 駅財布を忘れた。= Esqueceu a carteira na estação.

Embora tecnicamente possamos traduzir as duas orações da mesma forma, há uma diferença a ser considerada: em (1), o falante foca-se no ponto (a estação), enquanto que em (2), seu foco está na ação em si (esqueceu a carteira). Este é o mesmo entendimento do site “Nihongo Resources”:

“§ 4.2.1.4. (...) “Nós brincamos no parque” e “As facas estão no armário” usam a mesma preposição “no”. Em japonês, são duas coisas bem diferentes: a primeira sentença se concentra em um evento, enquanto a segunda se concentra em um local. Consequentemente, a primeira sentença requer 「で」, enquanto que a segunda usa outra partícula, 「に」.”.

Observe a próxima oração, considerando como sujeito “o gato”:

ソファ寝た。= (O gato) dormiu no sofá.

No exemplo acima, 「に」 é usada para indicar um ponto no espaço, isto é, um ponto no sofá. Se quiséssemos focar na ação de dormir, deveríamos usar 「で」.

Ainda segundo o “Nihongo Resources”, saber diferenciar os usos de 「に」 e 「で」 é muito útil quando se quer dizer algo que em português soaria ambíguo, como “Nós nos hospedamos em um hotel”. Será que aqui estamos respondendo à pergunta “O que vocês fizeram?” ou “Onde vocês se hospedaram?”. Sem um contexto, em português não seria possível saber, mas em japonês, essa distinção fica óbvia:

(1) ホテル泊まった。= (Nós) nos hospedamos em um hotel.

(2) ホテル泊まった。= (Nós) nos hospedamos em um hotel.

Esse também parece ser o entendimento do site Wasabi. Por exemplo, se disséssemos em português “plantar no parque”, isso de certa forma soaria ambíguo: plantamos no parque (deixamos algo no parque em si) ou estando no parque, plantamos, mas não no parque em si? Então, o autor afirma que “quando você usa 「に」, a flor precisa estar no parque. No entanto, quando você usa 「で」, a flor pode ser movida para fora do parque depois que você plantou a flor no vaso (dentro do) parque”.

Note que este princípio parece contradizer o princípio anterior, isto é, da natureza individual do verbo. Porém, haverá quem prefira considerar que os casos apresentados se encaixam, na verdade, no princípio 1, e a questão aqui é somente qual significado do verbo considerar. Em outras palavras: um mesmo verbo pode ter diversos sentidos e com isso pode exigir complementos ou não dependendo de como for usado. Isso poderia ser comparado ao que temos em português como, por exemplo, o verbo “aspirar”. Se o complementamos com um objeto direto, tem sentido de inspirar, inalar, cheirar, absorver, sugar e sorver. Entretanto, se o complementamos com um objeto indireto, tem sentido de desejar muito alguma coisa. Observe:

(1) Aspirar O perfume (o perfume é objeto direto, então, significa “cheirar” o perfume).

(2) Aspirar AO sucesso (o sucesso é objeto indireto, então, significa “desejar” o sucesso).

Assim, podemos nos deparar com a seguinte situação:

[X]------VERBO 1 = “VERBO 1” com determinado significado

[X]------VERBO 1 = “VERBO 1” (mesmo verbo) com outro significado

Por essa razão, ao se deparar, por exemplo, com 「ソファ寝た」 e 「ソファ寝た」, você deve se perguntar:

I. Que tipo de complemento o verbo em questão exige?

II. O verbo em questão possui diversos significados?

III. O verbo em questão exige um lugar como complemento em algum de seus significados?

IV. O verbo em questão não exige um lugar como complemento e também não possui outros significados que exijam tal complemento. Porém, deparo-me com exemplos nos quais o lugar é indicado ora por 「に」, ora por 「で」. Estou diante de um erro?

O verbo 「寝る」 significa “dormir”, mas também pode ser usado de modo que exija um lugar como complemento. Neste caso, isto é, 「[LOCAL]寝る」, deve-se considerar o significado “deitar EM”. Perceba que enfatizamos a preposição “em” na tradução para que se perceba com mais facilidade a necessidade de um complemento de lugar para o verbo. Sendo assim, temos:

(1) ソファ寝た。= (O gato) deitou no sofá.

(2) ソファ寝た。= (O gato) dormiu no sofá.

Já o verbo 「忘れる」 também tem outros significados e em algum deles é exigido um lugar como complemento. Neste caso, significa “deixar (sem querer, sem perceber) EM”. Considerando isso, os exemplos dados pelo site “Nihon Bunka Kenkyuukai” devem ser traduzidos assim:

(1) 駅財布を忘れた。= Deixou (sem querer, sem perceber) a carteira na estação.

(2) 駅財布を忘れた。= Esqueceu a carteira na estação.

Com relação ao verbo “plantar” que citamos baseados em um exemplo dado pelo site Wasabi, observe as duas orações a seguir:

(1) 公園バラを植える。= Plantar a rosa no parque.

(2) 公園バラを植える。= Plantar a rosa no parque.

Levando em consideração o Princípio da Natureza Individual do Verbo, o verbo 「うえる」(植える) exige um lugar como complemento (quem planta, planta algo EM ALGUM LUGAR). Sendo assim, na oração (1), “parque” é complemento do verbo, é o lugar no qual a rosa é plantada de fato (no solo do parque). Já em (2) isso não fica claro, pois “parque” não é complemento do verbo; é apenas uma informação adicional. Para ficar claro, poderíamos ter, por exemplo:

(3) 公園花瓶バラを植える。= No parque, plantar a rosa no vaso.

Na oração (3), sabemos que a rosa é plantada de fato no vaso, tendo como lugar dessa ação o parque.

O verbo 「泊まる」 também exige um lugar como complemento. Assim, do ponto de vista japonês, 「ホテル泊まった」 e 「ホテル泊まった」 não significam exatamente a mesma coisa. Considerando o princípio da natureza individual do verbo, 「ホテル é termo essencial de 「泊まった」, ao passo que 「ホテル」 é apenas um termo acessório. Portanto, de forma parecida à situação anterior, com 「ホテル」 se indica que se hospedou de fato no hotel, ao passo que com 「ホテル」 isso não fica claro. Pode ser que, por exemplo, a pessoa não tinha dinheiro para pagar um quarto, mas foi permitido que ela armasse uma barraca do lado de fora, mas ainda nas dependências do hotel.

Além disso, sempre leve em consideração a pergunta IV, mesmo diante de algo vindo de um nativo, pois, de forma geral, nativos costumam ter apenas conhecimento prático da sua língua, o que nem sempre reflete o correto gramaticalmente. Por falar nisso, vamos analisar novamente dois exemplos já citados:

(1) 公園バラを植える。= Plantar a rosa no parque.

(2) ホテル泊まった。 = Hospedou no hotel.

Alguns, considerando o Princípio da Natureza Individual do Verbo poderão levantar a questão: “Se os verbos 「うえる」 (植える) e 「とまる」 (泊まる) exigem um lugar como complemento, então, os exemplos citados com 「で」 estariam incompletos?”

Respondemos que tecnicamente SIM! Por isso, literalmente os exemplos citados deveriam ser traduzidos assim:

(1) 公園バラを植える。= No parque, plantar a rosa EM.

(2) ホテル泊まった。 = No hotel, hospedou EM.

Fica estranho mesmo, pois falta uma informação. Entretanto, digamos que de maneira geral, os japoneses entenderiam essas orações como traduzidas anteriormente, isto é, “Plantar a rosa no parque” e “Hospedou no hotel”, ainda que incompletas e, por isso, ambíguas. Quantas vezes falamos ou escrevemos de forma incorreta em português no nosso dia a dia, mas mesmo assim nos entendemos, não é mesmo? Há erros que se tornam tão comuns e acabam não sendo percebidos pela maioria dos falantes.

Ainda, o Princípio da Natureza Individual do Verbo nos leva a considerar, além do significado do verbo, as suas sutilezas. Por exemplo, algumas fontes apontam que o verbo 「とまる」 (泊まる) significa hospedar em algum lugar que seja possível se hospedar. Sendo assim, a oração seguinte soa estranha:

(1) サンパウロ泊まった。= Hospedou em (na cidade de) São Paulo.

A cidade de São Paulo não é um lugar voltado em si para hospedagens. Por isso, não é aconselhável usar esse termo como complemento para o verbo em questão. Porém, em São Paulo, existem lugares em que é possível se hospedar (hotel, casa de amigos, etc.). Assim, poderíamos reescrever o exemplo desta forma:

(2) サンパウロホテル泊まった。= (Na cidade de) São Paulo, hospedou em um hotel.

NOTA: Os conceitos abordados até aqui sobre o “Princípio da Natureza Individual do Verbo” se estendem a outras partículas que podem também indicar um complemento do verbo. É o caso da partícula 「と」. Nesses casos, o contexto nos ajudará a saber qual uso da partícula em questão considerar. Por exemplo, o verbo 「なる」 significa “tornar-se” quando acompanhado da partícula 「に」 e pode significar “fazer-se igual a, assumir a posição de” quando acompanhado por 「と」:

(1) 弁護士なった。= Tornou-se advogado.

(2) 弁護士なった。= Fez-se igual a um advogado.

Repare que em (1) se diz que alguém de fato se tornou um advogado, ao passo que em (2) isso não fica claro; pode ser que alguém que não é advogado, em dada situação, apenas agiu como tal, de maneira análoga.

PRINCÍPIO 3: A AÇÃO DENTRO DE ESPAÇO SUFICIENTE

Ainda segundo o site “Nihon Bunka Kenkyuukai”, a partícula 「で」 precisa de espaço, dentro do qual, a ação é realizada. Em outras palavras, parece implicar que a ação é realizada de fato no lugar em questão. Veja a seguir:

(1) ベンチ財布を忘れた。= (Eu) esqueci a carteira no assento.

(2) ベンチ財布を忘れた。= (Eu) esqueci a carteira no assento.

Segundo este princípio, com 「で」 a oração parece soar estranha, pois pode implicar que eu me movia de fato no assento (como se ele fosse um palco) quando esqueci a carteira. Por isso, aqui 「に」 é preferível, porque se deseja indicar o ponto onde a carteira foi deixada. Talvez, por isso, é que o lugar no qual se escreve (folha, por exemplo) é indicado com 「に」: a folha é apenas um ponto no qual se escreve e não palco, no sentido de que alguém pode estar de fato em cima de uma folha e aí sim escrever algo.

Note que este princípio também parece contradizer o da natureza individual do verbo, pois de certa forma nos leva a considerar o local e seu tamanho como fator determinante para a escolha da partícula e não o verbo. Entretanto, observe as orações a seguir e os termos destacados:

(1) 座る。= Sentar na escrivaninha.

(2) 勉強する。= Estudar na escrivaninha.

Nesses dois exemplos baseados em orações que constam no site “Jisho.org”, repare que temos o mesmo local, mas as partículas são diferentes. A única diferença é o verbo.

Retomemos os exemplos citados com o verbo 「忘れる」. Como já mencionamos, o referido verbo também pertence ao grupo dos verbos que possuem diversos significados e que em algum deles pede um lugar como complemento. Sendo assim, quando temos 「[LOCAL]忘れる」, deve-se considerar o significado “deixar (sem querer, sem perceber) EM”. Por esta razão, do ponto de vista japonês, os dois exemplos dados pelo site “Nihon Bunka Kenkyuukai”, devem ser traduzidos desta forma:

(1) ベンチ財布を忘れた。= (Eu) deixei (sem querer, sem perceber) a carteira no assento.

(2) ベンチ財布を忘れた。= (Eu) esqueci a carteira no assento.

Cremos que com isso, o princípio da natureza individual do verbo ganha mais um ponto.

PRINCÍPIO 4: O LUGAR INDETERMINADO

A partícula 「に」 também é usada para indicar uma localização indeterminada:

向こう。。。 虹!= Para além... um arco-íris!

Note que “para além” é bem indeterminado, entretanto, como se trata de uma localização, 「に」 é usada.

PRINCÍPIO 5: O USO PRÁTICO DA LÍNGUA

Pelo menos em alguns casos, a diferença que existe  entre 「に」 e 「で」 parece ser mais questão de preferências que se tornaram populares e aceitas nos diferentes usos do que de regras gramaticais propriamente ditas. Isso nos remete ao assunto “colocação” que vimos na lição 8.

Por exemplo, quando lugares são citados sem que sejam acompanhados por verbos, ao que parece, a preferência é usar 「に」:

ブラジル。。。= No Brasil...

Também, há expressões que parecem ter se consagrado apenas com uma ou outra partícula. Por exemplo, ao pesquisarmos a expressão “na / à noite”, encontramos somente a forma 「夜」 e não「夜」.

***

Apresentados esses cinco princípios, nosso conselho é que você encare essa questão como a relação entre um verbo e a necessidade (ou não) de um termo essencial (no caso, um local) para completar seu sentido, bem como os diferentes significados que um mesmo verbo pode ter de acordo com essa necessidade (ou não) de um lugar como complemento. Isso tudo considerando as coisas do ponto de vista japonês, isto é, mesmo que o verbo em questão seja traduzido sempre com o mesmo significado para outras línguas. Numa comparação bem rasa, seria algo como REGÊNCIA VERBAL que temos na língua portuguesa. E é claro que quando tratamos de comunicação entre pessoas não devemos deixar de considerar também o uso prático da língua.

NOTA: Infelizmente não encontramos nenhum material que trate de regência verbal na língua japonesa de forma satisfatória. Portanto, é algo que precisaremos aprender como a maioria das pessoas aprende: pela vivência no idioma.

É importante frisar que o foco deste tópico foi tão somente a indicação de lugar por 「で」 e 「に」. Por isso, não consideramos outros usos possíveis dessas duas partículas. Entretanto, às vezes será possível usar os quatro princípios aqui abordados para auxiliar a diferenciar essas duas partículas em outros casos. Por exemplo, em expressões de tempo, 「で」parece se encaixar no princípio da ação dentro de espaço suficiente. Observe:

1週間終わる。= Terminar em (= dentro, período de) uma semana.

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