LIÇÃO 15: PARTÍCULAS II

Já temos um poder de expressão relativamente bom, pois conhecemos os tempos e formas verbais básicas, além de saber como direcionar ou aplicar uma ação diretamente em um substantivo. Agora, veremos mais três partículas: a de tópico, a identificadora e a inclusiva e suas possíveis combinações.

15.1.「は」 COMO PARTÍCULA DE TÓPICO

Como já mencionamos em lições passadas, os verbos em japonês não flexionam de acordo com o sujeito, e os tempos verbais básicos são “não-passado” e “passado”. Lembra-se que na lição 13 pedimos que você fizesse de conta que igualmente na língua portuguesa há só dois tempos verbais básicos e que os verbos não flexionam de acordo com o sujeito? Você se recorda também dessa conjugação imaginária: a forma não passada seja o verbo na forma infinitiva e a forma passada seja a terceira pessoa do pretérito perfeito? Se não, vamos vê-la novamente:

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Agora, pense e responda:

“Se na língua portuguesa, os verbos fossem conjugados dessa maneira, como saberíamos de quem se está falando, se todas as flexões são iguais, independemente do sujeito?”

Bem, a primeira resposta que deve ter vindo a sua mente é “com base no sujeito”, ou seja, se estivesse escrito “Os cachorros beber água”, é de cachorros que estamos falando.

Veja como numa língua em que os verbos não são flexionados de acordo com o sujeito, o sujeito é de extrema importância para saber do que se está falando. Talvez por isso, por exemplo, é que na língua inglesa formal toda oração deve ter um sujeito explícito PORÉM, em japonês é diferente: mesmo os verbos não flexionando de acordo com o sujeito, não é obrigatório ter um sujeito explicito. Pode-se dizer tão somente “Beber o suco” e tudo está certo. Entretanto, como saberíamos do que estão falando, já que isso soa muito vago? É aqui que entra uma segunda resposta possível...

Bem, na língua japonesa existem várias maneiras e todas elas envolvem fazer suposições a partir do contexto. Por exemplo, se de repente eu perguntasse a você:

EU:  ジュースを飲んだ?  

Você suporia que estou perguntando se VOCÊ bebeu o suco, porque não estou falando de outra pessoa. Então, você poderia responder:

VOCÊ:  ジュースを飲んだ。

Com isso, eu iria supor que você está falando DE SI MESMO, porque eu acabei de lhe fazer uma pergunta e agora sei que você bebeu o suco. Da mesma forma, se por acaso estivéssemos falando de Midori quando eu lhe fiz a pergunta, você provavelmente pensaria que eu estivesse perguntando se MIDORI bebeu o suco, porque é dela que nós estávamos falando.

Se tomarmos uma língua como o japonês, na qual o assunto é tão fortemente baseado no contexto, precisamos ser capazes de identificar algumas coisas. Enquanto fazer suposições a partir do contexto funcionaria no caso de perguntas e respostas simples, algo mais complicado, em breve se tornaria uma bagunça, já que todo mundo começaria a perder a noção de quem ou do que estão falando. Portanto, temos de ser capazes de dizer ao ouvinte quando queremos mudar o assunto atual, alertando-o mais ou menos assim: "Ei, eu vou falar sobre isso agora. Portanto, não suponha que eu ainda esteja falando sobre a coisa antiga”. Isto é especialmente importante quando se inicia uma nova conversa e você precisa dizer ao ouvinte do que você está falando. Isto é o que a partícula 「は」 faz; introduz um tópico diferente do atual, delimitando o restante da sentença a este novo tópico. Por essa razão, é também referida como a "partícula de tópico". Você pode pensar que 「は」 tem o sentido de “falando de (assunto)”.

Vamos retomar o exemplo inicial no qual eu quis perguntar se você bebeu o suco. O diálogo seria assim:

EU:  ジュースを飲んだ? = VOCÊ tomou o suco?

VOCÊ:  ジュースを飲んだ。= EU bebi o suco.

Agora, e se eu quisesse perguntar se Midori tomou o suco? Neste caso, eu preciso usar a partícula 「は」 para indicar que eu estou falando sobre “Midori”, porque do contrário, você assumiria que eu estou falando de você.

EU: みどりジュースを飲んだ? = MIDORI tomou o suco? (Falando de “Midori”, ela tomou o suco?)

VOCÊ:  ジュースを飲んだ。= MIDORI tomou o suco.

Observe como, uma vez que eu que eu estabeleci “Midori” como o novo tópico, a conversa está limitada a ela e, por isso, podemos continuar a assumir que estamos falando sobre “Midori” até que alguém altere o tópico novamente.

A noção de delimitação da sentença é muito importante. Suponhamos que você costuma ir a uma festa que aconteça todos os sábados à noite. Em determinada semana, ao final da festa, chega ao anfitrião e diz:

今晩パーティーを楽しんだ。= Está noite apreciei a festa.

Você correrá o risco de fazê-lo pensar “puxa, e as outras, você não apreciou?”, já que a sentença está limitada a “esta noite”. Perceba que até em português isso soaria ambíguo.

Note também que, devido à função da partícula 「は」 de destacar o tópico, delimitando o restante da sentença a ele, poderíamos dizer que, de certa maneira, ela dá ênfase e/ou contraste ao(s) elemento(s) que a precedem. Esta noção de ênfase e claramente notada quando 「は」 aparece anexada à base Ren’youkei de todas as classes de palavras flexionáveis:

約束を忘れしない。= Não esquecerei a promessa. (Lit. Esquecer a promessa, não farei) (anexada à base Ren’youkei do verbo「忘れる」).

Perceba que poderia ser dito 「約束を忘れない」, mas 「約束を忘れしない」é muito mais enfático e restrito. É como se disséssemos “Eu posso fazer absolutamente de tudo nesse mundo, mas não esquecerei a promessa”. Aqui fica claro, então, o sentido de ênfase e/ou contraste que, devido a sua essência, 「は」 pode carregar. Por essa razão, não raramente presenciamos frases que parecem ser “um tópico dentro do outro”. Por exemplo, a oração acima poderia ser rescrita assim:

約束を忘れしない。= Não esquecerei a promessa.

Na oração acima, o que temos é apenas o estabelecimento do tópico “eu” e a criação do sub-tópico “esquecer a promessa” a fim de dar ênfase a “esquecer a promessa” ou contrasta-lo dentro desse contexto já indicado (eu). Uma tradução literal seria “Falando de “eu”, (agora) “falando de esquecer a promessa”, não farei”.

Neste sentido, a partícula 「は」torna-se muito versátil, podendo até mesmo aparecer depois de outras partículas.

Aliás, em construções como 「約束を忘れしない」é possível usar「や」no lugar de 「は」, isto é, 「約束を忘れしない」. Esse padrão geralmente é cobrado no nível 1 do JLPT. Também, esse 「や」 pode ser usado em sua forma pequena quando a Base Ren’youkei do verbo terminar na coluna do I, principalmente「り」e 「き」:

退きしない! = (Eu) não me afastarei!

Também, é possível usar o verbo 「する」 nesse tipo de construção sem ser na forma negativa:

ジュースを飲みはする。= (Eu) beberei o suco. (de forma bem enfática)

Essa construção enfática com pode ser feita com substantivos:

批判はする。= Criticar. (bem enfático)

Vejamos mais um diálogo:

MAKOTO:  ひろし明日?= Falando de Hiroshi, é amanhã?

MIDORI:  明日じゃない。= Amanhã, não.

Neste exemplo, já que não temos nenhum contexto, não possuímos informação suficiente para que possamos dar algum sentido a essa conversa. Obviamente não há sentido algum em “Hiroshi ser amanhã”. Dado um contexto, e como a oração tem algo a ver com Hiroshi e amanhã, pode significar qualquer coisa. Por exemplo, eles podem estar falando de quando um exame será feito:

MIDORI: 今日試験だ。= Hoje é exame.

MAKOTO: ひろし?= E o Hiroshi?

MIDORI: ひろし明日。= Hiroshi, é amanhã. (Para Hiroshi, o exame será amanhã).

O exemplo acima mostra quão genérico o assunto de uma oração pode realmente ser. Este pode estar se referindo a qualquer ação ou objeto de qualquer lugar, incluindo até mesmo outras sentenças. Por exemplo, na última frase da conversa acima, mesmo que o assunto da sentença seja sobre quando Hiroshi fará o exame, a palavra "exame" não aparece em nenhum lugar na frase.

Também na última frase fica claro que “tema” não é a mesma coisa que “sujeito”, pois pelo contexto assumido, aquilo que seria para nós o sujeito não é o que está marcado pela partícula 「は」 (Hiroshi), mas é algo que está subentendido, isto é, “o exame”. Portanto, são coisas completamente distintas.

Para ficar mais claro que “tema” não é a mesma coisa que “sujeito”, vamos recorrer a nossa língua. Observe a sentença abaixo:

Falando de praia, a água está impropria para banho hoje.

Com esta sentença fica muito claro. Estamos falando de “praia”, mas na afirmação que se segue, o sujeito não é “praia”, mas sim “água”. Note mais uma vez que, embora o tópico seja “praia”, não precisamos necessariamente falar de “praia” em si, mas podemos estender nossa afirmação a algo relacionado a ela. Em outras palavras, a algo delimitado,  que esteja no contexto de “praia” dentro da conversa.

Na lição 14 mencionamos que uma das principais funções da Forma TE é conectar orações:

魚を食べジュースを飲む。= Comer o peixe e beber o suco.

Quando usados dessa forma, os verbos, em princípio, referem-se à mesma coisa. Portanto, a oração acima poderia ser entendida assim:

魚を食べジュースを飲む。= (EU) como o peixe e (EU) bebo o suco.

Embora não seja tão comum, é possível ter duas orações diferentes conectadas através da forma TE se referindo a coisas distintas. Neste caso, costuma-se usar a partícula 「は」 para cada um dos diferentes elementos:

ひろし魚を食べ、みどりジュースを飲む。= HIROSHI come o peixe e MIDORI bebe o suco.

15.2.「が」 COMO PARTÍCULA IDENTIFICADORA

Então, podemos introduzir um novo tópico à conversa através da partícula 「は」. Contudo, e se durante o diálogo surgir algo incógnito? Para ilustrar, observe o seguinte diálogo:

EU: ジュースを飲んだ? = VOCÊ bebeu o suco?

Pelo contexto, você suporia que eu estou perguntando se você bebeu o suco. Você responde:

VOCÊ: ジュースを飲まなかった。= EU não bebi o suco.

Você responde que não bebeu o suco. Porém, o copo está vazio e eu quero saber quem o bebeu. Neste caso, o que preciso é de um tipo de identificador, haja vista que eu não sei quem bebeu o suco. Perceba que se eu usar a partícula 「は」 para perguntar “quem tomou o suco?” 「誰ジュースを飲んだ?」, a pergunta se transforma em “o QUEM tomou o suco?”, algo que não faz nenhum sentido, porque "quem" não é uma pessoa.

É aqui que a partícula 「が」 entra em campo. Ela também é conhecida como “partícula de sujeito”, mas esse nome mais atrapalha do que ajuda. Por isso, vamos chama-la de “partícula identificadora” porque indica que o falante deseja especificar algo até então desconhecido.

A conversa sobre o “bebedor” de sucos oculto poderia prosseguir assim (os elementos entre colchetes são apenas para enfatizar o sentido das frases):

EU: 誰ジュースを飲んだ? = Quem [é que] bebeu o suco?

VOCÊ: みどり飲んだ。= Midori [é a aquela] que bebeu o suco.

Repare como a partícula 「が」 é usada duas vezes, porque você precisa identificar quem tomou o suco na resposta. Por esta razão, dizer 「みどり飲んだ。」não seria uma boa escolha, haja vista que não estamos falando de Midori, mas sim tentando identificar a pessoa desconhecida que tomou o suco.

Um ponto importante aqui é que não se deve usar「が」 para identificar um objeto direto, pois esta função já é exercida pela partícula 「を」, e essas duas partículas são mutuamente exclusivas. Observe a seguinte sentença:

昨日、すしを食べた。= Ontem, comi sushi.

Se quiséssemos mudar o foco para “sushi” como a coisa que foi comida, teríamos que mudar a oração para a passiva como em português. Em outras palavras, como 「が」 identifica algo, você pode pensar que está especificando que “o sushi é a coisa que foi comida”. Ora, isso em português é a voz passiva e, neste caso, no japonês funciona da mesma forma.

Como fazer a voz passiva em japonês? Veremos na lição 31.

15.3. 「は」  VS. 「が」: TENTANDO CLARIFICAR AS COISAS

À primeira vista, as partículas 「は」 e 「が」 podem parecer idênticas. Isto se deve ao fato de que não é possível traduzir a diferença que há entre elas diretamente para o português. Para ilustrar, dê uma olhada nos exemplos abaixo:

A) みどり学生。= Midori é estudante.

B) みどり学生。= Midori é estudante.

Devido à falta de contexto, bem tecnicamente, a tradução mais próxima para ambas as sentenças pode ser “Midori é estudante”. Porém, elas parecem iguais, somente, por que não é possível expressar em português a informação, o contexto tão claramente como é possível algumas vezes em japonês. A lição mais importante aqui é ter em mente a diferença entre falar sobre algo e especificar algo. Na afirmação (A), uma vez que 「みどり」 é o assunto da frase, a sentença significa: "Falando sobre ‘Midori’, Midori é uma estudante". Já na sentença (B), 「みどり」 está especificando quem é o “estudante”  「学生」. Se quisermos saber quem é o “estudante”, a partícula 「が」 nos informa: o estudante é “Midori” 「みどり」.

Vimos na seção anterior a oração em português “Falando de praia, a água está imprópria para banho”, no qual podemos dizer que “praia” é o tópico. O que será dito a seguir está girando em torno de “praia”, mas não necessariamente precisamos falar especificamente de “praia” (no exemplo, seguimos o tópico “praia” afirmando que a “água” que está imprópria para banho). Sendo assim, se em português precisássemos usar a partícula de tópico, ficaria assim:

Praia は, a água está imprópria para banho.

Veja como o tópico nos dá uma amplitude maior, pois, de novo, não necessariamente precisamos falar dele especificamente, mas podemos estender nossa afirmação a algo relacionado a ele ou mesmo subentendido pelo contexto. Por outro lado, a partícula 「が」 é muito limitadora, específica, restrita ao elemento que ela segue. Por essa razão, se tivéssemos Praia が, o que fosse dito a seguir se aplicaria ao elemento “praia” especificamente (e somente a ele). Poderíamos afirmar, por exemplo, que a praia é bonita, a praia está cheia, etc. e só. Nada de afirmar outra coisa que não seja especificamente se referindo ao elemento “praia” (como seria possível com a partícula 「は」, com a qual falamos sobre “praia”, mas afirmamos algo sobre “água”).

Poderíamos representar a diferença da seguinte forma:

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Vamos ver os exemplos a seguir referentes às aplicações da partícula 「は」:

ひろしこない。= Falando de Hiroshi, ele (Hiroshi) não virá (afirmação se referindo ao próprio Hiroshi).

ひろし妹がこない。= Falando de Hiroshi, a irmã mais nova (dele) não virá (afirmação se referindo a algo dentro do universo de Hiroshi).

ひろし明日。= Falando de Hiroshi, o exame será amanhã (afirmação se referindo a algo subentendido pelo contexto, ou seja, “o exame” de Hiroshi).

Agora, vejamos um exemplo de aplicação da partícula 「が」:

ひろしこない。= Hiroshi (é quem) não virá (“Hiroshi” identifica, especifica quem não virá).

Nos livros convencionais se costuma indicar que 「は」 é usado para se introduzir coisas conhecidas à conversa ao passo que 「が」 é usado para coisas desconhecidas. Tal diferenciação é simplista, mas tem sentido se considerarmos tudo que vimos até aqui neste tópico. Perceba que 「は」 carrega certa ambiguidade sem um contexto subentendido na cabeça de quem recebe a informação. Por exemplo, suponhamos que queremos introduzir um novo personagem – Midori - em uma história:

A) 学生みどりだ。

B) 学生みどりだ。

Veja que 「が」 é recomendável nesta situação, porque definitivamente se está afirmando que “A estudante é Midori”. Com 「は」 tal conclusão não fica clara. Dependendo do contexto, pode-se interpretar, por exemplo, que o estudante gosta de Midori ou que Midori fez algo ao estudante.

Enfim, as partículas 「は」 e 「が」 são diferentes se você pensar da forma correta. A partícula 「が」 identifica uma propriedade específica de algo, enquanto a partícula 「は」 é usada somente para trazer um novo assunto à conversa (considerando o contexto). Esta é a razão de, em orações longas, ser comum separar o assunto com vírgulas para remover qualquer ambiguidade sobre a qual parte da oração o assunto se refere.

15.4.「も」 COMO PARTÍCULA INCLUSIVA E ENFÁTICA

A partícula 「も」 essencialmente tem o sentido de “também”. Seu uso será melhor explicado nos exemplos abaixo:

MAKOTO: みどりは学生?= Você (Midori) é estudante?

MIDORI: うん、ひろし学生。= Sim, e Hiroshi também é estudante.

Repare que ao incluir a partícula 「も」, Midori precisa ser coerente na resposta. Não faria muito sentido ela dizer "Eu sou uma estudante, e Hiroshi também não é um estudante." Em vez disto, Midori poderá usar a partícula 「は」 para remover o sentido adicional da inclusão, como demonstra o próximo exemplo.

MAKOTO: みどりは学生?= Você (Midori) é estudante?

MIDORI: うん、でもひろし学生じゃない。= Sim, mas Hiroshi não é estudante.

O exemplo seguinte demonstra outra possibilidade (inclusão com negativa).

MAKOTO: みどりは学生?= Você (Midori) é estudante?

MIDORI: ううん、ひろし学生じゃない。= Não, e Hiroshi também não é estudante.

Mas por que Midori, do nada, fala sobre Hiroshi quando Makoto está perguntando sobre ela? Talvez, Hiroshi esteja próximo a ela e ela queira incluir Hiroshi na conversa.

A partícula 「も」 não é usada em conjunto com 「は」, 「が」 e 「を」, mas sim os substitui. Veja:

ひろし学生じゃない。→ ひろし学生じゃない。 (não はも)  = Hiroshi também não é estudante.

ひろし学生じゃない。→ ひろし学生じゃない。 (não がも) = Hiroshi também não é estudante.

ひろしジュース飲まない。→ ひろしはジュース飲まない。(não をも) = Falando de Hiroshi, ele não bebe também o suco.

Em sentenças negativas, 「も」 pode ser interpretado como “nem (sequer)”:

ひろしはジュース飲まない。= Hiroshi não bebe nem (sequer) o suco.

A partícula 「も」 também pode ser usada para dar ênfase, sendo esse uso comum em orações negativas:

朝ご飯を食べずに学校に行った。 = (Eu) fui à escola sem tomar o café da manhã.

No exemplo acima, 「も」 está apenas dando ênfase à oração 「朝ご飯を食べずに」.

Aliás, vimos que a base Ren’youkei dos verbos pode ser usada como um substantivo regular. Contudo, observe a frase a seguir:

飲みする。= Beber (?)

Embora, a sentença faça sentido, ninguém fala desse jeito. Há uma construção, entretanto, que é usar a forma contraída da forma TE negativa「ないで」 do verbo 「する」, isto é, 「しないで」 em padrões como esse visto acima:

飲みしないで魚を食べた。= Sem beber, (eu) comi o peixe.

Normalmente se usa a partícula 「も」 em vez da partícula 「を」em azul para enfatizar a forma negativa.

飲みしないで魚を食べた。= Sem nem beber, (eu) comi o peixe.

15.5. PARTÍCULAS DUPLAS I

Partícula dupla é o fenômeno em que duas partículas são combinadas.

Começando nossa abordagem, há casos em que o lugar da ação é também o tópico da sentença. Você pode anexar as partículas de tópico (「は」 e 「も」) às três partículas que indicam localização (「に」、「へ」、「で」) quando o local for o tópico. Vamos ver como o lugar pode se tornar o tópico no pequeno diálogo abaixo:

MAKOTO: 学校に行った?= (Você) foi à escola?

MIDORI: 行かなかった。= Não fui.

MAKOTO: 図書館には= E à biblioteca?

MIDORI: 図書館にも行かなかった。= Também não fui à biblioteca.

Durante o diálogo Makoto trouxe um novo assunto (biblioteca), então, o lugar virou o tópico. A sentença é na verdade uma versão abreviada de 「図書館には行った?」, como você pode supor pelo contexto.

Também, a partícula dupla 「にも」 pode ter um sentido de “mesmo (que)”. Como sempre, tudo dependerá do contexto. Observe o exemplo a seguir:

ひろしは昼休みにも勉強をする。= Falando de Hiroshi, mesmo na hora do almoço, ele estuda.

Agora, veja o próximo diálogo:

MAKOTO: 寿司を食べない?= (Você) não comerá sushi?

MIDORI: いいえ、レストランでは食べない。= Não, no restaurante não comerei.

Makoto pergunta a Midori se ela não comerá sushi e ela responde que no restaurante não. Talvez, Midori não goste de restaurante e sabe que Makoto poderá sugerir tal lugar. Então, nesse caso, Midori traz “restaurante” à conversa para dizer que não comerá nesse lugar.

A partícula de objeto direto é diferente das partículas relacionadas com lugares, pois você não pode usar nenhuma outra partícula ao mesmo tempo. Por exemplo, talvez você tenha achado que seria possível dizer 「をは」 para expressar que o objeto direto é também o tópico, mas esse não é o caso. Um tópico pode ser um objeto direto sem usar a partícula 「を」. De fato, colocar a partícula 「を」 seria errado.

日本語習う。= Aprender japonês.

日本語、習う。= Sobre japonês, (vou) aprender.

Por favor, tome cuidado para não cometer esse tipo de erro:

日本語をは、習う。- [Isso é incorreto.]

No Japonês Moderno essa combinação não é possível, mas nos tempos antigos ela existia como 「をば」 e era usada para dar maior ênfase ao objeto direto.

É possível também juntar「て」à partícula「も」para expressarmos o contraste entre situações. Esta partícula dupla tem um sentido de “mesmo que” ou “não importa que”, dependendo do contexto. Observe os exemplos:

熱があっても仕事に行く。= Mesmo que esteja com febre, irei ao trabalho. (Lit. Mesmo se febre existir, irei ao trabalho.)

薬を飲なくても元気になる。= Mesmo se não tomar o remédio, ficarei bem.

急いでも仕方がない。= Mesmo se me apressar, de nada adiantará.

Podemos enfatizar o sentido de contrariedade de 「ても」 usando 「たとえ」, um advérbio (mais detalhes na lição 21), no começo da sentença à qual o verbo + 「ても」 pertence:

たとえ薬を飲なくても元気になる。= Mesmo se não tomar o remédio, ficarei bem.

Agora, vamos rever um quadro da lição 14:

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Lembre-se que mencionamos que os livros didáticos convencionais geralmente chamam a construção acima de “forma TE para substantivos e Keiyoudoushi (lição 18)”, pois, como vimos, este 「で」pode exercer a mesma função sintática que a partícula 「て」exerce quando usada com verbos e Keiyoushi:

学生でも勉強しない。= Mesmo sendo estudante, não estuda.

Aliás, na linguagem casual 「でも」 pode ser usado para dar extensividade ao elemento que o precede. Nestes casos, pode ser traduzido como “ou algo do tipo”. Note que “ou algo do tipo” em português pode ter vários sentidos como ênfase, irreverência, intriga, indefinição, sugestão, exemplificação ou mesmo ridicularização dependendo do contexto. O mesmo vale para o japonês:

ひろしはコーヒーでも飲んだ。 = Falando de Hiroshi, (ele) bebeu café (ou algo do tipo).

Com esse sentido, há a possibilidade de 「でも」 aparecer com outras partículas:

ハワイでも行く。= (Eu) irei ao Havaí (ou coisa do tipo).

Não confunda este 「でも」 com a conjunção 「でも」. Embora pareça que realmente sejam a mesma coisa, a conjunção 「でも」não pode ser usada para conectar sentenças, isto é, ela é usada geralmente depois de uma pausa em outra sentença, para contradizer o que foi dito anteriormente ou está subentendido na conversa:

私は熱がある。でも仕事に行く。Eu estou com febre. Mas irei ao trabalho.

Também, não confunda a partícula de contexto 「で」 sendo usada em com 「も」 com a partícula dupla 「でも」. São coisas distintas:

でも寿司を食べた。 = (Eu) comi sushi com hashi também.

Podemos também combinar as partículas 「て」e「から」para expressar uma ação que será feita após o término de outra:

食べてからトイレに行く。= Depois de comer, irei ao banheiro.

Vamos entender a construção acima: com 「てから」 é como se o término de uma ação fosse o ponto de partida para a ação que segue (lembre-se que o verbo auxiliar clássico「つ」, que deu origem a 「て」indica a conclusão de uma ação – lição 14). Observe a figura abaixo:

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Então, 「食べてからトイレに行く」 poderia ser traduzido como “A partir da conclusão da ação de comer, irei ao banheiro”.

É possível combinar「て」à partícula「は」para se expressar, dependendo do contexto (mais detalhes na lição 39), uma situação hipotética ou ainda, a repetição de ações contrastantes:

まことは漢字を書いては消し。。。= Falando de Makoto, ele escreve Kanji e apaga... (e faz isso repetidamente)

食べなくては痩せる。= Se não comer, vai perder peso.

Este tipo não muito comum de condicional pode ser usado somente em situações em que, se algo acontecer (ou não), o resultado será negativo ou se ficará em apuros.

É possível usar a partícula 「に」com「まで」para enfatizar o sentido de 「まで」. Por esta razão, geralmente é usada para indicar prazos:

明日までに勉強する。= (Eu) estudarei até amanhã.

Podemos combinar as partículas 「まで」e「も」para indicar uma dimensão extrema:

[X] までもする? = Até o grau de [X], (você) fará?

Podemos usar 「までも」com「ない」 para indicar que uma ação não é necessária, normalmente devido a uma circunstância insignificante:

ジュースを飲むまでもない。= Não é necessário beber o suco (Lit. Não existe nem  sequer até o ponto de beber o suco).

Há também a possibilidade de anexarmos 「までも」 à forma negativa para indicar que não se pode fazer uma ação, mas o que se segue é pelo menos o melhor que pode acontecer:

学校に行かないまでも、本をよむ。= (Eu) não posso ir à escola, mas (pelo menos) lerei o livro.

É possível ainda combinar a partícula 「て」 com 「でも」 a fim de indicar uma determinação extrema para realizar algo ao ponto de fazer algo extremo para isso:

家を売ってでも留学に行く。= (Eu) irei estudar no exterior mesmo que tenha que vender minha casa.

Outra possibilidade é combinar a partícula 「て」 com 「まで」. Com isso, indica-se surpresa dada a dimensão de uma ação:

彼は妻を放ったらかしてまで働いた。= Falando dele, (ele) trabalhou ao ponto de descuidar-se da esposa.

É importante salientar que as duas construções acima não são comuns e aparecem geralmente no nível 2 do JLPT. E não se surpreenda pelo fato de 「でも」 e 「まで」 serem usados após a forma TE. Possivelmente, o que está por trás disso é o verbo auxiliar clássico 「つ」, que deu origem à partícula 「て」, sua base Ren’youkei. Vamos relembrar um trecho da lição 14:

Em termos etimológicos, a partícula 「て」 deriva da base Ren’youkei do verbo clássico 「つ」, que era usado para expressar o modo perfectivo. Vejamos quais eram as bases de 「つ」, que era conjugado no padrão Shimo-Nidan (...) Em outras palavras, quando 「つ」 era anexado à base Ren’youkei de um verbo, ele expressava algo como “determinada ação foi (será) feita e está (será) concluída”.

Lembre-se também que a base Ren’youkei pode funcionar sintaticamente como um substantivo, então, não há impedimentos quanto à gramática para serem usados após 「て」, embora essa não seja uma prática comum, estando presente em construções arcaicas. 

Com base no que mencionamos, você pode entender as duas construções apresentadas literalmente como “Eu irei estudar no exterior mesmo se a ação de vender a casa for executada e concluída” e “Ele trabalhou até a ação de descuidar-se da esposa acontecer e estar concluída”. Aliás, o sentido de 「てから」 se origina também desse fato, sendo seu sentido literal, “a ação [X] é concluída, a partir disso...”.

Pode-se, também, unir 「して」a 「まで」para indicar que algo é feito a um nível extremo a fim de alcançar algum propósito. É certo que 「までして」 não é uma partícula dupla (está mais próximo do que seria “partícula composta”, que abordaremos na lição 43), mas achamos oportuno mencioná-la neste tópico:

借金までして海外旅行に行く。= (Eu) irei a umas férias no exterior mesmo que tenha que me endividar.

Geralmente, 「までして」é usada com substantivos e costuma descrever afirmações, julgamentos ou avaliações do falante.

Aproveitando a oportunidade, é possível usar 「まで」 juntamente com a forma passada para expressar que algo foi tudo o que foi feito, tendo sentido de “somente”:

俺はただ自分の意見を言ったまでだ。= Eu apenas expressei minhas opiniões.

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