LIÇÃO 18: ADJETIVOS

À esta altura, espera-se que você já tenha um domínio dos verbos e um conhecimento básico das partículas mais importantes. Que tal agora dar qualidades aos substantivos? É o que aprenderemos nesta lição.

18.1. PROPRIEDADE DOS ADJETIVOS

Adjetivo é a palavra que se junta ao substantivo para modificar o seu significado, acrescentando-lhe noções de qualidade, natureza, estado etc. Na língua japonesa há dois tipos de adjetivos, que são comumente conhecidos por “Adjetivo-NA” e “Adjetivo-I”. Contudo, como essa nomenclatura pode causar confusão, vamos nos referir a eles pelos nomes originais, isto é,  「けいようどうし」 (形容動詞) e  「けいようし」 (形容詞) respectivamente.

A razão para esta divisão é principalmente histórica. Em um primeiro momento, os Keiyoushi derivavam diretamente do japonês antigo (Yamato Kotoba), enquanto os Keiyoudoshi podiam derivar tanto do Yamato Kotoba, como de palavras chinesas. Por algum motivo, os japoneses permitiam que novos Keiyoudoushi fossem criados, mas não acrescentavam nada à classe dos Keiyoushi. O resultado disso é que palavras básicas como "grande" e "bom" tendem a ser Keiyoushi, e palavras mais complexas ou abstratas são quase sempre Keiyoudoushi. É claro que ao longo do tempo, foram surgindo exceções a este padrão de tratamento, sendo difícil dizer que uma classe deriva só disso ou daquilo.

Algo que pode causar estranheza é o fato de que os Keiyoushi são flexionados. Por isso, as seis bases de conjugação que nós vimos anteriormente aplicam-se a eles também. Além disso, os adjetivos em japonês são sempre colocados antes da palavra que se destinam a modificar, tal como é no inglês: “big eyes” = olhos grandes.  

18.2. KEIYOUDOUSHI

O primeiro grupo de adjetivos que abordaremos são os  「けいようどうし」 (形容動詞), também chamados de “pseudo-adjetivos”. Trata-se de uma das mais controversas classes de palavras da língua japonesa, e alguns gramáticos preferem tratar essas palavras como uma sequência de duas palavras, devido à sua forma clássica original, isto é, um substantivo-adjetivo juntamente com as cópulas clássicas  なり」 ou  たり」 . Por causa destes padrões, os Keiyoudoushi eram divididos em “tipo Nari” e “tipo Tari”. Vejamos os exemplos a seguir:

静かなり。= É quieto.

朦朧たり。= É obscuro.

Você pode encontrar em algum lugar a informação de que todos os Keiyoudoushi derivam de palavras emprestadas de outras línguas, mas isso não é verdade. Geralmente, os Keiyoudoushi do tipo Nari eram criados com a adição dos sufixos nativos 「か」, 「やか」, 「らか」, 「げ」 ou 「てき」 a substantivos também nativos (「てき」 pode ser anexado ao Kango também). Por exemplo, o substantivo nativo 「静」 (しず) nos tempos antigos tinha sentido semelhante a “quietude” e foi encaixado na classe dos Keiyoudoushi do tipo Nari através do acréscimo do sufixo nativo 「か」, tornando-se 「静か」. É claro que havia também adjetivos derivados do Kango. Já os Keiyodoushi do tipo Tari vinham todos do Kango e eram raramente vistos em obras no Período Heian (794-1185), mas se tornaram muito frequentes nos contos militares e na escrita ao estilo chinês do Período Edo (1603-1868).

Para entendermos melhor a evolução dos Keiyoudoushi, vamos rever as bases da cópula clássica 「なり」 , juntamente com as bases da cópula  「たり」 :

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Em 「静かなり」 expressamos que “algo” é quieto. Se quiséssemos dizer, por exemplo, “floresta quieta”, atribuindo diretamente uma qualidade a “floresta”, teríamos que usar a base Rentaikei para podermos modificar o substantivo. Assim, temos:

静かなる森。 = Floresta quieta (Lit: Floresta que é quieta.)

A partir do Período Muromachi, a cópula  「なり」 foi sendo substituída por  「だ」 que, como vimos, tem 「な」 como base Rentaikei.  Observe o quadro com  「静か」 como exemplo:

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Então, a versão moderna de 「静かなる森」 é 「静か森」 .

No japonês moderno, a maioria dos Keiyoudoushi do tipo Nari foi reclassificada como Keiyodoushi no japonês moderno. Entretanto, alguns foram reclassificados como Rentaishi, se terminados em  「なる」 :

聖なる = Sagrado (Rentaishi)

Já os Keiyoudoushi do tipo Tari foram reclassificados como Rentaishi, e podem ser acompanhados de 「たる」 para servir como atributivos de substantivos:

堂々= Magnífico → 堂々たる態度 = Atitude (que é) magnífica.

NOTA: “rentaishi” é o termo utilizado para descrever as formas arcaicas dos adjetivos padrão. Atualmente, só podem ser usados antes de substantivos ou verbos como modificadores e nunca na predicação de uma sentença.

De fato, já não havia muitos adjetivos do tipo Tari no Japonês Clássico e poucos sobreviveram como Rentashi no japonês moderno. Como essas palavras geralmente são consideradas difíceis ou arcaicas, os livros didáticos para alunos de língua estrangeira não costumam abordá-las. Também, atualmente o Gairaigo – principalmente palavras inglesas, alemãs ou francesas, tem sido fonte de Keiyoudoushi.

Como mencionamos no tópico anterior, a diferenciação dos adjetivos é histórica. No japonês antigo, não se tinha os Keiyoudoushi como uma categoria diferente. Isto por que quando novas palavras foram adicionadas ao idioma, elas foram classificadas como substantivos. Então, a categoria dos Keiyoudoushi foi desenvolvida como uma maneira dessas novas palavras servirem de adjetivos na língua japonesa, seguindo um padrão gramatical. Portanto, considere que algumas dessas palavras podem ser originalmente adjetivos propriamente ditos ou não, mas independentemente de sua natureza, para que possam modificar diretamente o termo que o segue, é necessário anexar  「な」  ao Keiyoudoushi. Eis o motivo do nome “adjetivo-NA”.

Para ilustrar, tomemos a palavra inglesa “modern” (moderno) que é um adjetivo e tem uma versão japonesa  「モダン」 . Se quisermos modificar o substantivo “carro”  「車」 , a seguinte sentença está incorreta:

モダン車。= Carro moderno. (sentença incorreta)

Mesmo que 「モダン」 seja originalmente um adjetivo, em japonês é necessário anexar o fonema  「な」 para que possa modificar um substantivo. A versão correta para a frase acima é:

モダン車。= Carro moderno. (sentença correta)

NOTA: nem todas as construções acompanhadas de 「な」 são Keiyoudoushi. Algumas são Rentaishi. É o caso de 「ひょんな」 = inesperado.

Uma vez quer no Japonês Clássico era necessário anexar a cópula  「なり」 ao Keiyoudoushi para dizer que “Algo é [qualidade]”, no japonês moderno basta anexar a cópula usada atualmente. Vamos ilustrar usando  「だ」 :

人は正直。= A pessoa é honesta.

Os Keiyoudoushi são bem simples de aprender por que funcionam essencialmente como um substantivo.  As regras de conjugação de ambos são as mesmas. De fato, é tão similar que podemos dizer que se comporta da mesma maneira a menos que especificamente se apontem as diferenças. Portanto, é basicamente a mesma coisa que o estado-de-ser com substantivos que vimos na lição 14:

人は正直。= A pessoa é honesta.

人は正直じゃない。= A pessoa não é honesta.

人は正直だった。= A pessoa era honesta.

人は正直じゃなかった。= A pessoa não era honesta.

Cuidado para não cometer o seguinte erro:

静かが人。 = A “quieta” é pessoa. – ERRADO

Não faz sentido um substantivo, por si mesmo, ser adjetivo. Por isso, você não pode ter uma sentença do tipo [Adjetivo] [Partícula] [Substantivo]. Isto é óbvio, pois, enquanto uma pessoa pode ser quieta, não faz sentido que “quieta” seja uma pessoa, isto é, um ser.

Veja mais dois exemplos:

友達は親切。= O amigo é gentil.

友達は親切な人。= O amigo é uma pessoa gentil.

Bem fácil, não é mesmo?

Também podemos unir características:

部屋はきれい静か。= O quarto é limpo e silencioso.         

Uma particularidade da língua japonesa é que “gostar” não é um verbo como no português, mas um keiyoudoushi 「好き」 :

まことは魚が好きだ。= Makoto gosta de peixe.

まことは魚が好きじゃない。= Makoto não gosta de peixe.

まことは魚が好きだった。= Makoto gostava de peixe.

まことは魚が好きじゃなかった。= Makoto não gostava de peixe.

Se o fato de “gostar” em japonês ser um adjetivo e não um verbo lhe causa estranheza, você pode imaginar que  「好き」  significa "gostável". Além disso, os exemplos acima mostram as partículas de tópico e identificação trabalhando em harmonia. As sentenças tratam de "Makoto", e "peixe" é identificado claramente como aquilo que Makoto gosta.

Já que 「な」 é a Base Rentaikei da cópula 「だ」 , alguns podem imaginar que se poderia utilizar também a Base Rentaikei da cópula 「である」. Assim:

親切である人。= Pessoa gentil.

Diríamos que o raciocínio tem sentido, mas tenha em mente que em línguas nem tudo o que é possível gramaticalmente é praticável na vida real. Gramática é a busca do homem em padronizar certos elementos semelhantes e muitas vezes estamos diante de convenções. Em outras palavras, se decidiram que se deve usar 「な」, deixemos assim.

18.3. KEIYOUSHI

Os Keiyoushi  「けいようし」 (形容詞) são originalmente adjetivos nativos e eram construídos com a adição do sufixo  「し」 a um substantivo:

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Gramáticos afirmam que as terminações em 「いだん」 dos Keiyoushi têm o verbo 「あり」 implícito, indicando, neste caso, um estado ou condição de algo. Aliás, observe o quadro muito interessante que G. B. Sansom nos apresenta em seu livro “An Historical Grammar of Japanese”, página 125, no qual vemos a evolução de alguns adjetivos entre o Período Nara (710-794) e o Período Heian (794-1185). Quanto ao 「」 que aparece antecedendo 「し」, trataremos no tópico 6 desta lição:

Não é possível afirmar que TODOS os adjetivos eram formados inicialmente através da adição de 「し」 a um substantivo em sua forma primitiva. O que importa saber é que, por exemplo, 「青」 não significa apenas “azul”, mas a condição/estado de “ser azul” (literalmente, “existir como a cor azul”). Daí uma possível explicação do porquê se flexionar os Keiyoushi.

No Japonês Clássico, os Keiyoushi eram divididos em dois grupos (Shiku e Ku), de acordo com a flexão de suas bases Ren’youkei do conjunto く(lembre-se que os Keiyoushi possuem dois conjuntos de bases). Vejamos essas duas categorias com suas respectivas bases:

I. Keiyoushi do tipo SHIKU (usando como exemplo 「楽し」 ):

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II. Keiyoushi do tipo KU (usando como exemplo 「高し」 ):

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NOTA: Para alguns autores, não existe a Base Mizenkei do conjunto く. Entretanto, decidimos mantê-la em nossas abordagens. 

Já que tanto os Keiyoushi do tipo Shiku quanto os do tipo Ku têm a forma infinitiva terminada em  「し」 como saberíamos como se deve conjugar determinado Keiyoushi se não soubermos sua classificação? Bem, via de regra, os Keiyoushi que representam aspectos emotivos, subjetivos são classificados no tipo Shiku; já os que apresentam aspectos físicos, concretos, caem no tipo Ku. Veja que “ser divertido” é algo subjetivo, enquanto “ser alto” é algo concreto, físico. Note também que os Keiyoudo do tipo Shiku possuem o fonema  「し」 em todas as bases, ao passo que os do tipo Ku, não.

Ainda dentro da esfera do Japonês Clássico, para que um Keiyoushi pudesse modificar diretamente um substantivo, deveríamos utilizar as bases Rentaikei. Observe:

楽し = divertido (Lit: ser divertido) → 楽しき旅 ou 楽しかる旅 = Viagem divertida. (Lit: Viagem que é divertida.)

高し = alto (Lit: ser alto) → 高山 ou 高かる山 = Montanha alta. (Lit: Montanha que é alta.)

Agora, lembre-se da perda de diferenciação entre as bases Shuushikei e Rentaikei que houve a partir do Período Kamakura, e também das mudanças eufônicas. Foquemo-nos nas bases Rentaikei do conjunto  く de ambos os tipos de Keiyoushi usados como exemplos, isto é,  「楽し」 e  「高し」 :

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Concluímos que houve uma “mudança eufônica para i” no último fonema  「き」 da base Rentaikei do conjunto く em ambos os casos, fato este que deu origem às formas modernas dos Keiyoushi. Sendo assim, os que eram do tipo Shiku atualmente terminam em  「~しい」 e os que eram do tipo Ku, em  「~い」 .

Uma vez que conhecemos como se deu a evolução dos Keiyoushi ao longo do tempo, vamos vê-los em ação, isto é, modificando substantivos, em suas formas modernas:

面白い本。= Livro interessante. (Lit: Livro que é interessante.)

美しい虹。= Belo arco-íris. (Lit: Arco-íris que é belo.)

新しい自転車。= Bicicleta nova. (Lit. Bicicleta que é nova.)

狭い部屋。= Quarto estreito. (Lit. Quarto que é estreito.)

A seguir, seguem exemplos de Keiyoushi aparecendo no predicado da oração:

たもつは面白い本を買った。= Falando de Tamotsu, ele comprou um livro que é interessante.

みやこが美しい虹を見た。= Miyako (é quem) viu o arco-íris que é belo.

みどりも新しい自転車で学校に行く。= Falando de Midori, ela também irá à escola por meio de bicicleta que é nova.

ひろしが狭い部屋にいる。= Hiroshi (é quem) está no quarto que é estreito.

NOTAS:

1. É importante frisar que nem todas as palavras que você encontrar com o okurigana 「い」 é um Keiyoushi. Por exemplo, 「嫌い」 é um Keiyoudoushi que termina em hiragana 「い」. Isto se deve ao fato de que 「嫌い」 é na verdade derivado do verbo 「嫌う」;

2. A Base Rentaikei clássica dos Keiyoushi ainda pode ser usada para dar um ar mais literário, poético. É o caso da canção “Hotaru no Hikari” do animê Naruto, na qual nos deparamos com a construção 「はかな胸」, em que o Keiyoushi 「はかない」 (momentâneo, efêmero, inconstante) é usado de forma clássica.

Você também pode unir vários adjetivos de forma sucessiva em qualquer forma:

静かな高いビル。= Edifício que é alto e calmo.

高くない静かなビル。= Edifício que não é alto, mas calmo.

細く長い道。= Caminho que é estreito e longo.

Lembra-se que, assim como a forma negativa do estado de ser, você não pode anexar o declarativo  「だ」 aos Keiyoushi na forma afirmativa:

本は面白い。= Falando de livros, são interessantes (SENTENÇA INCORRETA)

Com relação às formas e tempos verbais dos Keiyoushi, algumas regras se diferenciam das que vimos até agora. Vejamos:

A) Forma negativa não-passada: é construída anexando-se 「ない」  à base Ren’youkei do conjunto く. Note que isto é diferente dos verbos, nos quais se deve usar a base Mizenkei.

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A seguir, vejamos alguns exemplos:

りんごが美味しい。= A maçã é o que é saboroso. → りんごが美味しくない。= A maçã é o que não é saboroso.

空は青い。= Falando do céu, é azul. → 空は青くない。= Falando do céu, não é azul.

Evidentemente, podemos usar a base Rentaikei – que como sabemos é igual à base Shuushikei (infinitiva) no japonês moderno – de  「ない」 para modificar diretamente um substantivo, isto é, expressar “algo que não é [qualidade]”:

美しい虹。= Arco-íris que é belo. → 美しくない虹。= Arco-íris que não é belo.

狭い部屋。= Quarto que é estreito →  狭くない部屋。= Quarto que não é estreito.

たもつは面白くない本を買った。= Falando de Tamotsu, ele comprou um livro que não é interessante.

みどりも新しくない自転車で学校に行く。= Falando de Midori, ela também irá à escola por meio de bicicleta que não é nova.

B) Forma passada afirmativa: Na lição 14, vimos que 「ない」 é conjugado da mesma forma que os Keiyoushi e que sua forma passada é construída anexando-se o verbo auxiliar  「た」 a sua base Ren’youkei do conjunto  かり. Sendo assim, esta é a regra para se colocar os Keiyoushi no passado. Considere também as mudanças eufônicas ocorridas. Observe:

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Abaixo, alguns exemplos:

りんごが美味しい。= A maçã é o que é saboroso. → りんごが美味しかった。= A maçã (é o que) era saborosa.

空は青い。= Falando do céu, é azul. → 空は青かった。= Falando do céu, era azul.

Como vimos na lição 14, o verbo auxiliar 「た」  é uma forma contraída de  「たる」 , que por sua vez originou-se da junção da partícula  「て」 + 「ある」 , base Rentaikei de 「あり」 . Uma vez que é possível usar a base Rentaikei para atribuir algo à outra coisa, também podemos utilizar o Keiyoushi no passado para modificar diretamente um substantivo, isto é, expressar “algo que não era [qualidade]”:

美しい虹。= Arco-íris que é belo. → 美しかった虹。= Arco-íris que era belo.

狭い部屋。= Quarto que é estreito → 狭かった部屋。= Quarto que era estreito.

みやこが美しかった虹を見た。= Miyako (é quem) viu o arco-íris que era belo.

ひろしが狭かった部屋にいる。= Hiroshi (é quem) está no quarto que era estreito.

C) Forma passada negativa: para construir a forma negativa, devem-se seguir os seguintes passos:

I. Conjugar 「ない」 no passado:

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II. Anexar à construção resultante, isto é, 「なかった」 à base Ren’youkei do conjunto  く do Keiyoushi:

Vejamos alguns exemplos:

美しい虹。= Arco-íris que é belo. → 美しくなかった虹。= Arco-íris que não era belo.

狭い部屋。= Quarto que é estreito → 狭くなかった部屋。= Quarto que não era estreito.

みやこが美しくなかった虹を見た。= Miyako (é quem) viu o arco-íris que não era belo.

ひろしが狭くなかった部屋にいる。= Hiroshi (é quem) está no quarto que não era estreito.

Existe um Keiyoushi que significa "bom" que age de forma ligeiramente diferente de todos os outros. Este é um caso clássico de como aprender japonês é difícil para iniciantes, por que as palavras mais comuns têm as maiores exceções. A palavra para "bom" era originalmente 「よい」 (良い). Porém, com o tempo, devido à mudança eufônica para i, tornou-se  「いい」 . Quando escrito em Kanji, é geralmente lido como  「よい」 , e 「いい」  aparece quase sempre em Hiragana. Entretanto, todas as conjugações ainda derivam de  「よい」  e não de  「いい」 . Outro adjetivo que age assim é  「かっこいい」  por que é uma versão abreviada de duas palavras unidas: 「格好」  e  「いい」 . Consequentemente, tem as mesmas conjugações. Observe o quadro a seguir:

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値段がよくない。= O preço não é bom.

彼はかっこよかった! = Ele estava muito bonito!

Falando no Keiyoushi  「いい」 , observe a próxima oração:

寿司を食べてもいい?= Posso comer sushi? (Lit. Mesmo se comer sushi, é bom?)

O padrão acima é muito utilizado para se pedir permissão para fazer algo. Ele nada mais é do que a junção das partículas 「て」 e 「も」 que possibilita expressarmos o contraste entre situações. Na linguagem casual é comum omitir-se a partícula  「も」 :

寿司を食べていい?= Posso comer sushi? (Lit. (eu) vou comer sushi e é bom?)

夕飯は寿司でいい。= Falando do jantar, sushi é bom (aqui pode ser entendido como “Sushi é o suficiente” dependendo do contexto)

Note que, embora a tradução literal tenha mudado um pouco, o sentido é o mesmo. Aliás, podemos usar 「宜しい」 no lugar de  「いい」 se quisermos soar mais formais:

車を使ってもよろしい。 = (Você) pode usar o carro (Lit. Mesmo se usar o carro, é bom).

Há ainda a possibilidade de usar 「かまわない」ou 「さしつかえない」no lugar de 「いい」:

車を使ってもかまわない。= (Você) pode usar o carro.

車を使ってもさしつかえない。= (Você) pode usar o carro.

「かまわない」 e 「さしつかえない」são a forma negativa dos verbos 「かまう」(構う) = importar, preocupar e 「さしつかえる」(差し支える) = interferir, ficar impedido. Entretanto, suas formas negativas podem ser usadas como expressões a fim de indicar que algo é permitido.

Agora, observe o próximo exemplo:

まことがきてよかった。= (Eu) estou feliz por Makoto ter vindo. (Lit. Makoto veio e foi bom).

Embora livros convencionais costumem abordar esta expressão como se fosse algo novo, não há nenhum segredo nela se traduzirmos literalmente. É apenas uma sequência de ações/estados, em que usado a forma tradicional de  「いい」 , isto é,  「よい」 .

18.4. ALGUNS CASOS QUE MERECEM ATENÇÃO

É natural pensar que para os adjetivos existentes em nossa língua materna deva existir um equivalente em japonês. Certamente com a maioria é assim; mas com alguns, não. Nestes casos, a “ideia de adjetivo” nos é dada através dos verbos.

お腹が空いた。= faminto (literal: o estômago está esvaziado).

喉が乾いた= sedento (literal: a garganta está seca).

E se, por exemplo, quisermos dizer que [A] é magro ou que [B] é gordo? De fato, existem adjetivos propriamente ditos para "gordo" e "magro" –  「太い」 e      「細い」 –, mas podem soar ofensivos a um japonês. Portanto, use verbos:

みどりは太た = Midori engordou.

まことは痩せた。 = Makoto emagreceu.

Os falantes nativos, muitas vezes, retiram o 「い」 final de alguns Keiyoushi, quando usados como exclamações simples:

さむ!= Está frio!

あつ!= Está quente!

まず!= É desagradável!

Agora, observe os três adjetivos a seguir:

エロい = Erótico

グロい = Grotesco

ナウい = Moderno

Estes adjetivos derivam diretamente de [エロ(チシズム)], [グロ(テスク)] e [ナウ] (do inglês "now").

Perceba que estes adjetivos terminam com 「い」 , embora não tenham sua origem em palavras nativas. Na realidade, eles não foram agregados ao léxico japonês como Keiyoushi, mas sim como substantivos e/ou Keiyoudoushi, e posteriormente foram transformados em Keiyoushi. Esse fenômeno é recente e tem ocorrido na linguagem coloquial, de onde nascem também verbos como  「タクる」 , que significa “pegar um táxi” e  「マクる」 , cujo significado é “comer no McDonalds”.

Responda agora: qual é o correto:  「大きい」 ou  「大きな」  (grande)?   「小さい」 ou  「小さな」  (pequeno)?

Bem, ambas as formas de cada adjetivo são aceitáveis. A diferença é que a versão Keiyoudoushi soa mais poética, sendo muito comum na poesia e canções.

Um elemento interessante é 「め」 (目). Em si ele significa “olho”, mas pode ser usado como sufixo, sendo comum em Keiyoudoushi, no lugar do 「い 」final.

Essencialmente, o “sufixo” 「め」 funciona de forma semelhante ao sufixo inglês “ish”. Para melhor compreender, vamos observar uma definição para “ISH”:

Quando usamos o sufixo ISH estamos indicando uma ideia estimada. Com as horas eu posso falar que vou chegar lá às nine o’clock-ish (nove horas-ish). Adicionando o ISH sugere-se à pessoa que eu estou apenas estimando a hora. Podemos fazer isso com qualquer hora e usando O’clock não é necessário, 1ish/2ish/5.30ish etc. Então brasileiros, Se você quer uma boa desculpa para sua pontualidade estereotipada isto poderia realmente ajudá-lo. Uma vez eu fui à festa de um amigo que começou à 21horas, logo, a que horas eu cheguei lá? Às nove e quinze, pensando que a festa já tinha começado, mas meu amigo nem tinha chegado ainda, e a festa era na casa dele!

-ISH com cores e características pessoais também é muito útil para ser vago para descrever pessoas e coisas. Se eu quisesse descrever um amigo com o cabelo vermelho, mas não exatamente vermelho, eu poderia falar que ele tem cabelos REDDISH (avermelhados). É a mesma situação para alto ou gordo, Ele é TALLISH ou FATTISH. Então, meu amigo é meio alto e meio gordo, mas ele não é nem um gigante nem um lutador de sumô. Pense sobre quando tenta-se descrever alguém que você não consegue lembrar muito bem, por exemplo: “ahh sim, eu conheço ele, ele é mais ou menos baixo/alto (shortish/ tallish) e tem cabelo mais ou menos loiro/moreno (lightish / darkish)”, poderia ser qualquer pessoa. (http://reallifeglobal.com/como-ser-vago-falando-ingles)

Voltando para o japonês, trocando em miúdos poderíamos dizer que 「め」 não muda o significado da palavra; apenas dá a ela um sentido muito vago, estimado, no meio termo:

→ 早

Ambos os elementos significam “cedo”. Porém, 「早め」 tem um sentido mais “solto”, vago.

“Se você não puder ser gentil, pelo menos, seja vago”. (C.S. Lewis)

Finalmente, com relação aos Keiyoushi e Keiyoudoushi alguns coloquialismos são comuns à maioria dos dialetos (lição 49) da língua japonesa. Assim como toda língua falada, ocorrem contrações utilizadas no cotidiano. Um padrão normalmente visto é:

「~(あだん)い」 ou 「~(おだん)い」 → [~ fonema respectivo em「えだん]+ 「え]].

Por exemplo, 「たべない]→ 「たべねえ] e 「すごい] → 「すげえ](mais comumente usado com 「ない]).

Em animês este padrão costuma ser usado com frequência. Em um dos episódios de Dragon Ball Super, Goku diz 「嘘がきれえ], forma coloquial de 「嘘がきらい].

Uma questão que confunde muitos estudantes é a distinção de verde e azul na língua japonesa. Segundo este interessante artigo “toda língua tinha tido primeiramente, uma expressão para o preto e o branco, a escuridão e a luz. A próxima palavra foi vermelho, cor do sangue e do vinho. Depois historicamente aparece o amarelo, e, mais tarde o verde. A última das cores é o azul. Descobriram também que a única cultura que desenvolveu na época, uma palavra para o azul eram os egípcios – os primeiros a produzir esses corantes”.

É muito provável que no japonês tenha ocorrido o que destacamos no parágrafo anterior, isto é, 「青」 significava originalmente “verde” e não “azul”. Somente no Período Heian (794-1185), com a palavra 「みどり」 para “verde” é que passou-se, então, a distinguir azul e verde. Em materiais educacionais, a distinção entre verde e azul veio somente depois da Segunda Grande Guerra.

A palavra 「青」 é ainda usada para vegetais, maçãs e clorofila na vegetação. É também a palavra usada para definir a cor do sinal de trânsito para 'Siga' (verde). Porém, para muitos outros objetos, como carros e suéteres por exemplo, usa-se o termo 「みどり」. Os japoneses usam por vezes o 「グリーン-」, cuja origem é o inglês "green", para cores. Há na língua também vários outros termos para tons específicos de verde e de azul.

18.5. DIZENDO QUE ALGO É FACIL OU DIFÍCIL DE FAZER

Vamos tratar agora de uma das maneiras de descrever se uma ação é fácil ou difícil de fazer. Basicamente, trata-se apenas de anexar à base Ren’youkei 「やすい」  para fácil e  「にくい」  para difícil. A constução, logicamente, em termos de conjugação transforma-se em um Keiyoushi regular. Muito fácil, não é? Vejamos o quadro abaixo:

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Agora, vejamos alguns exemplos práticos:

漢字は読みにくい。= Falando de Kanji, é difícil de ler.

日本語が話しやすい。= É fácil falar japonês.

O Kanji para  「にくい」 na verdade vem de  「難い」 , que também pode ser lido como  「かたい」 . Como resultado, você também pode adicionar uma versão vozeada  「~がたい」  à base Ren’youkei de um verbo para expressar a mesma coisa que  「にくい」 :

漢字は読みがたい。= Falando de Kanji, é difícil de ler.

Por falar em 「かたい」, há uma maneira arcaica, clássica de se dizer que algo não é difícil. Para tanto, basta anexar a forma negativa de 「かたい」, isto é, 「かたくない」 a uma ação ou substantivo através da partícula 「に」:

察するかたくない。= É fácil de presumir (Lit. Presumir não é difícil).

Pode parecer estranho o fato da partícula 「に」 ser anexada diretamente a um verbo. Entretanto, lembre-se que na lição 12 mencionamos que a Base Shuushikei teoricamente não existe mais no japonês moderno. Durante a fase de Japonês Médio Tardio nos períodos Kamakura (1185-1333) e Muromachi (1336-1573), a Base Shuushikei foi gradualmente perdendo espaço para a Base Rentaikei, que passou a ser usada para ambos os papéis gramaticais, realinhando as conjugações. E uma das possibilidades da Base Rentaikei era ser seguida por partículas. Tal recurso é bem mais restrito na língua moderna, entretanto, tenha sempre em mente que há expressões arcaicas, usadas principalmente na escrita (ainda que raramente), oriundas do Japonês Clássico.

 「にくい」  é mais comum na fala, enquanto  「がたい」  é mais adequado para o meio escrito.  「にくい」  tende a ser usado para ações físicas, ao passo que 「がたい」  é geralmente reservado para ações menos físicas que realmente não requerem movimento. No entanto, não parece haver nenhuma regra rígida sobre o que é mais apropriado para um determinado verbo. Você também deve sempre escrever o sufixo em Hiragana para evitar ambigüidades na leitura.

Ainda, outra variação mais grosseira de 「にくい」  é  「づらい」 , versão ligeiramente transformada de 「つらい」  (辛い). Este sufixo não deve ser confundido com  「からい」 (辛い), que significa “picante”:

漢字は読みづらい。= Falando de Kanji, é difícil de ler.

18.6. TRANSFORMANDO ADJETIVOS EM SUBSTANTIVOS

Vamos agora aprender como indicar uma quantidade de algum adjetivo através do sufixo 「さ」 . Por exemplo, podemos pegar o adjetivo "alto" a fim de obter "altura". Em vez de olhar para a altura, podemos até mesmo pegar o adjetivo "baixo" para focarmos na quantidade de baixeza em oposição à quantidade de alteza.

Na verdade, não há nada que nos impeça de usar isso com qualquer adjetivo para indicar uma quantidade desse adjetivo. O resultado torna-se um substantivo comum.

A regra de anexação de  「さ」 é simples: no caso dos Keiyoushi, basta anexá-lo ao Gokan; no caso dos Keiyoudoshi, simplesmente anexe-o:

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Vejamos alguns exemplos:

優しが怒りを鎮める。= O carinho (é que) apazigua a fúria.

彼は静けを好む。= Falando de ele, (ele) prefere o silêncio.

NOTA: para o grau correspondente a “silêncio” em português, podemos usar  「静かさ」 ou  「静けさ」 , porém,  「静けさ」 parece ser mais comum.

Entretanto, há algo ambíguo nos substantivos que dão origem a adjetivos em português. Por exemplo: o adjetivo “profundidade” pode tanto se referir à profundidade de um rio (sentido objetivo), como também à profundidade de um poema (sentido figurado, emotivo). Felizmente, no japonês não existe esta ambiguidade, bastando, anexar  「み」 para indicar a segunda opção. De fato, poderá ser difícil assimilarmos esta sutileza, já que em português parecem idênticos, mas observe o quadro abaixo:

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O sufixo  「み」 é baseado principalmente na percepção direta, ao passo que  「さ」 é mais analítico e descreve de forma mais analítica o grau, quantidade do estado representado pelo adjetivo. Normalmente,  「み」 não é usado com Keiyoudoushi. Compare as orações:

彼は深がない。= Falando de ele, não existe profundidade. (sentido figurado)

は5フィートだ。= Falando da profundidade, é de 5 pés. (sentido objetivo)

Além desses dois sufixos, há também  「け」 ,  「げ」 ou  「き」 (todas leituras de  「気」 ), que cria um substantivo que tem sentido de "ter a impressão/sensação/aparência de". Por exemplo,  「寒げ」 (さむげ), significa a “aparência de frio”.

18.7. A BASE REN’YOUKEI COMO SUBSTANTIVO

Na lição 12, mencionamos que podemos usar a base Ren’youkei de um verbo para transformá-lo em substantivo (ou pelo menos para que se porte como tal). Isso também seria válido para os Keiyoushi?

Observe o quadro abaixo:

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Há teorias que apontam que a terminação 「く」da Base Ren’youkei dos Keiyoushi seja na verdade uma versão mais curta do substantivo arcaico 「あく」, que nos tempos antigos funcionava como o substantivo genérico 「こと」, cujo significado é “coisa”. Por essa razão, alguns podem imaginar que esse procedimento “transforme” todos os Keiyoushi em substantivo. Bom, poderíamos dizer que sim tecnicamente, mas na prática não é o caso. Em outras palavras, nem  todos se tornarão substantivos autônomos “utilizáveis”, pois tal recurso não é comum e é aplicado apenas a alguns casos.

18.8. USANDO VERBOS COMO ADJETIVOS

Vimos que se usa a base Rentaikei dos adjetivos para se atribuir algo à outra coisa. Consequentemente, por lógica é natural pensar que é possível usar verbos, já que eles também possuem base Rentaikei. Considere a seguinte oração em português:

A pessoa que morre.”

A oração acima pode não fazer muito sentido, mas o importante aqui é que você perceba que o fragmento “que morre.” descreve o tipo de pessoa da qual estamos falando. Em japonês, podemos construir esse tipo de oração usando a base Rentaikei dos verbos, a fim de fazer com que eles modifiquem diretamente outro termo:

死ぬ。= Morrer. → 死ぬ人。= pessoa que morre.

No japonês moderno as bases Shuushikei e Rentaikei são idênticas, mas no Japonês Clássico, antes do Período Kamakura, obviamente, era usado  「死ぬる」 , base Rentaikei clássica de  「死ぬ」 :

死ぬ。= Morrer. → 死ぬる人。= pessoa que morre.

Voltando para o japonês moderno, essa simples construção nos permitirá modificar um termo com qualquer verbo singelo. Observe mais exemplos:

映画を見る。= Ver o filme. → 映画を見る人。= Pessoa que vê o filme.

まことがする。= Makoto (é quem) faz. → まことがする仕事。= O trabalho que Makoto faz.

学校に行った。= Foi à escola. → 学校に行った学生。= Aluno que foi à escola.

学生じゃない。= Não é estudante. → 学生じゃない人。= Pessoa que não é estudante.

友達じゃなかった。= Não era amigo. → 友達じゃなかったひろし。= Hiroshi, que não era amigo.

A partir daqui, seremos capazes de construir frases mais complexas, tratando toda a oração que descreve o substantivo como um simples substantivo (afinal é do substantivo que estamos falando; apenas estamos o descrevendo). Por exemplo, podemos fazer de toda a oração um assunto ou algo especificado, como nos próximos exemplos:

まことがする仕事は難しい。= Falando do trabalho que Makoto faz, é difícil.

みどりが愛する人は弁護士になった。= Falando da pessoa que Midori ama, tornou-se advogado.

Um ponto extremamente importante é que usamos o pronome relativo “que” na tradução para ligar o substantivo ao restante da oração. É claro que isso não é regra, e podemos usar outros termos na tradução, dependendo do contexto. O importante aqui é você entender o conceito, ou seja, que o verbo está atribuindo uma característica ao substantivo.

Agora, observe as seguintes orações:

彼女見た映画。vs. 彼女見た映画。

Por meio das duas orações acima, podemos notar mais uma vez como as partículas 「は」 e 「が」 são diferentes. A primeira oração significa “O filme que ela viu”, ao passo que, tendo em mente que a partícula 「は」 tem um sentido de “falando de...”, a segunda é traduzida como “Falando dela, o filme que foi visto.”.

Notou a diferença?

Sendo assim, o sujeito de orações subordinadas adjetivas será sempre marcado pela partícula 「が」.

Vale ressaltar também que, ao modificamos um substantivo com um verbo, às vezes nos depararemos com uma certa ambiguidade. Por exemplo, 「見ない人」 por si mesmo pode significar tanto “pessoa que não vê” como “pessoa que não se vê”. Aqui novamente o contexto será o nosso aliado para esclarecer as coisas.

Lembre-se de anexar 「な」 aos Keiyoudoushi para a forma positiva não-passada. Agora, observe a oração a seguir:

彼女が好き人。= ?

Esse tipo de oração, em si, torna-se ambíguo pela falta de contexto, podendo ser traduzido tanto como “Ela é a pessoa que gostam”, “pessoa que ela gosta” ou ainda “pessoa que gosta dela”. Basicamente, a partícula 「が」 especifica “ELA”, mas não nos diz quem está exercendo a ação de gostar. Talvez visando remover esta ambiguidade, em algumas ocasiões as pessoas usam 「を」  com o Keiyoudoshi  「好き」 , no japonês casual:

彼女好きな人。= Pessoa que gosta dela.

Seja como for, esse tipo de ambiguidade não ocorre em frases como a seguinte:

彼女が見た人。= Pessoa que ela viu.

Note que não podemos traduzir a frase acima como “Pessoa que a viu”, porque, neste caso, “ela” se tornaria o objeto direto do verbo e, como vimos em lições passadas, a partícula  「が」 não pode ser usada para especificar tal elemento. Portanto, se quiséssemos dizer “Pessoa que a viu”, teríamos que usar a partícula exclusiva de objeto direto  「を」 :

彼女見た人。= Pessoa que a viu.

Alguns podem supor por lógica que seja possível utilizar a base Rentaikei da cópula 「だ」 , para fazer com que o estado-de-ser sirva de adjetivo para um substantivo. Sendo assim, teríamos algo do tipo:

学生人。= Pessoa que é estudante. (??)

Na verdade, tal construção é gramaticalmente incorreta. Se quisermos modificar um substantivo usando o estado-de-ser como adjetivo, podemos usar a base Rentaikei da cópula 「である」 , embora isso seja raramente usado:

学生である人。= Pessoa que é estudante.

Entretanto, esta restrição quanto à 「だ」 não se aplica as suas outras formas e, por isso, as orações a seguir estão corretas:

学生じゃないたもつは、学校に行かない。= Falando de Tamotsu, que não é estudante, não vai à escola.

友達じゃなかったひろしは、いい友達になった。= Falando de Hiroshi que não era um amigo, tornou-se um bom amigo.

先週に医者だったみやこは、仕事を辞めた。= Falando de Miyako que era uma doutora semana passada, desistiu de seu emprego.

Agora observe o próximo exemplo:

りんご食べる人。= Pessoa que também come maçã.

Ok, a oração acima é de fácil construção e compreensão, mas a citamos aqui porque o uso de 「も」 nesse tipo de construção pode causar confusão no estudante iniciante. Por exemplo, e se quiséssemos construir a oração “coração que também queima”? Obviamente, não poderíamos dizer 「燃える心」, pois como já mencionamos, 「も」 funciona basicamente como a partícula de tópico com um sentido a mais de "também". Sendo assim, ela deve sempre estar precedida de algum elemento.

O que fazer, então? Bem, o que podemos fazer nesses casos é usar um advérbio que tenha sentido de “também”. Como só vamos abordá-los na lição 21, aguarde o exemplo prático até lá.

Podemos também modificar um substantivo com outro através da partícula 「の」 , que abordaremos no primeiro tópico da próxima lição.

18.9. DIANTE DE UM VERDADEIRO QUEBRA-CABEÇA

Agora que somos capazes de construir sentenças mais elaboradas através da utilização de verbos para modificar substantivos, já será possível abordar algo muito importante: você se lembra que na lição 16 tratamos do ordenamento casual das palavras e citamos dois “fenômenos” – a inversão de elementos e a omissão de partículas? Bem, mas o que isso tem a ver com o que aprendemos no tópico anterior? Para ilustrar, observe a sentença abaixo:

無くした骨見つけた。= O cachorro encontrou o osso que perdeu.

A sentença acima é de fácil entendimento. Note que, mesmo se omitíssemos as partículas, ainda assim, ela seria compreensível:

犬無くした骨見つけた。= O cachorro encontrou o osso que perdeu.

Agora imagine se, com as partículas omitidas, ainda invertêssemos os elementos dessa oração, por exemplo, do seguinte modo:

見つけた犬無くした骨。= ???

Sem um contexto, não somos capazes de indicar ao certo o sentido desta frase, pois não sabemos por onde ela deve começar, ou qual a função de cada elemento dentro dela. Por exemplo, será que 「見つけた」 está modificando o substantivo 「犬」, e esta construção pode ser traduzida como “o cachorro que (eu) encontrei perdeu o osso”? É uma possibilidade, mas será esse o sentido que o “autor” quis expressar? Veja como a ocorrência em conjunto da omissão de partículas e da inversão de elementos pode causar uma ambiguidade extrema (e olha que ainda nem aprendemos construções mais complexas, pois pode ficar ainda mais ambíguo). Apenas pra reforçar, observe agora o próximo trecho:

骨を見つけた犬。

Na lição 16 mencionamos que em qualquer idioma, conversações costumam ser caóticas e é comum que as pessoas digam a primeira coisa que vem em suas mentes sem pensar na sentença como um todo. É claro que o trecho acima pode ser entendido como “cachorro que encontrou o osso”, mas é importante que você considere outras possibilidades; tudo dependerá do contexto. Por exemplo, nada impediria que o entendêssemos como 「犬骨を見つけた」, isto é, “falando do cachorro, (ele) encontrou o osso”.

Infelizmente, a ocorrência em conjunto da omissão de partículas e da inversão de elementos não é rara. Particularmente, em músicas ela é extremamente comum. Isso é compreensível, uma vez que o compositor muitas vezes se vê obrigado a usar estes recursos para fazer rimas, encaixar a letra na melodia ou mesmo fazer as palavras soarem mais legais e/ou harmoniosas dentro do conjunto, algo que seria impossível de ser alcançado se ele seguisse os “padrões corretos” da língua. Sendo assim, com certeza, ao ler letras de música, você frequentemente se perguntará “Onde essa frase começa?”, “Qual a função de cada elemento desta parte e como ela deve ser traduzida?”. Enfim, um verdadeiro quebra-cabeça.

E como juntar as peças corretamente?

Como sempre, o contexto e conhecimento de gramática serão nossos maiores aliados. E mais: neste caso, entenda “contexto” como sendo também, além da letra como um todo, a melodia, a atmosfera da canção, o tom no qual as palavras são cantadas, os instrumentos usados ou mesmo a personalidade do cantor. Use seu conhecimento de gramática de forma criativa, isto é, enquanto estiver traduzindo a letra, use sua imaginação dentro dos limites gramaticais.

Por falar nisso, relembremos um trecho da lição 16:

“Vale lembrar que canções também se encaixam no que acabamos de ver, seja por inversão de elementos ou omissão de partículas:

「ふたり夕闇つつむこの窓辺。。。」= Nas proximidades desta janela, o crepúsculo (é o que) envolve nós dois.

Veja que neste pequeno trecho da famosa canção 「君といつまでも」 de Kayama Yuzo, os elementos não seguem o dito padrão [sujeito] [objeto] [verbo], mas podemos entender perfeitamente a sentença. A partícula 「を」 nos mostra qual é o objeto direto (ふたり) do verbo 「つつむ」, 「が」 especifica o que envolve os dois (夕闇) e 「に」 indica o alvo da ação, mais precisamente, o local (この窓辺) onde o crepúsculo envolve o casal. Que fique claro, entretanto, que estamos analisando esse trecho isoladamente apenas para fins didáticos, tentando demostrar o fenômeno de inversão de elementos. Em outras palavras, dentro do contexto geral, ele pode ser interpretado de outro modo, o que, neste momento, não vem ao caso. Vamos abordar isso no tópico 18.9.”

Primeiramente, vamos ver o trecho completo:

ふたりを夕闇がつつむこの窓辺に明日も素晴らしい幸せが来るだろう。

Será que 「この窓辺」 está na verdade sendo modificado pela oração 「ふたりを夕闇がつつむ」, e devemos traduzir esse trecho como “Nas proximidades desta janela em que o crepúsculo envolve nós dois”? Bem, isso faz sentido considerando o restante da frase, isto é, 「明日も素晴らしい 幸せが来るだろう」 .

Nós vamos ver 「だろう」na lição 38, mas por hora, saiba que ele é usado para expressar alguma certeza sobre algo. Sendo assim, o segundo trecho da frase pode ser traduzido como “amanhã também uma maravilhosa felicidade virá certamente”.

Claro que nada impede de interpretarmos as duas partes de forma autônoma, como “Nas proximidades desta janela, o crepúsculo (é o que) envolve nós dois” e “Amanhã também uma maravilhosa felicidade virá certamente”, mas também é plausível pensar que provavelmente 「この窓辺」 esteja sendo modificado pela oração 「ふたりを夕闇がつつむ」 e seja o alvo do verbo 「来る」. Assim, teríamos:

ふたりを夕闇がつつむこの窓辺に明日も素晴らしい幸せが来るだろう。= Às proximidades desta janela em que o crepúsculo envolve nós dois, amanhã também uma maravilhosa felicidade virá certamente.”

Aliás, que tal fazermos um paralelo com a língua portuguesa disso tudo que acabamos de abordar? Assim, você notará que esse tipo de ambiguidade pode acontecer em qualquer idioma. Para tanto, responda sinceramente:

“Alguma vez você já parou para analisar a letra do Hino Nacional Brasileiro?”

Recomendamos que você leia o artigo “Entenda a letra do Hino Nacional” do blog “Português na Rede”. Particularmente, destacamos um trecho:

“O que complica mesmo na interpretação do Hino Nacional é o grande número de inversões.”

18.10. UMA SAUDÁVEL AMBIGUIDADE?

Diante do que foi exposto no tópico anterior, será que podemos afirmar que a língua japonesa é uma língua ambígua? O autor deste artigo em inglês faz uma reflexão interessante a respeito desse tema. Ele começa dizendo que para algumas pessoas, o japonês tem o rótulo de ser um idioma ambíguo. Outros, porém, negam isso fortemente, dizendo que o idioma pode expressar claramente qualquer coisa que o falante deseja.

Mais adiante, conta que sua amiga tradutora ao traduzir para o inglês instruções sobre o que fazer no caso de um terremoto no Japão, acrescentou vários detalhes específicos que não estavam presentes no japonês original. Então, os colegas japoneses dela ficaram um pouco surpresos e fizeram comentários como "os americanos gostam de ser muito específicos, não é mesmo?". E ela respondeu que saber exatamente o que fazer e como fazê-lo poderia salvar a vida de alguém.

Comenta o autor, então, que, mesmo em uma circunstância cuja especificidade é importante, tolerar um maior grau de ambiguidade faz parte da cultura japonesa.

Em outro trecho do artigo, o autor comenta que, conversando com uma amiga americana falante de japonês sobre a questão de assistir animês, ela lhe disse que desligar as legendas (japonesas) era em grande parte uma questão de confiança e tolerância à ambiguidade. Então, quando o autor disse a essa amiga que desenvolveria uma tolerância à ambiguidade, recebeu como resposta "os japoneses são mestres nisso".

O autor menciona algo que pode jogar uma luz para entendermos essa questão cultural. Diz que tanto para o budismo, como para o taoísmo, a função mais elevada da linguagem é nos dar "dicas" ou "indicações" para aquilo que nunca pode ser expresso em palavras. O Tao que pode ser falado não é o verdadeiro Tao. O koan zen não tenta colocar a verdade em palavras, mas abrir a mente para aquilo que está além das palavras. Assim também, não podemos descrever verdadeiramente a música ou o sabor dos alimentos, ou os sentimentos que a sakura desperta em nosso peito. Os sentimentos sutis que nos definem como seres espirituais não podem ser totalmente expressos em palavras, mas as palavras podem insinuá-los e evocá-los.

Com isso, podemos dizer que na língua japonesa há meios para expressar ideias com clareza, de forma específica. A questão é se a clareza, a especificidade é algo (sempre) desejado pelos falantes nativos. Parece que não. O Japão é uma sociedade orientada para o coletivo e que valoriza a harmonia. Como tal, os japoneses são bem conhecidos por serem indiretos, ambíguos e evitarem conflitos. Na cultura japonesa, a leitura da linguagem corporal e de pistas sutis – “ler a atmosfera” – é muito importante para sobreviver tanto em ambientes sociais quanto empresariais. No Japão, muitas vezes se espera que as pessoas compartilhem pontos de vista em comum à medida que se comunicam, o que torna possível o uso de frases curtas. Tal característica torna a língua japonesa mais difícil de entender para as pessoas que não estão familiarizadas com sua cultura, facilitando os mal-entendidos.

Vamos fazer uma analogia: se duas pessoas compartilham dos mesmos princípios e ideais, de certa forma elas se tornam “previsíveis” uma para a outra. Isso tende a gerar mais confiança, possibilitando que as duas partes sejam capazes de se entenderem através de pequenos gestos ou sentenças curtas e indiretas. Ora, facilmente percebemos que, por exemplo, se um chefe fica no pé de um funcionário dando ordens o tempo todo e nos mínimos detalhes é por que de certa forma ele não confia no funcionário. No fundo, o chefe acredita que que o funcionário não é capaz ou não faria o trabalho bem feito sem receber orientações o tempo todo. Como bem pontua Yuta Sensei:

“O japonês é uma língua de ‘muito contexto’, por isso, tentamos dizer as coisas da forma mais curta possível”

E, como encerra o autor a sua reflexão:

“Acho que tolerar a ambiguidade (da língua japonesa) vai fazer parte desse processo (de aprendizado)”

Ter essa tolerância à ambiguidade é muito importante, embora seja algo ao qual não estamos acostumados como falantes da língua portuguesa. É natural que um estudante iniciante queira encontrar, em outras línguas, a mesma clareza que se busca ter em português, contudo, isso é um perigo! Ao se deparar com tantas ambiguidades, esse estudante ficará confuso ou pior: desistirá de aprender o idioma! Por exemplo, quantos são os que começam a estudar um idioma traduzindo letras de músicas? Ora, é de se esperar que essa tendência à ambiguidade apareça nas mais variadas formas de expressão. No caso de músicas não poderia ser diferente. Aliás, provavelmente é onde se encontram mais ambiguidades!! Procure a tradução de uma música “X” em mais de uma fonte e certamente verá diferenças.

Por isso, se você ainda não desenvolveu a tolerância a uma saudável ambiguidade, aconselhamos não procurar letras de músicas para traduzir.

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