LIÇÃO 33: VERBOS AUXILIARES II – 「せる」 E 「させる」

Nesta lição veremos mais dois verbos auxiliares:  「せる」  e 「させる」  .

33.1. CONHECENDO OS VERBOS AUXILIARES  「せる」  E  「させる」 

Da mesma forma que  「れる」  e 「られる」  , os verbos auxiliares  「せる」  e 「させる」  são anexados à base Mizenkei dos verbos, sendo que 「せる」  é usado quando a última sílaba da base Mizenkei do verbo em questão terminar com um fonema da coluna do A. Caso contrário,  「させる」  deve ser utilizado:

ANEXAÇÃO DOS VERBOS AUXILIARES  「せる」  E  「させる」  (REGRA GERAL):

 「せる」  DEVE SER USADO SOMENTE SE A BASE MIZENKEI DO VERBO TERMINAR COM FONEMA DA COLUNA DO A. NOS DEMAIS CASOS, USAR 「させる」  .

Vamos ver a aplicação prática da regra:

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Com relação aos verbos irregulares 「来る」  e 「する」  , como as bases Mizenkei são  「こ」  e 「せ」  respectivamente, devemos anexar 「させる」  :

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Note que colocamos (??) na construção  「せさせる」  , pois quando 「させる」   é unido à  「する」  temos  させる    .Vamos explicar: primeiramente, os verbos auxiliares  「せる」  e 「させる」  se originaram dos auxiliares clássicos 「す」  e 「さす」  respectivamente, que eram conjugados no padrão Shimo-Nidan. Vamos observar as suas bases somente para entendermos sua evolução:

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Como mencionamos na lição 12, a maioria dos verbos que eram Shimo-Nidan no Japonês Clássico sofreu a alteração [Base Ren’youkei] +  「る」  , fato que deu origem às formas atuais. Com relação ao verbo  「する」  espera-se que quando anexado a  「させる」  , sua forma seja  「せさせる」  , entretanto, é 「させる」  . Isso por que a forma   「させる」  originou-se da forma clássica  「せさす」  , na qual o fonema  「せ」  era deixado de lado, ficando  「さす」  . No japonês moderno , o auxiliar 「さす」  deu lugar a  「させる」  , e a regra continua a mesma, isto é, o que seria  「せさせる」  torna-se simplesmente  「させる」  .

Agora que sabemos a origem de 「せる」  e 「させる」  , vamos conhecer suas bases. Ambos são conjugados no padrão Shimo-Ichidan:

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33.2. A FORMA CAUSATIVA

Os verbos auxiliares  「せる」  e 「させる」  são usados para a formação da forma causativa, que é utilizada para indicar uma ação que alguém faz acontecer. Em outras palavras, esta forma expressa que "alguém faz alguém fazer algo" ou "alguém deixa alguém fazer algo". Observe os exemplos:

全部食べさせた= Fez / deixou (alguém) comer tudo.

全部読ませた= Fez / deixou (alguém) ler tudo.

Na verdade, a forma causativa pode confundi-lo de início, devido a este duplo sentido, mas lembre-se sempre que o contexto será nosso melhor amigo. A boa notícia é que, quando ela é usada com os verbos suplementares para a forma TE 「あげる」   e 「くれる」  , quase sempre significará “deixar alguém fazer algo”. Uma vez que você se acostumar com esta forma, o significado que deverá ser considerado em cada caso se tornará claro.

全部食べさせてくれた= Deixou (alguém) comer tudo.

今日は仕事を休ませてください= Por favor, deixe-me descansar do trabalho hoje. (Por favor, deixe-me tirar o dia de hoje.).

Quanto às partículas que devem ser usadas, com verbos intransitivos, a pessoa induzida ou obrigada a fazer a ação é indicada com a partícula  「を」  :

子供学校へ行かせました。= Deixei / fiz meu filho ir à escola.

Segundo gramáticos, existe a possibilidade de se usar 「に」para se marcar a pessoa induzida. Esta mudança daria um sentido mais ameno à sentença, isto é, com 「を」 há um sentido coercitivo, ao passo que com 「に」, um sentido de permissão. Considerando esta possível sutil diferença, vejamos:

(1) 子供学校へ行かせました。= Fiz meu filho ir à escola. (coerção)

(2) 子供学校へ行かせました。= Deixei meu filho ir à escola. (permissão)

Com verbos transitivos, a pessoa induzida ou obrigada a praticar a ação é indicada com  「に」  , e o objeto da ação com 「を」  :

先生が学生宿題たくさんさせた。= O professor fez os estudantes fazerem muita lição de casa.

Em nossa opinião, o motivo dessas particularidades com relação às partículas possivelmente se deve ao fato de que 「せる」/「させる」 transformam os verbos em transitivos (lição 17), então, passariam a ter um objeto direto, que é marcado pela partícula 「を」:

子供学校へ行かせる。= Fazer a criança ir à escola. (onde 「行かせる」 é um verbo transitivo, cujo objeto direto 「子供」é marcado pela partícula 「を」).

Ok, agora imagine a seguinte oração em português:

Eu fiz a pessoa ver o cachorro.

Note que há dois objetos diretos: o do verbo “fazer” (a pessoa) e do verbo “ver” (cachorro). Perceba então, que um verbo transitivo em si, que por natureza pode ter um objeto direto, passa a ter outro quando transfomado na forma causativa:

見させる。

Ora, já que na língua japonesa a ordem dos elementos é bem flexível, você concorda que em construções como esta haveria uma grande ambiguidade? A oração acima deve ser interpretada como “Fazer a pessoa ver o cachorro” ou “Fazer o cachorro ver a pessoa”?

Por isso, cremos que a adoção de 「に」 para marcar a pessoa induzida, no caso dos verbos transitivos em si, é meramente por conveniência para que não haja esse tipo de ambiguidade, o que não acontece com os verbos intransitivos, pois eles não necessitam em si de um objeto direto.

Como você deve ter notado nos primeiros exemplos, podemos omitir aquele que é induzido a fazer algo:

その部長は、よく長時間働かせる= Esse chefe frequentemente faz (as pessoas) trabalharem longas horas.

先生が質問をたくさん聞かせてくれた= O professor deixou (alguém) perguntar várias questões.

Há uma versão abreviada da forma causativa que geralmente não é abordada pelos livros didáticos. Na verdade se trata em usar os auxiliares clássicos  「す」  e 「さす」   no lugar de   「せる」  e 「させる」  . No entanto, tal construção passou a ser considerada muito informal, e você está livre para ignora-la até que tenha tido tempo para se acostumar com a forma regular. Além disso, obviamente,  「す」  e 「さす」   foram encaixados no padrão Godan de conjugação no japonês moderno:

全部食べさす= Fazer / deixar (alguém) comer tudo.

全部読ます= Fazer / deixar (alguém) ler tudo.

同じことを何回も言わすな! = Não me faça dizer a mesma coisa de novo e de novo!

なんか食べさしてくれ= Deixe-me comer algo.

Ainda, podemos usar 「(さ)せる」 com estruturas como 「もらう」, 「ほしい」 e 「ください」 para indicar de uma maneira muito humilde o que você está prestes a fazer:

研究報告を読ませてもらいます。= Por favor, permita-me ler o relatório de pesquisa.

言わせてほしい。= Por favor, permita-me dizer.

考えさせてください。= Deixe-me pensar (sobre isso).

33.3. A FORMA CAUSATIVO-PASSIVA

A forma causativo-passiva é simplesmente a combinação das conjugações causativa e passiva e expressa que a ação de fazer alguém fazer algo foi feita para essa pessoa. Isso efetivamente se traduz por "[alguém] é feito a fazer [algo]". A coisa importante a lembrar é da ordem de conjugação, isto é, o verbo é primeiro conjugado na causativa  depois na passiva; nunca o contrário.

FORMA CAUSATIVO-PASSIVA (REGRA GERAL):

[BASE MIZENKEI DO VERBO] + [BASE MIZENKEI DE  「せる」  / 「させる」  ] +  「られる」  ]

Vejamos a regra na prática:

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Note que, embora a forma final seja longa, sua formação não é nenhum segredo se você tem acompanhado as lições. Vejamos alguns exemplos:

あいつに二時間も待たせられた= Eu fui feito esperar 2 horas por aquele rapaz.

親に毎日宿題をさせられる= Eu sou feito pelos meus pais a fazer a lição de casa todos os dias.

Como a construção se trata da forma passiva da causativa, o agente da passiva sempre será marcado pela partícula 「に」  .

No tópico anterior, aprendemos que é possível usar os verbos auxiliares clássicos 「す」  e 「さす」  como forma abreviada da forma causativa. Sendo assim, é natural pensar que podemos usá-los também na forma causativo-passiva. Entretanto, não é bem assim, pois podemos utilizar somente  「す」   nestes casos.  Não vamos fazer uma abordagem muito detalhada, porque a utilidade dessa forma é bastante limitada, assim como a própria forma causativa mais curta. O conceito é o mesmo: simplesmente utilizar a forma causativa abreviada em vez da forma regular, e o resto é o mesmo que antes. Observe:

あいつに二時間も待たられた。= Eu fui feito esperar 2 horas por aquele rapaz.

親に毎日寿司を食べさされる。= Eu sou feito pelos meus pais a comer sushi todos os dias. (INCORRETA!)

O segundo exemplo está incorreto, pois no japonês moderno 「さす」  não pode ser usado para a forma causativo-passiva.

33.4. A FUNÇÃO DE EXPRESSAR A FORMA HONORÍFICA

No Japonês Clássico, uma das funções de 「す」  e 「さす」  era intensificar o sentido honorífico de um verbo dentro de uma oração em que havia outras palavras formais. Perceba que neste uso eram diferentes de 「る」  e 「らる」  , que podiam expressar a forma honorífica de fato. Tal uso começou no Período Heian (794-1185), mas isso não é mais válido no japonês moderno.

33.5. UMA FORMA QUE SUPERA A FORMA HONORÍFICA

Se o cliente é rei, é necessário demonstrar um grau de reverência apropriado. E se a pessoa com quem você está falando realmente for um rei ou imperador? Acima da linguagem honorífica padrão, existe outro nível conhecido como 「さいこうけいご」(最高敬語), usado ao falar com ou sobre pessoas de status bem elevado. Como protocolo diplomático, monarcas, membros da realeza e da nobreza estrangeira também podem receber tratamento equivalente ao do Imperador e da família imperial japonesa. Líderes de Estado e altos funcionários estrangeiros podem receber expressões próprias.

Essa forma honorífica superior é raramente abordada pelos livros didáticos atuais, mas nos meios de comunicação como jornais e rádio, esse grau honorífico foi amplamente utilizado até o período da Segunda Guerra Mundial, sendo que ainda é possível que nos deparemos com essa forma (em contextos oficiais, documentos públicos, etc.) em algum momento.

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Assim como na forma honorífica padrão, o 「さいこうけいご」(最高敬語) tem seus próprios substantivos, verbos e outras palavras distintas que substituem o vocabulário cotidiano. Como mencionamos, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, essa forma superior da linguagem honorífica desapareceu em grande parte dos meios de comunicação. No entanto, algumas palavras ainda permanecem como representantes desse estilo reverencial de fala. Por exemplo, o Imperador é referido como 「てんのうへいか」(天皇陛下). Isso pode ser traduzido como “sua majestade imperial” ou, mais literalmente, “sua majestade, o imperador”. A palavra 「へいか」(陛下) aqui é a forma de 「さいこうけいご」(最高敬語) mais comum no japonês atual.

Quando o Imperador Hirohito faleceu em 7 de janeiro de 1989, quase todos os jornais japoneses usaram a palavra 「ほうぎょ」(崩御), um termo que significa “falecimento” em 「さいこうけいご」(最高敬語). Já em outubro de 2016, o jornal Sankei Shimbun usou a palavra incomum 「こうきょ」(薨去) para descrever o falecimento do Príncipe Mikasa, tio do Imperador Akihito. Outros jornais, entretanto, usaram o termo honorífico padrão 「せいきょ」(逝去).

Outra palavra do 「さいこうけいご」(最高敬語) que ainda tem algum uso é 「ぎょうこう」(行幸), que é usada quando o imperador sai do palácio para viajar a algum lugar. Frequentemente aparece na variante 「ぎょうこうけい」(行幸啓), usada quando o imperador e a imperatriz saem juntos para uma visita. Se eles partem em uma viagem de trem, são levados por uma estrada chamada 「ぎょうこうどおり」(行幸通り) que liga o Palácio Imperial à Estação de Tóquio.

Uma viagem imperial a vários locais é conhecida como 「じゅんこう」(巡幸). Após a Segunda Guerra Mundial, o Imperador Hirohito viajou por todo o Japão. Com o apoio do General Douglas MacArthur e do Comando Supremo das Forças Aliadas, o imperador partiu numa série de 「じゅんこう」(巡幸) que o levaram a todas as prefeituras do Japão, exceto Okinawa, que na época estava sob controle militar dos EUA. Essas viagens começaram em 1946 e foram concluídas em 1954, quando ele visitou Hokkaido.

Outro uso histórico do 「さいこうけいご」(最高敬語) associado ao Imperador Hirohito é na expressão 「ぎょくおんほうそう」(玉音放送), ou “transmissão da voz de joia”, em 15 de agosto de 1945, quando ele anunciou ao povo japonês a rendição do país aos Aliados. Não só foi uma ocasião significativa, como também a primeira vez que a voz do imperador foi transmitida no rádio. Alguns meios de comunicação resgataram a expressão 「ぎょくおんほうそう」(玉音放送) para a mensagem em vídeo do Imperador Akihito sobre sua abdicação, transmitida em agosto de 2016. Ele veio a abdicar de fato em 30 de abril de 2019, no Palácio Imperial em Tóquio, marcando o fim da Era Heisei e o início da Era Reiwa.

Perceba como “voz de joia” ou 「ぎょくおん」(玉音) parece ter se tornado uma expressão padrão para descrever o discurso do imperador. De forma similar, o rosto do imperador era chamado de 「りゅうがん」(竜顔), “rosto de dragão”. Outa forma interessante é que, em vez do verbo comum 「する」, que significa “fazer”, as ações do imperador eram descritas usando 「あそばされる」(遊ばされる).

Veja a seguir uma lista:

➩ 陛下(へいか): Título honorífico para o Imperador, para o Imperador que abdica do trono em favor de um sucessor, para as “Três Altas” (Imperatriz Consorte, Grande Imperatriz-Viúva, Imperatriz-Viúva – incluindo imperatrizes aposentadas) e para reis estrangeiros;

➩ 殿下(でんか): Título honorífico para membros da família imperial com exceção dos "Três Altos", consortes reais e nobres estrangeiros de status equivalente;

➩ 台下(たいか): Título honorífico para o Papa;

➩ 猊下(げいか): Título honorífico para cardeais e similares;

➩ 畏(おそ)くも: Expressa reverência extrema ("com toda a reverência");

➩ 遊(あそ)ばされる: Forma superior de 「する」;

➩ 有(あ)らせられる: Forma muito superior de 「いらっしゃる」;

➩ おかせられる: Forma honorífica superior de 「置く」;

➩ 賜(たま)う: “Dar” ou “fazer”, também escrito como "給(たま)う";

➩ 宸儀(しんぎ): Corpo ou a própria pessoa do Imperador;

➩ 玉体(ぎょくたい) / 聖体(せいたい): Corpo do Imperador;

➩ 玉音(ぎょくおん): Voz do Imperador;

➩ 玉歩(ぎょくほ): Passos do Imperador;

➩ 玉顔(ぎょくがん) / 天顔(てんがん) / 竜顔(りゅうがん): Rosto do Imperador;

➩ 宝算(ほうさん) / 聖寿(せいじゅ): Idade do Imperador;

➩ 叡慮(えいりょ) / 聖慮(せいりょ) / 宸慮(しんりょ): Pensamentos ou intenções do Imperador;

➩ 宸意(しんい) / 宸旨(しんし): Vontade do Imperador;

➩ 聖旨(せいし): Ordem ou decisão do Imperador;

➩ 令旨(りょうし) / 懿旨(いし): Ordem das “Três Altas”;

➩ 聖断(せいだん) / 宸断(しんだん): Decisão imperial;

➩ 宸襟(しんきん) / 宸念(しんねん) / 軫念(しんねん): Estado mental do Imperador;

➩ 大御心(おおみこころ) / 宸衷(しんちゅう): Coração ou sentimentos do Imperador;

➩ 宸憂(しんゆう): Preocupações do Imperador;

➩ 不予(ふよ) / 不豫(ふよ): Doença do Imperador;

➩ 行幸(ぎょうこう): Saída do Imperador;

➩ 行啓(ぎょうけい): Saída da Imperatriz, Imperatriz-Viúva, Príncipe Herdeiro ou sua consorte;

➩ 行幸啓(ぎょうこうけい): Saída conjunta do Imperador e da Imperatriz;

➩ 御幸(ぎょこう): Saída do Imperador Aposentado;

➩ お成(な)り: Saída de outros membros da família imperial;

➩ 巡幸(じゅんこう) / 宸遊(しんゆう) / 震遊(しんゆう): Viagem oficial do Imperador;

➩ 巡啓(じゅんけい): Viagem oficial de outros membros imperiais;

➩ 還御(かんぎょ) / 還幸(かんこう): Retorno do Imperador ou do Imperador Aposentado;

➩ 還啓(かんけい) / 還幸啓(かんこうけい): Retorno dos demais membros após viagem oficial;

➩ ご帰還(きかん): Retorno dos demais membros da realeza;

➩ ご会釈(えしゃく): Agradecimento direto do casal imperial aos voluntários do Palácio;

➩ 御親臨(ごしんりん) / 親臨(しんりん): Comparecimento direto do Imperador;

➩ 出御(しゅつぎょ) / 渡御(とぎょ): Saída ou aparição do Imperador diante de subordinados;

➩ 入御(にゅうぎょ): Retirada ou entrada do Imperador ou das "Três Altas";

➩ 臨御(りんぎょ): Presença do Imperador em determinado local;

➩ 御台臨(ごたいりん) / 台臨(たいりん): Presença das “Três Altas” ou de membros da família imperial;

➩ 進御(しんぎょ) / 着御(ちゃくぎょ) / 通御(つうぎょ) / 昇御(しょうぎょ): Movimentos como avanço, chegada, passagem e subida ao trono;

➩ 御発輦(ごはつれん) / 御駐輦(ごちゅうれん): Saída e parada do veículo imperial;

➩ 輦(れん): Refere-se a um palanquim exclusivo do Imperador;

➩ 鹵簿(ろぼ): Cortejo de uma saída imperial;

➩ 御親謁(ごしんえつ) / 御親拝(ごしんぱい) / 御拝(ごはい): Visitas e saudações diretas a santuários ou túmulos imperiais;

➩ 御親覧(ごしんらん): Ato de ver por parte do Imperador;

➩ 御台覧(ごたいらん): Quando membros da realeza (exceto o Imperador) veem algo;

➩ 遷御(せんぎょ) / 寝御(しんぎょ): Mudança de residência ou descanso do Imperador;

➩ 渙発(かんぱつ): Divulgação de decretos imperiais;

➩ 崩御(ほうぎょ) / 薨御(こうぎょ) / 薨去(こうきょ): Termos para falecimento do Imperador, príncipe herdeiro ou outros membros;

➩ 降誕(こうたん): Nascimento de membros da família imperial;

➩ 親任式(しんにんしき) / 親授(しんじゅ): Cerimônias de nomeação e condecoração conduzidas pelo Imperador;

➩ 御名御璽(ぎょめいぎょじ) / 御璽(ぎょじ): Nome e selo do Imperador;

➩ 御真影(ごしんえい): Fotografia oficial do Imperador;

➩ 御宇(ぎょう): Reinado do Imperador;

➩ 聖駕(せいが) / 竜駕(りゅうが) / 宸輿(しんよ) / 玉輦(ぎょくれん) / 鶴駕(かくが): Veículos usados pela realeza;

➩ 禁闕(きんけつ) / 宸闕(しんけつ) / 宮闕(きゅうけつ) / 禁掖(きんえき) / 宸掖(しんえき) / 紫宸(ししん) / 玉座(ぎょくざ): Residência e trono imperiais;

➩ 皇謨(こうぼ) / 聖謨(せいぼ) / 皇猷(こうゆう) / 宸謨(しんぼ): Estratégias do Imperador;

➩ 宸翰(しんかん) / 宸筆(しんぴつ) / 宸章(しんしょう) / 御製(ぎょせい) / 御歌(ぎょか) / お歌(うた): Escrita, caligrafia e poemas imperiais;

➩ 勅語(ちょくご) / 優諚(ゆうじょう) / おことば: Declarações do Imperador (o uso de “おことば” para se referir a declarações imperiais começou no pós-guerra);

➩ 勅命(ちょくめい) / 勅令(ちょくれい): Ordens e decretos sob o nome do Imperador (abolidos após 1947);

➩ 御下(ごげ): Restos das refeições do Imperador;

➩ 宸宴(しんえん) / 御遊(ぎょゆう): Festas e entretenimentos imperiais;

➩ ご公務(こうむ): Deveres oficiais dos membros da família imperial;

➩ ご学友(がくゆう): Colegas de classe do príncipe herdeiro, autorizados especialmente (antigamente apenas nobres);

➩ 御物(ぎょぶつ): Bens pessoais da família imperial, como arte e espadas.

***

Como pode ser observado em muitos exemplos de substantivos mencionados acima, 「御」 é lido com a leitura KAN-ON como 「ぎょ」 quando usado como prefixo de palavras sino-japonesas que indicam ações ou pertences (por exemplo, 「御名御璽」 – nome e selo imperiais; 「御製」 – poema imperial; 「御物」 – objeto imperial), ou como sufixo de palavras sino-japonesas que expressam ações (frequentemente movimentos), como 「還御」 (retorno imperial), 「遷御」 (transferência imperial) e 「崩御」 (falecimento do imperador).

Nesses casos, o sujeito da ação ou o proprietário do objeto é o imperador ou alguém de status equivalente, indicando que se trata da forma mais elevada de linguagem honorífica (最高敬語). Esse uso deriva do significado original de 「御」 como referência à pessoa que governa o mundo, e posteriormente passou a ser anexado a substantivos e verbos.

Quando não se trata da forma honorífica mais elevada e sim de linguagem honorífica comum, 「御」 é geralmente lido pela leitura GO-ON como 「ご」, ou pela leitura nativa japonesa como 「おん」, 「お」 ou 「み」, dependendo da palavra à qual está associado.

A leitura 「ご」 aplicada a palavras ligadas à forma que supera a forma honorífica, como 「御真影」 (retrato imperial), é um uso que surgiu principalmente após a Era Meiji, e muitas vezes se sobrepõe a termos que originalmente já eram expressões de mais alta reverência, como 「御親臨」 (presença pessoal do imperador) e 「御親謁」 (audiência pessoal com o imperador).

Apenas por curiosidade, observe os trechos destacados na lei sobre a abdicação, promulgada pela dieta nacional em 9 de junho de 2017 para a abdicação de Akihito, o 125º imperador do Japão:

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Por este trecho, poderíamos dizer que na forma que supera a forma honorífica, pelo menos se usada atualmente, os verbos recebem constantemente os auxiliares 「れる」 e 「られる」, como visto no tópico 31.4.

Há inúmeros exemplos em textos históricos do uso do 「さいこうけいご」(最高敬語), mas atualmente podemos dizer que apenas pessoas próximas à família imperial conseguem usar esse grau honorífico superior de forma correta. Por isso, nós estudantes de japonês não precisamos nos preocupar muito com essa forma honorífica superior.

33.6. A ORIGEM DAS FORMAS ESPECIAIS HONORÍFICAS DOS VERBOS

Na lição 30, quando estudamos as formas honorífica e modesta (ou humilde), vimos que alguns verbos possuem formas especiais. Para algumas dessas formas, pudemos dar uma explicação quanto a sua origem na própria lição. Para outras, como não tínhamos conhecimento gramatical suficiente até então, preferimos deixar para mais adiante. Bem, chegou a hora! Vamos ver qual a origem dessas tais formas.

O verbo honorífico   「いらっしゃる」  origina-se do verbo 「入る」  . Trata-se de sua forma causativo-passiva clássica, isto é,  「入る」  +  「す」  +  「らる」  = (入ら + + らる)  いらせらる. Então, o fragmento  「せら」  foi abreviado para  「っしゃ」  , dando origem à 「いらっしゃる」  .

Já o verbo    「おっしゃる」  é uma contração de  「おおせある」  , que parece ser simplesmente a combinação do verbo obsoleto  「仰す」  , que era conjugado no padrão Shimo-Nidan e  「有る」   「仰せ」  + 「有る」  . Então, o fragmento  「おせあ」  foi abreviado para  「っしゃ」  , dando origem à  「おっしゃる」  .

Em seguida, vamos analisar o verbo  「くださる」  : este parece originar-se da junção do verbo 「下す」  com o verbo auxiliar clássico  「る」  (lição 31). Então, teríamos  「下さ」  +  「る」  .

A origem de  「なさる」  é incerta, mas este parece derivar da junção do verbo 「為す」  com o auxiliar  「る」  , isto é, (為す為さ) +  「る」  .

Lembre-se que, como vimos na lição 31, uma das funções de  「らる」  e  「られる」  e tornar um verbo honorífico e, logicamente, suas formas clássicas –  「る」  e  「らる」  – também tinham esta função.  Então, o que temos aqui, na maioria das formas verbais, é apenas a “honorificação” de alguns verbos clássicos.

Finalmente, o verbo  「ござる」  é uma abreviação de  「御座在る」  (ござある). Aqui temos o prefixo honorífico  「御」  () – lição 30 – embelezando o substantivo  「座」  (), que significa “assento”, em conjunto com o verbo  「在る」  (ある). Literalmente, temos, então, o significado “existir assento”, que pode ser interpretado como “existir um assento (em que um ser vai sentar)”, isto é, vai existir uma presença neste assento.

33.7. A POSSÍVEL ORIGEM DE (ら)れる」 E 「(さ)せる」

Muitos já devem ter se perguntado:

“Se a Base Mizenkei é usada para ações que não ocorreram ainda, por que os auxiliares da forma potencial/passiva e da forma causativa são anexados a ela? Por lógica, não deveria ser usada a Base Ren’youkei?”

O primeiro ponto que temos que considerar é que regras gramaticais são apenas convenções que visam padronizar uma língua. Essas convenções são oriundas de diversos fatores como a lógica, semelhanças, o costume de escritores renomados, o costume da população em geral, etc. Embora a lógica geralmente prevaleça para o estabelecimento dessas convenções, sempre haverá casos em que existirá um choque entre a lógica e os demais fatores.

Contudo, alguns autores afirmam que não há nada que mostre que, historicamente, (ら)れる」é anexado à Base Mizenkei. O auxiliar 「(ら)れる」 teria se originado da junção do verbo 「ある」 com o verbo 「う(る)」, isto é, 「ありう(る)」. Então, no japonês moderno 「ありう(る)」 se tornou 「ありえる」, que teria como sentido literal “obter a existência (da ação [X]). Então, 「ありえる」teria evoluído para 「あれる」. O auxiliar 「あれる」 seria anexado à Base Ren’youkei de um verbo. Observe os exemplos:

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Já com relação 「(さ)せる」, o raciocínio seria o mesmo. Provavelmente se originou da junção do verbo 「ある」 com o verbo 「す」, que seria o verbo “fazer” conjugado em outro padrão, formando 「ありす」. Então, 「ありす」 teria evoluído para 「あす」 e posteriormente「あせる」. Note que poderíamos entender que 「あせる」transmite a ideia de “fazer existir (a ação [X]), o que faz sentido. Assim como 「あれる」, o auxiliar 「あせる」 seria anexado à Base Ren’youkei de um verbo. Observe os exemplos:

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Se essa teoria da origem de 「(ら)れる」 e 「(さ)せる」estiver correta, no caso do verbo 「来る」teríamos originalmente 「あれる」e「あせる」 respectivamente e a mudança para 「こられる」e 「こさせる」 teria que ser considerada uma evolução da pronúncia.

Considerando a complexidade dessas supostas origens e evoluções, o que é mais fácil convencionar como regra gramatical para a anexação de 「(ら)れる」 e 「(さ)せる」?

EXATO!

Observar a semelhança prática com a Base Mizenkei e desconsiderar a lógica.

33.8. A POSSÍVEL ORIGEM DOS VERBOS TRANSITIVOS E INTRANSITIVOS?

Na lição 17, fizemos uma tentativa de “decifrar” a complexa origem dos verbos transitivos e intransitivos. Agora, com o conhecimento dos auxiliares 「(ら)れる」 e 「(さ)せる」 e a provável relação destes com os verbos ある」 e 「得(え)る, bem como de suas formas mais antigas, uma coisa parece ficar bem clara:

“A maioria das formas transitivas ou intransitivas derivam do que chamamos atualmente de forma passiva, forma potencial ou forma causativa em seus estágios mais primitivos ou sendo evoluções destes

Isso também inclui provavelmente o verbo 「居(お)る」. Em outras palavras, haveria variantes perdidas dos auxiliares (ら)れる」 e 「(さ)せる」produzidas com o verbo 「居(お)る」 no lugar de 「ある」, o que deu origem a 「おる」 e 「おす」, que seriam anexados à Base Ren’youkei dos verbos?

Se esta teoria estiver certa, formas como 「落とす」 estariam explicadas, isto é, ela seria uma forma causativa antiga produzida com a variante 「おす」. Assim, teríamos:

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O mesmo valeria para「おる」, possível “variante perdida” de 「(ら)れる」 , que seria anexada à Base Ren’youkei dos verbos. Por exemplo, o verbo 「埋もれる」teria se originado da seguinte forma:

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É claro que aqui teríamos que levar em consideração o Princípio do Menor Esforço e a natural evolução da pronúncia. Aliás, como mencionamos no tópico anterior, em (ら)れる」 e (さ)せる」, tanto o 「ら」 e 「さ」seriam apenas produtos dessa evolução de pronúncia. Se considerarmos, por exemplo, que a forma original (e perdida) de (さ)せる」é 「あす」, formas verbais como 「逃がす」 estariam explicadas. Observe:

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Verbos como 「分かる」 também parecem ter surgido da possível forma primitiva de 「(ら)れる」, isto é, 「ありう(る)」. Perceba que, analisando friamente, 「分かる」 carrega mais um sentido de “ser entendido (ou compreensível)”.

Outra possível hipótese é que essas terminações “~OSU” e “~ORU” podem ser produtos de apofonia, que, em linhas gerais, trata-se da variação de vogal da raiz ou do afixo. Por exemplo, em português temos a palavra “difícil”, que se origina de “Di+fácil”, onde o “a” variou para "i" em função do afixo.

Em japonês, as ocorrências mais comuns são a alternância de 「えだん」 para 「あだん」, e 「いだん」 para 「うだん」 ou 「おだん」. Também, é possível observar este fenômeno quando ocorre a junção de vogais, como a junção de 「いだん」 e 「あだん」, que pode resultar em 「おだん」 ou 「えだん」 .

Por exemplo, acredita-se que o verbo 「居(お)る」se originou da Base Ren’youkei do verbo 「ゐる」(wiru), versão antiga de 「いる」, que significa “existir (no espaço)”, ”habitar”, anexada a 「あり」, isto é, 「ゐ」+ 「あり」. Por causa da apofonia, 「ゐあり」(wiari) se tornou「をる」(woru), forma original de 「居(お)る」, e que algumas fontes registram a variante 「ゑる」(weru). Veja que aqui temos a demonstração de como a junção “I + A” podia evoluir tanto para o som de “O” como para o som de “E”.

Existe um verbo sobrevivente do Japonês Clássico que é interessante. Trata-se de「見()す」, cujo significado é “ver”. Seria ele uma forma causativa perdida do verbo 「見る」, isto é, 「見()す」, que por causa da apofonia se tornou 「見()す」? Outro exemplo é do verbo clássico「思(おも)す」, que significa “pensar”. Seria ele também uma demonstração de como a forma causativa era originalmente formada, isto é, a Base Ren’youkei + 「あす」? Assim, teríamos:

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NOTA: No caso do verbo 「埋もれる」, poderíamos levantar a hipótese de ter havido uma forma anterior que seria conjugada no padrão Yodan.

Se essa teoria estiver correta, fica demonstrado que tanto o auxiliar 「(ら)れる」 como o auxiliar「(さ)せる」NÃO são anexados à Base Mizenkei, tratando-se isso apenas de algo convencionado pelos gramáticos (como sempre é) com base em, digamos, similaridades.

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