LIÇÃO 35: COMPONDO SENTENÇAS I

Esperamos que o seu japonês esteja melhorando progressivamente a cada dia. Dado o caminho que percorremos até aqui, chegou a hora de nos focarmos na construção de sentenças ainda mais complexas.

35.1. DEFININDO “FRASE”, “ORAÇÃO” E “PERÍODO”

Antes de começar a compor orações mais complexas, é importante que você saiba como a estrutura de textos e da comunicação oral é formada. É aqui que entram em campo, “frase”, “oração” e “período”, que são fatores constituintes de qualquer meio de comunicação, pois ela deve se compor de uma sequencia lógica de ideias para que possa haver entendimento. Por isso, é importante saber o conceito de cada um deles. Então vamos lá!

I. FRASE: é todo enunciado dotado de significado. Em outras palavras, a frase se define pelo seu propósito comunicativo, isto é, pela sua capacidade de, num intercâmbio linguístico, transmitir um conteúdo satisfatório para a situação em que é utilizada, seja na língua falada ou escrita. Ela pode ter verbos ou não, existindo, portanto, a frase nominal, quando não é constituída por verbo, e frase verbal, quando há presença de um verbo.

Ex: Que dia lindo!

Já na frase verbal há a presença do verbo.

Ex: Preciso de sua ajuda.

II. ORAÇÃO: é todo enunciado dotado de sentido, porém há, necessariamente, a presença do verbo ou de uma locução verbal. Este verbo, por sua vez, pode estar explícito ou subentendido.

Ex: Os garotos adoram ir ao cinema e depois ao clube.

Podemos perceber a presença do sujeito e do predicado.

III. PERÍODO: é um enunciado que se constitui de uma ou mais orações. Um período pode ser classificado de duas maneiras, sendo:

A) Período Simples: formado por apenas uma oração, também denominada de oração absoluta.

As crianças BRINCAM no jardim.

“Brincam” é a oração que indica o que as crianças estão fazendo no jardim, o que já é o suficiente para entendermos a mensagem que se deseja passar.

B) Período Composto: é aquele constituído por duas ou mais orações.

O ônibus ainda não CHEGOU, mas não DEVE DEMORAR, pois já SÃO sete horas.

Os períodos compostos podem ser formados das seguintes maneiras: podem ser compostos por coordenação, compostos por subordinação, ou ainda compostos por coordenação e subordinação, simultaneamente. Vejamos:

B.1) Período Composto por Subordinação: são períodos que, sendo constituídos de duas ou mais orações, possuem sempre uma oração principal e pelo menos uma oração subordinada a ela.

Então, vamos defini-las: oração principal é a parte que contém a informação principal e aquela que se liga a qualquer oração subordinada, ou seja, é completada por uma oração subordinada, pois lhe falta uma função sintática. Já a oração subordinada, também chamada de “oração dependente”, é aquela que não vai formar um pensamento completo, fazendo com que o leitor ou ouvinte queira informações adicionais para concluir o pensamento (assim, desempenha alguma função sintática que falta na principal, completando-a). Existem três tipos de orações subordinadas:

- substantivas: são aquelas que desempenham as funções sintáticas próprias do substantivo;

- adjetivas: são aquelas que desempenham as funções próprias do adjetivo;

- adverbiais: são aquelas que desempenham as funções próprias do advérbio.

Dadas as definições, observe o exemplo a seguir:

Como eu não fui ao parque...

A oração subordinada não pode estar sozinha, pois não fornece um pensamento completo. O leitor ficaria se perguntando: "Então, o que aconteceu?" (a menos que isso esteja subentendido). Agora, observe o próximo exemplo:

Aguardo que você chegue.

Nessa frase há duas orações: "Aguardo" e "que você chegue". A oração "que você chegue" está completando o sentido do verbo transitivo direto "aguardo". Sendo assim, a oração subordinada está sintaticamente vinculada à oração principal (dependente dela), podendo funcionar como termo essencial, integrante ou acessório da oração principal. Neste caso, exerce a função sintática do objeto direto, e é uma oração subordinada substantiva objetiva direta.

Então, podemos dizer que, de certo modo, em um período composto por subordinação, ambas as orações (principal e subordinada) em alguns casos são mutuamente dependentes, já que a oração principal não teria sentido sem o complemento (oração subordinada), bem como a oração subordinada também não teria sem ser concluída (ideia principal) – é claro que, principalmente na fala, se uma ou outra estiver subentendida, pode ser omitida.

B.2) Períodos Compostos por Coordenação: são os períodos que, possuindo duas ou mais orações, apresentam orações coordenadas entre si. Cada oração coordenada possui autonomia de sentido em relação às outras, e nenhuma delas funciona como termo da outra. As orações coordenadas, apesar de sua autonomia em relação às outras, complementam mutuamente seus sentidos. Veja o seguinte exemplo:

A Grécia seduzia-o, mas Roma dominava-o. (oração coordenada sindética adversativa)

Neste exemplo, temos duas orações independentes (de sentido completo em si): (1) A Grécia seduzia-o, e (2) Roma dominava-o, que são conectadas por meio da conjunção “mas”, dando um sentido de adversidade.

A conexão entre as orações coordenadas podem ou não ser realizadas através de conjunções coordenativas. Sendo vinculadas por conectivos ou conjunções coordenativas, as orações são coordenadas sindéticas. Não apresentando conjunções coordenativas, as orações são chamadas orações coordenadas assindéticas.

Chegou, falou, saiu.

35.2. REVENDO ALGUNS CONCEITOS

A partícula 「て」  deriva da base Ren’youkei do verbo clássico 「つ」  , que era usado para expressar o modo perfectivo. Vejamos a definição de “perfectivo” segundo o dicionário Houaiss:

PERFECTIVO: diz-se de ou aspecto verbal que indica uma ação realizada e concluída; acabado [No português são perfectivas as formas do indicativo fiz, tinha feito, terei feito, por oposição às formas fazia, estava fazendo, estarei fazendo etc., que são imperfectivas.].

Em outras palavras, quando  「つ」  era anexado à base Ren’youkei de um verbo, ele expressava algo como “determinada ação foi (será) feita e está (será) concluída”.

No japonês moderno,  「て」   passou a servir também como partícula conjuntiva, isto é, para conectar orações. Observe o quadro abaixo:

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Este é o uso básico da partícula 「て」  . Nestes casos, o tempo verbal de construção é determinado pelo último verbo. Note que devido à sua origem, alguns preferirão traduzir estas orações como “Comer o peixe (concluir esta ação) e (depois) beber o suco”, e “Ir ao Japão (concluir esta ação) e (depois) estudar japonês”, o que faz sentido. Contudo, não fixe este sentido clássico de  「て」  como sendo único, pois parece que esta partícula pode transmitir outros sentidos.

Esta prática de usar a partícula  「て」  para conectar orações, no entanto, é utilizada apenas na linguagem cotidiana. Discursos formais, narração e publicações escritas empregam a base Ren’youkei em vez da forma TE para descrever ações sequenciais. Particularmente, artigos de jornal (ou mesmo cantores), por questões de brevidade, preferem a base Ren’youkei à forma TE:

魚を食べジュースを飲む。魚を食べジュースを飲む。= Comer o peixe e beber o suco.

君はひざ抱え一人震えてた。君はひざ抱え一人震えてた。= Você segurava seus joelhos entre os braços e tremia sozinho.

Tal recurso se origina, provavelmente, da possibilidade de omissão de partículas, que é comum no japonês. Ora, como  「て」  se une à base Ren’youkei, ao ser omitida, o resultado é tão somente a referida base – aqui desconsidera-se as mudanças eufônicas. Logo, podemos usar tal recurso com os Keiyoushi também:

長いこのみち。= Esta estrada estreita e longa.

Neste pequeno trecho da música “Kawa no Nagare no You ni” de Misora Hibari, veja que a partícula  「て」  é omitida. O elemento  「細く」  aqui não se trata de um advérbio, mas está inserido em uma sequência de características do termo “esta estrada”.  Gramaticalmente a construção deveria ser  「細く長いこのみち」  .

Um ponto importante é que para a construção 「~ている」 (lição 27), a forma abreviada se torna 「~てい」, porém, como isso não soa muito bem no meio de uma sentença, é comum se usar a versão humilde de 「いる」 que é 「おる」(lição 30). Isso é simples e você poderá usar 「おり」 para conectar orações subordinadas, em vez de usar somente 「い」. Lembrando que isso não tem nada a ver com o aspecto humilde de 「おる」:

封筒には写真が数枚入っており、手紙が添えられていた。= Várias fotos estavam dentro do envelope, e uma carta foi anexada.

Algo muito comum no japonês falado é terminar uma oração com o verbo na forma TE. Veja o exemplo abaixo:

ごめん、魚を食べて。= Desculpe por comer o peixe.

Na verdade, os elementos da oração estão invertidos. Na fala muitas vezes as pessoas tendem a dizer aquilo que mais importante primeiro, (me desculpe) e depois o resto (por comer o peixe), independentemente das regras gramaticais. A versão correta da oração acima é  「魚を食べてごめん」  .

Também, dependendo do contexto, a forma TE no final de uma oração pode indicar uma oração incompleta, muitas vezes transmitindo um ar reticente por parte do falante, isto é, uma hesitação em dizer expressamente o seu pensamento, em dar um parecer etc. Tal recurso é muito comum em canções:

魚を食べて。= Comer o peixe (e...) (oração incompleta e reticente)

Também é possível unir estados-de-ser basicamente através do uso da base Ren’youkei  「で」    da cópula   「だ」  . Observe:

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NOTA: os livros didáticos convencionais geralmente chamam a construção acima de “forma TE para substantivos e Keiyoudoushi”, pois, como vimos, este  「で」  pode exercer a mesma função sintática que a partícula  「て」  exerce quando usada com verbos e Keiyoushi. Sendo assim, também a chamaremos de forma TE.

A forma TE é muito versátil e pode transmitir significados diversos de acordo com o contexto (pelo menos na tradução para o português). Existem pelo menos quatro sentidos que ela pode ter:

I. De conjunção: une orações, descrevendo ações seqüenciais:

魚を食べジュースを飲む。= Comer o peixe e beber o suco.

時間がありまし映画を見ました。= Houve tempo e eu assisti ao filme.

このケーキがおいしくきれいです。= Este bolo é gostoso e grande.

ジュースを飲まなくケーキを食べた。= Não bebeu o suco e comeu o bolo.

II. De causa: A forma TE pode expressar a causa da ação principal:

本を忘れ学校に行かなかった。= Eu não fui à escola porque esqueci o livro.

友達がパーティーにこない。= Por causa da chuva, (meu) amigo não virá à festa.

Note que poderíamos traduzir estes dois exemplos como ações sequenciais e pressupor que estamos falando de causa e efeito. Isso faz sentido mesmo em português quando, por exemplo, dizemos: “Estou doente e não irei trabalhar.” (= Como estou doente, não irei trabalhar.). É tudo questão de contexto.

III. De advérbio: verbos na forma TE podem, por vezes, ser usados ​​como advérbios também. Nestes casos podemos considerar que eles explicam ou descrevem como a ação do verbo principal está sendo feita:

歩い行く。= Ir caminhando.

怒っ言う。= Dizer com raiva.

O importante aqui é considerarmos o contexto, pois como vimos em lições passadas, o uso básico de forma TE consiste em unir sentenças. Sendo assim, poderíamos traduzir literalmente os exemplos acima como “Caminhar e ir” e “Ficar com raiva e dizer”, o que de certo modo pode ter o mesmo sentido.

Para terminar nossa pequena revisão, existe a forma contraída da forma TE negativa que se trata de  「ないで」  . Contudo, você não deve achar que ela funciona exatamente da mesma forma:

魚を食べなくて。≠ 魚を食べないで

Com a forma TE abreviada da negativa, se expressa explicitamente que a ação principal é executada sem alguma outra. Observe:

魚を食べないでジュースを飲んだ。= Bebeu o suco sem comer o peixe.

Para expressarmos a mesma coisa, podemos usar o verbo auxiliar clássico de negação  「ず」  , sucedido ou não de  「に」  :

魚を食べジュースを飲んだ。 → 魚を食べずにジュースを飲んだ。= Bebeu o suco sem comer o peixe.

IV. De reticência: a forma TE no final de uma oração pode indicar uma oração incompleta, muitas vezes transmitindo um ar reticente por parte do falante, isto é, uma hesitação em dizer expressamente o seu pensamento, em dar um parecer etc. Tal recurso é muito comum em canções:

魚を食べて。= Comer o peixe (e...) (oração incompleta e reticente).

35.3. EXPRESSANDO A CAUSA COM  「から」  ,  「ので」  E  「ため(に)」 

Você pode expressar a causa de algo usando a partícula   「から」  . A causa e efeito estarão sempre ordenados no padrão “[causa]  「から」  [efeito]”. Quando a causa se tratar de um substantivo ou Keiyoudoushi, você deve adicionar a cópula   「だ」   para declarar explicitamente a causa  「(substantivo / Keiyoudoushi)だから」  . Nestes casos, se você esquecer-se de adicionar  「だ」   antes de 「から」  , vai acabar soando como o  「から」   que significa "de", que foi introduzido na lição 13.

時間がなかったからパーティーに行きませんでした。= Não hove tempo, por isso, não fui à festa.

友達からプレゼントが来た。= O presente veio de um amigo.

友達だからプレゼントが来た。= O presente veio, porque (a pessoa é) um amigo.

Tanto a razão como o resultado podem ser omitidos se estiverem claros a partir do contexto. No caso do discurso educado, você trataria  「から」   apenas como um substantivo comum e adicionaria  「です」  . Observe o diálogo:

MAKOTO: どうしてパーティーに行きませんでしたか。= Por que (você) não veio à festa?

AKIRA: 時間がなかったからです。= Porque (eu) não tive tempo (omitindo-se o efeito)

Quando se omite a causa, você deve incluir o declarativo  「だ」  :

TAMOTSU: 時間がなかった。= Eu não tive tempo.

MIYAKO: だからパーティーに行かなかった?= É por isso que não foi à festa? (omitindo-se a causa)

Você pode usar também  「です」  ou  「である」  se quiser ser mais formal:

ですからあきらは慌てることはありません。= é por isso que falando de Akira, (ele) não tem nada a temer.

私は彼が正直で気さくであるから彼が好きだ。= Eu gosto dele por que ele é honesto e sincero.

Podemos ainda usar 「から」 com a forma TE da construção 「と言う」, obtendo assim 「からといって」 a fim de indicar uma razão para uma ação ou ideia, transmitindo desaprovação. A oração que precede 「からといって」 geralmente é contraditória à oração que vem a sua frente:

忙しいからといって連絡してくれないのは怠慢だ。 = Só porque ele está ocupado, não entrar em contato comigo é imprudência.

彼は子供だからといってここで遊ない。= Só porque ele é uma criança, não brincará aqui.

Algo curioso é que o Jisho.org registra 「といって」 como uma expressão que pode ter o significado de “porque” e, dentre os exemplos, encontramos este:

務めを怠ったと言って彼は私をとがめた。= (Eu) me descuidei do meu dever, por isso, ele me criticou.

Tecnicamente, o que temos são apenas duas orações juntas em que a relação de causa e efeito é entendida pelo contexto.

NÃO CONFUNDA「からといって」 com 「からいって」, que se trata de 「から」 como partícula que indica origem (lição 13) reforçada por 「いって」:

私の経験からいって。= A partir de minha experiência.

Outra possibilidade é usar 「から(に)は」 para indicar uma forte conexão entre a sentença que precede 「から(に)は」 e a que vem depois. Pode-se até dizer que há de certa forma uma relação de causa e efeito, como se o resultado fosse algo esperado, natural ou um dever (na opinião do falante):

わたしがここに来たからには、心配することはない。= Como eu vim aqui, não precisa se preocupar (Lit. Eu vim aqui, por isso, não existe o fato de se preocupar).

Pode-se também usar a forma TE com a partícula final 「ね」 ou 「から」 e 「ね」 → 「~からね」 a fim de expressar uma causa de maneira indireta e vaga. No primeiro caso, o tempo verbal é determinado pelo contexto:

ビールを飲んでね。→ ビールを飲んだからね。= (É por que) bebi cerveja.

Voltando no diálogo entre Miyako e Tamotsu, perceba que Tamotsu poderia ter usado a partícula explicativa  「の」  e dizer  「時間がなかったです」   ou  「時間がなかったです」  . Considerando esta possibilidade, digamos que você queira combinar a causa e o efeito, isto é,  「時間がなかったのだ」   e  「パーティーに行かなかった」  . Lembre-se de que podemos tratar a partícula  「の」   como um substantivo, e então poderemos aplicar o que aprendemos no primeiro tópico desta lição:

時間がなかったのだ+パーティーに行かなかった = 時間がなかったのでパーティーに行かなかった。

Agora sabemos de onde provavelmente surgiu a partícula  「ので」  . Na verdade,  「ので」   é quase intercambiável com  「から」   com algumas diferenças sutis: 「から」   afirma explicitamente que a sentença anterior é a razão para algo, enquanto  「ので」  apenas coloca duas frases juntas, com a primeira com um tom explicativo. Isso é algo que chamamos de causalidade, ou seja, [X] aconteceu, portanto, [Y] aconteceu. Este é um pouco diferente do  「から」   onde [Y] aconteceu explicitamente porque [X] aconteceu. Essa diferença tende a fazer  「ので」   soar mais suave e um pouco mais educado e é preferido no lugar de  「から」   ao explicar a razão para fazer algo que é considerado descortês:

ちょっと忙しいので、そろそろ失礼します。= Como estou um pouco ocupado, sairei em breve.

NOTA:  「失礼します」  , que significa literalmente “eu estou fazendo uma descortesia”, é comumente usado como uma forma educada para você se retirar ou interromper alguém.

Não se esqueça de que para substantivos e Keiyoudoshi é necessário adicionar 「な」  , a base Rentaikei da cópula 「だ」   antes de  「の」  :

私は学生ので、お金がないんです。= Como sou estudante, não tenho dinheiro.

ので、友達に会う時間がない。= É por isso que não há tempo para encontrar o amigo. (omitindo-se a causa)

Do mesmo modo que o  「の」  explicativo pode ser abreviado para  「ん」  na fala,  「ので」   pode ser transformado em 「んで」  , pois é mais fácil de ser pronunciado:

時間がなかったんでパーティーに行かなかった。= Não fui à festa, porque não tive tempo.

私は学生なんで、お金がないんです。= Como sou estudante, não tenho dinheiro.

んで、友達に会う時間がない。= É por isso que não há tempo para encontrar o amigo. (omitindo-se a causa)

Há uma versão arcaica de 「ので」 e 「から」, que se trata de 「こととて」. Observe a oração abaixo:

念を入れたこととてよい仕上がりだ。= (Nós) prestamos atenção, por isso, tivemos um bom final.

Na oração acima o que temos é o substantivo 「こと」 (事), que como sabemos também serve de nominalizador (lição 22), seguido da partícula clássica 「とて」. Em termos etimológicos, 「とて」 se trata da partícula 「と」 em conjunto com algum verbo “omitido” na forma TE, como por exemplo, 「言っ」, 「思っ」, etc. Levando em conta o significado da construção em questão, vamos considerar que o verbo implícito seja 「言う」, já que 「といって」 pode ter o significado de “porque”.

Além disso, 「とて」 também pode ter um sentido próximo à “mesmo”:

病気とて学校に行く。= Mesmo doente, (eu) irei à escola.

Como mencionamos, essa construção é arcaica, aparecendo no JLPT 1. Na verdade, é difícil encontrar um nativo que saiba algo sobre 「とて」. No entanto, ele ainda pode aparecer em dramas e em ocasiões em que se deseja propositadamente usar a língua à moda antiga.

Por fim, vamos nos atentar ao substantivo  「ため」  (為), que pode ser combinado opcionalmente com   「に」   e tem vários significados. Por hora, vamos considerar aqui o significado de “efeito”. Com isso, dentre outros usos,  「ため」  pode indicar a causa de algo:

熱があるために会社に行かない。= (Eu) não irei à empresa, porque estou com febre.

彼は雪のため遅れた。= Ele se atrasou por causa da neve.

Ficaria meio estranho tentarmos traduzir literalmente os exemplos acima, mas você pode considera-los como sendo algo como “como efeito de estar com febre, não irei à empresa” e “como efeito da neve, ele se atrasou”, respectivamente.

35.4. EXPRESSANDO FINALIDADE COM 「ため(に)」  , 「のに」  E  「ように」 

Considerando o significado de “benefício” do substantivo  「ため」  , ele pode também ser usado para indicar que aquilo que está na oração subordinada é a finalidade da ação principal. Observe:

これは君のためなんだ。= Isto é por você.

健康のために体操する。= Faço ginástica para a saúde.

日本に行くために日本語を勉強する。= (Eu) vou estudar japonês a fim de ir ao Japão. (Lit. Tendo como alvo o benefício de ir ao Japão, (eu) vou estudar japonês.).

A partícula 「のに」  também pode ser usada para indicar finalidade:

日本に行くのに日本語を勉強する。= (Eu) vou estudar japonês a fim de ir ao Japão.

Note que a partícula  「のに」  , neste caso, provavelmente se trata da combinação do nominalizador 「の」  com a partícula  「に」  . Sendo assim, poderíamos traduzir literalmente a oração acima como “Tendo como alvo o ato de ir ao Japão, (eu) vou estudar japonês.”.

O sentido de finalidade também pode ser expresso por 「ように」 com a diferença de que 「ように」 geralmente é usado em situações que não se tem controle sobre a situação:

分かるように勉強する。= A fim de entender, (eu) estudarei.

Na oração acima, você não pode garantir que vai entender, mas você estuda para que possa entender.

No nível 1 do JLPT geralmente aparece o padrão 「~こと(が・の)ないように」, que nada mais é do que 「ように」 sendo usado para indicar finalidade:

故障することがないように、点検に努めます。= (Nós) faremos todos os esforços para que não haja falhas de funcionamento.

35.5. EXPRESSANDO OPOSIÇÃO COM 「のに」

Em português, há as conjunções subordinativas concessivas que são elementos que introduzem uma oração que exprime uma ideia de concessão, isto é, um fato contrário à ação ou à verdade expressa na oração principal, sem, no entanto a impedir (oposições coexistentes). Veja o exemplo a seguir:

Midori não emagreceu, apesar de ter se exercitado todos os dias.

Neste exemplo a oração subordinada introduzida pela conjunção é chamada de “oração subordinada adverbial concessiva”. Assim temos:

ORAÇÃO PRINCIPAL (FATO): Midori não emagreceu.

ORAÇÃO SUBORDINADA (CONCESSÃO): Apesar de ter se exercitado todos os dias.

Em japonês é possível construirmos algo semelhante através do uso da partícula  「のに」  . Atente-se, entretanto à ordem dos elementos que será sempre ([concessão]   「のに」  [fato]). Sendo assim, o exemplo dado acima ficará assim em japonês:

みどりが毎日運動したのに、全然痩せなかった。= Apesar de ter se exercitado todos os dias, Midori não emagreceu.

Quando a oposição for um estad-de-ser, devemos explicita-lo com a cópula  「だ」  , que será usada em sua Base Rentaikei:

学生なのに、彼女は勉強しない。= Embora seja estudante, ela não estuda.

さっき食べたばかりなのに、まだおなかがすいています。= Embora eu tenha acabado de comer, eu ainda estou com fome.

Também é possível colocar  「のに」  no final das frases para expressar um sentimento de insatisfação por um resultado inesperado ou indesejado:

あそこに行くなと言ったのに!= Apesar de eu ter dito para não ir lá!

あんなに努力したのに。= Apesar de todos os meus esforços.

O uso de  「のに」  no final das sentenças é muito comum na linguagem casual, mas você não encontrará isso em documentos ou livros. Na realidade, quando  「のに」  termina uma oração, ela está incompleta e o seu final está implícito. Observe atentamente os exemplos e você perceberá que esse tipo de construção também faz sentido em português, como quando dizemos desolados por não passar no vestibular depois de tanto estudar: “apesar de ter estudado tanto...”. 

No Japonês Clássico, esse sentido de concessão era frequentemente indicado pela base Izenkei (atual Kateikei), seguida comumente pelas partículas 「ど」ou 「ども」:

行(ゆ)ど。= Embora (ele) vá.

Na lição 21, mencionamos que no Japonês Clássico era possível se anexar 「に」 a um verbo em sua Base Rentaikei. Tal construção, adquiria um sentido de advérbio, podendo ainda hoje ser utilizada em situações formais:

私が考えるに、案には問題がある。= A meu ver, há um problema com o plano.

Entretanto, essa mesma anexação da partícula 「に」 a um verbo em sua Base Rentaikei podia ter o mesmo sentido de 「のに」. Vejamos a oração a seguir retirada de “Diário de Sarashina”, um livro de memórias escrito no século XI:

十月晦日なる、紅葉散らで盛りなり。= Embora seja o final de outubro, as folhas coloridas estão no auge.

35.6. EXPRESSANDO CONTRADIÇÃO COM  「が」  E  「けど」 

Podemos usar as partículas 「が」   e  「けど」   para conectar orações a fim de expressar contradição:

デパートに行きました、何も欲しくなかったです。= Eu fui à loja de departamentos, mas nada era interessante.

金はないけど夢はある。= Não tenho dinheiro, mas tenho sonhos.

Assim como  「から」  , o declarativo  「だ」   é necessário para substantivos e Keiyoudoushi:

彼は、金持ちだが兄は貧乏だ。= Ele é rico, mas o irmão é pobre.

この車は素敵だけど高い。= Este carro é maravilhoso, mas é caro.

NÃO CONFUNDA a cópula 「だ」 + 「が」, com 「だが」 que, embora tenha se originado desses dois elementos, passou a ser usada como uma conjunção para expressar algo que contrasta com o que é exposto na sentença anterior:

あの人には才能がある。だが、その才能を使っていない。= Ele é talentoso. Porém, não está usando seus talentos.

Semelhante à diferença entre  「から」   e  「ので」  ,  「が」   tem um tom mais suave e é um pouco mais educado do que  「けど」  . Embora isso não seja uma regra, geralmente é comum ver  「が」   ligado a um final com 「~ます」   ou  「~です」  , e   「けど」  ligado a um final casual regular. A versão mais formal de  「けど」   é  「けれど」   e a ainda mais formal é  「けれども」  .

Da mesma forma que  「から」   e  「ので」  , qualquer uma das partes pode ser omitida e subentendida pelo contexto:

だけど、みえがまだ好きなのだ。= (Pode ser isso), mas é que ainda gosto da Mie.

デパートに行きました。= Eu fui à loja de departamentos (mas...).

Agora, observe o próximo exemplo:

友達に聞いたけど、知らなかった。= Eu perguntei a um amigo, mas ele não sabia.

Parece estranho, mas  「聞く」  pode significar tanto “ouvir” como “perguntar”. Talvez, você pense que isso torne as coisas difíceis, mas o devido significado é geralmente claro pelo contexto. Na sentença acima, estamos assumindo que o amigo não sabia, então o falante provavelmente estava perguntando ao amigo. Novamente nós vemos a importância do contexto na língua japonesa, porque essa sentença pode significar também “Eu ouvi de um amigo, mas eu não sabia”, já que não há sujeito nem tópico. 

Diferentemente das palavras para expressar contradição que temos em português, como “mas” ou “porém”, as partículas 「けど」   e  「が」  não indicam sempre uma contradição direta. Frequentemente, especialmente ao se introduzir um novo tópico, elas são usadas como um conector genérico de sentenças independentes. Por exemplo, nas próximas construções não indicam realmente uma contradição, e 「が」  e  「けど」  estão sendo usados simplesmente como conectores. Em português, poderíamos traduzi-los como “e”:

デパートに行きました、いい物がたくさんありました。= Eu fui à loja de departamentos e havia várias coisas boas.

マトリックスを見たけど、面白かった。= Eu assisti Matrix e foi interessante.

Podemos ainda usar partículas  「が」  ou  「けど」  no final das sentenças:

マトリックスを見たけど。= Eu assisti Matrix (e...).

Na verdade, a oração está incompleta, mas no japonês tal recurso tem um aspecto menos direto e transmite um ar mais suave e polido.

Em tópico anterior, citamos 「といって」. Essa construção também pode ter sentido de adversidade. Inclusive, alguns dicionários chegam a classifica-la como uma conjunção, tendo significado de “mas”, “porém”. Expressa que embora um fato seja verdadeiro ou aceitável, outro não o é:

時間がない。と言って、この仕事をそのままにしておくことはできない。= (Eu) não tenho tempo. Mas, não posso deixar este trabalho como está.

Neste uso de 「といって」 podemos antecede-la por 「そうか」, isto é, 「そうかといって」 tornando-a mais enfático.

Agora, observe o próximo exemplo:

逃げるがいい。

Em um primeiro momento, alguém poderia interpretar a oração acima como “Fugirá, mas será bom”, ou “Fugirá e será bom”. Entretanto, segundo Tae Kim neste post de seu blog, o padrão (Verbo + がいい) “é um daqueles casos raros em que a partícula é ligada diretamente ao verbo”. Partindo dessa afirmação, então, o padrão citado pode ser visto como uma nominalização (lição 22) à moda antiga. Vamos relembrar:

O uso de 「の」 e 「こと」 como nominalizadores parece ser um recurso que começou a ser adotado no Japonês Moderno. Antes disso, uma prática comum para se nominalizar uma oração era usar a base Rentaikei simplesmente. Sendo assim, por exemplo, a oração 「学生は勉強するを忘れた」 seria nominalizada assim:

学生は勉強する忘れた。= O estudante esqueceu-se de estudar.

Portanto, (Verbo + がいい), que aparece com certa frequência em animês, é usado para expressamos uma ação que é recomendada em certa circunstância:

逃げるがいい。= (Você) deve fugir (Lit. (O ato de) fugir será bom).

Como é de se esperar, esse padrão é arcaico, não sendo usado nas conversas ou documentos.

Agora, vejamos um padrão de sentença bem interessante que costuma aparecer no nível 2 do JLPT (observe os trechos destacados):

このバッグ、高いことは、すごく使いやすいです。= Esta bolsa é cara, mas muito fácil de usar.

No padrão acima, repete-se o verbo ou adjetivo (em vermelho). Apesar de estranho, este padrão é usado para expressar adversidade entre duas orações. Logicamente, podemos substituir 「が」por 「けど」 (e variantes):

このバッグ、高いことはけど、すごく使いやすいです。= Esta bolsa é cara, mas muito fácil de usar.

35.7. EXPRESSANDO VÁRIAS RAZÕES COM  「し」 

Quando você quiser listar razões para vários estados ou ações, poderá fazer isso adicionando  「し」   ao final de cada oração subordinada. É muito semelhante à partícula  「や」  , exceto que  「し」  enumera razões para verbos, Keiyoushi e estado-de-ser. Observe:

MIDORI: どうして彼が好きなの? = Por que (você) gosta dele?

MIE: 優しい、かっこいい、面白いから。= Porque ele é carinhoso, atrativo e interessante (entre outras coisas).

Perceba que  「優しくて、かっこよくて、面白いから。」  também faria sentido, mas assim como a diferença entre as partículas  「と」   e  「や」  ,  「し」   implica que há outras razões além das enumeradas.

Novamente, 「だ」   deve ser utilizado para declarar explicitamente o estado-de-ser para qualquer substantivo ou Keiyoudoushi. Vejamos o próximo diálogo:

TAMOTSU: どうして友達じゃないんですか?= Por que (ele) não é amigo?

HIROSHI: 先生だし、年上だし・・・。= Bem, (ele) é o professor, é mais velho (entre outras coisas).

Mais um exemplo:

彼は引退したことだ、結婚する。= Como ele se aposentou (entre outras coisas), vai se casar.

O mesmo pode ser indicado com 「~こともあって」:

彼は引退したこともあって、結婚する。= Como ele se aposentou (entre outras coisas), vai se casar.

Aqui temos a forma TE servindo para indicar razão. Literalmente se diz: “Falando dele, existe também o fato de ter se aposentado e (por isso) vai se casar”.

35.8. EXPRESSANDO VÁRIAS AÇÕES OU ESTADOS COM  「たり」 

O verbo auxiliar  「たり」  se origina da contração da partícula  「て」  +  「あり」  , base Ren’youkei do verbo  「ある」  , e tanto as suas regras de anexação como as mudanças sonoras sofridas são exatamente iguais a 「た」  , auxiliar de tempo passado (lição 14). Quanto ao seu uso, trata-se da versão para verbos da partícula  「や」  , isto é, você pode fazer uma lista parcial de ações, na qual existam mais ações. Ao final da sentença é preciso adicionar o verbo  「する」  , que também indicará o tempo verbal:

映画を見たり、本を読んだり、昼寝したりする。= Eu faço coisas como assistir ao filme, ler o livro e tirar cochilos à tarde (entre outras coisas).

映画を見たり、本を読んだりしなかった。Eu não fiz coisas como assistir ao filme e ler o livro (entre outras coisas).

Em canções ou mesmo na língua informal, o verbo  「する」  às vezes é omitido:

背中を向けたりはできないのさ。= Não podemos (fazer) coisas como virar as nossas costas (entre outras coisas).

Neste trecho da música de abertura do seriado tokusatsu Changeman, como em  「たり」   há a base Ren’youkei, que tem também valor de substantivo, a partícula  「は」  pode ser usada, fazendo da ação, neste caso, o tópico da oração. A parir desse exemplo se percebe também, que é possível usarmos apenas um verbo com  「たり」  para expressar “a ação X e outras do tipo”. Apenas para reforçar esta ideia, observe os próximos exemplos:

寿司を食べたりする。= Eu farei coisas como comer sushi (e outras coisas mais).

恋に落ちたりするのはあぶない。= O ato de se apaixonar (entre outros) é perigoso

Você também pode usar  「たり」   com o estado-de-ser para expressar que algo, em momentos diferentes, é uma série de coisas, dando a entender que há ainda uma lista de coisas ainda maior:

この大学の授業は簡単だったり、難しかったりする。= As aulas dessa faculdade são fáceis e às vezes são difíceis (e às vezes é alguma coisa mais talvez).

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