Nesta lição, vamos aprender mais alguns meios de se construir sentenças interessantes. Da mesma forma que mencionamos no cabeçalho da lição anterior, depois desta lição, você já terá um bom conhecimento da língua japonesa, contudo, teremos outras lições dessa série.
46.1. USANDO 「おろか」 PARA DIZER QUE NÃO VALE A PENA NEM CONSIDERAR
Esta construção deriva do Keiyoudoushi 「愚か」 , que significa “ser tolo” ou “ser estúpido”. No entanto, neste caso, você não está tirando sarro de alguma coisa, mas sim usando 「おろか」 para indicar que algo é tão ridículo que nem vale a pena considerar. Seria como se disséssemos que algo é tão além das possibilidades de alguém, que seria tolice pensar nisso. Para clarificar, observe os exemplos:
漢字はおろか、ひらがなさえ読めないよ!= Esqueça Kanji, (eu) não consigo nem ler Hiragana!
結婚はおろか、2ヶ月付き合って、結局別れてしまった。= (Nós) terminamos depois de namorar por dois meses, nem penso em me casar.
大学はおろか、高校すら卒業しなかった。= (Eu) nem sequer conclui o ensino médio e muito menos a faculdade.
Esta construção é raramente usada e é útil principalmente para o nível 1 do JLPT. A expressão 「どころか」 é muito mais comum e tem um significado similar. No entanto, ao contrário 「おろか」 que é usado como um Keiyoudoushi, 「どころか」 é ligado diretamente ao substantivo, adjetivo ou verbo:
漢字どころか、ひらがなさえ読めないよ!= Esqueça Kanji, (eu) não consigo nem ler Hiragana!
Agora, observe o trecho em destaque na oração a seguir:
忙しくて遊ぶどころではない。 = Estou ocupado e não tenho tempo para brincar.
O trecho em questão é 「~どころではない」, que é classificado pelo DenshiJisho como um sufixo:
Assim como 「どころか」,「~どころではない」 é anexado diretamente aos substantivos, verbos ou Keiyoushi e sua função é similar a de 「どころか」, indicando enfaticamente a impossibilidade de algo, como se estivesse muito longe de acontecer ou do esperado, devido a alguma adversidade. Também, há a possibilidade de usá-lo na oração subordinada como 「~どころではなく」:
引越をしたばかりなので、旅行どころではなくうちの整理に手一杯です。= Como (eu) acabei de mudar, longe de uma viagem, estou completamente ocupado com a organização da casa.
Obviamente, podemos usar a forma contraída:
引越をしたばかりなので、旅行どころじゃなくうちの整理に手一杯です。= Como (eu) acabei de mudar, longe de uma viagem, estou completamente ocupado com a organização da casa.
Podemos encarar o sentido de 「~どころではない」 como “Não é lugar de [X] (pois há um empecilho que preenche este lugar e não dá espaço para outra coisa)”. Por exemplo, 「忙しくて遊ぶどころではない」 poderia ser traduzido como “(Eu) estou ocupado e não é lugar de brincar.”, isto é, não existe um lugar onde se possa encaixar o ato de brincar, porque o fato de estar ocupado o preenche completamente. Mais simplificadamente, “não há como brincar”.
Há ainda uma forma mais enfática. Trata-se de acrescentar o substantivo 「はなし」 (話) a 「どころ」, isto é, 「~どころの話ではない」:
忙しくて遊ぶどころの話ではない。 = Estou ocupado e não tenho tempo para brincar.
46.2. EXPRESSANDO O QUE OCORREU IMEDIATAMENTE APÓS USANDO 「とたん」
Vamos abordar agora uma maneira de dizer que alguma coisa aconteceu assim que outro fato ocorre. Para tanto, basta adicionar o substantivo 「とたん」 à forma passada da primeira ação que aconteceu. Também é comum acrescentar a partícula 「に」 para indicar esse ponto específico no tempo:
窓を開けたとたんに、猫が跳んでいった。= Assim que (eu) abri a janela, o gato saltou para fora.
Uma coisa importante a entender aqui é que você só pode usar esta construção para coisas que ocorrem imediatamente após outra e não para uma ação que você mesmo realiza. Por exemplo, comparemos as duas orações seguintes:
映画を観たとたんに、トイレに行きました。= Assim que (eu) vi o filme, fui ao banheiro.
A oração acima está incorreta, porque você realizou a ação de ir ao banheiro.
映画を観たとたんに、眠くなりました。= Assim que vi o filme, fiquei com sono.
Já que “ficar sonolento” é algo que aconteceu fora de seu controle, esta frase está correta.
46.3. USANDO 「が早いか」 PARA DESCREVER O INSTANTE QUE ALGO OCORREU
A expressão fixa 「が早いか」 é usada para descrever algo que aconteceu no instante que outro fato ocorreu. Apesar de ser muito parecido com 「とたんに」 , tem uma forte ênfase em quão breve uma coisa ocorreu após outro fato, como se fossem quase simultâneos. Esta construção é raramente usada fora dos testes de língua japonesa.
Para usar esta construção, você deve anexar 「が早いか」 ao primeiro verbo e, então, descrever o evento que aconteceu no instante seguinte. Embora seja convencional usar a forma não-passada (forma de dicionário) para o primeiro verbo, você também pode usar o verbo no passado. Por exemplo, você pode dizer 「言うが早いか」 ou 「言ったが早いか」 . O curioso sobre esta construção é que a partícula 「が」 vem logo após o verbo. Lembre-se que você só pode fazer isso com expressões fixas:
彼女は、教授の姿を見るが早いか、教室から逃げ出した。= No instante em que ela viu a figura do professor, ela fugiu da sala de aula.
「食べてみよう」 と言ったが早いか、口の中に放り込んだ。= No instante em que (ele) disse: "vamos tentar comer isso", (ele) jogou isso em sua boca.
NOTAS:
1. Esta forma gramatical é usada apenas com ações que estão diretamente relacionadas;
2. Esta forma gramatical é usada apenas com ações que realmente aconteceram (passado).
46.4. USANDO 「や/や否や」 PARA DESCREVER O QUE ACONTECEU LOGO APÓS
As expressões fixas 「や」 ou 「や否や」 (やいなや), quando anexadas a um verbo, são usadas para descrever algo que aconteceu logo depois deste verbo. O seu significado é essencialmente o mesmo que 「が早いか」 . É também outro tipo de construção que não é muito utilizada em conversas regulares.
A partícula 「や」 tem um sentido não muito comum atualmente semelhante a 「か」 quando ela acrescenta um ar de dúvida à sentença (lição 29), e 「否」 (lido aqui como 「いな」 ) é um Kanji cujo significado é “não” e é usado em palavras como 「否定」 . Sendo assim, o significado literal desta construção é "se a ação foi realizada ou não”. Em outras palavras, a segunda ação é tomada antes mesmo de ter o tempo para determinar se o primeiro evento realmente aconteceu ou não.
Você pode usar esta construção, anexando 「や」 ou 「や否や」 à forma de dicionário do primeiro verbo que ocorreu. Uma vez que ela é usada para eventos que já ocorreram, o segundo verbo geralmente deverá estar na forma passada. No entanto, você pode usar a forma infinitiva para indicar que os eventos acontecem regularmente:
私の顔を見るや、何か言おうとした。= (Ele) tentou dizer algo assim que ele viu meu rosto.
搭乗のアナウンスが聞こえるや否や、みんながゲートの方へ走り出した。= Assim que o anúncio de embarque era audível, todo mundo começou a correr em direção ao portão.
Um padrão que costuma ser cobrado no nível 1 do JLPT é 「~と見るや」. Não tem segredo. Aqui se está dizendo algo como “ao ver [X], imediatamente...”:
母親が出かけると見るや、ゲームをはじめた。= Ao ver minha mãe sair, comecei o jogo.
46.5. USANDO 「そばから」 PARA DESCREVER UM EVENTO QUE OCORRE REPETIDAMENTE LOGO APÓS OUTRO
「そばから」 é mais uma expressão fixa que descreve um evento que acontece logo após o outro. No entanto, ao contrário das expressões que abordamos até agora, 「そばから」 implica que os eventos são um padrão recorrente. Por exemplo, você usaria essa construção para expressar o fato de que você limpa e limpa o seu quarto para ele ficar sujo novamente logo depois.
Além dessa diferença, a regra para a utilização desta expressão é exatamente o mesma que 「が早いか」 e 「や否や」 : basta anexar 「そばから」 à forma infinitiva do primeiro verbo que ocorreu. O tempo passado, embora raro, também parece ser aceitável. No entanto, o evento que se segue imediatamente é geralmente expressado com a forma não-passada, porque esta construção é usada para eventos repetidos e não um evento específico no passado:
子供が掃除するそばから散らかすから、もうあきらめたくなった。= A criança bagunça (o quarto) [repetidamente] assim que limpo, por isso, eu já estou querendo desistir.
教科書を読んだそばから忘れてしまうので勉強ができない。= (Eu) esqueço [repetidamente] logo depois que leio o livro, então, não posso estudar.
46.6. USANDO 「思いきや」 PARA DESCREVER ALGO INESPERADO
Você pode usar esta expressão para indicar algo que você pensa ser uma coisa, mas para o seu espanto, as coisas realmente se tornam muito diferentes. Você deve usá-la da mesma forma como faria para expressar qualquer pensamento, isto é, usando a partícula 「と」 e o verbo 「思う」 . A única diferença é que usa-se 「思いきや」 em vez de 「思う」 . Não há tempo verbal em 「思いきや」 , ou melhor, uma vez que os resultados já estão contra as suas expectativas, o pensamento original é implicitamente entendido como sendo passado. Observe os exemplos:
昼間だから絶対込んでいると思いきや、一人もいなかった。= Apesar de ter pensado que deveria estar lotado, já que era tarde, (surpreendentemente) não havia uma única pessoa lá.
このレストランは安いと思いきや、会計は5千円以上だった!= Pensei que este restaurante fosse barato, mas (surpreendentemente) a conta foi mais de 5.000 ienes!
Para entendermos a origem de「思いきや」, temos que recorrer ao Japonês Clássico, como sempre (mais uma prova de que é necessário estudarmos o Japonês Clássico para entendermos construções avançadas ainda usadas na língua moderna).
No Japonês Clássico, um dos auxiliares mais comumente usados para o tempo passado era 「き」, que era anexado à Base Ren’youkei. Vejamos quais eram suas bases:
「思いき」 é, então, a versão clássica de 「思った」. Já com relação a 「や」, embora o site Jgram.org afirme que aqui teria o sentido de “mas”, “porém”, é muito provável que se trate da versão “abreviada” de 「や否や」, que vimos no tópico 4 desta lição. Sendo assim, ao usarmos 「思いきや」 estamos literalmente descrevendo o que aconteceu logo depois de ter se pensado algo – seria como「思ったやいなや」, apesar de atualmente se usar a forma não-passada com 「や否や」.
46.7. USANDO 「~あげく(挙句)」 PARA DESCREVER UM MAU RESULTADO
「あげく」 é usado para descrever um resultado, geralmente negativo, que surge depois de um grande esforço. A regra é muito simples: apenas modifique o verbo ou substantivo que foi realizado com 「あげく」 e, em seguida, descreva o resultado final, que surgiu a partir desse verbo ou substantivo. Como esta gramática é usada para descrever o resultado de uma ação já concluída, ela é usada com a forma passada do verbo. Também, 「あげく」 é tratado essencialmente da mesma forma que qualquer substantivo e, por isso, você precisará usar a partícula 「の」 para modificar outro substantivo. Finalmente, 「あげくの果て」 é uma outra versão mais forte desta gramática. Observe os exemplos:
事情を2時間かけて説明したあげく、納得してもらえなかった。= (Depois de uma grande quantidade do ato de) explicar as circunstâncias por duas horas, (no final), não pude receber compreensão.
先生と相談のあげく、退学をしないことにした。= (Depois de muito) consultar com o professor, (no final), decidiu não abandonar a escola.
46.8. CHEGANDO A UMA CONCLUSÃO COM 「わけ」
O substantivo 「わけ」 (訳)é um pouco difícil de descrever, mas é definido como "significado”, “motivo”, “razão”. Você pode ver como esta palavra é usada nos seguintes mini-diálogos.
MIE: いくら英語を勉強しても、うまくならないの。= Não importa o quanto eu estude, eu não melhoro no inglês.
AKIRA: つまり、語学には、能力がないという訳か。= Então, basicamente, significa que você não tem habilidade em idiomas. (Lit. Então, basicamente, é motivo que não existe habilidade em idiomas).
MIE: 失礼ね。= Que rude.
Como você pode ver, Akira está concluindo, a partir do que Mie disse, que ela não deve ter nenhuma habilidade em aprender línguas. Isto é completamente diferente da partícula explicatória 「の」 , que é usada para explicar algo que pode ser óbvio ou não. Por outro lado, 「わけ」 é usado para tirar conclusões que qualquer pessoa pode ser capaz de chegar, dadas certas informações.
Uma aplicação muito útil de 「わけ」 é combiná-lo com 「ない」 para indicar que não há nenhuma conclusão razoável. Isso permite expressões muito úteis como "Como é que vou saber?”
中国語が読めるわけがない。= Não posso de nenhuma maneira ler chinês. (Lit: Não há nenhuma razão para (eu) ser capaz de ler chinês).
De acordo com as regras normais da gramática, deve-se ter uma partícula para o substantivo 「わけ」 , a fim de usá-lo com o verbo, mas uma vez que este tipo de expressão é usado com muita frequência, a partícula é muitas vezes deixada de lado; assim temos apenas 「~わけない」 :
MIE: 広子の家に行ったことある?= (Você) já foi para a casa da Hiroko?
HIROSHI: あるわけないでしょう。= Não há nenhuma razão para já ter ido até a casa dela, certo?
Há uma coisa que precisamos ter cuidado, porque 「わけない」 também pode significar que algo é muito fácil (não requer nenhuma explicação). No entanto, pode-se saber facilmente quando este significado é pretendido, porque neste caso é usado da mesma maneira que um adjetivo:
ここの試験に合格するのはわけない。= É fácil de passar os testes aqui.
Podemos também negar o que geralmente seria suposto a partir de declarações ou situações anteriores, usando a negativa do estado de ser – mais comumente 「わけではない」. Essa construção tem um sentido de “não significa (necessariamente) que...”:
全然見込みがないわけではない。= Não significa (necessariamente) que absolutamente não há esperança.
彼の作文は完全に誤りがないというわけではない。= Não significa (necessariamente) que a composição dele esteja perfeitamente livre de erros.
「わけではない」 pode ser usado com 「なにも」 para indicar de forma enfática que se deseja dissipar alguma impressão errada:
私はなにも、あなたの行動を批判しているわけではないんです。= Eu não estou criticando suas ações (como você está imaginando).
Finalmente, embora não seja tão comum, 「わけ」 também pode ser usado como uma expressão formal para dizer que algo deve ou não deve ser feito a qualquer custo. É uma versão mais forte e mais formal de 「~てはいけない」. Este padrão é criado simplesmente unindo 「わけにはいかない」, e não pode ser usado para simplesmente indicar a impossibilidade de realizar uma tarefa, pois se subentende que existe um motivo à parte:
今度は負けるわけにはいかない。= Desta vez, (eu) não devo perder a qualquer custo.
ここまできて、あきらめるわけにはいかない。= Depois de chegar até aqui, (eu) não devo desistir.
試験だから勉強しないわけにはいかない。= Não posso deixar de estudar, porque é um exame.
46.9. INDICANDO UMA IMPOSSIBILIDADE COM 「きんじえない」
「きんじえない」 é uma construção interessante. Primeiramente, 「きんじ」 se trata da Base Ren’youkei do verbo Shimo-Ichidan e transitivo 「きんじる」(禁じる), que significa “proibir”. Já 「える」(得る), como já sabemos, significa “obter”, “conseguir” e também pode ser usado como verbo auxiliar para obtermos a forma potencial curta dos verbos Godan (lição 31).
Sendo assim, 「禁じ得ない」 poderia ser traduzido literalmente como “Não é possível proibir [X]”. Estranhamente, ele é classificado pelo DenshiJisho (e outras fontes) como sendo um Keiyoushi, com o significado “insuprimível” e “irresistível”:
Entretanto, como 「禁じ得ない」 geralmente é precedido da partícula 「を」, preferimos trata-lo como uma forma potencial excepcional de 「禁じる」. É sempre antecedido por substantivos que indiquem sensações, sentimentos:
怒りを禁じえなかった。= (Eu) não pude controlar a minha raiva (Lit. Não foi possível proibir a raiva).
Não confunda 「きんじ」 (禁じ) com o substantivo 「きんし」 (禁止), que significa “proibição (contra)” e pode funcionar como um “sufixo” para alguns substantivos:
喫煙禁止 = Proibido fumar.
46.10. O QUE SÃO OS “ADVÉRBIOS BIKKURI”?
Neste artigo do site “Tim Sensei’s Corner” é mencionado que em japonês, há um interessante conjunto de palavras compostas de quatro fonemas de Hiragana, cujo segundo é o pequeno 「つ」, que em Roomaji dobra a consoante seguinte criando uma pequena pausa, e o quarto dos Hiragana é o fonema 「り」. Veja o padrão abaixo:
Por falta de um nome oficial para esse conjunto de palavras, Tim Takamatsu as rotula de “Advérbios Bikkuri”, termo que acabou sendo usado até por outros sites. Vejamos alguns exemplos:
がっかり: o fato de estar desapontado:
試験を滑ったからがっかりしている。= (Eu) estou desapontado porque falhei no exame.
ぐっすり: sono saudável.
昨夜ぐっすり寝ました。= (Eu) dormi bem a noite passada.
しっかり: forte, firme, sólido.
しっかりしてください。= Aguente firme.
びっくり: estar surpreso.
真夜中電話がなったので、びっくりした。= (Eu) fiquei surpreso porque o telefone tocou no meio da noite.
ゆっくり: vagarosamente, facilmente:
もっとゆっくり話してください。 = Por favor, fale mais devagar.
さっぱり: puro, limpo, ordenado; franco, aberto; revigorado; inteiramente, completamente (geralmente com negativos).
お風呂に入ってさっぱりした。= (Eu) tomei um banho e estou revigorado.
Mas, será que realmente existe esse tal conjunto sem nome de palavras na língua japonesa?
Para responder a essa questão vamos nos lembrar que na lição 20 abordamos as “onomatopeias”, e mencionamos que elas são divididas em três tipos diferentes: 「ぎせいご」(擬声語), 「ぎおんご」(擬音語) e 「ぎたいご」(擬態語). Vamos nos focar no terceiro grupo. Relembrando...
III. Gitaigo [「ぎたいご」(擬態語)]: literalmente “palavra que imita condição”. São palavras que não imitam sons, mas sim descrevem sentimentos, qualidades e atitudes. Veja que claramente não são onomatopeias se considerarmos sua definição na língua portuguesa.
Agora indo mais além, uma mesma onomatopeia pode ter formas distintas, que chamaremos de (1) forma dobrada, (2) forma TTO, (3) forma RI e (4) forma RI com sokuon. Vejamos o quadro abaixo:
Veja que os supostos “Advérbios Bikkuri” se encaixam na quarta forma.
Nem todas as onomatopeias possuem todas as formas (os três exemplos acima são realmente mais flexíveis em vista da maioria). Além disso, por vezes, as diferentes formas da mesma onomatopeia terão significados um pouco diferentes, embora sejam normalmente iguais ou muito parecidos. O importante aqui é estar ciente de que uma onomatopeia em japonês (quando usada em uma frase) pode aparecer em uma dessas formas.
Com relação à segunda forma, de fato o 「と」 final é a partícula 「と」, que é encaixada à onomatopeia, tornando-se 「っと」. Provavelmente, aqui ela está tendo o sentido de descrever a maneira como algo é feito (lição 22).
As formas 1, 3 e 4 são mais complicadas, pois cada uma tem sua própria nuance de uso. Algumas onomatopeias quase sempre virão com um 「と」; outras, não. Também, a maioria dessas palavras funciona primeiramente como “advérbio”, mas pode se encaixar em outras classes de palavras também. Apenas para ilustrar, veja como o DenshiJisho classifica 「さっぱり」:
Gramaticalmente falando, uma onomatopeia “quer ser um advérbio”, então, precisamos fazer algumas acrobacias linguísticas para torná-la capaz de, por exemplo, modificar um substantivo. Como vimos na lição 21, podemos transformá-las em verbos através de 「する」. Veja o exemplo:
頭がくらくらしてる。= (Minha) cabeça está girando.
Aí então, poderemos modificar um substantivo:
くらくらしてる頭。= Cabeça que está girando.
Uma coisa importante a notar sobre o uso de onomatopeias com 「する」 é que geralmente a composição se torna um verbo intransitivo (verbos que não levam objeto direto – lição 17). Para transformar esses verbos em transitivos, você precisa usar a forma causativa de 「する」, isto é, 「させる」(lição 33). Portanto:
ひろしの頭をくらくらさせた。= (Eu) fiz a cabeça de Hiroshi girar.
Depois do que expusemos, vemos que o conjunto “Advérbios Bikkuri” não existe; as palavras desse suposto conjunto na verdade tratam-se apenas de uma forma possível das onomatopeias.
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