LIÇÃO 8: A LÍNGUA JAPONESA ‘NO MUNDO REAL’

Acabamos de abordar a escrita japonesa, mas antes de iniciarmos o aprendizado da gramática em si, há algo que você precisa ter em mente para não adquirir maus hábitos e se frustrar: “a língua japonesa no mundo real”. O que significa isso? É o que abordaremos nesta lição. São pequenos tópicos, mas que com certeza, ajudarão muito na compreensão da língua japonesa.

8.1. COMPREENDENDO UM NATIVO

Certamente, você já se deparou com situações em que não conseguiu compreender uma palavra ou expressão dita por um nativo, e ao vê-la no papel você se frustrou ao saber que você já a conhecia. Realmente, adquirir habilidades auditivas talvez seja a tarefa mais difícil e desmotivante quando se está aprendendo algum idioma, porque neste quesito não há regras, como no ensino de gramática.

Afinal, por que ouvir em outro idioma é assim tão complicado? O que torna essa habilidade algo tão difícil de ser dominada?

Uma das primeiras coisas que você deve ter em mente ao iniciar o estudo de um idioma, é que existem dois tipos de linguagem: a formal e a informal (ou casual):

I. Linguagem formal: é aquela gramaticalmente correta que é usada em documentos, situações formais, etc. Também é o padrão do idioma que se aprende em cursos convencionais;

II. Linguagem informal: é aquela que usamos no nosso dia-a-dia. Nela, padrões corretos de pronúncia ou mesmo gramaticais muitas vezes são quebrados.

Pense que aprender uma língua estrangeira é como pegar um carro pela primeira vez: como é algo novo, existe aquele medo natural do desconhecido e você começa a guiá-lo numa velocidade reduzida, toma mais cuidado ao fazer as curvas, atenta-se em demasia às placas de sinalização, etc. Entretanto, conforme o ato de dirigir vai se tornando um hábito, a sua confiança vai aumentando e o receio diminui. Consequentemente, você começa a pisar mais no acelerador e os cuidados diminuem, fazendo com que aquilo que outrora era feito com receio, torne-se algo natural, espontâneo. Em outras palavras, você só perde um medo expondo-se a ele; neste exemplo, perde-se o medo de dirigir dirigindo.

Ora, todos nós sabemos que no Japão – ou em qualquer país – as crianças começam a ter um bom nível de seu idioma materno logo cedo. Por que será? Simples e óbvio! Lá eles vivem em contato diário com o idioma; assim como nós assistimos nossos desenhos de criança em português, as crianças em seus respectivos países assistem todos os desenhos deles. Além disso, eles também escutam/ouvem pessoas se comunicando sempre em seu idioma. Enfim, eles estão em contato com sua língua materna o tempo todo. Portanto, tenha em mente que os falantes nativos estão tão acostumados com sua língua que eles falam muito mais rápido, usam expressões idiomáticas, pronunciam palavras de um modo “mais confortável” (que nem sempre é correto), ao passo que os estudantes têm aquele receio de motorista iniciante e falam mais devagar, atentando-se demais às regras gramaticais e à pronúncia clara e correta das palavras.

Aliás, se você acha que os estrangeiros falam rápido, observe dois breves relatos de estrangeiros que estão aprendendo português. Provavelmente você se enxergará nessa situação com relação à língua japonesa (ou qualquer outro idioma que estiver aprendendo):

“Os brasileiros falam muito rápido, até mais rápido que as pessoas de Portugal”.

“Estou estudando português brasileiro há mais de 6 meses e quase nenhum brasileiro que eu tenha ouvido falar soa parecido com o que eu estou aprendendo. Por que isso e como posso entender o povo brasileiro?”

Lendo esses relatos você deve estar pensando: “ué, não acho que nós brasileiros falamos rápido. A gente se entende. Falamos numa velocidade normal”. Pois é... então será que os estrangeiros falam tão rápido assim ou é o modo como aprendemos uma língua estrangeira nos cursos convencionais que nos deixa mais preguiçosos? Que tal substituir “fala rápida” por falta de familiaridade, tanto com o ritmo natural da fala, como com as manobras feitas pelos falantes (que trataremos no próximo tópico)?

O problema começa no que acontece dentro de nossa cabeça (cérebro) ao ouvirmos uma língua diferente. Como assim?

Você provavelmente já ouviu falar em neurônios. No cérebro há milhares e milhares de neurônios. Eles são responsáveis por um monte de coisas! Uma dessas coisas em especial é a formação de memórias. Ou seja, são os neurônios que registram tudo o que ocorre em nossa vida. Tudo o que ouvimos, lemos, vivenciamos, etc. As informações registradas por cada neurônio são passadas de um para o outro por meio de “sinapses”: os pontos onde os neurônios se “comunicam”. Veja a imagem abaixo:

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Você talvez esteja se perguntando “o que é que neurônios têm a ver com a habilidade de ouvir outro idioma?” Continue lendo e você vai entender!

Seus neurônios guardam informações relevantes sobre tudo o que você aprende (memórias). Tudo o que você vivencia e aprende é registrado na memória por causa dos neurônios. Quando você escuta uma música e canta a música os seus neurônios estão fazendo sinapses (trocando informações entre si). Em resumo, inúmeros neurônios estão naquele momento trocando informações importantes para que você consiga lembrar a letra da música e cantá-la sem dificuldades. Isto tudo ocorre muito rápido! Se alguém fala com você, seus neurônios vão entender o que está sendo falado, porque eles buscam as informações da língua portuguesa registrada em vários neurônios! Mas, se alguém fala uma expressão ou palavra que seus neurônios não reconhecem, eles tentarão encontrar a informação. Como a informação não existe, eles ficarão perdidos, sem saber o que está acontecendo. Ocorre aí aquele momento de confusão no cérebro no qual deixamos de entender o que a outra pessoa disse. Perdemos o rumo da conversa. Com qualquer idioma acontece justamente isso! A maioria dos estudantes quer ouvir tudo palavra por palavra e de modo bem vagaroso. Acostumam-se a ouvir uma pronúncia mais lenta e perfeita. Aí, ao tentarem ouvir um filme, uma conversa, etc., no ritmo natural acabam se perdendo. Fica aquela sensação de não saber o que está acontecendo.

Percebe-se que a raiz do problema está no fato de que os neurônios estão acostumados ao modo preguiçoso de ouvir a língua. Eles estão acostumados a ouvir palavras e expressões simples. Estão acostumados a montar tudo palavra por palavra e seguindo uma lógica gramatical (as regras gramaticais). Assim, quando caem no mundo real, a coisa se complica. O modo como as informações foram registradas e como elas estão surgindo são muito diferentes. Os neurônios não conseguem trabalhar rapidamente e se perdem. Para ilustrar, vamos fazer mais uma analogia. Para tanto, observe um pequeno trecho de “Tempos Modernos”, filme de 1936 do cineasta Charles Chaplin:

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Imagine que o operário nessa imagem seja o nosso cérebro e cada uma das peças passando na esteira, as palavras. Ora, devido à velocidade com que as peças passam, um operário que não foi treinado sendo exposto à velocidade real da esteira, não conseguiria rosquear todas, deixando passar batido várias por causa de seu despreparo, não é mesmo? Da mesma forma, um “cérebro despreparado” para um idioma não conseguirá reconhecer todas as palavras com que se deparar na “esteira de palavras” do mundo real. Com isso, o estudante ficará frustrado por não ser capaz de acompanhar uma conversa normal. A essa confusão mental somam-se o nervosismo, a ansiedade, a preocupação e o medo. Tudo isso faz com que seu nível de estresse aumente e sua habilidade de ouvir e entender seja prejudicada.

Para resolver isso, você deve aprender o idioma como ele realmente é desde o início de seu aprendizado. Ouvir a língua japonesa de modo natural, estar ciente que o modo como eles pronunciam é geralmente diferente do modo como aprendemos nos livros ajudará seus neurônios a se acostumarem com o japonês de verdade. Registrar as informações da forma como ela será produzida na vida real é muito mais eficiente do que aprender regras e palavrinhas soltas ao longo do seu aprendizado.

Não encare como um bicho de sete cabeças o fato de você não ter compreendido uma palavra ou expressão conhecida, afinal quantas vezes até mesmo nós que falamos fluentemente o português precisamos que nos repitam o que foi dito ou mesmo ver por escrito a letra de uma música para que possamos entender todas as palavras dela? Ora, com os nativos de outros países não é diferente. O importante é não desanimar e treinar seus ouvidos! Materiais didáticos, tais como fitas ou CDs podem ser úteis, na medida que ensinam de forma clara e correta a pronúncia das palavras. Entretanto, aprender a falar naturalmente com todas as peculiaridades corretas e inconsistências existentes em um idioma é algo que requer prática e exposição a pessoas reais em situações do mundo real.

Sendo assim, exponha-se o máximo possível ao japonês “real”,  dando preferências a conteúdos feitos para japoneses mesmo. Você precisa ouvir mais e mais e mais (passe horas e horas) e, mesmo que não consiga entender tudo, com tempo e paciência, seus ouvidos serão capazes de identificar individualmente as palavras e as particularidades da língua japonesa. Chegará um momento em que de tanto se envolver com a língua, não terá problemas com isso. Portanto, como dizem os americanos, "practice makes perfect" (a prática leva à perfeição).  Lembre-se também da palavra-chave IMERSÃO.

Se você não tiver como viajar ao Japão, nem tudo está perdido, pois temos a internet como grande aliada. Nela, você tem a possibilidade de fazer amizades com nativos, ouvir toneladas de músicas quantas vezes quiser, ou mesmo assistir aos noticiários. Outra aliada é a TV a cabo, na qual podemos encontrar seriados nos quais se usam muito a linguagem informal.  E se você gosta de animês, há o site “AnimeQ”, no qual você poderá encontrar uma grande quantidade de animês legendados.  

Outra dica é o site DaiWEEB. Nele, encontramos animês com legendas em japonês e tradução em inglês! Ótimo para treinar os ouvidos e leitura ao mesmo tempo através de um japonês falado naturalmente!! 

Para treinar a leitura, você pode acessar o NHK News Web Easy, site que contem notícias com vocabulário simplificado. Ainda, você tem a opção de ouvir a notícia e inserir Furigana!

Porém, como mencionamos, é melhor dar preferência a conteúdos feitos para japoneses mesmo. Em outras palavras, se for acessar o “NHK News Web Easy”, que parece ser focado nos estrangeiros que ainda não dominam bem o japonês, procure também acessar a mesma notícia “em sua forma verdadeira”. Para tanto, ao final da página de cada notícia, você encontrará o seguinte botão:image

Aliás, aproveite para fazer uma comparação entre as versões.

Você também pode ouvir rádios japonesas através do “Online Radio Box”. image

Outro exercício que você pode fazer é ouvir algo e tentar anotar o que ouviu, a fim de estimular a compreensão e memória auditiva. Como se fosse um ditado. Uma sugestão é assistir um episódio de um determinado animê e ir anotando o que você ouvir. Depois, baixe a transcrição em japonês do referido episódio em sites como o “Kitsunekko.nete faça a conferência.

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Outra possibilidade é gravar trechos de programas de rádio (ou qualquer outro tipo de áudio) com o “Audacity e depois tentar transcrever no papel o que ouvir.

Por falar em Audacity, uma dica que você pode encontrar é gravar e usar o recurso de alterar a velocidade de reprodução para diminui-la. Veja:

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Contudo, sugerimos que você NÃO faça isso, pois nós precisamos acostumar nosso cérebro com o ritmo natural da fala. Usando tal recurso, você estará condicionando seu cérebro a só entender as coisas de forma lenta e clara, como nos cursos convencionais.

Aliás, outra dica que você pode encontrar e que também NÃO recomendamos é usar algum recurso de transcrição automática, como o do Google Tradutor. Veja o exemplo abaixo:

image

Usar o recurso de transcrição automática pode ser muito tentador, mas no fim das contas é muito prejudicial. Além de a transcrição não ser 100% confiável, quem precisa ser capaz de entender as coisas é VOCÊ. Numa conversa no mundo real não há ferramentas de transcrição, legendas e/ou alterador de velocidade de fala. Se você começar a usar o recurso de transcrição automática com frequência, o único prejudicado será você mesmo. O que diferenciaria você, estudante dedicado de japonês (ou de qualquer outro idioma), de alguém que nunca estudou uma língua, mas que usa o recurso de transcrição automática só para quebrar o galho em situações de necessidade? Não precisaríamos mais aprender idiomas! Então, não se sabote! Dê valor às suas horas dedicadas de estudo! No quesito comunicação, nenhuma máquina substitui o poder de nosso cérebro e o nosso poder de interação com as outras pessoas!

Outro exercício que você pode fazer é o chamado “sombra”. Basicamente é ouvir alguma coisa, mas em vez de escrever no papel, repetir o mais rápido possível, como se você fosse uma sombra mesmo, um eco. Já haveria estudos que apontam os benefícios dessa técnica, tais como melhora da compreensão auditiva, da pronúncia e do ritmo da fala. Não custa tentar! Aliás, você pode combinar o “ditado” e a “sombra”, isto é, gravar alguns minutos de áudio, anotar no papel o que ouvir e depois fazer a sombra. Enfim, use sua criatividade.

Por fim, para reflexão, deixamos um trecho do artigo “Por que brasileiro não aprende inglês?” do professor Denilso de Lima. Ele trata do inglês, mas o que é exposto por ele aqui pode ser aplicado a qualquer idioma: 

“Para encerrar, pergunto: Você já viu um italiano falando inglês? Um coreano falando inglês? Que tal um chinês? Um grego? Um boliviano? Um venezuelano? Um francês? Um alemão? Um argentino?

As pessoas de outros países que falam (aprendem) inglês estão pouco se lixando com o fato de falarem igualzinho a um britânico ou a um americano. Os falantes de outros países podem falar errado, mas se comunicam. A pronúncia deles não é perfeita, mas ainda assim dizem o que querem.

O TH deles sai esquisito e nem por isso se acham incapazes de falar inglês. Com o passar do tempo, eles vão aprendendo e melhorando. Já no Brasil, a maioria só se sente à vontade se a pronúncia for perfeita (som do th, por exemplo), a gramática for impecável e o jeito de falar for como o de um nativo.

O resto do mundo aprende a falar inglês porque não é tão exigente consigo mesmo. A cobrança pela perfeição lá fora não é doentia e exagerada como é aqui. O resto do mundo sabe que fala inglês “errado“, mas fala assim mesmo. Se a mensagem não é entendida, o resto do mundo tenta de novo. Já o brasileiro espera aprender tudo de modo perfeito para só então se soltar. E acaba desistindo no meio do caminho por achar inglês uma língua difícil.

Essa exigência exagerada causa frustração, tristeza, angústia, estresse, senso de incapacidade e outros sentimentos que atrapalham a capacidade de aprender inglês. Se você é muito exigente, cuidado!”

8.2. PRINCÍPIOS DA LINGUAGEM INFORMAL

De fato, dominar o idioma falado no dia-a-dia exige muito mais do que apenas aprender as diversas formas casuais das palavras ou construções gramaticais. Falando especificamente da língua japonesa, há um número incontável de formas nas quais formulações e pronúncias mudam, e ainda existem as diferenças entre o discurso masculino e feminino. Entender a língua cotidiana também exige conhecimento de vocabulário, algo que cresce a cada nova geração. Em qualquer idioma, facilmente somos capazes de notar a dificuldade que muitos adultos têm para entender os coloquialismos usados pelas crianças ou jovens de hoje.

Já que abordar minuciosamente a linguagem cotidiana e o vocabulário relevante exigiria um livro em si (um livro que logo se tornaria desatualizado), citaremos, em vez disso, alguns padrões gerais e fenômenos comuns que, pelo menos, irão auxiliá-lo a começar a compreender mais os aspectos comuns da linguagem cotidiana japonesa. Nela, vale tudo e as regras que se aplicam ao japonês escrito são muitas vezes quebradas. A parte mais difícil é que você não pode simplesmente dizer o que quiser, é claro. Quando você quebra as regras, você tem que quebrá-las de maneira correta. Tomar o que você aprendeu com os livros ou aulas de japonês e aplicar isso no mundo real não é tão fácil, porque é impossível ensinar todas as formas possíveis de se “misturar” as coisas na língua falada.

Uma coisa que você vai logo perceber quando começar a falar com os japoneses na vida real é que muitos sons acabam sendo unidos. Isto é especialmente verdadeiro para os homens.

Há um fator importante por trás da linguagem casual em japonês. O principal objetivo é fazer com que as coisas fiquem mais fáceis de serem ditas. Em outras palavras, o objetivo é reduzir ou simplificar o movimento de sua boca. Existem dois métodos para isso que chamaremos de “encurtamento” e “substituição”. Vejamos:

I. Encurtamento: consiste em retirar partes de palavras ou expressões. Por exemplo, 「かもしれない」 pode ser pronunciado apenas 「かも」;

II. Substituição: consiste geralmente na substituição de parte de uma palavra ou expressão por sons que se encaixem melhor com os outros a sua volta, ou ainda, na fusão de sons. Por exemplo, 「かもしれない」 pode ser pronunciado 「かもしんない」 já que 「しん」 requer menos movimento do que 「しれ」.

Você vai ver que uma grande quantidade das palavras dentro da linguagem casual em japonês decorre deste único princípio de tornar as coisas mais fáceis de serem ditas (lembra-se que citamos que nativos pronunciam palavras de um modo “mais confortável”?). Isso é muito natural, porque é guiado pela forma como a sua boca se move. Podemos exemplificar a aplicação desse princípio usando a língua portuguesa. Basta considerar o fato que costumamos pronunciar “está”, apenas “tá”, “com” tendemos a pronunciar “cum”, “não” soa como “num” e “você” como “cê”, afinal é bem mais fácil, não é mesmo?

Você não está com sono? = Cê num tá cum sono?

Embora a oração acima esteja com as palavras encurtadas, para nós que temos o português como língua materna, é de fácil compreensão. Mas com certeza, ela seria um terror para um estudante estrangeiro que frequentou um curso convencional de língua portuguesa, pois ele espera ouvir as palavras pronunciadas corretamente : “você”, “não”, “está”, “com”, “sono”.

Agora, observe esta oração, bem como as partes em destaque:

Hoje você falou com o homem vestido de branco que estava dentro do carro?

Na fala, a oração acima soaria:

Hoji falô cum u homi vestidu di brancu qui tava dentru du carru?

Novamente, isso se deve ao fato de que os nativos buscam meios mais fáceis de articular as palavras. Experimente dizer a frase “Hoje você falou com o homem vestido de branco que estava dentro do carro?”, pronunciando as palavras exatamente como elas são escritas. Certamente, você sentirá dificuldade e uma falta de “ritmo” na fala, isto é, soará como um robô.

Por esta razão, é que normalmente pronunciamos “ Hoji falô cum u homi vestidu di brancu qui tava dentru du carru?”. Veja como que instintivamente enfraquecemos e/ou omitimos algumas sílabas, a fim de tornar a fala mais fácil,  mantendo assim um “ritmo” na articulação das palavras. Algo importante de se notar é que essas “manobras” usadas pelos nativos não são ensinadas, mas é algo adquirido e praticado instintivamente pela vivência com o idioma.

Então, lembre-se: a lei do menor esforço ou da economia fisiológica é universal. Ela busca tornar mais fácil aos órgãos da fala a articulação das palavras  simplificando os processos de sua  produção e mantendo assim um ritmo na fala.

NOTA: Para reforçar este conceito, exemplificando com a língua inglesa, recomendamos a leitura destes dois artigos:

- Ritmo e o Fenômeno da Redução das Vogais em Inglês;

- Schwa: um símbolo que ajuda a entender o Inglês Falado;

- The schwa /ə/ is the biggest key to English pronunciation a learner can possess.

Assista também a este vídeo com alguns exemplos de manobras executadas pelos falantes nativos de inglês:

A lei do menor esforço nos conduz a buscar não somente a facilitação da maneira de falar, mas também a diminuição do esforço mental. Isso explicaria por que o número de palavras mais usadas pelos nativos e suficientes para a comunicação no dia a dia é pequeno (em torno de 3.000), sendo essas palavras as mais simples. Também, explicaria por que na língua falada há a preferência pelo uso de estruturas gramaticais mais simples. Afinal, para que quebrar a cabeça e dificultar a comunicação usando palavras (e estruturas gramaticais) complexas se podemos chegar ao mesmo resultado (entender e ser entendido) usando palavras (e estruturas gramaticais) mais simples?

Além disso, a lei do menor esforço explicaria também o motivo dos erros gramaticais. No fundo, há sempre uma tentativa de encaixar algo em algum padrão comum, familiar (isto é, institivamente fazemos analogias), diminuindo assim o esforço mental. Um exemplo disso é o plural da palavra “pizza” que citamos na introdução ao curso. Como mencionamos, a palavra “pizza” não foi aportuguesada, então, pelas normas da gramática tradicional, deve-se manter o plural original (em italiano, o plural de “pizza” é “pizze”). Mas quem fala assim, não é mesmo? Instintivamente usamos como plural de “pizza”, “pizzas”. Bem mais fácil e todo mundo entende. Bem mais fácil vir à mente que o plural das palavras terminadas em “A” é formado com o acréscimo do “S” (um padrão muito comum), do que intuir que como “pizza” é uma palavra italiana, deve-se usar seu plural original. Ainda, veja que, se o intuito da comunicação é entender e ser entendido, na prática, o plural correto de “pizza” se torna irrelevante, porque dificilmente alguém entenderá o que é “pizze”.

Erros de pronúncia também acontecem porque tendemos facilitar as coisas. Um exemplo disso é a palavra “AEROPORTO”, que alguns (ou algumas vezes) pronunciamos “eroporto”. Veja que para nós que falamos português nativamente, mesmo com esse erro de pronúncia, somos capazes de saber que “eroporto” se trata de “aeroporto”, devido ao contexto e/ou porque já estamos tão acostumados com o português que sabemos que “eroporto” não é uma outra palavra. Mas “eroporto” seria um terror para um estudante estrangeiro iniciante no português. Muito provavelmente de início ele pensará que se trata de uma outra palavra, procurará no dicionário e não a encontrará. E acabará se frustrando...

Outro fator que dificulta a compreensão é o que chamaremos de “fator individual-geográfico”, ou seja, pessoas ou grupos se expressam de modos diferentes, seja com relação à velocidade com que falam ou até mesmo no modo de pronunciar as palavras. Por exemplo, você que mora no Sudeste do Brasil percebe facilmente o quão diferente é a maneira de falar das pessoas da região Sul, o que pode gerar certa dificuldade de compreensão. Ou ainda, experimente ouvir o português de Portugal. Você logo perceberá que não compreenderá tudo. Ora, é o mesmo idioma, mas a velocidade com que falam, o modo de pronunciarem as palavras, faz com que, de início isso seja algo estranho ao nosso cérebro, pois ele está acostumado com as características da fala do português brasileiro, sendo necessário, então, “acostumá-lo” ao português europeu. De forma semelhante ocorre com os falantes de língua inglesa. Certamente, um americano tem dificuldade de entender um australiano mesmo ambos sendo falantes nativos de inglês, devido às diferenças na fala.

Com base no que discutimos aqui, esperamos que você pratique e se exponha o quanto antes ao japonês ‘do mundo real. Acostume já o seu cérebro! Lembre-se que na introdução ao curso mencionamos que há quem defenda a tese de que para falar bem, é preciso antes ter uma boa compreensão auditiva e para se escrever bem é preciso antes um hábito de boa leitura, pois de certo modo, tendemos imitar aquilo que recebemos, no que diz respeito à comunicação. Então, ao ouvir um nativo, procure se atentar às “manobras” usadas por ele a fim de facilitar a articulação das palavras e quando você for falar, passe a utilizá-las também (oras! Winking smile) sem medo de errar. E se errar, tente de novo. Você terá excelentes resultados!

No tópico anterior mencionamos que em português, seus neurônios vão entender o que está sendo falado, porque eles buscam as informações da língua portuguesa registrada. Vamos fazer uma analogia: imagine que seu cérebro possui um livro chamado “Registro de Palavras” e toda vez que você ouve alguma coisa, ele consulta esse livro.

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São necessárias duas coisas para uma boa comunicação, uma da parte de cérebro e outra por parte do livro:

1) CÉREBRO: ele precisa estar acostumado com o ritmo natural da fala a fim de consultar e encontrar a palavra ouvida o mais rápido possível;

2) LIVRO: além de uma boa quantidade de itens, é preciso haver qualidade no registro, isto é, cada item precisa conter a palavra na língua materna, a definição na língua estrangeira e, tão importante quanto a definição, suas variantes na língua prática. Por exemplo, o cérebro de um americano que estude português ao registrar as palavras “WITH” e “AIRPORT”, precisa fazê-lo assim:

WITH: com ou “cum” (variante usada na língua prática);

AIRPORT: aeroporto ou “eroporto” (variante possível usada na língua prática).

Note que se não houver o registro da língua prática, ao ouvir “cum” ou “eroporto”, o estudante americano ficará confuso achando que são palavras que ele não conhece. Mas são apenas variantes de palavras conhecidas.

Por isso, lembre-se sempre destas valiosas palavras do professor Denilso de Lima do Inglês na Ponta da Língua, que valem para qualquer idioma:

“Quando alguém decide aprender inglês, ela começa a aprender com os olhos. Ou seja, cria o hábito de ler sentenças e textos palavra por palavra. Assim, acostuma-se a pronunciar tudo de modo mais lento e nada natural. O melhor é aprender inglês com o ouvido. (…) Preste muito mais atenção ao inglês falado; pois, é ele que ajudará você a se sentir mais à vontade para interagir com as pessoas em inglês. (…) Não são eles (os nativos) que falam inglês rápido demais. Na verdade, é o modo como aprendemos inglês no início que nos condiciona a sermos lentos para entender, ouvir e falar.”

8.3. O PRINCÍPIO DO MENOR ESFORÇO EM AÇÃO

Como já sabemos, o “princípio (ou lei) do menor esforço” é uma tendência de institivamente procurar facilitar as coisas, de reduzir o esforço, seja físico ou mental. Poderíamos dizer que considerar a existência desse princípio é um dos aspectos mais importantes para se chegar à fluência, afinal nós mesmos o aplicamos no português sem nos darmos conta. Poderíamos dizer que esse princípio é como se fosse um filtro, por isso, devemos passar tudo o que aprendemos na teoria apresentada pelos livros por esse filtro. Então, teremos a “língua do mundo real”, aquela que realmente importa em termos de comunicação.

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Uma das consequências desse princípio é a redução, junção ou omissão de pedaços, palavras ou construções para tornar a fala mais fácil, mais fluída. A seguir compilamos as principais manobras feitas institivamente pelos nativos. Não se preocupe com o significado das construções apresentadas e foque nas transformações decorrentes do princípio do menor esforço:

(1) O 「い」 pode ser omitido após a Forma TE:

愛してる → 愛してる

見てない → 見てない

見ててくれ → 見ててくれ

出てけ! → 出てけ!

出てった → 出てった

(2) A partícula「の」pode se tornar 「ん」:

何をしてるだ? → 何をしてるだ?

学生なです → 学生なです

(3) Fonemas podem ser reduzidos para 「う」, 「い」, 「ん」 ou 「っ」:

ません → すません

(3.1) Devido a essas mudanças, o fonema seguinte pode receber o 「。」 superior ou o 「゛」:

せいねん (生年月日) → せいねんが → せいねんが

(読みて) → よ → よ

Neste caso, a pronúncia alterada costuma se tornar a padrão e única aceita para a palavra em questão.

(4) Em algumas palavras compostas, o primeiro fonema da segunda palavra recebe o 「゛」

ながれし (流れ星) → ながれ

Neste caso, a pronúncia alterada costuma se tornar a padrão e única aceita para a palavra em questão.

(5) A combinação「ては」pode se tornar 「ちゃ」:

てはだめ → 見ちゃだめ

行かなくてはいけない→ 行かなくちゃいけない

(6) A combinação「では」pode se tornar 「じゃ」:

ばかではありません! → ばかじゃありません!

死んではだめだ → 死んじゃだめだ

(7) Fonemas que contenham {「あ」 (ou 「お」) +「い」} no final das palavras podem se tornar 「ええ」:

行きたい → 行きてえ

信じられない → 信んじられねえ

ごい → すげえ

おもしろい → おもしれえ

(8) O auxiliar de negação 「ない」 pode se tornar 「ん」:

知らないよ → 知ら

(9) Fonemas do grupo 「ら」 podem se tornar 「ん」 quando precedem fonemas do grupo 「な」:

何をしての? → 何をしての?

な!! → くな!!

分かない → 分かない

(9.1) Dois 「ん」 não aparecem juntos, então, fonemas do grupo 「ら」 são omitidos quando precedem 「ん」:

何をしてんだ? → 何をしてだ? → 何をしてだ?

(10) A combinação「てお」 pode se tornar「と」:

書いておく → 書い

覚えておけ! → おぼえけ!

今、何しておる? → 今、何しる?

(11) A construção {Forma TE +「しまう」} quando resulta em 「てしまう」, pode se tornar 「ちまう」 ou 「ちゃう」:

買ってしまった → 買っちまった → 買っちゃった

(11.1) A construção {Forma TE +「しまう」} quando resulta em 「でしまう」, pode se tornar 「じまう」 ou 「じゃう」:

死んでしまう → 死んじまう → 死んじゃう

(12) A combinação「れば」pode se tornar 「りゃ」:

れば分かる → 見りゃ分かる

勉強しなければ合格しない → 勉強しなけりゃ合格しない

(13) A combinação「けりゃ」pode se tornar 「きゃ」:

勉強しなけりゃ合格しない → 勉強しなきゃ合格しない

行かなければ → 行かなけりゃ → 行かなきゃ

Gramaticalmente falando,「なけりゃ」 e 「なきゃ」 não são totalmente equivalentes. 「なけりゃ」 não pode ser usado por si só para indicar dever da forma que 「なきゃ」 pode. Por exemplo 「食べなきゃ」 por si só significa "deve comer", mas 「食べなけりゃ」 não pode ser usado por si só para significar isso.

(13.1) Ainda que raramente, as contrações 「りゃ e 「きゃ」 podem ser mais abreviadas:

りゃ → み

食べきゃ → 食べにゃ

(14) Os elementos 「いけない, 「ならない」 e 「だめ」 podem ser omitidos após uma indicação condicional negativa que transmite dever:

仕事に行かなきゃならないいけないだめ → 仕事に行かなきゃ

勉強しないといけない → 勉強しないと

(15) A partícula de tópico 「は pode ser combinada com a sílaba antes dela:

それ → そりゃ

何だこれ → 何だこりゃ

耳が聞こえない → わたしゃ耳が聞こえん

(16) O verbo「いう」 pode se tornar 「ゆう:

そういうことだ → そうゆうことだ

(17) Na forma potencial, o auxiliar 「られる」 pode ter o fonema 「ら」omitido:

食べれる → 食べれる

(18) A contração 「って pode indicar uma variedade de expressões, sendo as mais comuns 「と」, という, 「とは」 e 「というのは」(ou 「は」 indicando o tópico):

もうすぐ着く言ってたよ → もうすぐ着くって言ってたよ

中村という人が来たよ → 中村って人が来たよ

タグ付けとは何? → タグ付けって何?

あなた親切な人ね → あなたって親切な人ね

(19) As construções 「といっても」 e 「としても」 podem se tornar 「たって」:

逃げようとしても無駄だよ → 逃げようたって無駄だよ

登山といっても、ハイキング程度さ → 登山たって、ハイキング程度さ

(20) A construção {Forma TE + 「も」} quando resulta em 「ても」, pode se tornar 「たって」:

食べても → 食べたって

(20.1) A construção {Forma TE + 「も」} quando resulta em 「でも」, pode se tornar 「だって」:

死んでも → 死んだって

(21) Pode haver a troca de sons, sendo as mais comuns a troca dos sons de 「え」 para 「あ」 e de 「い」 para 「う」 ou 「お」:

ふた (目蓋) ぶた

Neste caso, a pronúncia alterada costuma se tornar a padrão e única aceita para a palavra em questão.

(22) Palavras simples podem ter partes omitidas:

かもしれない かも

(23) Palavras compostas podem ter partes omitidas:

コンビニエンスストア コンビニ

ポテップス → ポテチ

***

É preciso desenvolver o quanto antes uma tolerância a esse filtro chamado “princípio do menor esforço”. Em outras palavras: pratique constantemente a EXPOSIÇÃO VERDADEIRA, não esperando que os nativos usem corretamente seu idioma. Eles cometem erros de gramática, erros de pronúncia e omitem, juntam e/ou encurtam as coisas, assim como nós fazemos com a língua portuguesa! Nós não usamos o português como apresentado nos livros!

8.4. A QUESTÃO DO SOTAQUE

sotaque

Você sabe por que, mesmo após muito tempo sem praticar, a gente não se esquece de como andar de bicicleta ou de como descer as escadas? E por que ao voltar para a academia após algumas semanas sem treinar os músculos parecem responder com mais facilidade aos treinos?

A resposta é: MEMÓRIA MUSCULAR.

Embora chamada de muscular, essa memória é na verdade regida pelo cerebelo, a parte do cérebro que coordena as atividades do músculo esquelético, do tato, da audição e da visão. Ou seja, não é o músculo que memoriza um determinado movimento, mas sim um conjunto de neurônios (conhecidos como células de Purkinje) que consegue se “recordar” de um movimento já conhecido para que possa ser repetido no futuro.

Agora, vem outra pergunta: sabe por que muitos têm dificuldade com a pronúncia de um idioma estrangeiro?

Parece óbvio, mas é porque os músculos faciais não estão acostumados com os fonemas diferentes que existem em outros idiomas. Temos uma memória muscular diferente que “adquirimos” quando crianças ao aprendermos nossa língua materna (nós imitávamos os sons que ouvíamos).

Mas nem tudo está perdido. Como todo músculo, os músculos da fala precisam ser exercitados. Basta pensar nas pessoas que tocam piano e que possuem “memória” nos dedos. Isso só se adquire com prática e treino; não basta saber como são os sons do idioma que você quer aprender, você tem que treinar os músculos faciais todos os dias! No inicio você vai se cansar um pouco, mas à medida que o tempo passa, vai ficando mais fácil. É exatamente igual a um treino de corrida, você começa caminhando, depois trotando e por fim está correndo uma maratona.

Algo interessante para reforçar este conceito: você já deve ter visto ou provavelmente verá casos de pessoas que, por passarem muitos anos no exterior sem usar sua língua materna, ao voltarem a usá-la falam com sotaque Surprised smile. Isso parece estranho, mas só prova que é possível sim falar como um nativo, reeducando os seus músculos faciais através de muito treino e imersão.

8.4. USANDO AS PALAVRAS CORRETAS PARA SE EXPRESSAR

Você se lembra que na introdução ao curso, no tópico “como aprender um idioma” mencionamos que você deve evitar pensar um idioma estrangeiro em sua língua nativa?

Vamos explicar o motivo: você já se perguntou para que servem as palavras? Bem, de forma bem simples, nós as usamos para simbolizar aquilo que se refere ao homem e ao mundo em que ele vive, isto é, cada palavra corresponde a um conjunto de características comuns a uma classe de seres, objetos ou entidades abstratas, determinando como as coisas são. Por exemplo, quando usamos a palavra “gato” estamos nos referirmos ao “pequeno mamífero carnívoro, doméstico, da fam. dos felídeos (Felis catus), criado como animal de estimação” (Dicionário Aulete).

E da mesma forma que os portugueses nomearam as coisas que estavam ao seu redor, assim também o fizeram os italianos, espanhóis, ingleses, japoneses e assim por diante. Entretanto, é claro que a palavra usada para nomear algo nem sempre (quase nunca) era a mesma. Os portugueses usaram a palavra “gato” para nomear o pequeno mamífero carnívoro, doméstico, da fam. dos felídeos (Felis catus), criado como animal de estimação. Já os ingleses usaram a palavra “cat”; os franceses, “chat”, os italianos “gatto”, os alemães “katze”. Veja que, embora as palavras sejam diferentes, o conceito, a ideia que elas trasmitem é a mesma.

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Ok, então podemos dizer que é possível estabelecer uma relação de equivalência entre palavras de nossa língua materna e uma de língua estrangeira (gato = cat, em inglês). Até aqui, tudo parece muito simples e óbvio, mas infelizmente não é. Isso por que, para nos comunicarmos, seja para expressar ações, estados ou mesmo alguns conceitos, precisamos relacionar as palavras umas com as outras. E é aqui que começa a complicação, pois a maneira como elas são relacionadas para expressar uma mesma ideia (e quais palavras são usadas) pode variar de idioma para idioma.

Como não começamos a abordagem da gramática japonesa nos seus aspectos básicos, vamos tomar o inglês como exemplo, tendo em mente que o princípio vale para qualquer idioma. Imagine um estudante iniciante de inglês; se perguntássemos a ele como se diz “batata frita” ele provavelmente diria “fried potato”, afinal “fried” significa “frito” e “potato”, batata. Na realidade, o que ele fez aqui foi considerar a maneira como o conceito “batata frita” foi pensando em português (juntando-se o adjetivo “frito” com “batata”) e procurar termos equivalentes em inglês. Entretanto, ele está errado, por que “batata frita” em inglês é “french fries”, que literalmente significa “fritas francesas”. Veja como, a maneira que os ingleses pensaram “batata frita” foi diferente da nossa (provavelmente consideraram sua origem), mas o conceito é o mesmo.

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E como mencionamos, isso não se restringe a conceitos, mas também na maneira de relacionar as palavras entre si (e quais palavras usar) para expressar ações ou estados. Por exemplo, esse mesmo estudante iniciante de inglês provavelmente querendo dizer “Eu uso perfume todos os dias.”, diria “I use perfume everyday”, quando o correto é “I wear perfume everyday” (Eu visto perfume todos os dias). Novamente, palavras diferentes para a mesma ideia.

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É aqui que queremos chegar e falar sobre algo que em linguistica é chamado de “colocação”, que é a combinação de duas ou mais palavras que são geralmente usadas juntas; é uma combinação que soa natural para o falante nativo e que não tem exatamente uma explicação lógica para quem não é nativo. Por exemplo, em português falamos “tomar água” e “tomar banho”. Dizemos também “beber água”, e porque então não dizemos “beber banho”? Não faria sentido, certo?

Para se tornar fluente em qualquer idioma, você precisa saber quais palavras devem ser usadas juntas com as outras. Além de procurar o registro individual de palavras que vemos ou ouvimos, nosso cérebro registra padrões de sentenças e possui as funções de associar e autocompletar. O cérebro analisa cada possibilidade usando seu banco de dados acumulado de experiências passadas para minimizar o elemento surpresa, isto é, ele antecipa o que está por vir quando ouvimos alguém falar. Isso explicaria por que um nativo entende palavras ou frases mesmo quando não ditas claramente – bastaria uma parte e o cérebro faria todo o resto com base no contexto e no “banco de dados”. Fazendo uma analogia é como se o nosso cérebro funcionasse como o Google:

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Aprender a combinação correta das palavras vai ajuda-lo a parecer mais natural na hora de falar. Como mencionamos, é muito comum aos estudantes tentar traduzir diretamente da sua língua mãe para a língua estrangeira, e o resultado muitas vezes soa estranho, pois não combinam as palavras corretamente. Logicamente algumas combinações de palavras podem até não estarem erradas e serão entendidas pelos falantes nativos, porém não são as mais frequentemente usadas.

Aliás, a maneira como os japoneses usam as palavras para expressar algumas ideias pode parecer bem estranha para nós ocidentais: uso de muitas palavras (às vezes “descartáveis”) para expressar coisas simples, uso excessivo da forma negativa, etc. Mas não se desespere! Colocação é algo que só se aprende “vivendo o idioma”. Por isso, leia, leia, leia e depois leia um pouco mais! Ouça, ouça, ouça e depois ouça um pouco mais! Ao aprender uma nova palavra, procure pela internet orações de exemplo e observe as palavras que aparecem juntas. Aliás, para ajudar a internalizar a gramática (e as colocações), disponibilizamos o “Banco de Sentenças” com mais de 9.500 itens e que será constantemente atualizado! Acesse-o clicando aqui. Você também pode usar ferramentas como o Tatoeba e o ReversoContext.

Use um dicionário monolíngue e sempre leia além da definição, pois bons dicionários sempre trazem as colocações das palavras. Além disso, é extremamente importante procurar interagir com falantes nativos (e melhor ainda, ter um amigo nativo) para que você tenha alguém que possa lhe mostrar o padrão que soa natural para expressar alguma ideia, bem como para corrigi-lo em caso de erro. O aprendizado de qualquer idioma envolve tentativa, acerto e em caso de erro, correção. Por isso não tenha receio de errar!

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