Em qualquer idioma existem maneiras diferentes de se dizer as coisas quando se trata de polidez. Mesmo em português, somos capazes de notar a diferença entre um pedido como “Eu posso ir ao banheiro?” e “Eu poderia ir ao banheiro?”. Você fala de um jeito com o seu professor e de outra maneira com seus amigos. No entanto, o japonês é diferente, já que não só o tipo de vocabulário muda, mas também a estrutura gramatical para cada frase dita.
Há uma linha clara e distinta entre a língua casual e a polida. Por um lado, as regras claramente nos mostram como estruturar suas frases para diferentes contextos sociais. Por outro lado, cada frase que você fala deve ser conjugada com o nível adequado de polidez.
Com base no que explanamos, a língua japonesa pode ser dividida em quatro níveis quanto à polidez:
1. Coloquial;
2. Casual;
3. Polido;
4. Honorífico e Modesto.
Felizmente, não é difícil mudar do discurso casual para o discurso polido. Pode haver algumas pequenas mudanças no vocabulário (por exemplo, "sim" e "não" tornam-se 「はい」 e 「いいえ」, respectivamente no discurso polido), e terminações de frases muito coloquiais não são usadas. Portanto, essencialmente, a diferença principal entre o discurso polido e o casual está no final da frase. Você não pode sequer dizer se uma pessoa está falando em discurso polido ou casual até que a sentença seja concluída.
No discurso polido, há dois elementos principais: o verbo auxiliar 「ます」 e a cópula 「です」. Primeiramente, vejamos suas bases:
Para transformar os verbos em verbos polidos, basta anexar o auxiliar 「ます」 à base Ren’youkei:
FORMA POLIDA DOS VERBOS {Base Ren’youkei} + Verbo Auxiliar 「ます」 |
Observe o quadro com a regra sendo aplicada:
Agora vamos a alguns exemplos de verbos em suas versões polidas:
犬は肉を食べます。= Falando do cachorro, ele come carne.
あきらが明日、大学に行きます。= Akira (é quem) vai à faculdade amanhã.
Um verbo em sua forma polida deve sempre estar no fim da oração e nunca modificando um substantivo, como segue abaixo:
肉を食べます犬。= Cachorro que come carne (INCORRETA).
Para obter as formas negativa, passada e negativa passada de 「ます」, basta aplicar os conceitos já ensinados em tópicos passados, com algumas particularidades. Observe o quadro:
Como podemos ver, a forma negativa é obtida através da junção da base Mizenkei e 「ん」, forma abreviada do auxiliar clássico de negação 「ぬ」. Podemos também utilizar 「ぬ」, como em 「食べませぬ」, ainda que seja arcaico. Um fato interessante é que não é possível usar 「ない」, como em 「食べませない」. Já para negativa passada, ela é formada pela forma negativa de 「ます」 e a forma passada de 「です」 (でし + 「た」). Veja alguns exemplos:
犬は肉を食べません。= Falando do cachorro, ele não come carne.
犬は肉を食べました。= Falando do cachorro, ele comeu carne.
犬は肉を食べませんでした。= Falando do cachorro, ele não comeu carne.
Se quisermos transformar qualquer tipo de construção em que não haja verbos no final em uma sentença polida, tudo o que temos que fazer é acrescentar 「です」 ao final. É importante lembrar que se há um declarativo 「だ」, ele deve ser removido. Ao ser polido, você não deve ser tão ousado em declarar as coisas com tanta ênfase como 「だ」 faz. Vejamos os quadros abaixo:
NOTAS:
1. Lembre-se que 「じゃ」 é a forma abreviada de 「では」, portanto, pode-se dizer também 「静かではない」;
2. Na língua coloquial, 「です」 pode aparecer como 「っす」, sendo usado por homens. Por exemplo, 「学生です」→「学生っす」.
Atente-se para a forma passada dos substantivos e Adjetivos-NA. É a única ocasião em que o passado é formado pelo acréscimo de 「でした」. Um erro muito comum é fazer o mesmo para os Adjetivos-I, como em 「かわいいでした」. Lembre-se que isto é errado, haja vista que um Adjetivos-I é uma classe de palavra flexionável, portanto, deve ser flexionado. Como substantivos e Adjetivos-NA são inflexionáveis, é a cópula que deve sofrer a flexão. Vejamos alguns exemplos a seguir:
子犬はとても好きです。= Falando sobre cachorrinhos, gosto muito (o sentido mais natural é que alguém goste muito de cachorrinhos; não há contexto suficiente que indique que são os cachorrinhos que gostam muito de algo).
その部屋はあまり静かじゃないです。= Falando sobre esse quarto, não é muito quieto.
先週に見た映画は、とても面白かったです。= O filme que (eu) vi na semana passada foi muito interessante.
Você também pode usar 「です」 se o verbo estiver sucedido da partícula 「の」 (「ん」), que, como vimos, gramaticalmente funciona como um substantivo regular:
昨日、時間がなかったんです。= (O fato é que) não houve tempo ontem.
Guarde bem a sentença a seguir, que contraria a maioria dos livros convencionais:
“「です」 NÃO É A FORMA POLIDA DE 「だ」!”
Muitas pessoas que tiveram aulas de japonês ouviram que 「です」 é a versão polida de 「だ」. De fato, podemos supor isso se considerarmos a etimologia, pois o primeiro origina-se de 「であります」, forma polida de 「である」, de onde veio 「だ」. No entanto, as coisas não são tão simples assim!
Vamos apontar algumas diferenças chaves e as razões por que eles são de fato coisas completamente diferentes, no sentido que não podemos usá-los de “forma vice-versa” em todos os casos. Vejamos:
A) O FINAL DE UMA ORAÇÃO: antes de tudo, lembre-se do que mencionamos anteriormente:
“... essencialmente, a diferença principal entre o discurso polido e o casual está no final da frase.”
Agora, observe a seguinte oração:
犬は肉を食べます。= Falando do cachorro, ele come carne. (forma polida)
Como faríamos para reescrever a oração acima de uma forma não-polida? Bastaria usar a forma casual de 「食べます」, que é 「食べる」. Assim, temos:
犬は肉を食べる。= Falando do cachorro, ele come carne. (forma casual)
Por essa razão, podemos estabelecer a seguinte relação sobre os verbos:
Agora observe a construção abaixo:
あきらは学生です。= Falando de Akira, ele é estudante. (versão polida)
Se formos considerar 「です」 como a versão polida de 「だ」, então a versão casual da oração acima é 「あきらは学生だ」?
A RESPOSTA É NÃO!
Como já explicamos anteriormente, 「だ」 no final da oração principal é usado para se declarar algo que se acredita ser um fato. Transmite força ao que está sendo dito, podendo até ser rude.
Então, qual a forma casual de 「あきらは学生です」? Ora, é simplesmente 「あきらは学生」. Logo:
Percebemos, então que, nestes casos, substituir 「です」 por 「だ」, pensando que um é a versão polida do outro ou vice-versa é totalmente incorreto. Você deve pensar que 「です」 é para transmitir polidez à frase, enquanto 「だ」 transmite força; coisas completamente distintas. Se você quiser ser casual, simplesmente não adicione nada.
E se quiséssemos expressar de forma casual a forma passada? Poderíamos usar 「だった」?
A resposta é SIM. 「だった」 não transmite a força ou sentido rude de 「だ」. Sendo assim:
Talvez por causa dessa particularidade, o próprio Tae Kim afirma em uma postagem em seu fórum não achar que 「だった」 seja a forma passada de 「だ」, o que discordamos. Preferimos encarar essa característica como algo que ficou sendo válido pelo uso, isto é, 「だった」 é de fato a forma passada de 「だ」, mas por algum motivo de uso da língua (não explicável gramaticalmente e sim pelo costume), 「だ」 adquiriu um sentido de força, de aspereza.
Resumindo, então, o que abordamos até aqui:
Outro ponto importante que vale relembrar é que você não pode anexar o declarativo 「だ」 diretamente aos Adjetivos-I na forma não-passada (e isso vale também para a forma negativa não-passada):
本は面白いだ。= Falando de livros, são interessantes (SENTENÇA INCORRETA).
Já isso não ocorre com 「です」, que tem a função de adicionar polidez apenas:
本は面白いです。= Falando de livros, são interessantes (SENTENÇA CORRETA E POLIDA).
B) O MEIO DE UMA ORAÇÃO: em alguns casos de período composto que veremos adiante com mais detalhes, 「だ」 se faz até necessário para explicitar o estado-de-ser na oração subordinada. Por outro lado, 「です」 deve ser usado somente no final da oração principal para designar um estado-de-ser polido. Por exemplo, considere as duas orações abaixo:
(1) 学生だと思います。= (Eu) acho que é estudante.
(2) 学生ですと思います。= (Eu) acho que é estudante. (INCORRETA)
A oração (1) 「学生だと思います」 é válida, enquanto que a (2) 「学生ですと思います」 não, porque 「です」 só pode ser usado no final da oração principal e aqui aparece no meio (oração subordinada). 「です」 pode aparecer assim somente nos casos em que se está reproduzindo exatamente o que foi dito, como no exemplo abaixo:
「学生です」と言った。 = (Ele) disse “é estudante”.
***
Enfim, substituir 「です」 por 「だ」, pensando que um é o equivalente polido do outro ou vice-versa resultará potencialmente em orações gramaticalmente incorretas. É melhor pensar que são coisas totalmente diferentes (porque de fato são!).
Feita a abordagem da forma polida, passemos agora para a forma honorífica e humilde. A primeira coisa que você deve considerar sobre essas duas formas é que o falante sempre se considerará estar no nível mais baixo com relação a quem o escuta ou se refere. Assim, todas as ações executadas pelo falante serão na forma humilde (colocando-se abaixo de quem o escuta / terceiro), enquanto as ações realizadas por alguém, vistas do ponto de vista do falante, serão na forma honorífica (colocando quem escuta / terceiro acima). Para memorizar este princípio observe a figura abaixo:
O súdito sempre se dirige ao rei com humildade, ao mesmo tempo em que o venera, exalta (honra = honorífico). Com base nesta figura, você pode fixar este importante princípio das formas honorífica / humilde: sempre seremos “súdito” ao passo que terceiros, o “rei”.
A parte difícil de aprender esses dois tipos de linguagem é que muitas vezes são utilizados verbos diferentes e palavras específicas para as formas honorífica e humilde. Qualquer coisa que não tenha a sua própria expressão, será regido pelas regras gerais de conjugações que abordaremos a seguir.
Vejamos os verbos que mudam sua forma nesse tipo de linguagem. Para fins meramente didáticos, as chamaremos de “forma especial”:
Os verbos 「なさる」, 「いらっしゃる」, 「おっしゃる」, 「下さる」 e 「ござる」 (que abordaremos logo em seguida) seguem o padrão de conjugação do Grupo I, entretanto, sofrem uma mudança em suas bases Ren’youkei e Meireikei. Vamos observar as bases de 「なさる」, que servirá de modelo para os outros verbos em questão:
Veja que, em vez da terminação 「る」 se tornar 「り」 e 「れ」, respectivamente como esperado se seguirmos o padrão de conjugação do Grupo I, ele se torna simplesmente 「い」. Assim, se quisermos anexar 「ます」 teremos:
Vejamos alguns exemplos de orações na forma honorífica:
もう召し上がりましたか。= (Você) já comeu?
どちらからいらっしゃいましたか。= De onde (você) veio?
今日は、どちらへいらっしゃいますか。= Aonde (você) vai hoje?
Agora, os exemplos a seguir se referem a ações feitas pelo falante e, por isso, usam a forma humilde:
私はたもつと申します。= Falando de mim, sou chamado de Tamotsu.
失礼致します。= Com licença.
Além deste conjunto de expressões, existem também algumas palavras que têm homólogos mais polidos. Provavelmente, o mais importante seja a versão mais polida de 「ある」, que é 「ござる」. Este verbo pode ser usado tanto para objetos inanimados e animados. Não é nem uma forma honorífica ou humilde, mas é um passo acima de 「ある」 no quesito polidez. Porém, se você não quiser soar como um samurai, 「ござる」 é sempre usado na forma polida 「ございます」:
お手洗いはこのビルの二階にあります。= O banheiro é no segundo andar deste prédio.
お手洗いはこのビルの二階にございます。= O banheiro é no segundo andar deste prédio.
Por extensão, a versão mais polida de 「です」 é 「でございます」, que é essencialmente a forma polida de 「でござる」 que vem de 「である」 que significa literalmente "existir como":
こちらは、私の部屋です。= Aqui é meu quarto.
こちらは、私の部屋でございます。= Aqui é meu quarto.
Também, é possível usar 「でいらっしゃいます」 como forma honorifica da cópula:
社長、こちらは藤原常務でいらっしゃいます。= Presidente, este é o diretor Fujiwara.
Em japonês, há uma prática de fixação de um prefixo honorífico a certos substantivos (não todos) para mostrar polidez. Este processo é chamado “embelezamento de palavras” e o prefixo em questão é 「御」, que pode ser lido 「お」, 「ご」 ou 「み」. De modo geral, é lido 「お」 quando sucedido de palavras nativas e 「ご」, quando serve de prefixo para palavras de origem chinesa. Já a leitura 「み」 é usada com palavras em geral para dar um sentido religioso ou de grande importância. Vejamos alguns exemplos:
Para todos os outros verbos, sem forma especial, existem regras de conjugação para mudá-los para formas honorífica e humilde. Ambos envolvem uma prática comum de fixar o prefixo honorífico 「御」.
A. FORMA HONORÍFICA: se um verbo não possui forma especial, sua forma honorífica pode ser construída de duas formas diferentes. Para auxilia-lo, você pode pensar assim: já que vamos anexar o prefixo 「御」, e ele é anexado aos substantivos, então, qual a base dos verbos que pode ser usada como substantivo? Exato, a Base Ren’youkei. Depois, é só usarmos o verbo 「なる」 ou 「です」.
Sendo assim, os dois padrões são:
I. お + Base Ren’youkei + に + なる: esta construção faz sentido se você pensar nela como uma pessoa se tornando o estado honorífico de um verbo. Observe o exemplo:
先生はお見えになりますか。= (Você) vê o professor?
II. お + Base Ren’youkei + です. Observe os exemplos:
もうお帰りですか。= (Você) já vai retornar à casa?
店内でお召し上がりですか。= (Você) fará a refeição aqui dentro?
Estas regras não se aplicam aos verbos 「する」. Para eles, basta substituir 「する」 por 「なさる」 = 勉強する → 勉強なさる.
Funcionários que fazem atendimento geralmente tentam ser extremamente educados e usam um tipo de “estilo formal dobrado” (neste exemplo, uma forma honorífica de um verbo honorífico 「召し上がる」). Se isso é necessário ou gramaticalmente correto é outra história.
Você também pode usar 「下さい」 com um verbo honorífico, substituindo 「になる」 por 「ください」. Isso é útil quando você quer pedir que alguém faça algo, ainda usando um verbo honorífico:
少々お待ちください。= Por favor, espere um pouco.
De forma semelhante, com 「ご覧になる」, simplesmente substituímos 「になる」 por 「ください」:
こちらにご覧下さい。= Por favor, olhe nesta direção.
Isso funciona para outros substantivos também. Por exemplo, ao entrar em um trem...
閉まるドアにご注意下さい。= Por favor, cuidado com as portas que se fecham.
B. FORMA MODESTA (OU HUMILDE): ela é formada de maneira parecida à forma honorífica. Porém, em vez de usarmos o verbo 「なる」 ou 「です」, anexaremos 「する」 ou 「いたす」, para ser mais formal, diretamente à Base Ren’youkei. Assim, temos:
FORMA MODESTA = お + Base Ren’youkei + する ou いたす
Vejamos alguns exemplos:
私はあなたをお守りします。= Eu protegerei você.
私はあなたをお守りいたします。= Eu protegerei você.
Note, porém, que usar 「いたす」 é um caso de “estilo formal dobrado” e alguns japoneses podem dizer que isso não faz sentido.
Esta regra não se aplica aos verbos 「する」. Para eles, basta substituir 「する」 por 「いたす」 = 勉強する → 勉強いたす.
Há também uma forma de criar versões formais dos Adjetivos-I usando 「ございます」. Esse recurso é considerado arcaico, mas você ainda poderá se deparar com essas construções na literatura, e o livro não precisa ser tão antigo assim. Também, algumas expressões fixas usadas atualmente originam-se desse padrão (e com certeza, ao terminar de ler este tópico, você vai se lembrar!).
Para criar formas formais dos Adjetivos-I, basta considerar que 「ございます」 é um verbo, então, necessitaremos da forma adverbial do referido Adjetivos-I:
Colocamos o (?), pois nestes casos devemos considerar também que quando os Adjetivos-I são combinados com verbos clássicos como 「ござる」 e 「いでる」, deve-se fazer uma mudança sonora na forma adverbial, algo comum no Japonês Clássico:
Sendo assim, 「うれしう」 torna-se 「うれしゅう」, e 「たかう」 transforma-se em 「たこう」.
Consideradas essas mudanças sonoras, agora sim podemos combiná-los com 「ございます」:
Importante lembrar que os Adjetivos-I cuja forma adverbial depois dessa mudança sonora fique com a terminação 「う」 precedido de algum fonema da coluna U ou da coluna O, esta deve ser mantida. Por exemplo, 「悪い」(わるい) e 「面白い」(おもしろい), ficarão assim:
Como mencionamos no início deste tópico, as construções apresentadas soam arcaicas. Atualmente, se costuma usar 「です」 após o Adjetivos-I apenas, ou ainda, anexar o prefixo honorífico 「お」 ao Adjetivos-I em questão, seguindo-o de 「です」:
忙しいです。 = (Ele) está ocupado.
お忙しいです。 = (Ele) está ocupado.