19. UMA ÚLTIMA CONVERSA

Na seção “Como Aprender?” abordamos os PRINCÍPIOS DA APRENDIZAGEM e com esta seção “Gramática Fácil”, a TEORIA BÁSICA acerca da língua japonesa da forma mais simples possível. Teoria que por si só é insuficiente para torna-lo fluente. Daqui para frente cabe unicamente a VOCÊ colocar em prática esse conhecimento teórico, buscando aprimorá-lo constantemente.

A. ENTURME-SE SEM MEDO!

A partir daqui se torna importante ter uma EXPOSIÇÃO VERDADEIRA e CONSTANTE. Você não precisa estar no Japão para ter uma exposição verdadeira; ela independe do lugar. Neste quesito, o que fará a diferença é sua vontade e paciência. Além da possibilidade de buscar em sua cidade comunidades de japoneses com os quais você pode tentar se enturmar, temos a internet como grande aliada. Nela, você tem a possibilidade de fazer amizades com nativos, ouvir toneladas de músicas quantas vezes quiser, ou mesmo assistir aos noticiários. Outra aliada é a TV a cabo, na qual podemos encontrar seriados nos quais se usam muito a linguagem informal.  E se você gosta de animês, há o site “AnimeQ”, no qual você poderá encontrar uma grande quantidade de animês legendados.

Outra dica é o site “DaiWEEB. Nele, encontramos animês com legendas em japonês e tradução em inglês! Ótimo para treinar os ouvidos e leitura ao mesmo tempo através de um japonês falado naturalmente!!

Para treinar a leitura, você pode acessar o NHK News Web Easy, site que contem notícias com vocabulário simplificado. Ainda, você tem a opção de ouvir a notícia e inserir Furigana! Porém, é sempre melhor dar preferência a conteúdos feitos para japoneses mesmo. Em outras palavras, se for acessar o “NHK News Web Easy”, que parece ser focado nos estrangeiros que ainda não dominam bem o japonês, procure também acessar a mesma notícia “em sua forma verdadeira”. Para tanto, ao final da página de cada notícia, você encontrará o seguinte botão:image_thumb[2]

Aliás, aproveite para fazer uma comparação entre as versões.

Você pode colocar como página inicial de seu navegador portais japoneses como o “Yahoo!” e o “Goo”.

Você também pode ouvir rádios japonesas através do “Online Radio Box”.

Outro exercício que você pode fazer é ouvir algo e tentar anotar o que ouviu, a fim de estimular a compreensão e memória auditiva. Como se fosse um ditado. Uma sugestão é assistir um episódio de um determinado animê e ir anotando o que você ouvir. Depois, baixe a transcrição em japonês do referido episódio em sites como o “Kitsunekko.nete faça a conferência. Outra possibilidade é gravar trechos de programas de rádio (ou qualquer outro tipo de áudio) com o “Audacity e depois tentar transcrever no papel o que ouvir.

Por falar em Audacity, uma dica que você pode encontrar é gravar e usar o recurso de alterar a velocidade de reprodução para diminui-la. Veja:

image_thumb[2]

Contudo, sugerimos que você NÃO faça isso, pois nós precisamos acostumar nosso cérebro com o ritmo natural da fala. Usando tal recurso, você estará condicionando seu cérebro a só entender as coisas de forma lenta e clara, como nos cursos convencionais.

Aliás, outra dica que você pode encontrar e que também NÃO recomendamos é usar algum recurso de transcrição automática, como o do Google Tradutor. Veja o exemplo abaixo:

image_thumb[5]

Usar o recurso de transcrição automática pode ser muito tentador, mas no fim das contas é muito prejudicial. Além de a transcrição não ser 100% confiável, quem precisa ser capaz de entender as coisas é VOCÊ. Numa conversa no mundo real não há ferramentas de transcrição, legendas e/ou alterador de velocidade de fala. Se você começar a usar o recurso de transcrição automática com frequência, o único prejudicado será você mesmo. O que diferenciaria você, estudante dedicado de japonês (ou de qualquer outro idioma), de alguém que nunca estudou uma língua, mas que usa o recurso de transcrição automática só para quebrar o galho em situações de necessidade? Não precisaríamos mais aprender idiomas! Então, não se sabote! Dê valor às suas horas dedicadas de estudo! No quesito comunicação, nenhuma máquina substitui o poder de nosso cérebro e o nosso poder de interação com as outras pessoas!

Outro exercício que você pode fazer é o chamado “sombra”. Basicamente é ouvir alguma coisa, mas em vez de escrever no papel, repetir o mais rápido possível, como se você fosse uma sombra mesmo, um eco. Já haveria estudos que apontam os benefícios dessa técnica, tais como melhora da compreensão auditiva, da pronúncia e do ritmo da fala. Não custa tentar! Aliás, você pode combinar o “ditado” e a “sombra”, isto é, gravar alguns minutos de áudio, anotar no papel o que ouvir e depois fazer a sombra. Enfim, use sua criatividade.

B. O PRINCÍPIO DO MENOR ESFORÇO EM AÇÃO

Na seção “Como Aprender?”, mencionamos o “princípio (ou lei) do menor esforço”, isto é, uma tendência de institivamente procurar facilitar as coisas, de reduzir o esforço, seja físico ou mental. Uma das consequências desse princípio é o encurtamento, junção ou omissão de pedaços, palavras ou construções para tornar a fala mais fácil, mais fluída. A seguir compilamos as principais manobras feitas institivamente pelos nativos:

(1) O 「い」 pode ser omitido após a Forma TE:

愛してる → 愛してる

見てない → 見てない

見ててくれ → 見ててくれ

出てけ! → 出てけ!

出てった → 出てった

(2) A partícula「の」pode se tornar 「ん」:

何をしてるだ? → 何をしてるだ?

学生なです → 学生なです

(3) Fonemas podem ser reduzidos para 「う」, 「い」, 「ん」 ou 「っ」:

ません → すません

(3.1) Devido a essas mudanças, o fonema seguinte pode receber o 「。」 superior ou o 「゛」:

せいねん (生年月日) → せいねんが → せいねんが

(読みて) → よ → よ

Neste caso, a pronúncia alterada costuma se tornar a padrão e única aceita para a palavra em questão.

(4) Em algumas palavras compostas, o primeiro fonema da segunda palavra recebe o 「゛」

ながれし (流れ星) → ながれ

Neste caso, a pronúncia alterada costuma se tornar a padrão e única aceita para a palavra em questão.

(5) A combinação「ては」pode se tornar 「ちゃ」:

てはだめ → 見ちゃだめ

行かなくてはいけない→ 行かなくちゃいけない

(6) A combinação「では」pode se tornar 「じゃ」:

ばかではありません! → ばかじゃありません!

死んではだめだ → 死んじゃだめだ

(7) Fonemas que contenham {「あ」 (ou 「お」) +「い」} no final das palavras podem se tornar 「ええ」:

行きたい → 行きてえ

信じられない → 信んじられねえ

ごい → すげえ

おもしろい → おもしれえ

(8) O auxiliar de negação 「ない」 pode se tornar 「ん」:

知らないよ → 知ら

(9) Fonemas do grupo 「ら」 podem se tornar 「ん」 quando precedem fonemas do grupo 「な」:

何をしての? → 何をしての?

な!! → くな!!

分かない → 分かない

(9.1) Dois 「ん」 não aparecem juntos, então, fonemas do grupo 「ら」 são omitidos quando precedem 「ん」:

何をしてんだ? → 何をしてだ? → 何をしてだ?

(10) A combinação「てお」 pode se tornar「と」:

書いておく → 書い

覚えておけ! → おぼえけ!

今、何しておる? → 今、何しる?

(11) A construção {Forma TE +「しまう」} quando resulta em 「てしまう」, pode se tornar 「ちまう」 ou 「ちゃう」:

買ってしまった → 買っちまった → 買っちゃった

(11.1) A construção {Forma TE +「しまう」} quando resulta em 「でしまう」, pode se tornar 「じまう」 ou 「じゃう」:

死んでしまう → 死んじまう → 死んじゃう

(12) A combinação「れば」pode se tornar 「りゃ」:

れば分かる → 見りゃ分かる

勉強しなければ合格しない → 勉強しなけりゃ合格しない

(13) A combinação「けりゃ」pode se tornar 「きゃ」:

勉強しなけりゃ合格しない → 勉強しなきゃ合格しない

行かなければ → 行かなけりゃ → 行かなきゃ

Gramaticalmente falando,「なけりゃ」 e 「なきゃ」 não são totalmente equivalentes. 「なけりゃ」 não pode ser usado por si só para indicar dever da forma que 「なきゃ」 pode. Por exemplo 「食べなきゃ」 por si só significa "deve comer", mas 「食べなけりゃ」 não pode ser usado por si só para significar isso.

(13.1) Ainda que raramente, as contrações 「りゃ e 「きゃ」 podem ser mais abreviadas:

りゃ → み

食べきゃ → 食べにゃ

(14) Os elementos 「いけない, 「ならない」 e 「だめ」 podem ser omitidos após uma indicação condicional negativa que transmite dever:

仕事に行かなきゃならないいけないだめ → 仕事に行かなきゃ

勉強しないといけない → 勉強しないと

(15) A partícula de tópico 「は pode ser combinada com a sílaba antes dela:

それ → そりゃ

何だこれ → 何だこりゃ

耳が聞こえない → わたしゃ耳が聞こえん

(16) O verbo「いう」 pode se tornar 「ゆう:

そういうことだ → そうゆうことだ

(17) Na forma potencial, o auxiliar 「られる」 pode ter o fonema 「ら」omitido:

食べれる → 食べれる

(18) A contração 「って pode indicar uma variedade de expressões, sendo as mais comuns 「と」, という, 「とは」 e 「というのは」(ou 「は」 indicando o tópico):

もうすぐ着く言ってたよ → もうすぐ着くって言ってたよ

中村という人が来たよ → 中村って人が来たよ

タグ付けとは何? → タグ付けって何?

あなた親切な人ね → あなたって親切な人ね

(19) As construções 「といっても」 e 「としても」 podem se tornar 「たって」:

逃げようとしても無駄だよ → 逃げようたって無駄だよ

登山といっても、ハイキング程度さ → 登山たって、ハイキング程度さ

(20) A construção {Forma TE + 「も」} quando resulta em 「ても」, pode se tornar 「たって」:

食べても → 食べたって

(20.1) A construção {Forma TE + 「も」} quando resulta em 「でも」, pode se tornar 「だって」:

死んでも → 死んだって

(21) Pode haver a troca de sons, sendo as mais comuns a troca dos sons de 「え」 para 「あ」 e de 「い」 para 「う」 ou 「お」:

ふた (目蓋) ぶた

Neste caso, a pronúncia alterada costuma se tornar a padrão e única aceita para a palavra em questão.

(22) Palavras simples podem ter partes omitidas:

かもしれない かも

(23) Palavras compostas podem ter partes omitidas:

コンビニエンスストア コンビニ

ポテップス → ポテチ

C. IMAGENS PARA RESUMIR CONCEITOS IMPORTANTES

Podemos dizer que em qualquer idioma (aqui o japonês) existem alguns elementos e conceitos que formam a estrutura básica de oração, que chamaremos para fins meramente didáticos de “Estrutura Padrão”. Veja a ilustração a seguir:           

image06

NOTA: Obviamente há mais partículas que podem ser usadas no grupo “Informações Adicionais”. A figura apresentada tem o intuito de apenas demonstrar a estrutura padrão (e básica) de oração.

Dentro da estrutura padrão, como já sabemos, uma oração completa termina com o verbo. No entanto, ao utilizarmos o que chamamos de “CONECTOR”, somos capazes de inserir uma segunda oração. Neste caso, em algumas situações, a primeira oração passa a ser como que uma informação adicional (ou complementar) da oração seguinte (que chamaremos de “principal” para fins meramente didáticos). Assim temos:

image

Ainda, dependendo do CONECTOR usado, poderemos transformar a “ORAÇÃO 1” em (1) advérbio ou (2) substantivo ou (3) adjetivo. Assim, temos o seguinte esquema: image

NOTAS:

1. Repare que os processos para obter uma oração com valor de substantivo ou oração com valor de substantivo são simples. Já a oração com valor de advérbio é a mais complexa, dada a quantidade de possibilidades e sentidos que podemos expressar;

2. No padrão “ORAÇÃO 1 (informação adicional) + ORAÇÃO 2 (oração principal)”, a “ORAÇÃO 1” em alguns casos se encaixa em algum tipo de oração com valor de advérbio.

Comparando com a estrutura de oração da língua portuguesa, por exemplo, a oração “Eu comprei um carro PARA viajar com a família” ficaria estruturada assim:

image

Anteriormente, citamos que na nossa vida rotineira tendemos a usar somente as palavras “mais simples” e comumente usadas. Igualmente, a maneira como os nativos estruturam as palavras para expressar ideias, tende a ser o mais simples possível. Em outras palavras, costuma-se usar os mesmos padrões (o mesmo padrão para determinada ideia), sendo esses padrões geralmente os mais simples e/ou mais comuns. Quando queremos expressar, por exemplo, que vamos tomar banho em português, a estrutura mais comumente usada é “Vou tomar banho”. Dificilmente diremos “Vou me banhar” ou “Vou para debaixo do chuveiro”.

Então, vamos considerar que as ideias podem ser indicadas dentro de uma destas duas estruturas de oração (ou mesmo um misto das duas):

image

Um exemplo de estrutura específica (ou se quiser chamar de “colocação”) é o modo como os japoneses expressam a ideia de dever. Veja que para esse caso, não há o verbo “dever” como no português. A ideia é indicada dentro de uma estrutura em que há a forma condicional.

D. MONTANDO UM QUEBRA-CABEÇA       

Com base nos esquemas-resumos que vimos, gostaríamos de lhe propor um exercício para que você se acostume com as estruturas até chegar a um ponto em que você seja capaz de formar suas frases institivamente. Eis o exercício:           

I. Escreva uma oração em português;

II. Desmembre a oração identificando elementos que se encaixariam nos itens presentes nas figuras apresentadas;

III. Traduza esses blocos separadamente;

IV. No final, junte as peças a fim de obter a oração completa em japonês.

Vejamos a oração a seguir:

“Ela disse que gosta de ir à escola lendo o mangá que comprou na semana passada”.

A primeira coisa que você deve perguntar é:

1. QUAIS SÃO AS PALAVRAS QUE DEVO USAR?

Pode-se dizer que uma oração é um conjunto de pequenas informações. Sendo assim, precisamos conhecer primeiro as peças individuais (palavras). Assim:

image

Depois de conhecer as peças individuais, precisamos saber como agrupá-las corretamente para que a mensagem seja transmitida satisfatoriamente. Para isso, existem as regras da gramática. Assim, passemos para a próxima pergunta...

2. QUAIS SÃO OS VERBOS?

“Ela disse que gosta de ir à escola lendo o mangá que comprou na semana passada”.

Identificados os verbos, passemos para a terceira pergunta:

3. TEMOS ORAÇÕES COM VALOR DE SUBSTANTIVO?

Sim. O trecho “ir à escola lendo o mangá que comprou na semana passada” é objeto do verbo “gostar”. Como ele é longo, para facilitar, vamos desmembrá-lo...

4. TEMOS ORAÇÕES COM VALOR DE ADVÉRBIO?

Sim. Note que na oração nominalizada, o trecho “lendo o mangá” indica o modo como ela vai à escola. Sendo assim, precisaremos da Forma TE do verbo, já que ela pode exercer função de advérbio. Sendo assim, temos até agora:

I. 学校に行く = Ir à escola;

II. 漫画を読んで = Lendo o mangá.

NOTA: Alguns poderão questionar o uso da Forma TE aqui devido a sua ambiguidade. De fato, há outras formas mais claras de expressar “ir à escola lendo o mangá...”. Contudo, levando em conta o contexto, o uso da Forma TE é aceitável.

5. TEMOS ORAÇÕES COM VALOR DE ADJETIVO?

Sim. Perceba que o trecho “que comprou na semana passada” modifica o substantivo “mangá”. Então...

I. 学校に行く = Ir à escola;

II. 漫画を読んで = Lendo mangá;

III. 先週に買った = (Que) comprou na semana passa.

Com isso já podemos montar a oração objeto do verbo “gostar”. Então...

先週に買った漫画を読んで学校に行く = Ir à escola lendo o mangá que comprou na semana passada.

O verbo “gostar” em japonês comumente é indicado pelo Adjetivo-NA 「すき」 (好き). Sendo assim...

先週に買った漫画を読んで学校に行くのが好き = Gostar de ir à escola lendo o mangá que comprou na semana passada.

Estamos quase terminando. Falta nesse quebra-cabeça o verbo “dizer”. Aliás...

6. O QUE DIZER QUANTO À ESTRUTURA DE ORAÇÃO?

De certa forma, ela é mista, haja vista que com alguns verbos se usa a partícula 「と」para indicar o objeto. Isso pode ser considerado uma colocação, já que aparentemente não tem explicação na gramática, mas sim na preferência dos falantes nativos. Outro detalhe é que, como 「好き」é um Adjetivo-NA, precisamos adicionar o declarativo 「だ」antes de 「と」. Assim, temos:

先週に買った漫画を読んで学校に行くのが好きだと言った = Disse que gosta de ir à escola lendo o mangá que comprou na semana passada.

Para finalizar, agora só falta indicar de quem estamos falando: “ela”. Assim:

彼女は先週に買った漫画を読んで学校に行くのが好きだと言った。 = Ela disse que gosta de ir à escola lendo o mangá que comprou na semana passada.

Evidentemente, é importante que você já tenha um bom vocabulário e saiba quando uma ideia é indicada por meio de colocações. Mas isso é algo que você precisa aprender lendo e se expondo ao idioma. Se você tem dificuldade em montar orações longas, esse exercício pode ajudá-lo. Como já mencionamos no tópico 14, ao aprender uma nova palavra, procure pela internet orações de exemplo e observe as palavras que aparecem juntas. Aliás, para ajudar a internalizar a gramática (e as colocações), disponibilizamos o “Banco de Sentenças” com mais de 9.500 itens e que será constantemente atualizado! Acesse-o clicando aqui. Você também pode usar ferramentas como o Tatoeba e o ReversoContext.

Não é recomendável pensar uma língua estrangeira em português, mas para iniciantes, realmente não há outra alternativa, pois esse é o único idioma com o qual estão (por enquanto) familiarizados. Por isso, é importante um último item para esse exercício...

7. CORREÇÃO PELA REFERÊNCIA

Na seção “Como Aprender?” mencionamos a importância da EXPOSIÇÃO VERDADEIRA e de ter contato com nativos, que serão como as REFERÊNCIAS PRÓXIMAS, de quem aprendemos nossa língua materna quando éramos crianças. Quando éramos crianças, ouvíamos constantemente as nossas referências e em dado momento começamos a tentar construir nossas próprias orações, sendo corrigidos por essas referências quando necessário. Então, procure perguntar a sua referência próxima se a oração construída está correta do ponto de vista japonês. Se ainda não tiver contato direto com nativos, você pode usar o site “Lang8”. Neste site, você escreve seus textos na língua que está estudando e os publica. A partir disso, um nativo poderá corrigi-los se necessário e fazer comentários.

***

Esperamos que o quebrar e converter frases, embora lento e pouco prático, sirva, como já mencionamos, pelo menos como um bom trampolim para que você possa se acostumar a pensar diretamente em japonês. Uma vez que você já tenha dominado as regras gramaticais, procure também investir em vocabulário diversificado, isto é, conhecimentos gerais. Você poderá se ver numa situação em que, embora já saiba como organizar as peças (conhecimento de gramática), não possui as peças necessárias (vocabulário) para determinada situação. Se isso acontecer, não se chateie. Mesmo em nossa língua nativa corremos o risco de sermos incapazes de nos expressar com naturalidade ou mesmo de não conseguir acompanhar uma conversa, um texto, etc. por falta de vocabulário. Daí a importância de conhecimentos gerais e de ter um vocabulário diversificado, seja no português, seja numa língua estrangeira.

Você também pode fazer o inverso, isto é, quebrar orações japonesas e analisar cada elemento a fim de ir adquirindo uma noção de como os japoneses usam as palavras para se expressar. Lembra-se das análises morfológica e sintática que você costumava fazer na escola? Vamos relembrar:

➩ Análise morfológica: refere-se à classificação das palavras;

➩ Análise: sintática: refere-se à função desempenhada dentro do contexto.

Agora, veja um exemplo:

可愛くなろうかなって思ってやってきた。

Vamos analisar os elementos:

➩ 可愛く = forma adverbial do Adjetivo-I 「可愛い」(かわいい), que significa “meigo”, “fofo”;

➩ なろう = forma MU do verbo 「なる」, que significa “tornar-se”. Aqui a Forma MU é melhor interpretada como indicadora de futuro. Ela está sendo modificada pela forma adverbial 「可愛く」;

➩ かな = partícula de final de sentença que indica incerteza;

➩ って = forma casual da partícula 「と」;

➩ 思って = forma TE do verbo 「思う」(おもう), que significa “pensar”;

➩ やってきた = forma passada do verbo 「やって来る」(やってくる), que significa “vir”, “aparecer”, “continuar fazendo (até o presente)”.

Sendo assim, uma tradução literal para 「可愛くなろうかなって思ってやってきた」 é “(Eu) pensei ‘será que ficarei bonita?’ e continuei fazendo isso”. De uma forma mais simples poderíamos traduzir como “Eu fiquei pensando se ficaria bonita”. Uma ferramenta que pode auxiliar (e não substituir a capacidade de análise de uma pessoa) na quebra de orações é o site “Ichi.moe”.

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E. PALAVRAS FINAIS

Terminamos o “Gramática Fácil” repetindo o que mencionamos na seção “Como Aprender?”, pois isto é fundamental: não há como fugir da necessidade de se expor verdadeiramente e constantemente ao japonês do “mundo real” e da possibilidade de errar, se você quiser realmente aprender. Quanto mais você demorar para se expor, pior será e mais cedo a frustração aparecerá. Se você não se expõe por que acha que ainda não está preparado, então, você nunca se sentirá preparado. Se o receio está em ser julgado pelos nativos por conta dos erros que cometer, então, procure o quanto antes fazer amizades com nativos (um só é suficiente) que, sabendo que você está em processo de aprendizado, não o julguem pelos erros, mas sim estejam dispostos a corrigi-lo e a incentivá-lo. Desse modo, você irá ganhando confiança, experiência e se sentirá seguro para lidar com pessoas desconhecidas. Se não conseguir se enturmar com os japoneses nas comunidades espalhadas por sua cidade, tente fazer amizades na internet mesmo. Aliás, você pode procurar por japoneses que estejam aprendendo português. Assim, ambos podem se ajudar.

BOA SORTE E GANBAROU ZE!