2. ESCRITA II – KANJI

Os Kanjis (ou caracteres chineses) representam conceitos materiais e abstratos e foram introduzidos na língua japonesa por meio de escritos trazidos por monges budistas quando ainda não havia expressão escrita nela. Substantivos e radicais de adjetivos e verbos são quase todos escritos com caracteres chineses. Também os advérbios são escritos em Kanji com bastante frequência. Isso significa que você precisará aprender os caracteres chineses para ser capaz de ler praticamente quase todas as palavras do idioma. Porém, nem todas as palavras são escritas em Kanji. Por exemplo, mesmo que o verbo “fazer” tecnicamente possua um Kanji associado a si, é sempre escrito em Hiragana. Critérios individuais e um senso de como as coisas são normalmente escritas são necessários para decidir quando as palavras devem ser escritas em Hiragana ou Kanji. De qualquer modo, a maioria das palavras em japonês será escrita em Kanji quase sempre (livros infantis ou qualquer outro material direcionado a um público que não saiba muitos Kanjis são uma exceção a isso).

Há uma lista oficial de 2.136 Kanjis de uso diário. Os japoneses aprendem 1.026 desses Kanjis (considerados básicos e suficientes para a leitura de cerca de 90% dos usados em jornais) durante os seis anos da escola primária e os outros 1.110 de forma mais independente nos anos escolares seguintes. Há ainda uma lista oficial de Kanjis usados para nomes contendo atualmente 863 Kanjis. Também, existe um exame de proficiência de Kanji (Kanken) cujo nível mais elevado exige conhecimento de cerca de 6.300 Kanjis! Disponibilizamos uma lista neste link.  

Um ideograma chinês pode ter várias pronúncias possíveis (em casos raros, dez ou mais), dependendo do seu contexto, significado pretendido, uso em compostos, e localização na frase. Estas pronúncias, ou leituras, são normalmente categorizadas em on'yomi (pronúncia próxima do original chinês) ou kun'yomi (pronúncia japonesa atribuída a ele). Para fins didáticos a leitura ON, é escrita em Katakana. Já a leitura KUN é escrita em Hiragana.

Há Kanjis que possuem várias leituras ON, porque nos tempos antigos cada dinastia chinesa ou região costumava adotar sua própria pronúncia para cada Kanji. Como a China era considerada uma nação modelo pelos japoneses, se aparecia uma nova pronúncia para algum Kanji, os japoneses tratavam de adicioná-la logo ao monte. Por causa disso e das adaptações feitas pelos japoneses, não é errado afirmar que o uso dos Kanjis no Japão acabou se tornando bem mais complexo do que o uso na própria China! Na China atualmente cada Kanji possui geralmente apenas uma leitura. Alguns outros possuem duas e raramente há três maneiras de ler um mesmo Kanji.

Como regra bem básica, a leitura Kun é usada para palavras nativas, principalmente em adjetivos e verbos. Nesse caso, geralmente há uma sequência de Kana (chamada okurigana) que vem anexada aos ideogramas complementando a pronúncia da palavra e será a parte que sofrerá flexões. Observe o exemplo:

Como você leria o Kanji em 「食べる」?

Vamos observar as leituras do ideograma em questão:

Primeiramente, como 「食べる」 se trata de um verbo, deve-se considerar a leitura Kun. Mas qual é a correta, haja vista que temos quatro leituras Kun possíveis?

Basta observar o Okurigana que acompanha o Kanji. Neste caso é 「べる」, logo, segundo a tabela acima, a pronúncia correta para o ideograma em questão é 「た」. Esquematizando, temos:

Já a leitura ON é usada quando a palavra está escrita “à moda chinesa”, isto é, somente com Kanjis. Como exemplo, repare nos Kanji abaixo:

Agora, observe-os no exemplo a seguir:

Na primeira ocorrência, 「新」 aparece isolado (sem outro Kanji o acompanhando), então, a pronúncia é “Atara.shii”, lido com o Hiragana que o segue e significa “novo”.

Na segunda ocorrência, 「新」 aparece acompanhado pelo Kanji 「聞」, portanto, será usada a on’yomi de ambos. Desta forma, juntos formam 「しん.ぶん」, que significa “jornal”.

Mas a coisa infelizmente não é tão simples assim. Isso por que há casos em que composições de Kanjis recebem leituras especiais, que podem ser divididas em três grupos:

A. LEITURA MESCLADA: é baseada nas leituras individuais de cada Kanji, mas não seguem a regra básica. Veja o exemplo abaixo:

王様 = おう.さま (rei) – on’yomi do primeiro ideograma + kun’yomi do segun-do ideograma.

B. LEITURA EXTRA: chamada de 「なのり」 (名乗り), é a leitura presente em alguns ideogramas, geralmente intimamente relacionada com o kun'yomi. É usada principalmente para nomes de pessoas e, às vezes, para nomes de lugares (quando não se usam leituras únicas não encontradas em outro lugar). Observe o exemplo abaixo:

Por falar em nomes, esse é um aspecto complexo. Tanto que formulários possuem um campo para que a pessoa escreva a pronúncia do nome em Kana, sendo que esse campo é verificado para assegurar que a pessoa não se esqueceu de preenche-lo. Você pode tentar decorar diversos nomes, tentar adivinhar, usar um dicionário de nomes, etc. Porém, na prática, ao ver um nome escrito, a única forma de ter certeza absoluta de como a pessoa se chama (e mais fácil) é perguntando a pronúncia a ela.

C. LEITURA ATRIBUÍDA: não possui relação com as leituras individuais dos Kanjis. Aqui leva-se em consideração apenas o significado individual de cada caractere e se dá uma pronúncia ao conjunto. Observe:

➩「明日」= composição pronunciada 「あした」 ou 「あす」, que significa “amanhã” em japonês. Podemos representar esse tipo de leitura atribuída da seguinte forma:

➩「小宇宙」= normalmente se lê essa composição como 「しょううちゅう」. Entretanto, se estiver subentendido o animê “Os Cavaleiros do Zodíaco”, deve-se levar em consideração que esta composição é usada para substituir a grafia 「コスモ」 que significa, “cosmo”. Portanto, neste caso específico, deve ser lida 「コスモ」 e não 「しょううちゅう」. Esquematizando, temos:

Há ainda leituras que são baseadas nas pronúncias dos caracteres, contudo, sofreram mudanças ao longo do tempo. Observe:

「中人」: なかと→ なかうど= なうど 「仲人」(pronúncia e Kanji atuais)

Diante de tudo que vimos até aqui, podemos dizer que a leitura dos Kanjis é muito ambígua. Apenas para ilustrar essa dificuldade que até mesmo os nativos podem encontrar na leitura de Kanjis, em novembro de 2008, a imprensa japonesa noticiou que o Primeiro-Ministro Taro Aso frequentemente errava as leituras de alguns Kanjis, muitos considerados de uso comum em seus discursos, questionando assim, sua qualidade como pessoa que ocupa o cargo mais alto do Japão.

Devido aos seus erros, Aso passou a ser comparado com George W. Bush, e rotulado de "Tarō" uma provocação usada nas escolas para as crianças pouco inteligentes.

Por causa dessa ambiguidade na leitura dos Kanjis, é comum encontrarmos pequenos Kanas, conhecidos como Furigana (também conhecido como 「ルビ」 ou 「ルビー」 = rubi), escritos acima dos ideogramas, ou ao seu lado, chamados de Kumimoji, que mostram como devemos pronunciá-los::

Tal recurso é usado especialmente em textos para crianças ou alunos estrangeiros e mangá, como também em jornais para leituras raras ou incomuns e para ideogramas não incluídos no conjunto de reconhecidos oficialmente.

Em muitos dicionários de Kanji os ideogramas são organizados por “RADICAL”. Radical é um “pedaço” do Kanji que pode estar em uma das sete posições apresentadas a seguir:

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Ao todo existem 214 radicais e você pode baixar a lista clicando aqui. Com exposição à língua japonesa e tempo, você será capaz de identificar o radical de cada Kanji e isso será muito útil. Imagine que você se depara com o seguinte Kanji:

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Sabendo que o radical pode estar presente em uma das sete posições, supõe-se que o radical desse Kanji esteja na parte superior dele, isto é, trata-se do radical 「雨」, que significa “chuva”. Agora, vamos acessar a opção “Multiradical (antigo)do site “sci.lang.japan Frequently Asked Questions”. Nessa interessante ferramenta é possível filtrar Kanjis pelo radical de acordo com a posição numa lista de ocorrências mais comuns. Veja:

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No nosso exemplo, supomos que o radical é 「雨」, que significa “chuva”, e que ocupa a parte superior do Kanji. Então:

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Nos resultados aparecerão os Kanjis que possuem 雨」 como radical ordenados pela quantidade de traços. Agora sabemos que o Kanji em questão se trata de 「電」, que significa “eletricidade” e possui 13 traços.

Por falar em traços, existem algumas regras básicas para sem serem observadas na hora de escrever um Kanji:

1. Kanjis são escritos da esquerda para a direita:

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2. Kanjis são escritos de cima para baixo:

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3. Traços horizontais normalmente são escritos antes de verticais:

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4. Em caracteres simétricos, comece pelo traço do meio, depois esquerda e então direita:

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5. Traços que envolvem outros traços são escritos primeiro, com exceção da base, que vem por último:

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6. Um traço diagonal para a esquerda é escrito antes que um traço diagonal para a direita:

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7. Se uma linha vertical atravessar todo o caractere ela é escrita por último:

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8. Se uma linha horizontal cruzar todo o caractere ela é escrita por último:

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9. Um traço diagonal vem antes do horizontal se for pequeno e depois do horizontal se for grande:

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Uma coisa que você precisa saber é que essas regras não são absolutas, elas irão funcionar para a maior parte dos casos, mas não todos. Então fique avisado que se encontrar um Kanji que não obedeça alguma dessas ordens, não é um erro na regra e sim uma exceção.

De fato, dominar os Kanjis não é tarefa fácil, mas isso não significa de forma alguma que seja impossível. Usaremos Kanjis desde o começo para ajudá-lo a ler japonês "real" o mais rápido possível. Nestas duas lições, abordamos algumas das propriedades dos ideogramas numa tentativa de tornar seu aprendizado menos penoso e mais divertido e, dado o que foi exposto, vamos responder a duas perguntas que devem estar pairando na sua cabeça agora:

1. Se mesmo um nativo pode ter dificuldades em saber como ler determinada composição de Kanjis, dada a quantidade de possiblidades de leitura e as mudanças sonoras, qual a melhor maneira de aprender a lê-los?

Realmente, a quantidade de leituras que um único Kanji pode ter e, ainda mais, as possíveis mudanças sonoras que podem ocorrer em alguns casos, de início, o faria concluir que aprender as leituras individuais se torna totalmente inútil, porque na prática, ao se deparar com uma composição desconhecida, você só teria um “poder de suposição” no quesito qual leitura usar. Para clarificar, suponhamos que você não conheça a composição 「行楽」, mas conhece as leituras individuais dos Kanjis 「行」 e 「楽」. Com isso, a primeira imagem que viria a sua mente certamente seria esta:

Ok, perfeito! Você sabe todas as leituras ON individuais de cada Kanji. Entretanto, especificamente para esta composição, qual é a combinação de leituras correta? Aí começa o grande problema! Inevitavelmente, você acaba se vendo diante de um quebra-cabeça no qual você tem as peças, mas não sabe como encaixá-las...

Isso só considerando as leituras ON. Imagine então se esta composição tem uma leitura mesclada, extra, atribuída, ou ainda tem a pronúncia simplificada? Veja como há muitas, mas muitas possibilidades...

Como bem aponta Luiz Rafael em seu livro “Desvendando a Língua Japonesa” (baixe-o clicando aqui), “o que faz o japonês realmente aprender KANJI não é o ensino deles na escola, e sim a convivência em tempo integral, o uso massivo em praticamente todas as situações do dia-a-dia. Na escola, o japonês aprende os KANJIS mais pela necessidade de ler textos, copiar conteúdo da lousa referente a todas as matérias, escrever redações e resolver exercícios, do que pelo ensino formal do KANJI.”

Esse é o lado ruim da história. Mas há o lado bom: se você memorizar leituras individuais em grande quantidade vai, inevitavelmente, adquirir um senso de como se dá é a formação das palavras na língua japonesa. Por exemplo, “por que há um pequeno 「つ」 aqui?”.

Também, não aprender as leituras individuais é desvantajoso, porque com o tempo você perceberá que geralmente uma leitura ON de cada Kanji é usada com mais frequência (estima-se que em 80-90% das vezes, usa-se apenas uma única leitura On dentre as possíveis para cada Kanji). Tal afirmativa ganha força ainda mais quando vemos que livros convencionais e métodos de memorização costumam listar 2 ou no máximo 3 leituras On para cada Kanji! Sendo assim, geralmente a leitura On # 1, entraria nessa faixa de 80-90% e a leitura # 2 somente seria usada em casos específicos.

Com relação às leituras KUN, aprendê-las individualmente é bom se o Kanji representar uma palavra por si só. Por exemplo, o Kanji 「力」 tem a leitura KUN 「ちから」, que por si mesmo (sem necessidade de se completar com o Okurigana) é a palavra para “força”. Veja como o significado do Kanji, se traduz diretamente em uma palavra inteira que você pode realmente usar.

Falando em significado, saber o significado individual de um Kanji é certamente muito útil para palavras e conceitos mais simples. Kanjis, tais como 「続」 ou 「連」 definitivamente vão ajuda-lo a lembrar de palavras como 「接続」、「連続」 e 「連中」. Em conclusão, não há nada de errado em aprender o significado de um Kanji e isso é algo que recomendamos.

Bem, agora você deve estar pensando “OK, eu vejo que há os prós e contras em se aprender as leituras individuais. Mas, ainda assim, não seria muito mais fácil simplesmente assimilar Kanjis e composições conforme formos nos deparando com eles?

Isso faz muito sentido e talvez seja a opção defendida por muitos, isto é, aprender Kanji por meio das PALAVRAS que você for encontrando por aí, e não através de caracteres isolados, a menos que este seja por si só uma palavra “utilizável”. Afinal, a fim de aprender uma palavra, você obviamente precisa aprender o significado, a leitura, o traçado dos Kanjis e qualquer Okurigana, se for o caso. E isso com as ferramentas disponíveis atualmente na internet, torna-se muito mais prático.

Voltemos à composição 「行楽」. Por enquanto, somente fomos capazes de supor sua leitura e não chegamos a uma conclusão. Entretanto, se acessarmos, por exemplo, o “Jisho.org” tudo se resolverá em poucos segundos, sem estresse. Vejamos:

E ainda, em “Kanji Details” poderá aprender o significado de cada Kanji, bem como o traçado:

Bem prático, não é mesmo?

Concluindo, nossa sugestão é que você siga pelo caminho híbrido:

PRIMEIRO: aprenda PALAVRAS e, por meio delas, tudo o que for relacionado aos Kanjis que as compõem (significado, leituras KUN - se representarem por si mesmo palavras -, e o traçado);

SEGUNDO: com mais tempo e calma, para um estudo mais etimológico e mais avançado, atente-se às leituras e veja como as palavras foram formadas, bem como as particularidades de sua pronúncia, se houver.

2. Como memorizar o traçado dos Kanjis, já que existem muitos ideogramas para se aprender?

Lembra-se que no tópico de introdução “Como aprender algo realmente” uma das ferramentas necessárias para o aprendizado é a “ASSOCIAÇÃO”? Por esta razão, cremos que algo que lhe será útil para memorizar o traçado dos Kanjis é fazendo uso de uma técnica muito conhecida e difundida em livros como “Kanjis Mnemonics” e “Remember the Kanji”. Consiste em dividir os ideogramas em partes e tentar associá-las a figuras do nosso cotidiano. É como se passássemos a encarar cada Kanji não como uma “letra” em si, mas como um conjunto de letras para transmitir uma nova ideia. Veja a ilustração a seguir:

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Também, assim como em português, por exemplo, há uma “hierarquia” na escrita de palavras, isto é, as (3) palavras são formadas por (2) sílabas e estas, formadas por (1) letras (elementos primitivos), nos caracteres chineses há que chamaremos de “Hierarquia do Kanji”. Veja a figura a seguir (de baixo para cima):

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Os (1) traços podem ser combinados para formarem (2) componentes, que juntos podem formar (3) ideogramas simples, que juntos podem formar (4) ideogramas compostos. Com isso, cremos que quanto mais primitivo o elemento extraído de um Kanji for (preferencialmente “traços” e “componentes”), mais fácil será a memorização de um Kanji (no topo), pois haverá a tendência de o elemento primitivo se repetir mais vezes em diferentes combinações e com isso você será capaz de perceber padrões (assim como em português aprendemos primeiro as letras do alfabeto e depois as sílabas, combinações possíveis de letras, padrões). Fazendo uma analogia, se fôssemos encaixar “guarda-chuva” na figura apresentada, as letras seriam os traços, as sílabas, os componentes, “guarda” e “chuva” (palavras simples) seriam os ideogramas simples e “guarda-chuva” (palavra composta), o ideograma composto.

Para “dividir” os Kanjis, você pode utilizar o “Tagaini Jisho, que possui essa função:

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Segundo o Tagaini Jisho, 「電」, que significa “eletricidade”, tem como componentes o radical 「雨」, que significa “chuva” e 「日」, que significa “dia” e, aliás, consta na lista de radicais. Com relação ao “terceiro” caractere (em preto), algumas fontes apontam que é uma variante de 「⼄」, que significa “segundo” e também consta na lista de radicais. Com isso podemos criar uma história para memorizar esse Kanji: “A eletricidade foi descoberta por causa da chuva que cai em nossos dias de vida. Geralmente, primeiro começa a chover e em segundo lugar, vem o relâmpago”.

Outros exemplos:

口【くち】 (significado: boca): este Kanji é uma figura que lembra uma boca aberta, porém um pouco quadriculada;

本【ほん】 (significado: raiz, livro): este Kanji é uma árvore e o traço no meio é a terra onde ela está plantada. Então, abaixo da terra está sua raiz. A raiz de onde brota o conhecimento são os livros.

Outra ferramenta para desmembrar Kanjis é o site “Jiten On:

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O site “WaniKani” tem uma ferramenta muito interessante (clique no ícone de pesquisa no canto superior direito). Com ela podemos pesquisar um Kanji e ele será desmembrado, sendo apresentada também uma frase (em inglês) para facilitar a memorização: 

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Perceba que o desmembramento do Kanji 「電」 apresentado pelo WaniKani é diferente da decomposição apresentada pelo Tagaini Jisho, mas isso não importa. Temos que levar em consideração que os Kanjis são originalmente chineses, portanto, muitos “elementos reais” e/ou “significados reais” estão presentes somente nos dialetos chineses, não sendo incorporados à língua japonesa (ou mesmo abandonados em dado momento da história). Se consultarmos, o Kanji 「電」 em algum site que apresente a etimologia chinesa de caractere, como o “Chinese Etymologye o “YellowBridge, teremos algo muito interessante (consulta pelo YellowBridge):

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O Kanji 「電」 é uma junção de 「雨」, que significa “nuvens de tempestade” e 「申」, que significa “raio”, “relâmpago”, cuja forma simplificada é 「电」 e não consta na lista japonesa de Kanjis de uso diário. Veja como do ponto de vista chinês, é bem mais fácil (e lógico) se chegar aos elementos constituintes do Kanji 「電」. Por outro lado, como na língua japonesa não foram incorporados todos os elementos (e significados), existe uma limitação para se chegar até os elementos constituintes dos Kanjis. Por isso, fazer adaptações é inevitável; você poderá nomear os componentes de Kanji da maneira que for mais fácil pra você ou mesmo considerar o que quiser como componente de Kanji. 

NOTA: Existem outros bons sites que fazem o desmembramento de Kanjis e apresentam frases para a memorização, como o “KanjiDamage” e o “Kanji Alive”.

E nós disponibilizamos a nossa própria “Decomposição de Kanjis”, que pode ser acessada neste link. Os Kanjis estão divididos por nível do teste de proficiência e você notará que alguns Kanjis possuem entre parênteses no campo “JLPT” um número ou uma barra. Veja:

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O número entre parênteses indica o nível REAL do JLPT ao qual pertence o Kanji em questão. Entretanto, como ele faz parte de algum Kanji de nível inferior, ele é abordado de forma antecipada para que as decomposições façam sentido. Já os Kanjis com barra são aqueles fora da lista de Kanjis para uso diário, podendo até ser um ideograma antigo ou usado apenas na China, mas também são peças constituintes dos Kanjis cobrados no JLPT. Como o projeto foi lançado recentemente,  caso encontre alguma informação errada, entre em contato conosco, por favor.

Reveja como escrever os Kanjis CONSTANTEMENTE. Conforme o relato de um japonês no Fórum Quora, quando se trata de aprender Kanjis “tudo é (questão de) ROTINA. É pura MEMORIZAÇÃO, e quanto mais você lutar contra a ideia de memorização, mais tempo você levará para aprender”. Esta é outra razão pela qual começaremos usando Kanjis. Não há razão para deixar o imenso trabalho de aprendê-los em um nível avançado. Ao estudar Kanjis junto com novos vocábulos desde o começo, o imenso trabalho será dividido em pedaços pequenos e controláveis e o tempo extra ajudará a fixar na memória permanente os ideogramas aprendidos. Além disso, isto irá ajudá-lo a ampliar seu vocabulário, o qual geralmente terá combinações de Kanjis que você já conhece. Se você começar a aprender Kanjis depois, este benefício será desperdiçado ou limitado.

Há uma grande quantidade de websites e softwares para auxiliá-lo no aprendizado dos Kanjis. Infelizmente, a maioria dessas fontes está em inglês, ou seja, seria bom que você soubesse o básico dessa língua para que possa tirar proveito. Outro software útil é o JWPce”, um editor de texto e dicionário no qual você encontra o significado de qualquer Kanji rapidamente entre os milhares do banco de dados, se souber como procurar. A busca pode ser feita através do número de traços ou do radical. Observe:

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O número de traços (strokes) e qual é o radical de um ideograma são as duas informações mais úteis que você pode ter. Se tiver seu computador do lado, nenhum Kanji desconhecido irá atrapalhar seus estudos.

Você já aprendeu anteriormente que durante os seis anos da escola primária, os alunos aprendem os 1006 Kanjis básicos e os outros 1130 nos três anos posteriores. Obviamente, os Kanjis apresentados na primeira série são mais simples que os Kanjis da sexta série. Esse método irá seguir exatamente a ordem de aprendizado de um aluno numa escola japonesa. Podemos concluir, portanto, que os Kanjis são ensinados de acordo com sua simplicidade, facilidade e importância.

Então, não seria interessante que os Kanjis fossem organizados pelo uso, pelo seu aparecimento no dia a dia?

No JWPce uma das informações que podem ser obtidas de um Kanji é a sua frequência, ou seja, o número de vezes que este aparece no dia a dia, em jornais, livros e qualquer fonte escrita. Observe as figuras abaixo:

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Podemos notar que o Kanji "dia" 「日」é o mais frequente, ou seja, aparece toda hora, em todos os lugares. Já o Kanji "explosão" 「爆」, não aparece tantas vezes; existem 734 Kanjis mais frequentes que ele.

Essa classificação é útil para organizar Kanjis pela sua utilidade. Se você aprender antes os Kanjis que aparecem mais frequentemente, maior a probabilidade de entender um texto em japonês.

NOTA: se você deseja filtrar os Kanjis de acordo com a frequência, série de ensino, etc. acesse o site “KanjiCards. Vá até a opção “Kanji Lists” e você encontrará filtros muito úteis.

O “Jisho.org” (versão antiga) é um dicionário online de japonês com diversas funções. Na aba “Kanji” é possível efetuar uma busca por Kanjis através de um filtro:

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Na aba “Kanji by Radicals” é possível fazer a pesquisa por radicais:

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E ao clicar em algum Kanji, é possível visualizar diversas informações, tais como frequência e número de traços:

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E se você gostaria de ter acesso a algo que lhe mostrasse o traçado de forma animada, o Draw Me a Kanji é o lugar certo. Basta inserir uma palavra ou mesmo uma sentença para ter o traçado de cada Kana e/ou Kanji feito na sua frente!

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Basicamente é isso.

3. Ok, eu faço uso de aplicativos voltados para o aprendizado de Kanjis, mas ainda assim, não consigo memorizar os Kanjis. Falta alguma coisa?

Uma questão muito interessante e que pode tranquilizá-lo e o fenômeno da “Amnésia de Caractere”.

E o que é isso?

A amnésia de caractere se refere ao fato de que as pessoas no Japão (e na China) estariam se esquecendo como escrever Kanjis!! Isso mesmo...

Estamos vivendo um tempo em que a informação é muito rápida e quase tudo se tornou digital. As pessoas estão usando cada vez mais computadores, telefones e outros dispositivos eletrônicos e, graças a essas coisas, quase não há razão para escrever algo usando as mãos.

Peguemos o português como exemplo. Com esse negócio de autopreenchimento e corretor ortográfico, de certa forma, ficamos preguiçosos. Com certeza, muitos que passam a maior parte do tempo em seus smartphones teriam dificuldades de escrever as palavras com a caneta. Isso porque o nosso alfabeto tem poucas letras e elas têm um traçado simples. Agora pegue esse exemplo e multiplique por muitas, mas muitas vezes mais, já que no Japão se usa por volta de 2.000 Kanjis, cada um tendo uma quantidade de traços e de forma!

Então, pode-se dizer que, atualmente, os japoneses reconhecem e leem Kanji. Eles também sabem digitar um Kanji... mas, quando se trata de escrever um monte de Kanjis à mão, espera-se que haja muitos erros e omissões. Veja três relatos interessantíssimos de japoneses sobre essa questão (retirado do Fórum Quora):

(1) “Particularmente depois que me formei na universidade, comecei a esquecer os Kanjis pois perdi a oportunidades de escrevê-los com minhas próprias mãos. Isso definitivamente é causado pelo uso do computador. Você pode escrever frases com Kanjis, graças ao poder do software Google IME, que sugere todos os Kanjis que correspondem ao Hiragana que você inseriu e, em seguida, tudo o que você precisa fazer é escolher um. Normalmente aprendemos Kanji na escola primária. Temos muitos exames de Kanji. (...) (Os Kanjis) são compostos por muitas linhas e símbolos. Não é nenhuma surpresa que pessoas comuns como eu tenham facilidade de esquecer como escrevê-los com precisão. Assim como aprender outro idioma, aprender Kanjis exige um pouco de energia, mesmo para o japonês.”

(2) “Especialmente escrever é realmente difícil para mim. Normalmente digitamos e os computadores convertem automaticamente os caracteres romanos em Kanji, de modo que não temos nem mesmo que nos lembrar deles. Tendemos dizer 「読めるけど書けない」, que significa "Sei ler, mas não sei escrever" por hábito e isso acontece com frequência comigo.”

(3) “O japonês é uma dessas línguas que você tem que escrever à mão todos os dias para preservar sua alfabetização. Como muitas pessoas hoje em dia fazem tudo em seus telefones e laptops, muitos profissionais às vezes têm dificuldade para escrever certos caracteres (Kanjis).”

Para se proteger da amnésia de caractere você pode usar como técnica de memorização de Kanjis também a escrita à mão, de forma constante. Aliás, na China, o Ministério da Educação vem tentando amenizar o problema da amnésia de caracteres através da promoção de aulas tradicionais de caligrafia. Os alunos mais jovens têm aulas todas as semanas especificamente de escrita de caracteres. Já aos mais velhos são oferecidas aulas opcionais e atividades pós-escolares…

Segundo este interessante artigo (clique aqui), “escrever com as mãos ajuda tanto crianças quanto adultos a aprenderem mais e memorizarem melhor”. Então, não abandone a escrita à mão de Kanjis!! Não use somente aplicativos! Recomendamos:

➩ Baixar e imprimir folhas para treinar a escrita de Kanjis. Clique aqui;

➩ Baixar o programa “Zkanji 0.10 (beta)”, que tem como uma das funções mostrar o traçado e ordem dos Kanjis, bem como palavras que contêm determinado Kanji. Clique aqui;

➩ Se não quiser gastar papel para treinar a escrita à mão, você pode adquirir uma “lousa mágica” (convencional ou LCD).

4. Há realmente necessidade de aprender Kanjis? Durante muito tempo a maioria das populações no mundo  se comunicou oralmente apenas.

De fato, podemos dizer que, de forma geral, o ensino da escrita voltado para a população em geral é algo recente na história humana. Até poucos séculos atrás, o saber ler e escrever era algo restrito a grupos específicos das sociedades. Durante muito tempo, então, a maioria das populações no mundo realmente viveu apenas da língua falada.

Contudo, eram outros tempos! As circunstâncias eram outras! Embora nos tempos atuais ainda seja possível se comunicar apenas oralmente, sem saber ler e escrever, isso acarreta um prejuízo enorme, já que o acesso à escrita já não é algo restrito como em tempos passados. Se antes saber ler e escrever era exceção, hoje as coisas se inverteram, isto é, espera-se que grande parte das populações saiba ler e escrever e se age em função disso. Logo, há uma infinidade de material escrito já produzido e constantemente produzido, ao qual fatalmente não teremos acesso se nos restringirmos a língua falada. Por isso, não queira fugir dos Kanjis!