Para nos comunicarmos usamos gestos, sinais, palavras... Você já se perguntou o que é uma “palavra”? Bem, de forma bem simples, nós a usamos para simbolizar algo que se refere ao homem e ao mundo em que ele vive, isto é, cada palavra corresponde a um conjunto de características comuns a uma classe de seres, objetos ou entidades abstratas, determinando como as coisas são. Por exemplo, quando usamos a palavra “gato” estamos nos referirmos ao “pequeno mamífero carnívoro, doméstico, da fam. dos felídeos (Felis catus), criado como animal de estimação” (Dicionário Aulete).
E, da mesma forma que os portugueses nomearam as coisas que estavam ao seu redor, assim também o fizeram os italianos, espanhóis, ingleses, japoneses e assim por diante. Entretanto, é claro que a palavra usada para nomear algo nem sempre (quase nunca) era a mesma. Os portugueses usaram a palavra “gato” para nomear o pequeno mamífero carnívoro, doméstico, da fam. dos felídeos (Felis catus), criado como animal de estimação. Já os ingleses usaram a palavra “cat”; os franceses, “chat”, os italianos “gatto”, os alemães “katze”. Veja que, embora as palavras sejam diferentes, o conceito, a ideia que elas transmitem é a mesma.
Bom, agora que sabemos, de uma forma bem simplista, o que é uma “palavra”, vamos ver como elas são agrupadas, isto é, quais são as classes de palavras da língua japonesa. Devido à fonética limitada, é muito importante que você as conheça, a fim de interpretar as coisas. Saber quais são as classes de palavras, como usá-las e identificá-las irá ajuda-lo muito em seus estudos.
Existem 11 classes de palavras que podem ser divididas em dois grupos:
I. Invariável, quando uma palavra não muda sua forma independentemente de como é usada.
II. Variável, quando uma palavra pode ter sua forma alterada, isto é, pode ser conjugada;
Observe o quadro a seguir:
As palavras podem ser, ainda, independentes ou dependentes. As palavras independentes podem ser entendidas por si mesmas (têm sentido próprio), ao passo que as dependentes necessitam de um contexto para serem compreendidas. As únicas palavras que são dependentes são as partículas e os verbos auxiliares.
Agora que já sabemos o que é uma “palavra” e como elas são divididas (classes de palavras), vamos ver o conceito de duas coisas muito importantes: radical e afixo. Observe:
1) RADICAL: parte da estrutura de uma palavra que contém seu significado básico;
2) AFIXO: é um elemento que pode ser ligado ao radical da palavra, formando assim uma nova palavra, chamada no português de palavra derivada. Dependendo do local onde se encontra, esse elemento pode ser chamado de prefixo, sufixo ou infixo (que não usaremos no japonês).
Feitas essas definições, um PREFIXO é quando o afixo é adicionado no início da palavra. Já o SUFIXO é quando o afixo é adicionado no final da palavra. Assim, numa palavra podemos ter:
NOTA: não esqueça de considerar possíveis mudanças sonoras que podem ocorrer ao se juntar os elementos citados.
Os prefixos são a chave para entender as muitas palavras em japonês. Se você não conseguir encontrar uma palavra em um dicionário, é provavelmente por que a palavra que você está procurando tem um prefixo ou um sufixo.
Um prefixo nunca vai mudar a classe de uma palavra. Também, podem ser usados com substantivos, verbos, adjetivos e palavras emprestadas. Já os sufixos são elementos que, acrescentados a uma palavra, podem mudar sua classe. Na língua japonesa são muito numerosos.
Diante do que vimos até aqui, podemos dizer que há quatro maneiras de formar (novas) palavras:
➩ PALAVRA INDEPENDENTE + PALAVRA INDEPENDENTE: duas palavras que possuem significado próprio colocadas juntas para formar uma nova palavra. Por exemplo, 「学校図書館」 (がっこうとしょかん), que significa “biblioteca de escola”, consiste da união das palavras independentes 「学校」 (escola) e 「図書館」 (biblioteca);
➩ PREFIXO + PALAVRA INDEPENDENTE: um prefixo é unido a uma palavra independente. Por exemplo, 「新世界」 (しんせかい), que significa “novo mundo”, consiste na palavra independente 「世界」 (mundo) antecedida do prefixo “novo” 「新」;
➩ PALAVRA INDEPENDENTE + SUFIXO: quando uma palavra é seguida por um sufixo, formando uma nova palavra. Por exemplo, 「造船所」 (ぞうせんしょ), que significa “estaleiro”, consiste na palavra independente 「造船」 (construção naval) seguida do sufixo “lugar” 「所」;
➩ PALAVRA DERIVADA: é quando uma palavra é criada, digamos, por meio do acréscimo de um elemento (geralmente um sufixo) puramente gramatical. Por exemplo, o substantivo 「くろ」 (黒) = cor negra é combinado com o sufixo formador de adjetivo 「し」, que devido a mudanças sonoras se tornou「い」, para formar o adjetivo 「くろい」 (黒い) = negro.
***
Devido ao princípio do menor esforço, as coisas tendem a ser simplificadas ao longo do tempo. Muitas palavras atuais são, na verdade, abreviações de termos mais longos. Em português temos, por exemplo, a palavra “você”. Veja sua evolução:
No caso da língua japonesa, temos, por exemplo, a palavra 「パソコン」 , que significa “PC” (computador), sendo ela uma abreviação de 「パソナルコンピューター」, baseado no termo inglês “Personal Computer”. Outro exemplo é a palavra 「小学」(しょうがく), que significa “escola primária”, sendo ela uma abreviação de 「小学校」(しょうがっこう). Perceba que o último Kanji da palavra 「学校」, isto é, 「校」 é retirado.
Além disso, palavras atuais podem ser produtos, não só de abreviações de palavras mais longas, mas também de orações inteiras. Neste caso, geralmente se procura manter o mínimo de elementos necessários que possibilite transmitir a mesma ideia da oração original. Por exemplo, a palavra 「立腹」(りっぷく), que significa “raiva”, “ofensa” se originou da oração 「腹が立つ」(はらがたつ), que significa “O estômago se levanta”. Veja que neste caso só se manteve os Kanjis, pois são suficientes para transmitir a mesma ideia, isto é, o Kanji 「腹」 significa “barriga”, estômago” e o Kanji 「立」 significa “levantar”. Agora, você deve estar se perguntando “Não era para ser 「腹立」? Por que se inverteu os Kanjis, ficando 「立腹」?
A resposta é simples e lógica. Como se desejou criar uma palavra “à moda chinesa”, segue-se a ordem padrão de como as palavras são dispostas numa oração chinesa. Ela é parecida com a da língua portuguesa, isto é, o verbo seguido do objeto. Por outro lado, o padrão japonês é invertido, é o objeto seguido do verbo. Um exemplo de palavra originada de uma oração seguindo o padrão japonês é 「腹切り」(はらきり), que significa “ritual de suicídio no qual se corta a barriga”. Ela se originou da redução da oração 「腹を切る」(はらをきる), que significa “Cortar a barriga”. Há a versão abreviada 「腹切」, lida da mesma forma, e também uma versão “à moda chinesa” que é 「切腹」(せっぷく), sendo esta considerada uma palavra formal.
Também, uma vez que uma nova palavra é criada, ao longo do tempo ela pode passar por mudanças sonoras, que visam tornar a pronúncia mais fácil. Por exemplo, a palavra 「まぶた」 que, significa “pálpebra”, originou-se da junção das palavras 「目」 (め) = olho e 「蓋」(ふた) = cobertura, tampa.
Entender as maneiras de formar (novas) palavras irá ajudá-lo a inferir significados de palavras desconhecidas, bem como a formar novas palavras, assim como fazemos em português. Por exemplo, você enxerga a diferença entre “ligar” e “DESligar” e entre “fazer” e “DESfazer”, não é mesmo? Instintivamente, pela exposição à língua portuguesa, você sabe que o prefixo “DES” passa a ideia de “anular (uma ação)”. Aliás, repare como os afixos permitem que façamos menos esforço, pois podemos diminuir o número de palavras que são necessárias para transmitir uma mensagem. Por exemplo, no verbo “DESligar”, o pequeno prefixo “DES” carrega a ideia de “anular a ação de”, como mencionamos. Uma pessoa poderia dizer, por exemplo, “Eu vou ‘anular o ato de ligar’ a TV, contudo, ela necessitaria de mais palavras. Podemos montar o seguinte quadro:
No nosso exemplo, podemos dizer que o prefixo “DES” substitui quatro palavras, formando uma nova palavra independente, isto é, “desligar”. Do ponto de vista japonês, entender essa possibilidade de economia que temos com o uso dos afixos é muito importante. Como cada Kanji tem seu significado, muitos deles são usados como afixos para outras palavras a fim de “eliminar” a necessidade do uso de mais palavras para transmitir um conceito.
Alguns podem afirmar que essa preferência pelo uso de afixos acaba aumentando desnecessariamente o número de palavras, causando dificuldades para os estudantes. Se já existe uma palavra própria para determinado conceito, mas o estudante não a conhece, ele vai tentar expressar esse conceito usando mais palavras, podendo soar estranho. Por exemplo, se um estudante de português não conhece o verbo “desligar”, ele vai tentar expressar essa ideia por meio das palavras que ele conhece, como “anular o ato de ligar”. Nós nativos da língua portuguesa entenderíamos isso, mas soaria estranho.
Entretanto, ainda que a preferência pelo uso de afixos possa aumentar o número de palavras próprias para diferentes ideias, se você aprender pelo menos os afixos mais comuns, isso já não será um problema! Por exemplo, se por ventura em português, você se deparar com a palavra “DESver”, mesmo ela não existindo (ainda), entenderá o seu significado, que é “anular o ato de ver”. Você entenderá a ideia por trás da nova palavra sem precisar do dicionário! Você entenderá pela presença de um afixo e em alguns casos, também pelo contexto. No caso do japonês, quando um Kanji é usado como afixo, geralmente têm a mesma pronúncia dentro do conjunto. Por exemplo, vamos filtrar no “Dicionário “Ganbarou Ze!” o Kanji 「毎」, que significa “todo”, “cada”, sendo usado no início das palavras (consulta feita em 10/05/2022). Temos:
Com a exposição constante ao idioma, seremos capazes de perceber essas ocorrências e deduzir significados. Mesmo que possa haver muitas palavras independentes, por meio dessas associações, poderemos aprender várias palavras de uma só vez.
Veja como esses conceitos podem tornar o seu aprendizado de vocabulário muito mais fácil e divertido, pois, dado o princípio do menor esforço, palavras mais complexas tendem a ser formadas a partir das palavras (ou afixos) mais simples e comuns, de acordo com as necessidades de comunicação de cada época. Por isso, ao se deparar com uma palavra complexa, procure desmembrá-la e tente entender a lógica de sua formação.
Há ferramentas chamadas “analisador morfológico” como o “Kuromoji” que podem auxiliar nessa tarefa. Vamos analisar, por exemplo, a palavra 「うんてんしゃ」(運転者), que significa “motorista”, “condutor”:
A análise nos mostra que a palavra 「運転者」 é produto da junção de dois elementos: do substantivo 「うんてん」(運転), que significa “operação”, “condução” e do sufixo 「しゃ」(者), que significa “pessoa”. Assim, quando nos depararmos com esse sufixo anexado a outra palavra, sabemos que ela significa “pessoa que faz [palavra]”. E se você já conhecer o significado da palavra anexada ao sufixo, será capaz de entender o conjunto sem consultar o dicionário, como se fosse uma “nova palavra”. Usamos as aspas, porque na verdade, não haveria nada de novo; apenas seriam elementos conhecidos combinados para transmitir outra ideia.
Vejamos mais um exemplo, agora analisando a palavra 「とうろくしゃすう」(登録者数). Essa palavra é interessante porque ainda não consta em dicionários baseados no popular projeto EDICT (a data da consulta é 20/10/2021):
Sendo assim, vamos considerar que ela seja uma “palavra recente”. Vamos usar o “Kagome”, outro analisador morfológico:
Temos que 「とうろくしゃすう」(登録者数) é a combinação de três elementos:
➩ Substantivo 「とうろく」(登録), que significa “registro”, “inscrição”;
➩ Sufixo 「しゃ」(者), que significa “pessoa”;
➩ Sufixo 「すう」(数), que significa “número”, “quantidade”.
Sendo assim, 「とうろくしゃすう」(登録者数), significa literalmente “quantidade de pessoas inscritas”, termo usado, por exemplo, para apontar o número de inscritos em um canal do Youtube.
Vamos analisar agora a longa palavra 「はっけっきゅうげんしょうしょう」(白血球減少症):
Temos que 「はっけっきゅうげんしょうしょう」(白血球減少症) é a combinação de três elementos:
➩ Substantivo 「はっけっきゅう」(白血球), que significa “leucócito”;
➩ Substantivo 「げんしょう」(減少), que significa “redução”;
➩ Sufixo 「しょう」(症), que significa “doença”.
Então, 「はっけっきゅうげんしょうしょう」(白血球減少症) literalmente significa "doença da redução de leucócitos", o que chamamos em português de "leucopenia".
Aliás, há quem reclame do fato de os japoneses usarem elementos chineses para a formação de palavras japonesas. Entretanto, esse recurso – usar elementos de outras línguas na formação de palavras – NÃO é exclusividade da língua japonesa. No português, por exemplo, usa-se muitos elementos gregos e latinos para a formação de palavras! A própria palavra "leucopenia" é toda baseada no grego. Ela se origina de "LEUKOS" (branco) e "PENIA" (pobreza, escassez).
Você perceberá que fazer esse tipo de análise e desmembramento facilitará a memorização, pois muito provavelmente sempre se deparará com os mesmos elementos, apenas combinados com outros. Como apontam alguns estudos, o cérebro precisa ser exposto em média 20 vezes a uma palavra até que haja a consolidação na memória e a pessoa passe a utilizá-la. E, se analisarmos bem, é assim que aprendemos nosso idioma materno e novas palavras: pelo uso constante (repetição) das mesmas coisas e buscando, seja instintivamente, seja de forma consciente, uma relação (associação) entre essas coisas. Aliás, uma ferramenta que pode auxiliar no apontamento de elementos comuns (Kanjis somente) em diferentes palavras é o site “Suiren”:
Outro ponto importante é que há ideias que são transmitidas por meio da anexação de um sufixo e não por palavras ou partículas (tópico 6). Pode ser um sufixo anexado a uma palavra ou mesmo a uma forma verbal. Por exemplo, em português na oração “Trabalhei na empresa por 6 meses”, a ideia de duração da ação é indicada pela preposição “por”, que aqui significa “ao longo de”. Em japonês tal ideia é indicada pelo sufixo 「かん」 (間). Veja:
6ヶ月 = Período de 6 meses → 6ヶ月間 = Por (ao longo de) um período de 6 meses.
NOTA: o caractere 「ヶ」 se trata de uma simplificação do Kanji 「箇」, um contador (tópico 4) que pode ser lido 「か」,「こ」 ou 「が」.
***
Vimos o que é uma “palavra”, quais são as classes de palavras e o que é radical e afixo. Que tal começarmos a ver algumas características dos substantivos?
Numa definição mais detalhada, de acordo com o dicionário Houaiss, “substantivo” é a “classe de palavras com que se denominam os seres, animados ou inanimados, concretos ou abstratos, os estados, as qualidades, as ações.” Geralmente, os substantivos são classe de palavra mais fácil de aprender quando se está estudando uma língua estrangeira. A parte complicada é saber o que é considerado um substantivo em outro idioma, ou seja, será mais difícil aprendê-los em japonês, porque não será possível estabelecer uma relação cognata, como você faria se estivesse estudando espanhol ou inglês, por exemplo. No entanto, se você também estuda inglês, as coisas devem se tornar mais fáceis já que há uma abundância de palavras emprestadas no japonês. Vejamos como os substantivos são divididos na língua japonesa:
1. Substantivo próprio: denomina um ser único, específico, diferenciando-o do restante do grupo. Aqui se incluem nomes de lugares e pessoas. Vejamos alguns dos mais comuns: II. Substantivo comum: designa ou nomeia um grupo geral de objetos, animais, plantas ou quaisquer outros seres vivos ou não, os quais possuem as mesmas características.
III. Numeral: expressa quantidades, frações, múltiplos, ordem;
IV. Substantivo formal: tem significado variável de acordo com o contexto. Por exemplo, o substantivo 「わけ」 (訳), em si significa “razão”. Porém, em conversas adquire quase que exclusivamente significado de “experiência”, “conhecimento”, indicando que o falante tem conhecimento e/ou experiência de algo que o ouvinte não tem acesso. É usado em situações em que se deseja convencer alguém, argumentar e contar histórias.
A forma plural é pouco relevante, porque na língua japonesa os substantivos podem ser tanto singular quanto plural dependendo do contexto. Entretanto, há alguns meios para se expressar “plural”, embora infelizmente não possam ser aplicados a todos os casos, indiscriminadamente.
O primeiro meio que veremos é expressar uma noção de conjunto através do sufixo 「たち」(達), praticamente restrito à pessoas e animais:
子供 (こども) = criança → 子供達 (こどもたち) = crianças
犬 (いぬ) = cachorro → 犬達 (いぬたち) = cachorros
男 (おとこ) = homem → 男達 (おとこたち) = homens
Outro uso comum de 「たち」 é adicioná-lo ao nome de alguém para indicar essa pessoa juntamente com o seu grupo:
セイヤ達 (セイヤたち) = Seiya e os demais (enfatizando Seiya, mas considerando os outros Cavaleiros de bronze que o acompanham).
Em linhas gerais, essa forma de pluralização não é usada para substantivos materiais (leite, manteiga, etc.), nome próprio (Japão, América, etc.), ou substantivos abstratos (bondade, paz, etc.). É claro: conte sempre com as exceções.
Além de 「たち」(達), na linguagem casual também é possível usar o sufixo 「ら」(等). Entretanto, sua utilização é muito restrita e depende da sentença e do falante. O uso mais comum para 「ら」 é após os pronomes “Eu”, “Ele” ou palavras como 「こども」 ou 「おや」 (em algumas regiões).
Outro sufixo que dá noção de pluralidade é 「がた」(方). Ele pode ser usado como pluralizador honorífico para o pronome 「あなた」 e também pode ser anexado a um número bem restrito de substantivos, como 「先生」.
Algumas palavras nativas podem ser pluralizadas ao serem repetidas através do uso do sinal 「々」. Perceba que a palavra repetida tem seu primeiro fonema vozeado para tornar a pronúncia mais fluente:
花々(はなばな) = flores
人々(ひとびと)= pessoas
所々(ところどころ)= lugares
Estas palavras indicam noção de plural, sem número definido.
Com relação ao “gênero”, que em linguística refere-se à distinção de palavras a partir de contrastes como masculino/feminino (por exemplo, em português temos “A mesa”, “O lápis”, etc.), em japonês não há esse tipo de distinção; “a mesa” e “o lápis” são iguais em termos gramaticais. Em outras palavras, os japoneses diriam tão somente “lápis” ou “mesa”.
Com isso, convém mencionar também, que na língua japonesa não há artigo definido ou indefinido. A palavra “estudante” 「がくせい」 (学生), por exemplo, pode tanto se referir a um estudante do sexo masculino como do sexo feminino. De fato, 「ねこ」 (猫) em si significa gato ou gata, mas podemos fazer uma “gambiarra”, isto é, usar algum elemento que nos possibilite especificar o gênero. Dentre as possibilidades, para animais, podemos usar os substantivos 「おす」 (雄) para macho ou 「めす」 (雌) para fêmea:
おす(の)ねこ = gato
めす(の)ねこ = gata
É claro que a necessidade de se usar outros elementos para indicar gênero não se aplica a todos os casos. Como em todas as línguas, há substantivos específicos, como homem ou mulher, irmão ou irmã, etc.
Aliás, veja como é possível modificar um substantivo por meio de outro, através da partícula 「の」. Em muitos métodos, ela é chamada de partícula de posse, mas essa nomenclatura pode gerar confusão. Na verdade, dentre outras funções, 「の」 pode transformar um substantivo em atributo, isto é, um qualitativo que se acrescenta ao significado de um substantivo, sem alterá-lo. Observe o quadro a seguir:
No exemplo acima, a partícula 「の」 permitiu que transformássemos o substantivo 「友達」 em um atributo do substantivo 「車」, isto é, não é de carros em geral que estamos falando, mas sim um carro cujo atributo é “do amigo”. Perceba que, da mesma forma que os adjetivos ou verbos usados como adjetivos, o termo que descreve virá sempre antes. Vejamos mais exemplos:
まことの本。= Livro do Makoto.
大学の住所。= Endereço da faculdade.
鋼の魂。= Alma de aço.
図書館の近く。= Perto da biblioteca (Lit. Proximidade da biblioteca).
課長のあきら。= Akira, chefe da seção.
No terceiro, quarto e quinto exemplos, vemos claramente por que chamar 「の」 de partícula de posse pode gerar confusão, afinal “alma” não é posse de “aço”, mas “aço” é atributo de “alma”, assim como “biblioteca” é atributo de “proximidade” e “chefe da seção” é atributo de “Akira” (o que seria para nós neste caso um aposto).
Também pode haver uma sequência de substantivos colocados juntos, sem que estejam destinados a modificar o outro. Por exemplo, em expressões como "Internacional Educação Centro”, temos apenas uma sequência de substantivos sem quaisquer modificações gramaticais entre eles. Não é um "Centro de Educação, que é Internacional" ou um "Centro para Educação Internacional", etc., é apenas "Internacional Educação Centro”. Em japonês, pode-se expressar isso simplesmente como 「国際教育センタ」 (ou 「センター」). Você verá esse encadeamento de substantivos em muitas combinações. Às vezes, uma determinada combinação é tão comumente usada que praticamente se torna uma palavra separada, sendo até listada como uma entrada em alguns dicionários. Alguns exemplos incluem: 「登場人物」, 「立入禁止」 ou 「通勤手当」.
Por fim, vamos abordar rapidamente o que é um PRONOME, que funcionam de forma semelhante ao substantivo. Segundo o Dicionário Michaelis é a “palavra usada em lugar de um substantivo ou nome para designar pessoas ou coisas antes nomeadas, podendo indicar-lhe a pessoa gramatical”.
Os pronomes a seguir são usados de modo geral pelos iniciantes, e existem variações que não serão abordados neste livro:
1ª PESSOA DO SINGULAR: EU
あたし 「私」: variação de 「わたし」 usado somente por para mulheres;
ぼく 「僕」: coloquial, usado geralmente por homens;
おれ 「俺」: forma egocêntrica.
2ª PESSOA DO SINGULAR: TU
あなた 「貴方」: forma geral neutra;
きみ 「君」: usado para parentes e amigos próximos;
おまえ 「お前」: usado para alguém em nível inferior.
3ª PESSOA DO SINGULAR: ELE, ELA
かれ 「彼」: forma geral masculina;
かのじょ 「彼女」: forma geral feminina.
1ª PESSOA DO PLURAL: NÓS
わたしたち 「私たち」: forma geral neutra;
ぼくたち 「僕たち」: coloquial, usado geralmente por homens;
おれたち 「俺たち」: forma egocêntrica.
2ª PESSOA DO PLURAL: VÓS
あなたたち 「彼方たち」: forma geral neutra;
おまえら 「お前ら」: usado para pessoas em nível inferior;
あなたら 「貴方等」: forma informal;
あなたがた 「貴方方」: forma mais polida.
3ª PESSOA DO PLURAL: ELES, ELAS
かれら 「彼ら」(ou「かれたち」): forma plural masculina;
かのじょら 「彼女ら」 (ou 「かのじょたち」): forma plural feminina.
Aliás, é oportuno mencionar aqui que os japoneses evitam usar o nome da pessoa a quem estão se dirigindo quando possível, pois, para eles, chamar alguém pelo nome soa bastante íntimo. Por isso, tal prática se restringe a amigos, colegas, namorados(as) e familiares. Em outras situações, os japoneses se direcionam pelo título, como “chefe” “presidente”, etc. sem usar nomes. Quando isso não é possível, usam o nome (ou sobrenome) da pessoa com o sufixo apropriado.
Em japonês, os sufixos de nomes são usados para expressar a honra, respeito ou amizade do falante com relação ao outro e, por isso, nunca devem ser usados para se referir a si mesmo. São de gênero neutro (podem ser usados para homens e mulheres), embora alguns sejam mais usados para homens ou para mulheres. Títulos ou profissões também podem ser usados como um sufixo, ou ainda, é possível utilizar a profissão da pessoa juntamente com um sufixo de nome. Omitir um sufixo soará muito amigável ou muito ofensivo, dependendo da situação. Vejamos alguns dos sufixos de nomes mais conhecidos:
➩ さん: serve como uma marca de respeito. Uma pessoa pode ser tratada com este sufixo se o falante não a conhece bem e não quer ser rude, ou quando o indivíduo tem uma posição social mais elevada do que o falante. Praticamente ninguém se sentirá ofendido com esse sufixo. Meninas começam a ser tratadas com 「さん」 ao entrarem no colegial, e os meninos, ao saírem. Obviamente, as pessoas podem ter experiências diferentes, mas estamos falando de uma regra de ouro;
➩ さま (様): é usado como um termo educado de se dirigir a alguém visivelmente mais velho ou de um status mais elevado que o falante. Por isso, balconistas, garçons e funcionários de outros serviços tratarão quase todo mundo com este sufixo – provavelmente como 「おきゃくさま」 (お客様), isto é, “Sr(a). visitante”. 「おさま」 também é usado como um título independente e é muito educado. Demonstra que a pessoa a quem o falante se dirige o supera em larga margem e é muito mais velho, ou o falante está em uma situação muito formal – ou talvez não saiba o nome e precisa ser educado. Também é usado quando se refere a 「かみさま」 (神様) (「神」 = deus). Outro bom exemplo é quando uma empregada doméstica chama seu mestre de 「たろうさま」 (太郎様);
NOTA: 「たろう」 (太郎) é usado como um nome genérico japonês.
➩ くん (君): geralmente é usado para crianças do sexo masculino. Também pode ser usado quando se dirige a um homem de menor status. Meninos do colegial são tratados com este sufixo, mas também pode ser usado por um homem mais velho ao se dirigir a um homem mais jovem, ou entre amigos e iguais. Por isso, um chefe pode se dirigir a um funcionário com 「くん」, mas o empregado irá tratar o chefe com 「かちょう」 (課長) ou talvez 「さん」 ou 「さま」, dependendo da situação.
➩ ちゃん: é uma versão informal de 「さん」, ainda bastante comum no Japão e geralmente considerado aceitável. Comumente é usado para tratar crianças e familiares do sexo feminino. Crianças com menos de 10 anos de idade são tratadas com este sufixo, mas continua a ser usado como um termo carinhoso, especialmente para as meninas, na idade adulta. Os pais costumam sempre tratar suas filhas com 「ちゃん」 e seus filhos com 「くん」. Adultos vão usar 「ちゃん」 como um termo carinhoso para as mulheres com quem eles estão próximos e homens pervertidos sexualmente também vão usá-lo ao se dirigir a garçonetes e outras mulheres jovens. 「ちゃん」 também é usado com animais de estimação e animais em geral. Também é usado como uma forma de descrever alguém por quem se tem sentimentos fortes, como uma namorada;
É comum que mulheres jovens, porém mais velhas ou mais experientes do que o falante, sejam tratadas por "irmã mais velha" [「おねえさん」 (お姉さん)], principalmente no círculo familiar Da mesma forma, “irmão mais velho” [「おにさん」 (お兄さん)] é usado para homens.
Um homem que pertença a uma geração anterior a do falante pode ser tratado como “tio” [「おじさん」 (伯父さん)], e quando se trata de uma mulher,"tia" [「おばさん」 (伯母さん)]. Note que "tia" não é aceitável para muitas mulheres jovens, porque elas sentem que isso implica uma figura bastante matrona. Os termos "pai" [「おとうさん」 (お父さん)] e "mãe" [「おかあさん」 (お母さん)] são raramente usados e os homens e mulheres desta geração são geralmente tratados como “tio” e “tia”. No entanto, é comum tratar pessoas idosas como “avô” [「おじいさん」 (お祖父さん)] e “avó” [「おばあさん」 (お祖母さん)].
Alguns termos são usados ainda para as mulheres: 「おじょうさん」 (お嬢さん), que seria equivalente a “senhorita” (「じょう」 (嬢) era utilizado como título para solteiras e foi substituído por 「さん」), sendo que as pessoas mais velhas ainda o usam. 「おねえちゃん」 (お姉ちゃん), também pode significar “senhorita”, mas é muito informal, soando praticamente como "menina". Entretanto, é comum que os homens mais velhos se dirijam a uma garçonete com 「おねえちゃん」. O título e sufixo 「ふじん」 (夫人) costumava ser usado para mulheres casadas, mas também tem sido substituído por 「さん」, exceto para pessoas mais velhas. 「おじょうさん」, uma vez que possui 「さん」é aceitável para se direcionar a uma mulher adulta. 「おねえちゃん」 é aceitável como forma de tratamento para uma menina (menor de 10 anos).
Aprender a usar títulos corretamente depende do desenvolvimento de uma sensibilidade para o status e como ele é influenciado pelo sexo, idade, emprego, situação, e assim por diante. Esta sensibilidade é de valor inestimável para lidar com o povo japonês, desde assentos a negociações comerciais. As pessoas mais jovens são menos preocupadas com esses detalhes e são suscetíveis a serem casuais, enquanto pessoas mais velhas e pessoas tradicionais vão estar mais preocupadas com isso. Além disso, note que se você se aventurar muito além do padrão 「さん」, 「さま」, 「くん」e 「ちゃん」, correrá o risco de ofender alguém usando os sufixos/títulos errados.
NOTAS:
1. É muito comum para os japoneses a utilizar a primeira sílaba do nome de alguém e combiná-lo com um sufixo. Por exemplo, "Mi-chan" pode ser a forma abreviada de Miki, Michiko, Miko, Misa, Minato, Mickey, Minnie, etc;
2. Sufixos também podem ser combinados de uma forma mais ou menos lúdica, como "Chama-" (chan + sama), como em "OBAA-Chama", que é ao mesmo tempo afetuoso e respeitoso.
A complicação adicional é que em japonês, você deve se referir aos membros da família de outras pessoas mais educadamente do que se estivesse falando de alguém da própria família. Observe alguns exemplos:
NOTA: outra palavra para “esposa” é 「かない」 (家内), mas é considerada politicamente incorreta, porque os Kanjis utilizados são "casa" e "dentro", o que implica que as mulheres fiquem dentro de casa.