Embora haja muitos pontos gramaticais difíceis que um estudante deve dominar, as partículas merecem uma atenção especial. Partículas são um ou mais caracteres do alfabeto Hiragana que são anexados sempre ao final de uma palavra basicamente para definir a função gramatical desta palavra dentro da sentença. Uma pessoa pode ter um grande conhecimento de vocabulário e de conjugação verbal, mas se não souber utilizar corretamente as partículas, ela não conseguirá construir sentenças como espera, porque o significado da oração pode ter um sentido completamente diferente. Por exemplo, a sentença “Come peixe.” pode transformar-se em “O peixe come”, por causa da mudança de uma partícula, apenas.
Note que sublinhamos o “basicamente” no parágrafo anterior, porque é claro que as partículas não se limitam a mostrar a função sintática de um elemento dentro da oração, podendo até desempenhar a função de uma “palavra” (por exemplo, funcionar como um advérbio) dependendo do contexto. Estima-se que haja cerca de 200 usos relacionados às partículas, aqui incluindo usos e diferentes tipos de partícula que, para fins meramente didáticos dividiremos em três grupos:
A. Partícula Simples: são as partículas de “per si”, isto é, sem nenhum complemento.
B. Partícula Dupla: é quando duas partículas simples são usadas em conjunto;
C. Partícula Composta: é um elemento formado por pelo menos uma partícula simples em conjunto com outros termos que, quando traduzido para o português, tem geralmente sentido de uma só palavra (uma preposição, em muitos casos). Pode ser formada por “Partícula Simples + verbo” e “Substantivo + Partícula Simples”.
Como já mencionamos, a Base Rentaikei é utilizada para conectar elementos invariáveis, como substantivos e partículas. Contudo, no Japonês Moderno parece haver a “regra prática” de anexar partículas somente a substantivos ou a elementos que se comportem como substantivos. Há exceções como a partícula 「と」e 「か」.
Feita essa rápida introdução sobre as partículas, vamos comer a estudar as mais básicas. A primeira partícula que aprenderemos é a “partícula de objeto direto”, porque é uma partícula bem simples. Em gramática, “objeto” se refere à coisa física ou abstrata para a qual se dirige a ação descrita por um verbo. Consideremos a sentença em português:
COMER A MAÇÃ.
Nesta oração, a ação expressa pelo verbo “comer” é direcionada a um objeto, isto é, a “maçã”. Repare como este elemento serve como complemento do significado do verbo.
Vamos fazer uma associação: imagine que temos uma caixa e uma bola; a bola representa o verbo e a sua embalagem (caixa) – para onde se direciona esta bola –, o objeto. Assim temos: Na língua portuguesa, em linhas gerais, um objeto pode ser indireto, quando o verbo necessita de uma preposição (Ir a + o teatro) ou direto, quando nenhuma preposição é necessária entre o verbo e seu objeto (Comer _ + a maçã). Usemos estes conceitos para nos ajudar a entender a partícula 「を」, que é anexada ao final de uma palavra para indicar que esta é o objeto direto do verbo. Este caractere não é utilizado, em princípio, em nenhum outro lugar. É por isso que o Katakana equivalente 「ヲ」 raramente é usado, uma vez que as partículas são sempre escritas em Hiragana. O caractere 「を」, embora tecnicamente seja pronunciado / uo /, soa / o / na conversação. A seguir veja um exemplo da partícula de objeto direto em ação:
日本語を教える。= Ensinar japonês.
Veja que no exemplo, a ação “ensinar” recai sobre o substantivo “japonês”. De início, você pode pensar na pergunta “O QUE [verbo]?”. Por exemplo, em 「日本語を教える」, “O QUE ensinar?” A resposta será “japonês”.
Quando se usa 「する」 com um substantivo, a partícula 「を」 é opcional e o conjunto [substantivo + する] pode ser tratado como se fosse um verbo:
メールアドレスを登録する。= Registrar o endereço de e-mail.
Vimos que a base Ren’youkei dos verbos pode ser usada como um substantivo regular. Contudo, observe a frase a seguir:
飲みをする。= Beber (?)
Embora, a sentença faça sentido, ninguém fala desse jeito. Portanto, não use este recurso de modo indiscriminado.
O próximo uso é mais uma característica de certos verbos do que da partícula em si. 「を」 pode ser usada para indicar o objeto indireto (isso mesmo!!) de certos verbos que, em português, são intransitivos (lição 17). Assim:
町を歩く。= Caminhar pela cidade.
高速道路を走る。= Correr pela autoestrada.
道を行く。= Ir pelo caminho.
Perceba que mesmo em português poderíamos chegar a esse sentido. Por exemplo, se traduzíssemos 「道を行く」 ao pé da letra, isto é, “ir o caminho”, isso pode dar a entender que se vai por todo o caminho.
Bem, a maioria dos verbos tem um objeto direto, mas esta ação posta em prática (verbo + objeto direto) pode ter também um destinatário. Considere a associação que fizemos no tópico anterior, na qual a bola representa um verbo e a caixa, o objeto direto. Agora, temos um pacote que pode ter um destinatário ou não. Bem, se levarmos em conta que queremos dá-lo de presente a alguém, é aqui que a partícula 「に」 entra em ação, pois ela pode especificar o destino desse pacote, isto é, de uma ação (verbo + objeto direto). Como forma de memorização, neste uso de 「に」, você pode considerar que está implícito o sentido de “ter como alvo [algo]”. Para exemplificar, observe o próximo exemplo:
生徒に日本語を教える。= Ensinar japonês ao aluno. (Ensinar japonês tendo como alvo o aluno)Neste exemplo, indica-se que o aluno é o alvo da ação “ensinar japonês”. Enfatizamos uma ação como sendo o verbo e seu objeto direto, mas é claro que podemos omitir o objeto, se ele estiver subentendido pelo contexto:
生徒に教える。= Ensinar (japonês) ao aluno.
Por causa dessa função, a partícula 「に」 é comumente chamada de “partícula de objeto indireto”, ainda que essa nomenclatura possa causar confusão, se considerarmos alguns de seus empregos. Por hora, vejamo-la em ação marcando o elemento que, para nós, seria o objeto indireto:
日本に行く。= Ir ao Japão. (ir tendo como alvo o Japão)
家に帰る。= Voltar à casa. (Voltar tendo como alvo a casa)
部屋にくる。= Vir ao quarto. (Vir tendo como alvo o quarto)
彼女をデートに誘う。= Chamar ela para um encontro (Chamar ela tendo como alvo o encontro).
Outra função da partícula 「に」 é marcar o objeto (direto ou indireto) de um verbo intransitivo. Isso parece estranho já que em português os verbos intransitivos não necessitam de objeto, mas por enquanto, observe o próximo exemplo:
私に見える。= Ser visto por mim. (objeto indireto)
友達に会う。= Encontrar o amigo. (objeto direto)
Falando especificamente da segunda oração, se pensássemos em português primeiro, certamente construiríamos 「友達を会う」. Entretanto, perceba que, diferentemente do português, em que “encontrar” requer um objeto direto, em japonês, isso não acontece, pois 「会う」 é um verbo intransitivo e, por isso, a partícula 「に」 é usada. Vamos consultar o “Jisho.org” para confirmar: Outro exemplo em que vemos essa diferença entre os idiomas é 「彼にキスする。」 (Beijá-lo). Explicaremos isso mais detalhadamente quando tratarmos sobre a transitividade dos verbos.
Vimos que a partícula 「に」 marca o destino de uma ação. Entretanto, ela pode também aparecer fazendo o inverso, isto é, marcando a origem de algo:
先生に日本語を覚える。= Aprender japonês do professor.
Nesta oração expressamos que “o professor” é a fonte do ensinamento de japonês. Todavia, essa função que denota origem de algo, é comumente exercida pela partícula 「から」:
先生から日本語を覚える。= Aprender japonês do professor.
アメリカから来る。 = Vir da América.
A partícula 「から」 é frequentemente colocada juntamente com 「まで」, que significa "até":
宿題を今日から明日までする。= Fazer lição de casa de hoje até amanhã.
Uma partícula semelhante a 「に」 é 「へ」. Primeiramente um detalhe: 「へ」 é normalmente pronunciado /he/, mas quando está sendo usado como partícula, é sempre pronunciado como /e/ (え). A diferença principal entre as partículas 「に」 e 「へ」 é que a partícula 「に」 vai a um objetivo que é o objetivo final que se deseja alcançar, seja físico ou abstrato. Por outro lado, a partícula 「へ」 é usada pra expressar o fato de que alguém está indo em direção ao objetivo. Como resultado, é usada apenas em verbos de movimento direcionais. Ela também não garante se o objetivo apontado é o destino final, mas apenas que alguém está indo naquela direção. Em outras palavras, a partícula 「に」 foca o destino final, enquanto a partícula 「へ」 é muito vaga e não deixa claro aonde se deseja chegar como objetivo final. Por exemplo, se decidirmos trocar 「に」 por 「へ」 nos primeiros exemplos do tópico anterior, o sentido muda sutilmente:
日本へ行く。= Ir em direção ao Japão.
家へ帰る。= Voltar em direção a casa.
部屋へくる。= Vir em direção ao quarto.
Note que não podemos usar a partícula 「へ」 com verbos que não têm direção física. Por exemplo, a sentença seguinte está incorreta:
「医者へなる。」 é a versão gramaticalmente incorreta de 「医者になる。」
Mas isso não quer dizer que a partícula 「へ」 não possa ir em direção a algum conceito abstrato. De fato, por causa de seu significado vago, pode ser usada também para se falar sobre ir em direção a expectativas ou metas futuras.
勝ちへ向かう。= Ir em direção à vitória.
Finalmente, vimos no tópico anterior que é possível usar a base Ren’youkei dos verbos como alvo de um verbo de movimento por meio da partícula 「に」. Isso implica que você está indo ou vindo com o propósito de fazer algo. Se usássemos a partícula 「へ」 isso soaria que você está indo ou vindo em direção a algo literalmente, o que é meio estranho:
遊びへ来る。= Vir (em direção) a brincar.
Muito bem, até aqui tudo muito simples, não é mesmo? Entretanto, você reparou o quanto as frases de exemplo estão ambíguas? Lembre-se que quando tratamos dos verbos, para ilustrar a escassez de tempos e modos verbais na língua japonesa, pedimos para você fazer de conta que no português também fosse assim (seria uma maravilha, não é mesmo?), ou seja, imaginasse que “na língua portuguesa há só dois tempos verbais básicos e que os verbos não flexionam de acordo com o sujeito”. E propusemos o seguinte quadro:Agora, pense e responda:
“Se na língua portuguesa, os verbos fossem conjugados dessa maneira, como saberíamos de quem se está falando, se todas as flexões são iguais, independentemente do sujeito?”
Bem, a primeira resposta que deve ter vindo a sua mente é “com base no sujeito”, ou seja, se estivesse escrito “Os cachorros beber água”, é de cachorros que estamos falando.
Veja como numa língua em que os verbos não são flexionados de acordo com o sujeito, o sujeito é de extrema importância para saber do que se está falando. Talvez por isso, por exemplo, é que na língua inglesa formal toda oração deve ter um sujeito explícito, PORÉM, em japonês é diferente: mesmo os verbos não flexionando de acordo com o sujeito, não é obrigatório ter um sujeito explicito. Pode-se dizer tão somente “Beber o suco” e tudo está certo. Entretanto, como saberíamos do que estão falando, já que isso soa muito vago? É aqui que entra uma segunda resposta possível...
Bem, na língua japonesa existem várias maneiras e todas elas envolvem fazer suposições a partir do contexto. Por exemplo, se de repente eu perguntasse a você:
EU: ジュースを飲む?
Você suporia que estou perguntando se VOCÊ beberá o suco, porque não estou falando de outra pessoa. Então, você poderia responder:
VOCÊ: ジュースを飲む。
Com isso, eu iria supor que você está falando DE SI MESMO, porque eu acabei de lhe fazer uma pergunta e agora sei que você beberá o suco. Da mesma forma, se por acaso estivéssemos falando de Midori quando eu lhe fiz a pergunta, você provavelmente pensaria que eu estivesse perguntando se MIDORI beberá o suco, porque é dela que nós estávamos falando.
Se tomarmos uma língua como o japonês, na qual o assunto é tão fortemente baseado no contexto, precisamos ser capazes de identificar algumas coisas. Enquanto fazer suposições a partir do contexto funcionaria no caso de perguntas e respostas simples, algo mais complicado, em breve se tornaria uma bagunça, já que todo mundo começaria a perder a noção de quem ou do que estão falando. Portanto, temos de ser capazes de dizer ao ouvinte quando queremos mudar o assunto atual, alertando-o mais ou menos assim: "Ei, eu vou falar sobre isso agora. Portanto, não suponha que eu ainda esteja falando sobre a coisa antiga”. Isto é especialmente importante quando se inicia uma nova conversa e você precisa dizer ao ouvinte do que você está falando. Isto é o que a partícula 「は」 faz; introduz um tópico diferente do atual, delimitando o restante da sentença a este novo tópico. Por essa razão, é também referida como a "partícula de tópico". Você pode pensar que 「は」 tem o sentido de “falando de (assunto)”.
Vamos retomar o exemplo inicial no qual eu quis perguntar se você beberá o suco. O diálogo seria assim:
EU: ジュースを飲む? = VOCÊ beberá o suco?
VOCÊ: ジュースを飲む。= EU beberei o suco.
Agora, e se eu quisesse perguntar se Midori beberá o suco? Neste caso, eu preciso usar a partícula 「は」 para indicar que eu estou falando sobre “Midori”, porque do contrário, você assumiria que eu estou falando de você.
EU: みどりはジュースを飲む? = MIDORI beberá o suco? (Falando de “Midori”, ela beberá o suco?)
VOCÊ: ジュースを飲む。= MIDORI beberá o suco.
Observe como, uma vez que eu que eu estabeleci “Midori” como o novo tópico, a conversa está limitada a ela e, por isso, podemos continuar a assumir que estamos falando sobre “Midori” até que alguém altere o tópico novamente.
A noção de delimitação da sentença é muito importante. Suponhamos que você costuma ir a uma festa que aconteça todos os sábados à noite. Em determinada semana, ao final da festa, chega ao anfitrião e diz:
今晩はパーティーを楽しむ。= Está noite aprecio a festa.
Você correrá o risco de fazê-lo pensar “puxa, e as outras, você não apreciou?”, já que a sentença está limitada a “esta noite”. Perceba que até em português isso soaria ambíguo.
Mas infelizmente as coisas não são tão simples assim. Existe a partícula 「が」, que é extremamente confundida com a partícula 「は」. Existem muitos artigos (e até livros inteiros!) que buscam apontar as diferenças entre essas duas partículas e esse assunto parece não ter fim. Contudo, vamos tentar clarificar as coisas. Primeiramente, dê uma olhada nos exemplos abaixo:
A) みどりは学生。= Midori é estudante.
B) みどりが学生。= Midori é estudante.
Devido à falta de contexto, bem tecnicamente, a tradução mais próxima para ambas as sentenças pode ser “Midori é estudante”. Porém, elas parecem iguais, somente, por que não é possível expressar em português a informação, o contexto tão claramente como é possível algumas vezes em japonês. A lição mais importante aqui é ter em mente a diferença entre falar sobre algo e especificar algo. Na afirmação (A), uma vez que 「みどり」 é o assunto da frase, a sentença significa: "Falando sobre ‘Midori’, Midori é uma estudante". Já na sentença (B), 「みどり」 está especificando quem é o “estudante” 「学生」. Se quisermos saber quem é o “estudante”, a partícula 「が」 nos informa: o estudante é “Midori” 「みどり」.
Imagine a oração em português “Falando de praia, a água está imprópria para banho”, no qual podemos dizer que “praia” é o tópico. O que será dito a seguir está girando em torno de “praia”, mas não necessariamente precisamos falar especificamente de “praia” (no exemplo, seguimos o tópico “praia” afirmando que a “água” que está imprópria para banho). Sendo assim, se em português precisássemos usar a partícula de tópico, ficaria assim:
Praia は, a água está imprópria para banho.
Veja como o tópico nos dá uma amplitude maior, pois, de novo, não necessariamente precisamos falar dele especificamente, mas podemos estender nossa afirmação a algo relacionado a ele ou mesmo subentendido pelo contexto. Por outro lado, a partícula 「が」 é muito limitadora, específica, restrita ao elemento que ela segue. Por essa razão, se tivéssemos Praia が, o que fosse dito a seguir se aplicaria ao elemento “praia” especificamente (e somente a ele). Poderíamos afirmar, por exemplo, que a praia é bonita, a praia está cheia, etc. e só. Nada de afirmar outra coisa que não seja especificamente se referindo ao elemento “praia” (como seria possível com a partícula 「は」, com a qual falamos sobre “praia”, mas afirmamos algo sobre “água”).
Poderíamos representar a diferença da seguinte forma:Vamos ver os exemplos a seguir referentes às aplicações da partícula 「は」:
(1) ひろしは来る。= Falando de Hiroshi, ele (Hiroshi) virá (afirmação se referindo ao próprio Hiroshi).
(2) ひろしは妹が来る。= Falando de Hiroshi, a irmã mais nova (dele) virá (afirmação se referindo a algo dentro do universo de Hiroshi).
(3) ひろしは明日。= Falando de Hiroshi, o exame será amanhã (afirmação se referindo a algo subentendido pelo contexto, ou seja, “o exame” de Hiroshi).
O exemplo (3) mostra quão genérico o assunto de uma oração pode realmente ser. Este pode estar se referindo a qualquer ação ou objeto de qualquer lugar, incluindo até mesmo outras sentenças. Por exemplo, na última frase da conversa acima, mesmo que o assunto da sentença seja sobre quando Hiroshi fará o exame, a palavra "exame" não aparece em nenhum lugar na frase.
Agora, vejamos um exemplo de aplicação da partícula 「が」:
ひろしが来る。= Hiroshi (é quem) virá (“Hiroshi” identifica, especifica quem virá).
Nos livros convencionais se costuma indicar que 「は」 é usado para se introduzir coisas conhecidas à conversa ao passo que 「が」 é usado para coisas desconhecidas. Tal diferenciação é simplista, mas tem sentido se considerarmos tudo que vimos até aqui neste tópico. Perceba que 「は」 carrega certa ambiguidade sem um contexto subentendido na cabeça de quem recebe a informação. Poderíamos ilustrar desta forma:
Por exemplo, suponhamos que queremos introduzir um novo personagem – Midori – em uma história:
A) 学生はみどり。
B) 学生がみどり。
Veja que 「が」 é recomendável nesta situação, porque definitivamente se está afirmando que “A estudante é Midori”. Com 「は」 tal conclusão não fica clara, se o ouvinte já não tiver informações a respeito. Sem um prévio conhecimento sobre o tópico “estudante”, o falante pode interpretar, por exemplo, que o estudante gosta de Midori ou que Midori fez algo ao estudante. Aliás, como o tópico se refere a informações que já estão, de algum modo, na consciência do ouvinte, com palavras interrogativas (tópico 10) não é recomendável usar 「は」, afinal a própria natureza das palavras interrogativas é que elas se referem a informações desconhecidas. Se soubéssemos, não faríamos a pergunta, certo?
As partículas 「は」 e 「が」 são diferentes se você pensar da forma correta. A partícula 「が」 identifica uma propriedade específica de algo, enquanto a partícula 「は」 é usada somente para trazer um novo assunto à conversa (considerando o contexto). Esta é a razão de, em orações longas, ser comum separar o assunto com vírgulas para remover qualquer ambiguidade sobre a qual parte da oração o assunto se refere.
Até aqui aprendemos a indicar o objeto direto, tópico, objeto indireto... mas e para indicar, por exemplo, o local onde algo ocorre?
A partícula 「で」 nos permitirá especificar o “contexto” (modo, local...) no qual a ação é efetuada. Por exemplo, se uma pessoa comeu peixe, onde ela comeu? Se uma pessoa foi à escola, foi por meio de quê? Com o que você vai comer a sopa? Todas estas questões podem ser respondidas com a partícula 「で」. Aqui estão alguns exemplos.
映画館で見る。= Ver no cinema.
バスで帰る。= Retornar de ônibus.
船で川を渡る。= Atravessar o rio de barco.
Muitos podem confundir as partículas 「で」 e 「に」 quando se trata de localização, pois 「に」 também pode ser usada para tal finalidade. Nosso conselho é que você encare essa questão como a relação entre um verbo e a necessidade (ou não) de um termo essencial (no caso, um local) para completar seu sentido, bem como os diferentes significados que um mesmo verbo pode ter de acordo com essa necessidade (ou não) de um lugar como complemento. Isso tudo considerando as coisas do ponto de vista japonês, isto é, mesmo que o verbo em questão seja traduzido sempre com o mesmo significado para outras línguas.
Numa comparação bem rasa, seria algo como REGÊNCIA VERBAL que temos na língua portuguesa. Apesar disso, não deixe de considerar que podem existir exceções. E é claro que quando tratamos de comunicação entre pessoas não devemos deixar de considerar também o uso prático da língua.
Como você já deve imaginar, os verbos podem exigir complementos ou não para que a ideia seja transmitida de forma completa. Por exemplo, o verbo “comer” pede como complemento um objeto direto, que vai responder à pergunta comer “O QUE?”.
Como a questão aqui é a localidade, podemos, então, raciocinar assim:
A localidade é algo exigido pelo verbo em si como seu complemento (a localização é inerente ao significado do verbo) ou é um termo acessório (apenas uma informação adicional)? |
Assim, se é essencial, usa-se 「に」 e se é acessório, usa-se 「で」. Com isso teríamos:
[X]---に---VERBO = [X] é inerente ao significado do verbo
[X]---で---VERBO = [X] é apenas uma informação adicional
Observe as orações abaixo:
講演にいる。 = Estar no parque.
レストランで食べる。= Comer no restaurante.
NOTA: Ainda que os japoneses possam entender, por exemplo, 「レストランに食べる」 como “comer no restaurante”, está incorreto, pois, segundo o princípio da natureza individual do verbo, 「食べる」 não exige um lugar como complemento. Neste caso, um lugar é termo acessório, então, deve ser marcado com 「で」.
Em cursos convencionais, costuma-se ensinar como “regra” geral (considere as aspas) que se deve usar 「に」 para indicar o local de verbos de estado (existir, morar, etc.), enquanto 「で」, para verbos que expressam ação (comer, dormir, falar, etc.). Porém, há verbos como 「働く」, que tem sua localização indicada por 「で」 e o verbo 「務める」, que tem sua localização indicada por 「に」. Aliás, ao tratarmos esse assunto como uma questão de REGÊNCIA DO VERBO, somos levados a estudar os verbos individualmente, isto é, cada verbo tem uma exigência diferente, então, é incorreto classifica-los em grupos neste quesito.
Também, um mesmo verbo pode ter diversos sentidos e com isso pode exigir complementos ou não dependendo de como for usado. Isso poderia ser comparado ao que temos em português como, por exemplo, o verbo “aspirar”. Se o complementamos com um objeto direto, tem sentido de inspirar, inalar, cheirar, absorver, sugar e sorver. Entretanto, se o complementamos com um objeto indireto, tem sentido de desejar muito alguma coisa. Observe:
(1) Aspirar O perfume (o perfume é objeto direto, então, significa “cheirar” o perfume).
(2) Aspirar AO sucesso (o sucesso é objeto indireto, então, significa “desejar” o sucesso).
Assim, podemos nos deparar com a seguinte situação:
[X]---に---VERBO 1 = “VERBO 1” com determinado significado
[X]---で---VERBO 1 = “VERBO 1” (mesmo verbo) com outro significado
Por essa razão, ao se deparar, por exemplo, com 「ソファに寝た」 e 「ソファで寝た」, você deve se perguntar:
I. Que tipo de complemento o verbo em questão exige? II. O verbo em questão possui diversos significados? III. O verbo em questão exige um lugar como complemento em algum de seus significados? IV. O verbo em questão não exige um lugar como complemento e também não possui outros significados que exijam tal complemento. Porém, deparo-me com exemplos nos quais o lugar é indicado ora por 「に」, ora por 「で」. Estou diante de um erro? |
O verbo 「寝る」 significa “dormir”, mas também pode ser usado de modo que exija um lugar como complemento. Neste caso, isto é, 「[LOCAL]に寝る」, deve-se considerar o significado “deitar EM”. Perceba que enfatizamos a preposição “em” na tradução para que se perceba com mais facilidade a necessidade de um complemento de lugar para o verbo. Sendo assim, temos:
(1) ソファに寝た。= (O gato) deitou no sofá.
(2) ソファで寝た。= (O gato) dormiu no sofá.
Outro exemplo é o verbo 「忘れる」 que, além de “esquecer”, tem outros significados e em algum deles é exigido um lugar como complemento. Neste caso, significa “deixar (sem querer, sem perceber) EM”. Considerando isso, veja os exemplos a seguir:
(1) 駅に財布を忘れた。= Deixou (sem querer, sem perceber) a carteira na estação.
(2) 駅で財布を忘れた。= Esqueceu a carteira na estação.
O verbo 「うえる」(植える), que significa “plantar”, também exige um lugar como complemento. Observe os exemplos a seguir:
(1) 公園にバラを植える。= Plantar a rosa no parque.
(2) 公園でバラを植える。= Plantar a rosa no parque.
Levando em consideração a regência do verbo “plantar”, quem planta, planta algo EM ALGUM LUGAR. Sendo assim, na oração (1), “parque” é complemento do verbo, é o lugar no qual a rosa é plantada de fato (no solo do parque). Já em (2) isso não fica claro, pois “parque” não é complemento do verbo; é apenas uma informação adicional. Para ficar claro, poderíamos ter, por exemplo:
(3) 公園で花瓶にバラを植える。= No parque, plantar a rosa no vaso.
Na oração (3), sabemos que a rosa é plantada de fato no vaso, tendo como lugar dessa ação o parque.
O verbo 「泊まる」 também exige um lugar como complemento. Assim, do ponto de vista japonês, 「ホテルで泊まった」 e 「ホテルに泊まった」 não significam exatamente a mesma coisa. Considerando a regência do verbo em questão, 「ホテルに」 é termo essencial de 「泊まった」, ao passo que 「ホテルで」 é apenas um termo acessório. Portanto, de forma parecida à situação anterior, com 「ホテルに」 se indica que se hospedou de fato no hotel, ao passo que com 「ホテルで」 isso não fica claro. Pode ser que, por exemplo, a pessoa não tinha dinheiro para pagar um quarto, mas foi permitido que armasse uma barraca do lado de fora, mas ainda nas dependências do hotel.
Além disso, sempre leve em consideração a pergunta IV, mesmo diante de algo vindo de um nativo, pois, de forma geral, nativos costumam ter apenas conhecimento prático da sua língua, o que nem sempre reflete o correto gramaticalmente. Por falar nisso, vamos analisar novamente dois exemplos já citados:
(1) 公園でバラを植える。= Plantar a rosa no parque.
(2) ホテルで泊まった。 = Hospedou no hotel.
Alguns, considerando a regência do verbo, poderão levantar a questão: “Se os verbos 「うえる」 (植える) e 「とまる」 (泊まる) exigem um lugar como complemento, então, os exemplos citados com 「で」 estariam incompletos?”
Respondemos que tecnicamente SIM! Por isso, literalmente os exemplos citados deveriam ser traduzidos assim:
(1) 公園でバラを植える。= No parque, plantar a rosa EM.
(2) ホテルで泊まった。 = No hotel, hospedou EM.
Fica estranho mesmo, pois falta uma informação. Entretanto, digamos que de maneira geral, os japoneses entenderiam essas orações como traduzidas anteriormente, isto é, “Plantar a rosa no parque” e “Hospedou no hotel”, ainda que incompletas e, por isso, ambíguas. Quantas vezes falamos ou escrevemos de forma incorreta em português no nosso dia a dia, mas mesmo assim nos entendemos, não é mesmo? Há erros que se tornam tão comuns e acabam não sendo percebidos pela maioria dos falantes.
Ainda, a regência de cada verbo nos leva a considerar, obviamente, o significado do verbo e suas sutilezas. Por exemplo, algumas fontes apontam que o verbo 「とまる」 (泊まる) significa hospedar em algum lugar que seja possível se hospedar. Sendo assim, a oração seguinte soa estranha:
(1) サンパウロに泊まった。= Hospedou em (na cidade de) São Paulo.
A cidade de São Paulo não é um lugar voltado em si para hospedagens. Por isso, não é aconselhável usar esse termo como complemento para o verbo em questão. Porém, em São Paulo, existem lugares em que é possível se hospedar (hotel, casa de amigos, etc.). Assim, poderíamos reescrever o exemplo desta forma:
(2) サンパウロでホテルに泊まった。= (Na cidade de) São Paulo, hospedou em um hotel.
Os conceitos abordados até aqui sobre a “regência verbal na língua japonesa” se estendem a outras partículas que podem também indicar um complemento do verbo. É o caso da partícula 「と」. Nesses casos, o contexto nos ajudará a saber qual uso da partícula em questão considerar. Por exemplo, o verbo 「なる」 significa “tornar-se” quando acompanhado da partícula 「に」 e pode significar “fazer-se igual a, tomar a posição de” quando acompanhado por 「と」.
Infelizmente não encontramos nenhum material que trate de regência verbal na língua japonesa de forma satisfatória. Portanto, é algo que precisaremos aprender como a maioria das pessoas aprende: pela vivência no idioma.
Também, é importante frisar que o foco aqui foi tão somente a indicação de lugar por 「で」 e 「に」. Por isso, não consideramos outros usos possíveis dessas duas partículas. Por exemplo, em expressões de tempo, 「で」tem sentido de “dentro de”. Observe:
1週間で終わる。= Terminar em (=dentro, período de) uma semana.
Pelo menos em alguns casos, a diferença que existe entre 「に」 e 「で」 parece ser mais questão de preferências que se tornaram populares e aceitas nos diferentes usos do que de regras gramaticais propriamente ditas. Isso nos remete ao assunto “colocação”, que trataremos mais adiante. Por exemplo, quando lugares são citados sem que sejam acompanhados por verbos, ao que parece, a preferência é usar 「に」:
ブラジルに。。。= No Brasil...
A partícula 「に」 também é usada para indicar uma localização indeterminada:
向こうに。。。 虹!= Para além... um arco-íris!
Note que “para além” é bem indeterminado, entretanto, como se trata de uma localização, 「に」 é usada.
Também, há expressões que parecem ter se consagrado apenas com uma ou outra partícula. Por exemplo, ao pesquisarmos a expressão “na / à noite”, encontramos somente a forma 「夜に」 e não「夜で」.
Objeto direto, tópico, objeto indireto, local, modo... ainda podemos ampliar nosso poder de comunicação com mais partículas simples. Vamos apresentar agora a partícula 「も」, que essencialmente tem o sentido de adição (atribui-se o significado “também”). Seu uso será melhor explicado nos exemplos abaixo:
MAKOTO: みどりは学生?= Você (Midori) é estudante?
MIDORI: うん、ひろしも学生。= Sim, e Hiroshi também é estudante.
Repare que ao incluir a partícula 「も」, Midori precisa ser coerente na resposta. Não faria muito sentido ela dizer "Eu sou uma estudante, e Hiroshi também não é um estudante." Em vez disto, Midori poderá usar a partícula 「は」 para remover o sentido adicional da inclusão, como demonstra o próximo exemplo.
NOTA: A partícula 「も」 não é usada em conjunto com 「は」, 「が」 e 「を」, mas sim os substitui.
Já que estamos tratando de adição, vamos nos focar nas partículas 「と」 e「や」. Basicamente, a partícula 「と」 é semelhante à 「も」 na medida em que contém um significado de inclusão. Ela pode combinar dois ou mais substantivos juntos para significar "e":
ナイフとフォークでステーキを食べる。= Comer bife por meio de garfo e faca.
本と雑誌と葉書を買う。= Comprar livro, revista e cartão postal.
「と」 também indica que uma ação que foi feita em conjunto com alguém ou alguma outra coisa:
友達と話す。= Conversar com amigo.
先生と会う。= Encontrar com professor.
Outro uso comum de 「と」 é apontar elementos a serem comparados:
世界は昔とは違う。= O mundo (atual), comparado com tempos antigos, é diferente.
Neste exemplo o termo “tempos antigos” 「昔」 está sendo posto em comparação com algo (neste caso, subentende-se “o mundo atual”). A partícula 「は」 aqui está apenas enfatizando.
A partícula 「や」, assim como 「と」, é usada para listar um ou mais substantivos, com a diferença que ela é muito mais vaga. Isso implica que pode haver outras coisas que não estão listadas e que nem todos os itens da lista podem ser aplicados. Em português, você pode pensar nisso como uma lista do tipo "e / ou, etc.":
飲み物やカップやナプキンは、買う? = Falando de (coisas como) bebida, copo, ou guardanapo, etc., (você) vai comprar?
靴やシャツを買う。= Comprar (coisas como) sapatos e camisa, etc.
Podemos expressar alternativas por meio de partículas também. Neste caso, a partícula 「か」 pode ser usada:
靴かシャツを買う。= Comprar sapatos ou camisa.
先生かあなたが行く。= O professor ou você irá.
Por fim, neste tópico básico sobre partículas, convém mencionar que existem as partículas de final de sentença. Sua função básica é indicar a atmosfera da oração, isto é, seu tom (dúvida, emoção, alegria, certeza...). Além disso, algumas partículas também distinguem o discurso masculino do feminino.
Primeiramente, vejamos a partícula 「か」, que indica incerteza:
今日は雨が降るか 。= (Será que) vai chover hoje?
Ressaltamos que a oração acima, tecnicamente, não é uma pergunta em si. É uma afirmação com ar de dúvida. O contexto é que indicará como devemos interpretar esse tipo de oração.
A partícula 「の」 anexada ao final da última sentença de uma frase também pode transmitir um tom explicativo para sua sentença. Por exemplo, se alguém lhe perguntasse se você tem tempo disponível para fazer algo, você poderia responder: "O fato é que eu estou ocupado agora." A expressão abstrata e genérica que dá o tom explicativo (neste caso, “o fato é que”) também pode ser expressa com 「の」. Este tipo de frase tem um significado embutido que explica o motivo(s) para outra coisa:
今は忙しいの。= (O fato é que) estou ocupado agora.
Isto soa muito suave e feminino. Na verdade, os homens adultos quase sempre adicionarão um declarativo (veremos no próximo tópico). No entanto, esse mesmo 「の」 em questões não carrega um tom feminino e é usado tanto por homens e mulheres:
今は忙しいの?= (O fato é que) (você) está ocupado agora?
As pessoas costumam acrescentar 「ね」 ao fim de sua sentença quando estão procurando (e esperando) acordo para o que estão dizendo. Seria como dizer em português, “não é?”, “correto?”:
おもしろい映画ね。= Filme interessante, não é?
Quando 「よ」 é anexado ao final da sentença, indica moderada ênfase e também pode expressar convicção. É especialmente útil quando o falante oferece uma nova informação:
おもしろい映画よ。 = Filme interessante!
Depois de 「よ」 e 「ね」, as partículas 「さ」 e 「な」 são as mais comumente usadas ao final de uma sentença. 「さ」 é basicamente uma forma muito casual de 「よ」, e algumas pessoas a colocam no final de quase todas as frases simples. Claro que isso não significa que seja necessariamente uma forma muito sofisticada de expressão, mas não podemos negar que isso é um hábito fácil de adquirir. Nesse sentido, devido ao seu uso em excesso, 「さ」 quase perdeu qualquer significado específico. Você pode ouvir uma conversa como a seguinte:
おもしろい映画さ。 = Filme interessante.
Você pode usar 「な」 no lugar de 「ね」 quando achar que 「ね」 soará muito suave e reservado para algo que você dizer ou para o público a quem você está falando. O som áspero de 「な」 geralmente se aplica ao sexo masculino, mas não é necessariamente restrito aos homens:
ひろしは馬鹿な = Hiroshi é bobo.
A partícula 「な」 é usada frequentemente em conjunto com a partícula 「か」 para indicar que o falante não tem certeza de algo:
今日は雨が降るかな? = (Será que) vai chover hoje?