Antes de iniciarmos o estudo das formas verbais propriamente dito, algo que devemos ter sempre em mente é que com o passar do tempo, o linguajar cotidiano tende a mudar a pronúncia das palavras, sendo ele, portanto, uma das maiores influências nas mudanças que ocorrem na escrita. Dificilmente se escreve como se fala, pois cronologicamente a linguagem caminhou (e ainda caminha) da fala, para escrita, não o inverso.
Apenas para ilustrar, observe a evolução da palavra “você” em português: Os usuários de uma língua – os falantes nativos – tendem a pronunciar as palavras da forma mais fácil e para isso retiram ou acrescentam sons com o passar do tempo. Foi assim que o latim “legenda” se transformou no português "lenda" e “spiritu” passou a "espírito".
Feita essa observação importante, comecemos abordando a partícula 「て」 que é muito importante, sendo uma das terminações mais usadas na língua japonesa. É tão importante que é chamada de “Forma TE”. Veja a regra para obtê-la:
FORMA PASSADA (REGRA BÁSICA) 1. Regra para os Verbos: {Base Ren’youkei} + {Partícula 「て」}; 2. Regra para os Adjetivos-I: {Base Ren’youkei do conjunto 「く」} + {Partícula 「て」}. |
A seguir, vejamos a regra sendo aplicada: Chamamos a regra apresentada de básica, porque ao longo do tempo na língua coloquial do japonês padrão, mudanças sonoras (fenômeno chamado tecnicamente de “Onbin”; em Português, “Eufonia”) foram padronizadas para os verbos do Grupo I na forma TE e derivados, exceto para os terminados em 「す」. Podemos dividir essas alterações em quatro grupos considerando-se a terminação da base Ren’youkei + TE. Observe:
A exceção à regra de contração apresentada fica por conta do verbo 「行く」, que em vez de ser contraído 「行いて」, torna-se simplesmente 「行って」. Isso faz a pronúncia mais fácil. Também, 「行(い)く」 pode ser 「行(ゆ)く」 e ambos são usados há muito tempo. A forma 「行(ゆ)いて」 costumava ser usada, mas 「行(い)って」 tem a preferência atualmente. Finalmente, 「行(ゆ)く」 pode dar uma sensação mais literária e é a leitura de escolha em poesias.
Para expressar a forma passada, usamos o verbo auxiliar 「た」. Como ele é derivado da partícula 「て」, segue o mesmo padrão, tanto na regra básica, quanto nas contrações sonoras para os verbos do Grupo I:
FORMA PASSADA (REGRA BÁSICA) 1. Regra para os Verbos: {Base Ren’youkei} + {Auxiliar de passado 「た」}; 2. Regra para os Adjetivos-I: {Base Ren’youkei do conjunto 「かり」} + {Auxiliar de passado 「た」}. |
Observe a regra sendo aplicada: Vejamos os mesmos verbos do Grupo I do quadro anterior com o verbo auxiliar 「た」 e as contrações sonoras:
Observe alguns exemplos de verbos com o auxiliar 「た」, mostrando a mudança da forma não-passada para o passado:
魚を食べる。= Comer o peixe. → 魚を食べた。= Comeu o peixe.
ジュースを飲む。= Beber o suco. → ジュースを飲んだ。= Bebeu o suco.
雑誌が面白い。= A revista é interessante → 雑誌が面白かった。= A revista era interessante.
Bom, e como fica a forma negativa? Usamos o verbo auxiliar 「ない」, que é flexionado como um Adjetivo-I. Por hora, vejamos a regra de construção da forma negativa não-passada dos verbos:
FORMA NEGATIVA NÃO-PASSADA 1. Regra para os Verbos: {Base Mizenkei} + {「ない」}; 2. Regra para os Adjetivos-I: {Ren’youkei do conjunto 「く」} + {「ない」}. |
Observe o quadro com os exemplos:
Vejamos alguns exemplos mostrando a transformação da forma infinitiva para a negativa:
魚を食べる。= Comer o peixe. → 魚を食べない。= Não comer o peixe.
りんごが美味しい。= A maçã é o que é saboroso. → りんごが美味しくない。= A maçã é o que não é saboroso.
No Japonês Clássico, o verbo auxiliar 「ず」 era anexado à base Mizenkei de verbos para expressar negação. Ele tinha três conjuntos de bases (vamos nos referir a eles pela base Ren’youkei):
No japonês moderno, os auxiliares clássicos 「ぬ」 (e sua forma abreviada 「ん」) e 「ず」 ainda podem ser usados no lugar de 「ない」. Contudo, atente-se ao fato de que não podemos fazer uso deles em orações destinadas a modificar outras. Observe alguns exemplos:
魚を食べる。= Comer o peixe. → 魚を食べず。= Não comer peixe.
魚を食べる。= Comer o peixe. → 魚を食べぬ。= Não comer peixe.
ジュースを飲む。= Beber o suco. → ジュースを飲まん。= Não beber suco
Com relação ao verbo 「する」, quando usarmos esses auxiliares clássicos devemos usar a base Mizenkei clássica 「せ」 e não 「し」:
日本語を勉強する。= Estudar japonês → 日本語を勉強せず。= Não estudar japonês.
日本語を勉強する。= Estudar japonês → 日本語を勉強せぬ。= Não estudar japonês.
メールアドレスを登録する。= Registrar o endereço de e-mail. → メールアドレスを登録せん。= Não registrar o endereço de e-mail.
NOTA: Atualmente, o auxiliar 「ず」 costuma ser usado somente em orações subordinadas (mais detalhes em tópicos posteriores).
E se quiséssemos expressar a forma negativa no passado? Você deve estar supondo que basta colocar o verbo no passado e depois acrescentamos 「ない」 – algo como 「食べたない」. NÃO! Devemos colocar o auxiliar 「ない」 na forma passada e não o verbo. Vejamos a regra (considere que há mudanças sonoras):
FORMA NEGATIVA PASSADA 1. Regra para os Verbos: {Base Mizenkei} + {Base Ren’youkei de「ない」 (do conjunto 「かり」)} + {Auxiliar de passado 「た」}; 2. Regra para os Adjetivos-I: {Base Ren’youkei do conjunto 「く」} + {Base Ren’youkei de「ない」 (do conjunto 「かり」)} + {Auxiliar de passado 「た」}. |
Observe o quadro de exemplos:
Observe a transformação da forma negativa não-passada para a negativa passada nos exemplos a seguir:
魚を食べない。= Não comer o peixe. → 魚を食べなかった。= Não comeu o peixe.
É possível também construir a Forma TE negativa, mas perceba que a regra de formação é um pouco diferente da que vimos para a forma passada negativa:
FORMA TE NEGATIVA 1. Regra para os Verbos: {Base Mizenkei} + {Base Ren’youkei de「ない」 (do conjunto 「く」)} + {Partícula 「て」}; 2. Regra para os Adjetivos-I: {Base Ren’youkei do conjunto 「く」} + {Base Ren’youkei de「ない」 (do conjunto 「く」)} + {Partícula 「て」}. |
Observe o quadro de exemplos: Novamente, vejamos algumas orações de exemplo, considerando o uso básico da partícula TE, isto, partícula conjuntiva:
魚を食べる。= Comer peixe. → 魚を食べなくて。= Não comer peixe.
ジュースを飲む。= Beber o suco. → ジュースを飲まなくて。= Não beber o suco.
日本に行く。= Ir ao Japão. → 日本に行かなくて。= Não ir ao Japão.
日本語を勉強する。= estudar japonês → 日本語を勉強しなくて。= Não estudar japonês.
バスで来る。= Vir de ônibus. → バスで来(こ)なくて。= Não ir de ônibus.
Existe outra forma verbal que não é explicada satisfatoriamente pelos livros convencionais. Nós a chamaremos de “Forma MU”, contudo para compreendê-la novamente teremos que fazer uma abordagem histórica.
No Japonês Clássico, havia um grupo de verbos auxiliares que eram anexados a uma ação ou estado para indicar, de modo geral que tais fenômenos podiam ser algo suposto ou pretendido. Dentre estes sufixos flexionáveis de conjectura 「む」 era o usado com mais frequência. Vejamos suas bases:O verbo auxiliar 「む」 era anexado à base Mizenkei dos verbos. Sendo assim, por exemplo, 「話さむ」, podia significar (considere “ele” como sujeito):
a) Ele provavelmente fala (possibilidade no presente);
a) Ele provavelmente falará (possibilidade no futuro);
c) Ele falará (intenção);
d) Fale (ou vamos falar, etc.) (incitamento).
Poderíamos dizer que 「む」 é ainda largamente usado no japonês moderno, porém sob “nova aparência”. Isso por que, devido a mudanças sonoras, 「む」 tornou-se apenas 「う」. Veja como exemplo, o verbo 「なる」: O auxiliar 「む」 costumava ser pronunciado tanto 「む」, 「ん」 ou 「う」 e sua evolução se deu nesta ordem. Agora, tomando 「なる」 como exemplo, vamos nos atentar à última forma, ou seja, 「ならう」. Devido a evolução da pronúncia, o fragmento 「らう」 era pronunciado 「ろう」, fato que deu origem à forma atual 「なろう」, quando houve o alinhamento da escrita com a pronúncia moderna. Esta forma é normalmente chamada de “forma volitiva”, entretanto, em nossa opinião, esta nomenclatura é muito restritiva, haja vista que ela não se restringe a expressar somente intenção, embora atualmente haja outras maneiras de expressar conjetura. Vejamos alguns exemplos:
ATENTE-SE aos verbos do Grupo I terminados em 「う」. Considerando-se que esses verbos em sua forma clássica terminavam em 「ふ」, a Forma Mu tornava-se 「~はう」. Devido a mudanças sonoras, tornou-se então, 「~ほう」e, posteriormente, o fragmento 「~ほう」 passou a ser pronunciado 「~おう」. Então, a evolução da forma MU do verbo clássico 「かなふ」, por exemplo, seria:
かなふ → かなはむ → はなはう → はなほう → はなおう (Forma MU atual)
Na maior parte das vezes, a Forma Mu expressa incitamento. Vejamos alguns exemplos práticos:
空高くかかげよう。 = Salte para o mais alto do céu. (expressando incitamento).
果てない闇から飛び出そう。= Saltemos das trevas sem fim. (expressando incitamento).
Com relação aos verbos dos Grupos II e III, temos o final 「よう」 anexado à Base Mizenkei. Vejamos: Na verdade, o que temos aqui é uma alteração advinda da evolução da pronúncia. Sendo assim, por exemplo, 「食べう」 passou a ser pronunciado 「食びょう」, que no japonês moderno se transformou em 「食べよう」. O mesmo vale para verbos do Grupo II, onde 「落ちう」 passou para 「落ちゅう」 e posteriormente, 「落ちよう」.
NOTA: muito cuidado para não confundir a terminação 「よう」 da Forma MU dos verbos dos Grupos II e III com terminação da base Meireikei 「よ」 desta mesma classe de verbos.
Com relação ao verbo irregular 「する」, sua Forma MU é 「しよう」, e com relação a 「来る」 a Forma MU é obtida através do acréscimo de 「よう」, à base Mizenkei 「こ」:
電話しよう。= Façamos um telefonema.
もっと早く来よう。= Vamos vir mais cedo.
NOTA: O auxiliar de passado 「た」 é originalmente uma contração de 「てある」 e, por isso, possuía Bases. A Base Mizenkei contraída, isto é, 「たら」 é uma das sobreviventes. Sendo assim, 「た」 possui uma Forma MU, ainda que raramente usada. Trata-se de 「たろう」.
Com relação aos Adjetivos-I, era possível construir a Forma MU. A única ressalva a se fazer é que 「む」 era anexado à base Mizenkei do conjunto Kari. De resto, tudo era igual aos verbos: Com relação à forma negativa, no japonês atual devemos anexar 「まい」 à base Shuushikei:
Pode-se dizer que a regra apresentada acima é a clássica. Contudo, um idioma muda constantemente e a anexação de 「まい」 à parte invariável, no caso dos verbos dos Grupos II e III, tornou-se a preferencial. Sendo assim, podemos ter 「食べまい」 e 「落ちまい」. Adicionalmente, para os verbos irregulares 「する」 e 「くる」, além das formas 「するまい」 e 「くるまい」, pode-se usar 「しまい」, 「すまい」 e 「せまい」 para 「する」, e 「こまい」 para 「くる」.
Com relação aos adjetivos, simplesmente substitua a forma negativa de 「ある」 por sua forma MU negativa, isto é, 「あるまい」:
(A) Adjetivo-NA: 静かじゃない → 静かじゃあるまい
(B) Adjetivo-I: おいしくない → おいしく(は)あるまい
Supondo que você já tenha assimilado tudo o que foi explicado neste tópico, seguem dois quadros-resumo das formas que vimos: