8. MAIS SOBRE OS VERBOS

Uma das principais funções da Forma TE é conectar orações. Observe o quadro abaixo:Este é o uso básico da partícula 「て」. Nestes casos, o tempo verbal de construção é determinado pelo último verbo. Também, quando usados dessa forma, os verbos, em princípio, referem-se à mesma coisa. Portanto, o primeiro exemplo poderia ser traduzido assim:

魚を食べジュースを飲む。= (EU) como o peixe e (EU) bebo o suco.

Embora não seja tão comum, é possível ter duas orações diferentes conectadas através da forma TE se referindo a coisas distintas. Neste caso, costuma-se usar a partícula de tópico 「は」:

ひろし魚を食べ、みどりジュースを飲む。= HIROSHI come o peixe e MIDORI bebe o suco.

Esta prática de usar a partícula  「て」 para conectar orações, no entanto, é utilizada apenas na linguagem cotidiana. Discursos formais, narração e publicações escritas empregam a base Ren’youkei em vez da forma TE para descrever ações sequenciais. Particularmente, artigos de jornal (ou mesmo cantores), por questões de brevidade, preferem a base Ren’youkei à forma TE:

魚を食べジュースを飲む。= Comer o peixe e beber o suco.

NOTA: como a partícula 「て」 é muito versátil, pode transmitir significados diversos de acordo com o contexto (pelo menos na tradução para o português).

Algo muito comum no japonês falado é terminar uma oração com o verbo na forma TE. Veja o exemplo abaixo:

ごめん、魚を食べて= Desculpe por comer o peixe.

Na verdade, os elementos da oração estão invertidos. Na fala muitas vezes as pessoas tendem a dizer aquilo que mais importante primeiro, (me desculpe) e depois o resto (por comer o peixe), independentemente das regras gramaticais. A versão correta da oração acima é 魚を食べてごめん」.

Também, dependendo do contexto, a forma TE no final de uma oração pode indicar uma oração incompleta, muitas vezes transmitindo um ar reticente por parte do falante, isto é, uma hesitação em dizer expressamente o seu pensamento, em dar um parecer etc. Tal recurso é muito comum em canções:

魚を食べて= Comer o peixe (e...) (oração incompleta e reticente).

「あげる」 e 「くれる」 significam “dar” e o uso desses dois verbos pode confundir alguns estudantes iniciantes. Para apontarmos a diferença, observe a ilustração a seguir:Ao observarmos o desenho, percebemos que, se partimos do ponto de vista do falante, toda a ação de dar a outros vai para cima em direção ao resto do mundo, enquanto toda ação de dar feita pelos outros vai para baixo em direção ao falante. Você deve usar 「あげる」 quando VOCÊ estiver dando algo ou fazendo algo para alguém (a pessoa sempre estará acima de você). Observe os exemplos:

私が友達にプレゼントをあげた= Eu dei o presente a um amigo.

これは先生にあげる= Darei isto à professora.

Para expressar a concessão de um favor (verbo) seu, você deve usar sempre 「あげる」 como verbo suplementar anexado à Forma TE:

車を買ってあげる= Vou dar-lhe o favor de comprar um carro.

代わりに行ってあげる= Vou dar-lhe o favor de ir em seu lugar.

Você deve usar 「くれる」 quando UM TERCEIRO está dando algo ou fazendo algo a você (efetivamente, o oposto de 「あげる」). Observe os exemplos:

友達が私にプレゼントをくれた= O amigo deu presente a mim.

これは、先生がくれた= O professor me deu isto.

Para expressar a concessão de um favor (verbo) de um terceiro, você deve usar sempre 「くれる」 como verbo suplementar anexado à Forma TE:

車を買ってくれるの?= Você vai me dar o favor de comprar um carro para mim?

代わりに行ってくれる= Você vai me dar o favor de ir no meu lugar?

Relembrando, a Base Rentaikei é utilizada para conectar elementos invariáveis. Já vimos também que na verdade se usa a base Rentaikei dos Adjetivos-I para se atribuir algo à outra coisa. Consequentemente, por lógica, é natural pensar que é possível usar verbos, já que eles também possuem base Rentaikei. Considere a seguinte oração em português:

A PESSOA QUE MORRE.”

A oração acima pode não fazer muito sentido, mas o importante aqui é que você perceba que o fragmento “que morre.descreve o tipo de pessoa da qual estamos falando. Em japonês, podemos construir esse tipo de oração usando a base Rentaikei dos verbos, a fim de fazer com que eles modifiquem diretamente outro termo:

死ぬ。= Morrer. 死ぬ人。= Pessoa que morre.

De fato, a Base Rentaikei é muito versátil. Tecnicamente, podemos conectar a ela qualquer partícula ou substantivo e isso nos possibilita expressar muitas coisas. Por exemplo, podemos conectar o substantivo 「とき」(), que significa “tempo”, a uma oração a fim de indicar o que acontece no “tempo” em que a oração é executada. Veja:

テレビを見るときに寿司を食べる。= Quando (eu) assisto TV, como sushi.

Aqui se torna oportuno mencionar um detalhe importante. Para tanto, observe a oração a seguir em português:

“ASSIM QUE MEU PAI RETORNAR, ABRIREI A GARRAFA”.

Perguntamos: qual a mensagem que se deseja passar com essa oração? Em outras palavras, que vou esperar meu pai retornar para, só depois que ele tiver retornado, abrir a garrafa, não é mesmo? Assim, temos:

image

O conceito pode ser difícil de ser entendido em um primeiro momento, porém, mesmo que o verbo não esteja no passado em português, em japonês, se usarmos 「とき」, o verbo precisará estar no passado:

私は父が返っとき瓶を開ける。= Assim que meu pai retornar (a ação for concluída – tiver retornado), abrirei a garrafa.

Aqui é um dos casos que ilustra a importância de se pensar a língua japonesa do ponto de vista japonês. Caso contrário, acabaremos “falando português com palavras japonesas”. Ou seja, pensar orações em português e apenas trocar as palavras, desconsiderando-se aspectos culturais e próprios do idioma.

O segundo substantivo que que usaremos como exemplo é 「あと」, que podemos traduzir como “traseira”. Ele pode ser usado quando queremos expressar que uma ação ocorre ou deverá ocorrer após o término de outra ação.  Devido a este sentido, a ação que está a frente deve estar sempre na forma passada, pois foi ou deverá ser completada antes da outra ação: Observe:

ひろしが出たあとまことがくる。= Depois que Hiroshi sair (= tiver saído), Makoto virá. (Lit. Na traseira (da ação) em que Hiroshi saiu, Makoto virá)

Veja que no momento em que Makoto vier, a ação de Hiroshi sair estará (ou deverá estar) concluída.  Por isso, o uso de あと」 faz sentido, já que a ação da oração principal estará sempre “na traseira” com relação a outra na linha do tempo em termos de conclusão:Neste sentido, pode-se anexar    「で」 a 「あと」. Tal prática é a mais comum e soa mais formal:

ひろしが出たあとまことがくる。= Depois que Hiroshi sair (= tiver saído), Makoto virá.

Enfim, são muitos os substantivos que podem ser usados dessa maneira e não é nossa intenção fazer aqui uma lista.

Agora, apresentaremos um recurso muito interessante chamado “nominalização”.

Existem situações em que um verbo precisa ser tratado como se fosse um substantivo, e é aqui que entra em campo o processo de nominalização. “Nominalizar” significa fazer com que orações exerçam a mesma função que um substantivo na dentro da frase. Para compreendermos melhor, observe o exemplo a seguir e preste atenção no complemento verbal:

O estudante esqueceu-se dos estudos. (período simples)

O estudante = sujeito;

Esqueceu-se de = verbo transitivo indireto;

Os estudos = objeto indireto;

Considere que nessa mesma posição do complemento verbal pode aparecer, em um período composto, orações subordinadas, ou simplificando, verbos. Sendo assim, vamos ao próximo exemplo:

O estudante esqueceu-se de estudar. (período composto)

O estudante = sujeito;

Esqueceu-se de = verbo transitivo indireto;

Estudar = Oração subordinada (substantiva Objetiva indireta)

Veja como o verbo “estudar” funcionou como objeto indireto da oração principal. Pode-se dizer que estamos falando de “ato de [verbo]” (o aluno esqueceu-se do ato de estudar). Logicamente, poderíamos completar o seu sentido:

O estudante esqueceu-se de estudar a matéria para a prova. (o aluno esqueceu-se do ato de estudar a matéria para a prova.)

Agora, observe o próximo exemplo:

A leitura é importante.

Foque-se substantivo “leitura”. Um verbo também pode ocupar a posição do sujeito de uma oração. Por exemplo, poderíamos reescrever a oração acima como segue:

Ler é importante. (o ato de ler é importante).

Em japonês, há uma maneira muito simples de se nominalizar orações. Basta escrever a oração subordinada e em seguida, anexar a partícula の」 a ela. Assim, a oração será transformada em um elemento de mesmo valor de um substantivo. Então, como ficaria a oração O estudante esqueceu-se de estudar em japonês? Vejamos:

学生は勉強するを忘れた。= O estudante esqueceu-se de estudar.

Veja como a oração 「勉強する」 foi transformada em um substantivo, e pudemos usar a partícula 「を」. Também, lembre-se da expressão ato de [verbo], pois a fim de facilitar o aprendizado destas construções, você pode pensar que の」 faz o papel desta expressão. Obviamente, o importante é você entender o conceito, afinal nem sempre será melhor traduzir como ato de; às vezes será melhor usar o fato de ou até mesmo a coisa que, por exemplo. Enfim, tudo dependerá do contexto.

Podemos também completar o sentido da oração subordinada. Observe o quadro abaixo:Vejamos um exemplo de oração completa:

学生はジュースを飲むを忘れた。= O aluno esqueceu-se do ato de tomar o suco.

Lembre-se que em português, as orações subordinadas substantivas podem também ocupar a posição de sujeito. Em japonês, também:

漫画を読むは面白い。= Falando do ato de ler mangás, (isso) é interessante.

Podemos também usar a palavra こと」, que significa coisa, no lugar da partícula 「の」:

学生はジュースを飲むことを忘れた。= O aluno esqueceu-se de tomar o suco.

O uso de 「の」 e 「こと」 como nominalizadores parece ser um recurso que começou a ser adotado no Japonês Moderno, pois na língua moderna há a “regra prática” de anexar partículas somente a substantivos ou a elementos que se comportem como substantivos (que é o caso aqui). Como já sabemos, na língua antiga, uma prática comum para se nominalizar uma oração era usar a base Rentaikei simplesmente. Sendo assim, por exemplo, a oração 「学生は勉強するを忘れた」 seria nominalizada assim:

学生は勉強する忘れた。= O estudante esqueceu-se de estudar.

Veja como a partícula 「を」 é colocada logo após a base Rentaikei do verbo する fazendo com que 勉強する se torne objeto do verbo 「忘れる」. Simples, não?

Embora tal recurso seja possível gramaticalmente, não é mais praticável na vida real. Entretanto, há algumas construções gramaticais antigas que ainda são usadas no Japonês Moderno que se tratam da nominalização “à moda antiga”, isto é, através da anexação de uma partícula à Base Rentaikei.

Aliás, a única partícula na língua moderna que convencionalmente é usada diretamente depois de verbos é 「と」. Uma de suas funções é destacar citações, isto é, expressar o que outras pessoas dizem, ouvem, etc. Podemos dividir as citações em diretas e indiretas. Imaginemos que na escola Hiroshi ouve do professor:

PROFESSOR:  今日は授業がない。= Não haverá aula hoje.

Então, mais tarde, Hiroshi encontra Makoto e reporta o que ouviu do professor:

HIROSHI:  今日は授業がない 先生から聞いたんだ。= Isso é o que ouvi do professor Não haverá aula hoje..

No exemplo acima, Hiroshi reporta a Makoto exatamente o que ouviu professor. Este tipo de citação é chamado de “citação direta”. Em português, colocam-se citações diretas entre aspas. Mais um exemplo:

 海まで 叫んだ。= Até o mar, gritaram.

O segundo tipo de citação é a citação baseada naquilo que alguém realmente disse. Não é uma citação palavra por palavra. Uma vez que esta não é uma citação direta, não há necessidade de aspas. Você também pode expressar pensamentos como uma citação indireta.

先生から今日は授業がない聞いたんだ。= Ouvi do professor que hoje não haverá aula.

Não é necessário que o verbo principal esteja logo após と」. Como o verbo que se aplica à oração vem antes de qualquer outro verbo, você pode ter quantos adjetivos, advérbios ou substantivos entre os dois:

 「寒い」 まことがひろしに言った= "Frio", Makoto disse a Hiroshi.

A partícula 「と」 pode indicar que um verbo se aplica a outra oração. Para clarificar, observe o exemplo a seguir:

雨が降る思う。= Penso que vai chover.

Como forma de memorização, podemos pensar que 「と」 é como um dedo indicador que aponta pra uma oração subordinada dando um sentido de “é isto que penso”, “é isto que digo”, etc. Vejamos:Você pode se surpreender ao saber que existe uma versão mais curta e casual de citação, uma vez que ela já é apenas um fonema do Hiragana, と」. No entanto, o ponto importante aqui é que, ao usar esse atalho casual, você pode deixar de lado o restante da frase e esperar que o ouvinte possa entender tudo a partir do contexto. Esta versão casual é 「って」:

あきらは来年、海外に行くんだって= Com relação a Akira, ele disse que ano que vem irá ao exterior.

先生から今日は授業がないって= Ouvi do professor que hoje não haverá aula.

もうお金がないって= (Eu) já lhe disse que não tenho dinheiro.

今、時間がないって、本当? = (Você) não tem tempo agora (eu ouvi), é verdade?

 「って」 ainda pode ser usado para falar sobre praticamente qualquer coisa, e não apenas para citar algo que foi dito. Você pode ouvir って」 sendo usado em praticamente qualquer lugar no discurso casual. Na maioria das vezes ele é usado no lugar da partícula 「は」 simplesmente para trazer um tópico à conversa:

明日って、雨が降るんだって= Falando de amanhã, eu ouvi que vai chover.

まことって、すごくいい人。= Falando de Makoto, ele é uma pessoa muito boa.

No tópico 5, mencionamos que o verbo 「する」 basicamente significa “fazer(-se)”, porque, na verdade, ele possui diversos significados (o Jisho.org aponta pelo menos 10!!). Dentre eles estão “agir como”, “vestir” e “considerar”. Qual significado considerar depende da construção e do contexto. Uma dessas construções específicas é quando 「する」 é usado com 「と」. Nestes casos, o significado presente é “considerar”:

明日に行くとする。= Considerar que (eles) irão amanhã.

Outra possibilidade é combinar a Forma MU com o verbo 「する」 através de 「と」 para expressar uma tentativa no sentido de um esforço para se fazer algo:

毎日、勉強を避けようとする。= Todos os dias (ele) tenta evitar estudar.