Um dos aspectos mais complicados do idioma japonês é que não há um verbo para se expressar o “estado-de-ser” de algo como o verbo “ser” no português (na gramática, “cópula”). Métodos convencionais costumam atribuir ao verbo 「ある」 o significado “ser”, contudo, se dissermos, por exemplo, 「山ある」, a tradução correta é na verdade “Existe (uma) montanha” e não “É (uma) montanha”.
Então, como expressar que “algo É alguma coisa em japonês”?
Lembre-se da partícula 「で」 que vimos em um tópico passado. Dentre suas funções está a de indicar o modo como um verbo se realiza. Sendo assim, se dissermos, 「山である」, estamos indicando o “modo” como o verbo 「ある」(existir) se realiza, isto é, “existe como (sob aspecto de) (uma) montanha”, literalmente. Veja que se pensarmos bem, é o mesmo que dizer “é (uma) montanha” no fim das contas.
No Período Muromachi (1336-1573), 「である」 tornou-se 「じゃ」 na parte Oeste do Japão e 「だ」 no Leste, base do japonês padrão:
山にてあり。→ 山である。→ 山だ。= É montanha.
No japonês moderno, além de 「である」 e 「だ」, existe 「です」. As três formas da "mesma coisa", porém, diferenciam-se no sentido e na utilização. Por hora, vamos nos focar em 「だ」, que deve ser usado somente após um substantivo ou um Adjetivo-NA:
魚 = peixe → 魚だ。 = É peixe
人 = pessoa → 人だ。= É pessoa.
学生 = estudante → 学生だ。= É estudante
Parece muito fácil. Aqui está o verdadeiro problema: um estado-de-ser pode ser subentendido, sem o uso do 「だ」!
Tal como se apresenta, o exemplo 1 é simplesmente a palavra “peixe” e não significa nada, além disso. Porém, podemos pressupor que algo é um peixe pelo contexto, sem declarar nada. Por esta razão, a pergunta que deve estar passando na sua cabeça é, “Se você pode dizer que algo é [X] sem usar 「だ」, então, qual o motivo de isto existir?”.
Bem, a principal diferença é que uma declaração afirmativa faz com que a sentença soe mais enfática e convincente de modo a torná-la... bem declarativa. Portanto, é mais comum você ouvir homens usando 「だ」 no fim das sentenças. Este é também o motivo de via de regra você não poder usar 「だ」 ao fazer uma pergunta, porque parecerá que está fazendo uma afirmação e uma pergunta ao mesmo tempo.
O 「だ」 declarativo também é necessário em várias estruturas gramaticais nas quais um estado-de-ser precisa ser declarado explicitamente. Há também o caso em que não se deve anexá-lo. Enfim, tudo isso é realmente muito incômodo, mas você não deve se preocupar ainda.
Vamos apresentar as seis bases de 「である」, 「だ」 e 「です」 para que você possa entender a lógica de formação dos tempos verbais da cópula 「だ」. Observe a tabela abaixo:
Podemos conjugar o estado-de-ser tanto para a forma negativa quanto para o tempo passado para dizer que algo não é [X] ou que algo era [X]. Isso pode ser meio difícil de entender à primeira vista, mas nenhuma destas conjugações do estado-de-ser afirmam algo como o 「だ」 faz. Aprenderemos, em outra lição, como criar estas declarações afirmativas colocando 「だ」 ao fim da frase.
I. Forma Negativa: é formada anexando-se o verbo auxiliar 「ない」 à base Mizenkei do verbo da cópula 「ある」. Assim, temos:
Nós não colocamos “(??)” à toa. Isso por que a regra estaria correta se 「ある」 não fosse irregular quando colocado juntamente com o verbo auxiliar 「ない」. Sendo assim, 「あらない」 torna-se simplesmente 「ない」. Talvez o motivo dessa irregularidade esteja no fato de que 「ない」 já expressa por si mesmo uma existência nula e possivelmente os gramáticos pensaram que não haveria necessidade, pois seria uma redundância, de ter uma forma negativa do verbo de existência, no caso 「ある」. Tanto que com outros auxiliares deve-se usar normalmente a base Mizenkei de 「ある」.
Bem, seja qual for o motivo para a irregularidade, então, a forma negativa de 「である」 é 「でない」? A resposta é: sim e não!
A construção 「でない」 é gramaticalmente correta, e é possível encontrar alguns japoneses que a usam. Porém, talvez por que a pronúncia soe muito brusca, a partícula 「は」 é colocada entre 「で」 e 「ない」, dando origem à 「ではない」. Pode-se, então, contrair o fragmento 「では」 para 「じゃ」, o que resulta em 「じゃない」, forma casual.
友達じゃない。 = Não é amigo (a).
魚じゃない。 = Não é peixe.
学生じゃない。 = Não é estudante.
II. Tempo Passado: agora, vejamos expressar o tempo passado para dizer que algo era alguma coisa. Para tanto, tenha em mente que o passado da cópula 「だ」 deriva do passado de 「である」. Portanto, o tempo passado é feito adicionando-se o verbo auxiliar 「た」 à base Ren'youkei de 「である」. Assim, temos:
「でありた」 é então contraído para 「であった」 que por sua vez é contraído para 「だった」:
魚だった。 = Era peixe.
人だった。= Era pessoa.
学生だった。= Era estudante
III. Tempo Passado Negativo: aprenderemos agora a forma passada negativa do estado-de-ser para que possamos dizer que algo não era alguma coisa. Para tanto, lembre-se que 「ない」 é conjugado como um Adjetivo-I e basta acrescentar o verbo auxiliar 「た」 a sua base Ren’youkei (do conjunto かり). Assim temos:
Como vimos no tópico anterior, 「なかりた」 é contraído para 「なかった」:
友達じゃない = Não é amigo (a). → 友達じゃなかった = Não era amigo.
魚じゃない = Não é peixe. → 魚じゃなかった = Não era peixe.
学生じゃない = Não é estudante. → 学生じゃなかった = Não era estudante.
Por fim, também é possível unir estados-de-ser basicamente através do uso da base Ren’youkei 「で」 da cópula 「だ」. Observe:
NOTA: os livros didáticos convencionais geralmente chamam a construção acima de “forma TE para substantivos e Adjetivos-Na”, pois, como vimos, este 「で」 pode exercer a mesma função sintática que a partícula 「て」 exerce quando usada com verbos e Adjetivos-I. Sendo assim, também a chamaremos de forma TE.
Se o quisermos nominalizar o estado-de-ser, devemos usar a base Rentaikei da cópula 「だ」, ou seja, 「な」 antes de 「の」:
彼が先生なのを思い出した。= (Eu) me lembrei (do fato de) que ele é professor.
Para as demais cópulas, devemos usar 「こと」:
彼が先生であることを思い出した。= (Eu) me lembrei (do fato de) que ele é professor.
Nos exemplos acima, as duas orações têm o mesmo significado. Entretanto, a versão com 「の」 soa mais casual, ao passo que 「こと」 é mais apropriado para a escrita.
Para memorização observe o quadro-resumo das formas da cópula 「だ」:
Apresentamos a seguir as Bases das cópulas clássicas 「なり」 e 「たり」. É importante conhecê-las, pois você pode se deparar com elas, ainda que raramente:
A função de denotar conjectura da Forma MU para verbos em si praticamente se perdeu no japonês moderno. Atualmente, uma das maneiras de se fazer isso é através da Forma MU das cópulas 「だ」, 「です」 e 「である」, isto é, 「だろう」, 「でしょう」 e 「であろう」 respectivamente.
雨が降るでしょう。= Provavelmente vai chover.
NOTA: 「でしょう」 se origina da evolução da pronúncia de 「でせう」.
「だろう」 significa essencialmente o mesmo que 「でしょう」, exceto pelo fato de que soa mais masculino e é usado mais pelos homens:
雨が降るだろう。= Provavelmente vai chover.
Perceba que quando as cópulas estão na Forma MU, podemos coloca-las diretamente após um verbo na forma usual, fato que não é possível quando as cópulas estão em outras formas, a menos que se use um 「の」 explicativo, pois, como já vimos, este tem valor sintático de substantivo:
みやこが寿司を食べるのだ。= Miyako comerá o sushi. (CORRETA)
みやこが寿司を食べるだろう。= Miyako comerá o sushi, provavelmente. (CORRETA)
みやこが寿司を食べるだ。= Miyako comerá o sushi. (INCORRETA)
Para uma suposição negativa, podemos simplesmente anexar uma das cópulas na Forma MU a um verbo na negativa, como em 「食べないだろう」.
No tópico 3, vimos que é possível modificar um substantivo por meio de outro, através da partícula 「の」. Em muitos métodos, ela é chamada de partícula de posse, mas essa nomenclatura pode gerar confusão. Na verdade, dentre outras funções, 「の」 pode transformar um substantivo em atributo, isto é, um qualitativo que se acrescenta ao significado de um substantivo, sem alterá-lo. Observe o quadro a seguir:
No exemplo acima, a partícula 「の」 permitiu que transformássemos o substantivo 「友達」 em um atributo do substantivo 「車」, isto é, não é de carros em geral que estamos falando, mas sim um carro cujo atributo é “do amigo”. Perceba que, da mesma forma que os adjetivos ou verbos usados como adjetivos, o termo que descreve virá sempre antes.
Há uma classe de palavras, estranhamente, chamada de adjetivo, mas que se comportam como substantivos. São os “Adjetivos-NA”. A diferença é que com eles não se pode usar a partícula 「の」 para transformá-lo em atributo de outro substantivo. Por exemplo, se quisermos dizer “pessoa gentil” usando o Adjetivo-NA 「しんせつ」 (親切), não podemos escrever assim:
親切の人。= Pessoa gentil – INCORRETO.
A forma correta é:
親切な人。= Pessoa gentil.
Por isso o nome “Adjetivo-NA”. Contudo, de onde vem esse 「な」?
A resposta é mais simples do que você imagina. Lembre-se que mencionamos que a Base Rentaikei é utilizada para conectar elementos invariáveis, como substantivos e partículas. Sendo assim, precisamos de algum elemento que, ao mesmo tempo, seja flexionável e que expresse o estado-de-ser. Logo, esse 「な」 é a Base Rentaikei da cópula 「だ」!!
Portanto, perceba também que assim como os Adjetivos-I, está se afirmando literalmente “Pessoa que é gentil” e não simplesmente “Pessoa gentil”. Como os Adjetivos-NA não possuem parte flexionável em si, as formas verbais serão indicadas pelas formas da cópula. Assim, por exemplo:
親切じゃない人。= Pessoa que não é gentil.
人が親切じゃなかった。= A pessoa não era gentil.
Já que se usa 「な」 (e não 「の」) para transformar um Adjetivo-NA em atributo para um substantivo, alguns podem imaginar que se poderia utilizar também a Base Rentaikei da cópula 「である」. Assim:
親切である人。= Pessoa gentil.
Diríamos que o raciocínio tem sentido, mas tenha em mente que em línguas nem tudo o que é possível gramaticalmente é praticável na vida real. Gramática é a busca do homem em padronizar certos elementos semelhantes e muitas vezes estamos diante de convenções. Em outras palavras, se decidiram que se deve usar 「な」, deixemos assim. Aliás, observe a próxima oração:
学生な人。= Pessoa que é estudante (??)
Já que 「な」 é a Base Rentaikei da cópula 「だ」, gramaticalmente falando, não haveria problema na oração acima. Entretanto, novamente precisamos sempre ter em mente o aspecto prático da língua. Uma coisa é algo ser gramaticalmente possível e explicável; outra coisa é algo ser praticado no mundo real e as pessoas concretamente compreenderem. Citemos o plural correto da palavra “pizza”. Como “pizza” não é uma palavra aportuguesada, a gramática tradicional diz que se deve usar a forma plural da língua original. Porém, do que adianta estar gramaticalmente correto falando (ou escrevendo) “pizze” (plural “original” na língua italiana) se concretamente essa forma não foi assimilada na vida real pelos usuários da língua portuguesa? Língua é comunicação e para que exista comunicação é necessário que as partes se entendam. Então, embora possa se dizer que 「学生な人」 está correto gramaticalmente falando, tal construção não é usada no mundo real. Por questões práticas, melhor considerar as coisas como elas são usadas pelos falantes nativos.
Note também que essas convenções acerca da gramática podem mudar de acordo com o tempo. Afinal, o modo como o povo usa sua língua na vida concreta é incontrolável. Tanto é verdade que há casos de Adjetivos-NA que podem ser usados com 「の」!! Provavelmente, houve um tempo em que o “povão” confundia tanto as coisas que os gramáticos decidiram admitir essa possibilidade. Veja o próximo exemplo:
特別な人 (ou 特別の人) = Pessoa especial.
Por fim, convém citar algumas coisas importantes sobre os Adjetivos em geral. A palavra para "bom" era originalmente 「よい」 (良い). Porém, com o tempo, devido à mudança de pronúncia, tornou-se 「いい」. Quando escrita em Kanji, é geralmente lida como 「よい」, e 「いい」 aparece quase sempre em Hiragana. Entretanto, todas as conjugações ainda derivam de 「よい」 e não de 「いい」. Outro Adjetivo-I que age assim é 「かっこいい」 por que é uma versão abreviada de duas palavras unidas: 「格好」 e 「いい」. Consequentemente, tem as mesmas conjugações. Observe o quadro a seguir:
値段がよくない。= O preço não é bom.
彼はかっこよかった! = Ele estava muito bonito!
É natural pensar que para os adjetivos existentes em nossa língua materna deva existir um equivalente em japonês. Certamente com a maioria é assim; mas com alguns, não. Nestes casos, a “ideia de adjetivo” nos é dada através dos verbos:
お腹が空いた。= faminto (literal: o estômago está esvaziado).
喉が乾いた。= sedento (literal: a garganta está seca).
E se, por exemplo, quisermos dizer que [A] é magro ou que [B] é gordo? De fato, existem adjetivos propriamente ditos para "gordo" e "magro" (「太い」 e 「細い」), mas podem soar ofensivos a um japonês. Portanto, use verbos:
みどりは太た。 = Midori engordou.
まことは痩せた。 = Makoto emagreceu.
Os falantes nativos, muitas vezes, retiram o 「い」 final de alguns Adjetivos-I, quando usados como exclamações simples:
さむ!= Está frio!
あつ!= Está quente!
まず!= É desagradável!
Responda agora: qual é o correto: 「大きい」 ou 「大きな」 (grande)? 「小さい」 ou 「小さな」 (pequeno)?
Bem, ambas as formas de cada adjetivo são aceitáveis. A diferença é que a versão Adjetivo-NA soa mais poética, sendo muito comum na poesia e canções.
Alguns coloquialismos são comuns à maioria dos dialetos da língua japonesa. Assim como toda língua falada, ocorrem contrações utilizadas no cotidiano. Um padrão normalmente visto é:
「~(あ)い」 ou 「~(お)い」 → [~ fonema respectivo em 「え]+ 「え]].
Por exemplo, 「たべない]→ 「たべねえ] e 「すごい] → 「すげえ] (mais comumente usado com 「ない]).
Em animês este padrão costuma ser usado com frequência. Em um dos episódios de Dragon Ball Super, Goku diz 「嘘がきれえ], forma coloquial de 「嘘がきらい].
Uma questão que confunde muitos estudantes é a distinção de verde e azul na língua japonesa. Segundo este artigo, “toda língua tinha tido primeiramente, uma expressão para o preto e o branco, a escuridão e a luz. A próxima palavra foi vermelho, cor do sangue e do vinho. Depois historicamente aparece o amarelo, e, mais tarde o verde. A última das cores é o azul. Descobriram também que a única cultura que desenvolveu na época, uma palavra para o azul eram os egípcios – os primeiros a produzir esses corantes”.
É muito provável que no japonês tenha ocorrido o que destacamos no parágrafo anterior, isto é, 「青」 significava originalmente “verde” e não “azul”. Somente no Período Heian (794-1185), com a palavra 「みどり」 para “verde” é que se passou, então, a distinguir azul e verde. Em materiais educacionais, a distinção entre verde e azul veio somente depois da Segunda Grande Guerra.
A palavra 「青」 é ainda usada para vegetais, maçãs e clorofila na vegetação. É também a palavra usada para definir a cor do sinal de trânsito para 'Siga' (verde). Porém, para muitos outros objetos, como carros e suéteres por exemplo, usa-se o termo 「みどり」. Os japoneses usam por vezes o 「グリーン」, cuja origem é o inglês "green", para cores. Há na língua também vários outros termos para tons específicos de verde e de azul.