LIÇÃO 60: UM POUCO DE JAPONÊS CLÁSSICO II

Nesta lição, continuaremos a abordagem do Japonês Clássico propriamente dito…

60.1. PRONOMES E KOSOADO

Nas lições 11 e 23, estudamos os pronomes e Kosoado respectivamente. É provável que você tenha percebido que alguns pronomes usados atualmente se originaram de Kosoado, como é o caso de 「あなた」, que, se analisarmos sua escrita antiga, isto é, 「彼方」, veremos que significa “aquela direção”. Como sabemos que os japoneses não gostam de se referir às pessoas de forma direta – pois pode soar acusativo –, é compreensível que passassem a usar 「あなた」 ou mesmo outros Kosoado como pronomes.

Outros pronomes se originaram de substantivos, como é o caso de 「きみ」, que originalmente era usado para designar alguém que detinha o domínio sobre algo, tendo o sentido próximo a “senhor”. Por isso, era comumente utilizado para se referir ao imperador. Vemos resquício disso no título do Hino Nacional japonês 「きみがよ(君が代), no qual a partícula 「が」funciona como 「の」 (Lição 19). Outro pronome que se origina de um substantivo é 「わたくし」, que na antiguidade significava “coisas pessoais”.

Vejamos abaixo alguns pronomes comuns usados no Japonês Clássico. Note que alguns são obsoletos:

➩ 我・吾 (われ) [Primeira Pessoa]: refere-se a si mesmo;

➩ 我・吾 (わ) [Primeira Pessoa]: pronome de primeira pessoa original. Visto muito como 「我が」;

➩ 我輩 (わがはい) [Primeira Pessoa]: uma palavra arrogante que literalmente significa "meus companheiros", mas normalmente se refere apenas a si mesmo.

某 (それがし) [Primeira Pessoa]: usado por samurais durante o Período Edo (1603-1868);

➩ 妾 (わらは) [Primeira Pessoa]: pronome humilde. Usado frequentemente por samurais mulheres;

➩ 豫・余 (よ) [Primeira Pessoa]: um pouco pomposo. Usado apenas na forma singular;

➩ 朕 (ちん) [Primeira Pessoa]: usado apenas pelo Imperador;

➩ 仇家人 (あだかど) [Primeira Pessoa]: assim como 「おたく」 (Lição 11), refere-se à casa de alguém, mas é usada para se referir a si mesmo;

➩ 己 (おのれ) [Primeira ou Segunda Pessoa]: servia tanto como pronome humilde de primeira pessoa ou de segunda pessoa. Como pronome de segunda pessoa, soava hostil;

➩ 麿 (まろ) [Primeira Pessoa]: usado desde o Período Heian (794-1185);

➩ あっし [Primeira Pessoa]: usado muito pelos homens no período feudal; gíria;

➩ 拙者 (せっしゃ) [Primeira Pessoa]: usado por samurais e mercadores de alta classe alta na era feudal para mostrar extrema humildade;

➩ 僕 (やつがれ) [Primeira Pessoa]: pronome humilde;

➩ 皆(人) みな(ひと) [Primeira Pessoa]: significa “todos”;

➩ 身共 (みども) [Primeira Pessoa]: significa “nós”; é similar a 「我ら」;

➩ 吾人 (ごじん) [Primeira Pessoa]: significa “nós”;

➩ 君 (きみ) [Segunda Pessoa]: significado próximo a “senhor”; compare como é usado agora (Lição 11);

➩ 御前 (おまえ) [Segunda Pessoa]: honorífico; compare como é usado agora (Lição 11);

➩ 貴様 (きさま) [Segunda Pessoa]: honorífico, implicava nobreza; compare como é usado agora (Lição 11);

➩ 手前 (てまえ) [Primeira ou Segunda Pessoa]: pronome humilde;

➩ 御主 (おぬし) [Segunda Pessoa]: usado para pessoas abaixo do status de alguém;

➩ 其方 (そなた・そのはう) [Segunda Pessoa]: usado para pessoas abaixo do status de alguém;

➩ 汝 (なんぢ) [Segunda Pessoa]: pronome formal, soa arcaico como o "Tu";

➩ 彼 (かれ) [Terceira Pessoa]: significa “ele”;

➩ 彼女 (かのじよ) [Terceira Pessoa]: significa “ela”;

➩ 誰 (た(れ)) [Terceira Pessoa]: significa “quem”.

Quanto à forma plural, 「我」, 「君」, 「お前」, 「貴様」, 「手前」, 「彼」 e 「彼女」 eram comumente pluralizados. Os mesmos sufixos para pluralização atuais eram usados, mas 「~ども」 era mais comum.

Com relação ao Kosoado clássico, há apenas algumas diferenças, no que diz respeito a formas que não são mais usadas ou que são muito raras de serem vistas atualmente. Para ilustrar, observe o quadro abaixo:

Atualmente temos como formas adverbiais do Kosoado, 「こう」, 「そう」, 「ああ」e 「どう」. Porém, no passado havia 「かく」, 「さ」, 「しか」, 「と」e 「いか」, junto com muitas outras expressões baseadas nelas, muitas das quais ainda são usadas hoje. Vejamos o quadro a seguir:

60.2. A LÍNGUA CULTA

Nas lições 29 e 30 aprendemos como funciona a língua culta moderna em seus níveis polido, modesto e honorífico. No Japonês Clássico havia o que chamaremos para fins meramente didáticos de “verbo culto suplementar”, isto é, verbos que podiam ser usados tanto de forma independente como também verbo auxiliar apenas para modificar o nível de polidez de outro verbo. Neste caso era adicionado à Base Ren’youkei.

Se ficou complicado entender esse conceito de “verbo culto suplementar”, tentemos clarificar, retomando um exemplo da lição 30, quando tratamos de verbos que não possuem forma honorífica especial:

先生はお見えになりますか。= (Você) vê o professor?

Sem se preocupar com pormenores, perceba que pela tradução acima, podemos dizer que, de certa forma, o verbo 「なる」age como verbo culto suplementar, pois, embora seja um verbo independente com significado próprio, neste padrão ele apenas “embeleza” o verbo que realmente importa, isto é, 「見える」.

Voltando para o Japonês Clássico, os verbos cultos suplementares eram divididos em três níveis, a saber: polido, modesto e honorífico. Um exemplo era o verbo 「たまう」(給う), forma honorífica de 「あたう」(与う), que por sua vez é a forma clássica do verbo 「あたえる」(与える), que significa “dar”.

ボールを蹴たまう。= (Ele) chuta a bola.

Perceba que no exemplo acima, o significado como verbo independente de「たまう」não nos interessa. Ele apenas exerce uma função dentro do conjunto. Aliás, no Japonês Clássico, o número de verbos com formas especiais era maior. Note que「たまう」, além de ser um verbo culto suplementar, era em si uma forma especial de outro verbo.

Outro ponto importante é que havia casos em que um mesmo verbo possuía significados e/ou padrão de conjugação diferentes dependendo se usado como verbo modesto ou verbo polido. Por exemplo, no nível modesto, o verbo 「さぶらう」(侍う) era independente e significava “servir”. Porém, ele podia ser usado também no nível polido, com o significado “existir” e funcionando também como verbo culto suplementar.

Expostas essas particularidades da língua culta clássica, vejamos nas tabelas abaixo os verbos que possuíam forma especial e/ou eram verbos cultos suplementares. Os que estão pintados de amarelo funcionavam também como verbo culto suplementar, transformando verbos que não possuíam forma especial em verbos cultos:

I. FORMA HONORÍFICA

II. FORMA MODESTA

III. FORMA POLIDA

NOTAS:

1. Aqui é muito importante se considerar o fenômeno Tenko (lição 3). Por exemplo, 「たまう」, 「さぶらう」e「さうらう」em dado momento na História passaram a ser pronunciados 「たもう」, 「さぶろう」e「そうろう」 respectivamente;

2. Alguns verbos usados na língua culta clássica sobreviveram na língua moderna como é o caso de 「はべる」(侍る).

60.3. KAKARI-MUSUBI: UM CASO EXCEPCIONAL DE EXIGÊNCIA DE CONCORDÂNCIA VERBAL

Observe a seguir a oração em português:

Eu jogamos futebol.

Bem estranho, não é mesmo? Isso por que como falantes nativos da língua portuguesa, sabemos que devemos concordar o verbo com o sujeito. Em japonês, no entanto, sabemos que não é necessária essa preocupação, mas... no Japonês Clássico havia exceções.

Não era o caso de concordar verbo com sujeito ou coisas do tipo, mas sim, estranhamente, concordar partícula com a base do verbo (ou Keiyoushi). A esta particularidade é dado o nome de 「かかりむすび」(係り結び), no qual essas partículas que exigem concordância são chamadas de 「かかりじょし」(係り助詞). Algumas dessas partículas, inclusive, podiam estar em qualquer parte de uma oração, dentro da oração ou no final dela. Para fins meramente didáticos, vamos chamar essas partículas especiais de “partícula subordinante”.

Vejamos quais eram essas partículas subordinantes que exigiam concordância do verbo (entenda-se determinada base):

Veja a seguir os exemplos e atente-se às traduções para que se possa entender os sentidos:

Oração Base: 水があり。= Existe água.

水があ。= Existe água?

こそ。= É água que existe.

。= Água, (ah!) existe.

Como você deve ter percebido essas partículas tinham função de transmitir ênfase (ou dúvida no caso de 「か」). Isso nos leva a supor que o uso de diferentes bases é apenas um recurso através do qual a ênfase (ou dúvida) ficaria mais evidente ao se usar algo fora do padrão juntamente com essas partículas especiais. Pense, por exemplo, em alguém que diga “Eu jogamos futebol”. Seríamos capazes de compreender o que foi dito, mas esse erro de conjugação soaria mais forte nos nossos ouvidos, chamaria a nossa atenção por se tratar de algo que não estamos acostumados a ouvir, não é mesmo? Veja como esse erro de concordância, entretanto, acabaria por enfatizar a ação no fim das contas.

60.4. ALGUMAS PARTÍCULAS

Quando tratamos de partículas, é certo dizer que no decorrer dos séculos suas funções foram sendo reduzidas, embora significados básicos permanecessem os mesmos. Isto que dizer que, no Japonês Clássico, de modo geral, as partículas tinham mais funções, algumas das quais, entretanto, são pouco usadas, se não obsoletas, na língua cotidiana moderna.

Neste tópico, não focaremos nas partículas já estudadas em lições passadas, pois cremos que foi possível abordar até mesmo esses usos mais raros. Vamos sim explanar sobre partículas que não são mais usadas atualmente.

1. ものから: partícula que possuía duas funções, sendo indicar adversidade e indicar causa. Sendo assim, tem semelhança com 「けれども」e 「ので」respectivamente:

寿司を食ぶるものから勉強をす。= (Eu) como sushi, mas estudo. / (Eu) estudo, porque como sushi.

2. ものゆゑ: partícula que possuía as mesmas duas funções de 「ものから」. Trata-se da junção de 「もの」com o substantivo 「ゆゑ」(故), que significa “causa” e tem por forma moderna 「ゆえ」:

寿司を食ぶるものゆゑ勉強をす。= (Eu) como sushi, mas estudo. / (Eu) estudo. Porque como sushi.

3. なむ: partícula, cuja função era enfatizar. Era anexada à Base Rentaikei, quando anexada a elementos flexionáveis. Surgiu durante o Período Nara (710 d.C. – 794 d.C.) como 「なも」e tinha a variante 「なん」:

水があるなむ。= Existe água!

NOTA: Não confunda a partícula 「なむ」com o elemento clássico combinado 「なむ」, que vimos anteriormente.

4. かは: variante da partícula 「か」:

日本にくるかは。= (Ele) vem ao Japão?

5. やは: variante da partícula 「や」, que vimos na lição 47 e possui basicamente as mesmas funções de 「か」. A diferença é que, como partícula de final de sentença, 「や」seguia a Base Shuushikei, ao passo que 「か」, a Base Rentaikei dos elementos flexionáveis:

日本にくやは。= (Ele) vem ao Japão?

NOTAS:

1. Lembre-se que tanto em 「かは」como em 「やは」o fonema 「は」era pronunciado 「わ」 (lição 3);

2. A partícula 「や(は)」também pode ser considerada uma partícula subordinante, pois quando usada dentro da oração, exigia a Base Rentaikei.

6. ど(も): partícula anexada à Base Izenkei que tinha como função indicar concessão com base em um fato real:

水があれども。= Apesar de existir água.

7. し(も): partícula que tinha como função enfatizar, geralmente com o sentido de destacar um item de um conjunto (por exemplo, “este em particular”) ou delimitar circunstâncias. A versão com 「も」é mais forte:

寿司を食ぶ。= (Eu) como (especificamente) sushi.

8. かし: partícula que tinha função enfática, similar a 「よね」. Origina-se da junção das partículas 「か」e 「し」:

水があるかし。= Existe água!

9. かも: partícula originária do Período Nara (710 d.C. – 794 d.C.), que enfatizava, geralmente marcando uma exclamação:

水があるかも。= Existe água!

10. ゆ(り): partícula originária do Período Nara (710 d.C. – 794 d.C.) que tinha três funções, sendo: indicar o ponto de origem; indicar por onde algo transita; indicar o meio com o qual se faz algo. No Japonês Moderno, estas funções são exercidas pelas partículas 「から」, 「を遠すして」 (lição 43) e「で」respectivamente:

ゆ(り)。= A partir dos sonhos.

11. よ: partícula também originária do Período Nara (710 d.C. – 794 d.C.) que possuía as mesmas funções de 「ゆ(り)」:

。= A partir dos sonhos.

12. つ: partícula originária do Período Nara (710 d.C. – 794 d.C.) que funcionava como partícula atributiva, como「の」funciona hoje. Um resquício deste uso antigo está na palavra 「まつげ」(睫毛), que significa “cílios”. 「まつげ」se origina de 「めげ」(目毛), literalmente “cabelo dos olhos”:

学生夢。= Sonho do estudante.

13. な: partícula originária do Período Nara (710 d.C. – 794 d.C.) usada após a Base Rentaikei para indicar proibição. Tal uso ainda permanece no Japonês Moderno:

ボールを蹴る。= Não chute a bola.

14. そ: partícula originária do Período Nara (710 d.C. – 794 d.C.) antepassada da partícula moderna 「ぞ」:

水がある。= Existe água!

Podia também ser anexada à Base Ren’youkei (Mizenkei no caso dos verbos Rahen e Sahen), funcionando da mesma forma que a partícula 「な」vista anteriormente, isto é, indicar proibição. Aliás, neste uso, costumava-se usar as partículas 「な」e 「そ」:

寿司()食べ。= Não coma sushi.

***

Convém mencionar ainda que no Período Nara (710 d.C. – 794 d.C.) se originou a partícula 「しか」, oriunda da combinação da Base Rentaikei do auxiliar de passado 「き」, isto é, 「し」com a partícula「か」. Ela podia ser anexada à Base Ren’youkei dos elementos flexionáveis para indicar um desejo do falante difícil (ou impossível) de ser alcançado:

水がありしか。= Se apenas houvesse água.

「しか」era usado com certa frequência com os auxiliares de passado 「ぬ」e「つ」, originando 「にしか」e「てしか」. Também, costumava-se adicionar a partícula final 「な」. Mais tarde, no Período Heian (794 d.C. – 1185), surgiram as variantes 「にしが(な)」e「てしが(な)」:

水がありしが(な)。= Se apenas houvesse água.

60.5. HENTAIGANA

Hentaigana” (変体仮名) significa "Kana Variante". É oriundo de man’yougana, um sistema de escrita que no qual Kanjis eram utilizados por sua pronúncia apenas, desconsiderando seu significado. Como você já sabe, um mesmo som japonês podia ser representado por diversos Kanjis. Veja a figura abaixo, notando alguns exemplos de como os sons 「あ」e「う」 podiam ser representados por Kanjis:

Assim como Hiragana, o Hentaigana deriva do estilo cursivo de escrita, desempenhando, aliás, um papel muito importante na escrita desde a sua concepção. Os artistas, por exemplo, por terem mais opções de caracteres para um mesmo som, podiam montar um conjunto mais chamativo visualmente falando. Por isso, o Hentaigana, apesar de estar oficialmente extinto desde 1900, continua a ser usado ainda hoje em placas, em alguns documentos formais manuscritos, particularmente em certificados emitidos por entidades de classe, grupos de cultura clássica japonesa (escolas de artes marciais, escolas de etiqueta, grupos de estudos religiosos e entre outros). Veja, por exemplo, uma placa, na qual está escrito “Kisoba Yabushige”:

Apesar de ainda ser usado em alguns poucos casos, a maioria dos japoneses, no entanto, não sabe ler o Hentaigana.

NOTA: Não confunda o 「へんたい」(変体) de “Hentaigana” com「へんたい」(変態), abreviação de 「へんたいせいよく」(変態性欲), que significa “perversão sexual”.

60.6. MAIS ALGUMAS COISAS...

Neste tópico abordaremos estruturas e assuntos interessantes que não foram abordados anteriormente.

➩ あく: alguns apontam ser uma versão reduzida de 「~あること」 ou mesmo de こと」. Seja como for, funcionava como nominalizador, sendo anexado à Base Shuushikei, sempre com a queda da vogal “U”. Então:

見る = Ver → 見 = Coisa vista.

Há uma versão para Keiyoushi que é 「けく」, que provavelmente se trata da abreviação da Base Ren’youkei (alguns afirmam ser a Base Rentaikei) do Conjunto 「く」 (Lição 18) com 「あること」. Sendo assim:

良い = Bom → 良けく = Bondade.

➩ ばえ: sufixo que transforma verbos em substantivos. É anexado à Base Ren’youkei e se origina do verbo 「はえる」, que significa “parecer esplêndido”. Sendo assim, transmite a ideia de que a ação tem um efeito bem satisfatório:

見る = Ver → 見(み)ばえ = Ver de forma bem satisfatória.

➩ だつ: sufixo conjugado no padrão Yodan, adicionado a substantivos e ao Gokan (lição 12) de um Keiyoushi. Indica o fato de algo possuir alguma qualidade:

重い = Pesado → = 重(おも)だつ = Ser pesado (= ter a qualidade de pesado).

NOTA: pelo uso, 「重だつ」 passou a indicar algo importante, principal.

➩ がてに: é adicionado à Base Ren’youkei de um verbo para indicar que é impossível executar tal ação:

映画を見がてに。。。= Impossível ver o filme...

「がてに」 provavelmente se origina de um suposto verbo obsoleto – 「か」 (“ser possível”??) – em sua base Mizenkei seguido de「に」, que aqui se trata de uma das bases Ren’youkei do auxiliar de negação 「ず」 (「かてに」= “não ser possível”??). Posteriormente, teria sido confundido com 「かて」(難て), fato que deu também a 「かてに」 o sentido de “difícil de...”.

A teoria de que o suposto verbo 「かつ」 descrevia originalmente uma possibilidade parece real. Nos exemplos que encontramos, ele está sempre acompanhado de um auxiliar de negação para indicar o contrário, isto é, impossibilidade:

行きかて。= (Eu) não poderei ir.

行きかつまじ。= (Eu) não poderei ir.

➩ え(...) (auxiliar de negação): 「え」 é a base Ren’youkei do verbo 「える」(得る), que vimos na lição 31. Ele podia ser usado com um verbo acompanhado de qualquer auxiliar de negação a fim de enfatizar uma impossibilidade:

寿司食べ。= (Eu) não posso comer sushi.

➩ なかれ: é adicionado à Base Rentaikei para indicar um comando negativo:

映画を見るなかれ。= Não veja o filme.

ぬで: originou-se na língua coloquial, tendo sentido igual a 「~ないで」 e 「~なくて」, portanto, é anexado à Base Mizenkei:

学生と話さぬで。= Não falar com o estudante. / Sem falar com o estudante.

➩ せば: adicionado à Base Ren’youkei para indicar uma suposição do que deveria ter sido feito diante de uma situação, geralmente negativa:

学生と話しせば。。。= Se (eu) tivesse falado com o estudante... (não falei, por isso, estou sofrendo as consequências disso).

➩ ふ: sufixo originário do Período Nara que era anexado à Base Mizenkei dos verbos Yodan, geralmente. Indicava continuidade da ação e era conjugado no padrão Yodan. Hoje, ele não existe mais, porém, há verbos que o possuem em sua formação, e sua evolução se deu como nos verbos clássicos terminados em 「ふ」, isto é, hoje é visto como「う」. Veja os dois exemplos a seguir:

(1) 語る 【かたる】 (conversar) → かたら (Japonês Clássico) → 語ら 【かたら】 (conversar “continuamente”) – Forma moderna;

(2) 移る 【うつる】 (mudar) → うつ (Japonês Clássico – com a Base Mizenkei alternativa provavelmente) → 移 【うつ】 (mudar, desaparecer) – Forma moderna.

A BASE MIZENKEI DOS VERBOS E O SUFIXO 「し」: na lição 18, mencionamos que 「し」 era adicionado a formas primitivas de substantivos para se criar Keiyoushi. Outro recurso relativamente comum no Japonês Clássico era adicionar 「し」 à Base Mizenkei dos verbos para se obter Keiyoushi com significados relacionados. Veja alguns exemplos:

(1) 勇む 【いさむ】 (estar encorajado) → 勇 (Japonês Clássico) → 勇ましい 【いさましい】(valente) – Forma moderna;

(2) 喜ぶ 【よろこぶ】 (estar feliz) → 喜 (Japonês Clássico) → 喜ばしい 【よろこばしい】 (feliz, alegre) – Forma moderna;

(3) 恐る 【おそる】 (estar com medo) → 恐 (Japonês Clássico – Base Mizenkei alternativa) → 恐ろしい 【おそろしい】 (terrível, amedrontador) – Forma moderna;

Em alguns casos, 「し」 era anexado a um verbo ligado ao sufixo 「ふ」, que vimos no item anterior:

(4) 忌む 【いむ】 (abster-se, evitar) → 忌 → 忌ま (Japonês Clássico) → 忌まわしい 【いまわしい】 (abominável, nojento, “evitável”) – Forma moderna.

FORMAS VERBAIS – DO CLÁSSICO PARA O ATUAL: em termos gerais, podemos dizer que as formas de um verbo eram expressas pela aglutinação de sufixos a ele. Entretanto, como já sabemos a partir do final do século XIX, o estilo clássico foi perdendo força e se foi adotando o estilo da língua como era falada no dia a dia. Nesses tempos, a tendência na língua coloquial era a de substituir as complexas formas aglutinadas dos verbos, tais como 「ゆきたらむ」 (行き-て-あら-む), por grupos de elementos isolados, como 「行った-の-だろう」.

FLEXIBILIDADE DO AUXILIAR 「た」: na lição 14, vimos que o auxiliar de passado 「た」 surgiu de uma contração de 「たり」, que por sua vez é uma contração de「てある」. Logo, é natural pensar que é possível atribuir a「た」 as mesmas bases do verbo 「ある」. E Sim! Gramaticalmente falando, 「た」 possui TODAS as bases de 「ある」, que de início podiam ser usadas. Observe o quadro a seguir com as bases originais de 「たり」:

Agora, veja o exemplo a seguir:

水がありたれば。。。= Já que havia água...

Contudo, é preciso mencionar uma questão que já citamos em lições passadas: aquilo que é possível gramaticalmente nem sempre é o praticado no mundo real. Com o passar do tempo, as Bases Shuushikei e Rentaikei foram reduzidas a 「た」 , as Bases Izenkei e Meireikei foram esquecidas e o que eram originalmente as Bases Mizenkei e Ren’youkei, isto é, 「たら」e「たり」 respectivamente, tiveram seus usos e significados bem reduzidos na língua moderna. Também, é possível nos depararmos, ainda que bem raramente, com a forma OU de 「たり」:

水があったろう= Havia água possivelmente.

PARTÍCULAS MODERNAS E CÓPULAS ANTIGAS: na lição 14, mencionamos que as partículas 「に」 e 「の」 são quase certamente vestígios de uma cópula. O linguista Bjarke Frellesvig em seu livro “A History Of The Japanese Language”, página 135, ao tratar do Japonês Antigo, afirma que “uma série de partículas derivam de formas de cópula: 「の」, 「に」, 「にて」, 「つ」 e 「と」, todas funcionavam como partículas e como formas de cópula ao mesmo tempo”. E na página 233, ao comentar sobre o período da língua que vai do ano 794 até 1185, apresenta como bases de cópula elementos como 「の」, 「に」, 「にて」, 「にして」, 「と」 e 「として」.

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